

Roteiro para a Neutralidade Carbónica da Indústria Cerâmica
até 2050
Sumário executivo
Ficha Técnica
Propriedade
Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e Cristalaria (APICER)
Rua Coronel Veiga Simão
Lufapo Hub, Edifício A, n.º 40 - 1.º Piso
3025-307 COIMBRA
Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro (CTCV)
iParque - Lote 6
3040-540 ANTANHOL
www.ctcv.pt
e-mail: centro@ctcv.pt
Autoria e coordenação editorial: António Baio Dias, Marisa Almeida, Inês Rondão, Isabel Antunes, Pedro Frade, Milene Lopes, Victor Francisco, Sandra Carvalho, Carlos Monteiro, Albertina Sequeira, Cristiana Claro.
Design Gráfico: Slideshow - Creative Agency
Roteiro para a Neutralidade Carbónica da Indústria Cerâmica até 2050
Sumário executivo

O documento aqui apresentado constitui uma súmula da informação contida no Roteiro para a Neutralidade Carbónica da Indústria Cerâmica até 2050, elaborado no âmbito do projeto CeramicLowCO2, promovido pela APICER – Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e Cristalaria e pelo CTCV – Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
No roteiro constam os contributos de diversos especialistas e entidades convidados a contribuir dentro da sua área de atuação.
PREÂMBULO
A indústria cerâmica portuguesa, adquiriu e mantém um papel relevante na economia nacional assumindo-se com uma indústria fortemente exportadora em que a maioria das empresas usam as melhores tecnologias disponíveis. Pelas suas características intrínsecas é uma indústria caraterizada pelo elevado consumo de gás natural e por emissões de gases de efeito estufa.
Num cenário de urgência climática e compromissos com as políticas europeias como seja o Acordo de Paris e o Pacto Ecológico Europeu, a indústria cerâmica enfrenta um duplo desafio: reduzir a pegada de carbono sem sacrificar a sua competitividade e crescimento sustentável.
Por isso, a transição para a neutralidade carbónica tornou-se um objetivo estratégico inadiável. Nesse contexto, a inovação, a eficiência energética e a adoção de novas fontes de energia serão essenciais para alinhar a indústria cerâmica com as metas de descarbonização da economia.
Este cenário traz tanto de desafios quanto de oportunidades.
Diante da crise climática, é crucial que haja uma ação urgente e coordenada de todos, e a indústria cerâmica, com sua longa tradição e importância no tecido económico nacional, não é exceção.
Implementar medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) é vital para garantir não apenas a sustentabilidade ambiental, mas também a competitividade e a resiliência do setor a longo prazo. A neutralidade carbónica na indústria cerâmica requer um esforço conjunto ao longo de toda a cadeia de valor, desde a extração das matérias-primas até o produto final. Para isso, a inovação tecnológica, a eficiência energética, a eletrificação dos processos, a adoção de novos vetores energéticos e a implementação de práticas de economia circular são pilares fundamentais para alcançar os objetivos estabelecidos.
Este Roteiro visa indicar um caminho para a descarbonização do setor cerâmico, em alinhamento com as metas nacionais e europeias de redução de emissões até 2050. Por um lado, apresenta uma visão para a descarbonização do setor, definindo princípios, metas e ações concretas para equilibrar as emissões e a sua compensação. Por outro, procura mobilizar todas as partes interessadas — empresas, instituições de investigação, governo, administração central e sociedade civil — para a construção de um futuro mais sustentável.
Mais do que um compromisso, este Roteiro é um convite à ação.
O futuro da indústria cerâmica portuguesa assenta na sua capacidade de converter desafios em oportunidades, promovendo a inovação, a sustentabilidade e a adaptação às novas exigências do mercado global. A neutralidade carbónica é um objetivo ambicioso, mas alcançável, desde que se adote uma atuação colaborativa e inovadora.

Introdução

A produção cerâmica tem origens na Pré-história e evoluiu ao longo do tempo acompanhando o desenvolvimento das civilizações. Atualmente, a cerâmica possui grande relevância económica, artística e cultural, com ampla presença em residências, cidades e infraestruturas.
A indústria cerâmica é tradicionalmente dividida em cinco subsetores, conforme a função dos produtos fabricados:
• Cerâmica estrutural: telhas, tijolos, abobadilhas e agregados leves.
• Pavimento e revestimento cerâmico: azulejos, ladrilhos e mosaicos, em monoporosa e grés.
• Louça sanitária: em porcelana ou grés fino.
• Cerâmica utilitária e decorativa: louça de mesa e peças decorativas, em porcelana, faiança, grés e terracota.
• Cerâmica técnica , refratários e outros: materiais isolantes, refratários e novos materiais para aplicações tecnológicas avançadas.
Apesar de cada subsetor possuir processos de fabrico específicos, a maioria das operações processuais são comuns entre eles.
Técnica, Refratários e outros
e Decorativa
Subsetores da indústria cerâmica
Estrutural
Pavimento e Revestimento
Preparação de Matérias-primas Conformação Secagem Cozedura Principal contributo para as emissões de processo Acabamento
Pontos críticos do processo cerâmico nas emissões de gases com efeito de estufa.
Utilitária
Louça Sanitária
A INDÚSTRIA CERÂMICA
NACIONAL
A indústria cerâmica em Portugal é um dos mais tradicionais e significativos da economia nacional, destacando-se pela diversidade de produtos, elevada qualidade e forte orientação para os mercados externos, integrando empresas de todos os subsetores. O setor é composto maioritariamente por empresas de pequena e média dimensão e emprega 18 724 trabalhadores, a maioria dos quais no subsetor da cerâmica utilitária e decorativa. Distribuídas por várias regiões do país, as indústrias cerâmicas localizam-se predominantemente nas regiões Norte, Centro e Oeste e Vale do Tejo.
Trabalhadores
Distribuição das empresas e dos trabalhadores da indústria cerâmica por subsetor, e distribuição das empresas por localização geográfica (INE, 2023).
O volume de negócios do setor ascende a 1 465 M€, refletindo uma trajetória de crescimento sustentado nos diversos subsetores nos últimos anos. No contexto da Indústria Transformadora Nacional, o setor representa 2,5% do total de trabalhadores ao serviço e 1,2% do volume de negócios.
As exportações têm vindo a crescer de forma consistente após a quebra registada durante a crise financeira de 20082009, com exceção de 2020, ano em que se verificou uma retração devido ao impacto da pandemia de COVID-19. Em 2023, os produtos cerâmicos portugueses foram exportados para 162 mercados, com destaque para França (20%) e Espanha (15%) como principais destinos, seguidos pelos Estados Unidos (10%), Alemanha (9%), Reino Unido (8%) e Países Baixos (7%).
TOTAL Cerâmica Estrutural
Pavimento e Revestimento Louça Sanitária
Cerâmica Utilitária e Decorativa Cerâmica Técnica, Refratários e Outros
Evolução do volume de negócios da indústria cerâmica e respetivos subsetores de 2005 a 2023 (INE, 2023).
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E NECESSIDADES DE DESCARBONIZAÇÃO
A crise climática global levou a uma intensificação dos esforços internacionais para conter o aquecimento global e promover modelos de desenvolvimento mais sustentáveis. Nesse contexto, a União Europeia (UE) tem assumido um papel de liderança na transição ecológica global, implementando políticas e instrumentos legais voltados para a redução de emissões, promoção de energias limpas e consecução da neutralidade carbónica.
Principais políticas e instrumentos da União Europeia para o clima:
• Acordo de Paris (2015) - assinado em 2015 por 195 países na COP21, compromete-se a limitar o aquecimento global a menos de 2°C, com esforços para restringi-lo a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.
• Pacto Ecológico Europeu (European Green Deal) (2019)visa transformar a economia da UE num modelo mais sustentável, inclusivo e resiliente, promovendo a neutralidade carbónica até 2050, a economia circular, a justiça social e o uso de energias limpas.
• Lei Europeia do Clima (2021) - torna juridicamente vinculativa a meta de neutralidade climática da UE até 2050, obrigando os Estados-Membros e as instituições europeias a cumprirem objetivos climáticos ambiciosos.
• Pacote legislativo Fit for 55 (2021) - reúne medidas para garantir a redução de, pelo menos, 55% das emissões líquidas de gases com efeito de estufa até 2030, face aos níveis de 1990. Entre as medidas, destacam-se:
• Revisão e expansão do CELE (Comércio Europeu de Licenças de Emissão) - Inclusão de novos setores e criação do CELE 2.
• Mecanismo de Ajustamento Carbónico Fronteiriço (CBAM) - impõe custos de carbono a certos produtos importados de países com normas ambientais menos rigorosas. O pacote inclui também objetivos ambiciosos para reforçar a eficiência energética e promover a utilização de energias renováveis.
• Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativo (CSRD) (2022) - impõe regras mais rigorosas para as empresas, obrigando a divulgação das emissões de gases com efeito de estufa e planos de transição climática para alcançar a neutralidade carbónica até 2050.
• Plano Industrial do Pacto Ecológico (2023) - complementa o Pacto Ecológico Europeu ao incentivar a competitividade industrial e acelerar a transição para a neutralidade carbónica, através dos programas REPowerEU , InvestEU e Fundo de Inovação . Principais instrumentos associados:
• Lei da Indústria de Impacto Zero (NZIA) - Incentiva a produção de tecnologias essenciais para a descarbonização.
• Regulamento das Matérias-Primas Críticas (CRM Act)Reforça a segurança no fornecimento de matérias-primas estratégicas para a UE.
• Reforma do Mercado da Eletricidade - Moderniza e integra o sistema elétrico europeu, promovendo estabilidade e transição energética.
• Pacto da Energia Limpa (Clean Industrial Deal) (2025) - tem como objetivo reforçar a competitividade e a descarbonização da indústria europeia, especialmente nos setores intensivos em energia, promovendo a inovação verde, a economia circular e a segurança energética, em alinhamento com as metas climáticas da UE.
POLÍTICAS AMBIENTAIS EM PORTUGAL
Portugal, como signatário do Acordo de Paris e Estado-Membro da UE, comprometeu-se a alcançar a neutralidade carbónica até 2050, alinhando-se às metas do Pacto Ecológico Europeu. Em 2019, lançou o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050), um plano estratégico que define os vetores de descarbonização, políticas e medidas necessárias para reduzir as emissões nos diversos setores da economia.
Em alinhamento com o RNC2050, Portugal aprovou em 2020 o Plano Nacional para a Energia e Clima 2030 (PNEC2030), que define as metas energéticas e climáticas para 2021-2030. No mesmo ano, foi lançada a Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2), com o objetivo de diversificar a matriz energética, promover o hidrogénio verde e acelerar a transição para uma economia de baixo carbono.
Em 2021, Portugal aprovou a Lei de Bases do Clima, que define os princípios e metas para o combate às alterações climáticas, incluindo a possibilidade de antecipar a neutralidade climática para 2045. Em 2024, foi atualizada a meta do PNEC2030, com objetivos mais ambiciosos de redução de emissões. No mesmo ano, foi aprovado o Plano de Ação para o Biometano 2024-2040 (PAB), visando o desenvolvimento do mercado de biometano.
Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC2030)
Define a política energética e climática para a década 2021-2030
Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2)
Promove a introdução do hidrogénio verde para a descarbonização da economia

Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativo (CSRD)
Pacto Ecológico Europeu
Roteiro para a Neutralidade
Carbónica 2050 (RNC2050)
Plano nacional para atingir neutralidade carbónica até 2050
Lei Europeia do Clima Fit to 55
Lei de Bases do Clima
Antecipa a meta nacional da neutralidade carbónica para 2040
Plano Industrial do Pacto Ecológico
Revisão do PNEC2030
Estabelece metas ainda mais ambiciosas para atingir a neutralidade carbónica em 2045
Plano de Ação para o Biometano 2024-2040 (PAB)
Estratégia nacional para desenvolver o mercado de biometano em Portugal
Pacto da Energia Limpa
Estabelece metas ainda mais ambiciosas para a descarbonização"


Diagnóstico do setor
Caracterizada por um elevado consumo energético, a produção de cerâmica recorre principalmente ao gás natural como fonte de energia, responsável por cerca de 80% da energia consumida pelo setor.
Com base nas informações disponíveis, as emissões totais de gases com efeito de estufa (GEE) na UE, abrangendo tanto os setores incluídos no CELE (EU ETS) como os não incluídos, foram as seguintes:
• 2022: As emissões totais de GEE na UE foram estimadas em aproximadamente 3,58 mil milhões de toneladas de CO2 equivalente, estando 1,286 mil milhões de toneladas no CELE.
• 2023: As emissões totais de GEE na UE diminuíram para cerca de 3,4 mil milhões de toneladas de CO2 equivalente, representando uma redução de 5,1% em relação ao ano anterior.
Já as emissões não abrangidas pelo CELE (setores como transporte rodoviário, edifícios, agricultura e pequenos setores industriais) foram de aproximadamente 2,31 mil milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2022 e cerca de 2,28 mil milhões em 2023.
No âmbito do Comércio de Emissões da UE, que abrange cerca de 45% das emissões totais da UE (cerca de 10 mil instalações), as emissões verificadas foram de aproximadamente 1 286 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2022. Em 2023, essas emissões diminuíram para cerca de 1 071 milhões de toneladas, representando uma redução de 16,7% face ao ano anterior.
Em relação à indústria cerâmica europeia, as emissões registadas no âmbito do mercado CELE foram de aproximadamente 12 milhões de toneladas de CO2 em 2022 e 9 milhões em
2023, correspondendo a cerca de 0,9% e 0,8% das emissões totais do CELE nesses anos, respetivamente. Estes números demonstram que, embora a contribuição da indústria cerâmica para as emissões totais da UE seja relativamente modesta, o setor está sujeito a metas de descarbonização exigentes no âmbito do CELE.
Em Portugal as emissões da indústria cerâmica abrangida pelo CELE em 2023 foram de 324 mil toneladas.
de GEE na UE
Emissões de GEE da industria cerâmica, das empresas CELE e não-CELE, em 2022 e 2023.
Emissões
FONTES DE GEE AO LONGO DA CADEIA DE VALOR
A distribuição dos diferentes tipos de emissões de CO2 ao longo da cadeia de valor varia conforme o processo de fabrico, matérias-primas utilizadas e combustíveis consumidos. De forma geral, as principais fontes de emissão podem ser agrupadas da seguinte forma:
a. Emissões diretas (âmbito 1): originadas e controladas pela atividade da empresa:
• Combustíveis fósseis: fornos (maioritário), atomizadores, secadores, e outros (caldeiras, …) – 70 a 90%
• Processo: calcinação de matérias-primas (calcário, dolomite, aditivos com carbono, argilas …) – 3 a 30%
• Sistemas de tratamento de efluentes gasosos (neutralização de HF; HCl e SO2) com calcário ou afim: vestigial < 1%
b. Emissões indiretas (âmbito 2): originadas na produção de energia adquirida pela empresa
• Eletricidade: 10 a 20% do total em função do processo.
c. Emissões de outras fontes indiretas (âmbito 3): associadas aos fornecedores e ao longo do ciclo de vida (ACV) dos produtos, incluem, entre outros, a extração e transporte de matérias-primas e auxiliares, etc.
Contexto geral Europeu em termos do mecanismo CELE (tendo por base 2023)
Instalações cerâmicas abrangidas pelo CELE (EU-ETS) em Portugal e sua representatividade (CTCV com base no CITL).
Emissões
FONTES DE GEE NA PRODUÇÃO DE CERÂMICOS
No processo de produção de cerâmicos, as principais fontes de emissões de gases com efeito de estufa estão associadas à queima de combustíveis fósseis, utilizados principalmente nos fornos para atingir as altas temperaturas necessárias à sinterização dos materiais. Adicionalmente, a eletricidade proveniente de fontes não renováveis contribui significativamente para as emissões indiretas, por exemplo no processo de moagem. A decomposição térmica das matérias-primas, como as argilas e carbonatos, também gera emissões diretas de CO2, resultantes da libertação de carbono presente na sua composição química durante o processo de calcinação.
Embora os processos de cozedura sejam as principais fontes de emissões no setor cerâmico, e por isso, exijam especial atenção, a descarbonização completa deste setor deve ser encarada de forma integrada, considerando todas as etapas do processo produtivo numa perspetiva global.
Extração das matérias-primas
Armazenamento das matérias-primas
Preparação das matérias-primas
/
Processo produtivo cerâmico com identificação da intensidade carbónica relativa de cada uma da etapas processuais.
Matéria-prima
Produto final
Processo produtivo
Conformação / Moldagem
Secagem
EVOLUÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA POR SUBSETOR DA CERÂMICA
A evolução histórica do consumo de energia no setor cerâmico em Portugal entre 2005 e 2023 evidencia mudanças significativas resultantes de transformações tecnológicas, ajustes económicos de mercado e transições energéticas.
De forma geral, observa-se uma tendência clara de redução dos consumos energéticos, particularmente marcada no subsetor da cerâmica estrutural, especialmente através da substituição de combustíveis mais poluentes por alternativas mais limpas, por exemplo, a transição do coque para fontes de energia menos emissoras e com maior eficiência em termos de sustentabilidade (ambiental e económica).
Já nos restantes subsetores, pavimento e revestimento, louça sanitária, a tendência é mais estável nos últimos anos, onde os consumos e emissões registaram variações associadas a dinâmicas de mercado e alterações na procura.
Importa destacar que esta evolução é fortemente influenciada por fatores económicos, como períodos de recessão, enquanto os aumentos observados em determinados momentos refletem fases de crescimento económico e o aumento da produção. As oscilações registadas evidenciam igualmente o impacto de eventos externos, como a crise financeira de 2008-2010 ou a pandemia de COVID-19 em 2020, que afetaram diretamente a produção e o consumo de energia.
Cerâmica estrutural Pavimento e revestimento Louça Sanitária
Cerâmica Utilitária e Decorativa Cerâmica Técnica, Refratários e Outros
Evolução do consumo energético na indústria cerâmica (2005-2023). (Diagnósticos e auditorias ambientais, dados do CELE, auditorias de energia realizadas pelo CTCV. Dados estimados e compilados pelo CTCV incluindo balanços energéticos nacionais).
Energia na Indústria Cerâmica
EVOLUÇÃO DAS EMISSÕES DE CO2 POR SUBSETOR DA CERÂMICA
A figura ilustra a evolução das emissões de dióxido de carbono (CO2) nos diferentes subsetores da indústria cerâmica em Portugal, entre 2005 e 2023. Observa-se uma tendência geral de redução nas emissões, especialmente marcada na cerâmica estrutural, que reflete a modernização dos processos, a melhoria da eficiência energética e a substituição de combustíveis fósseis intensivos em carbono, como o coque, por fontes energéticas menos emissoras.
Pavimento e revestimento, bem como a louça sanitária diminuem também a emissão CO2, mas de modo menos expressivo, tal como seria de esperar pois a fonte energética é maioritariamente o gás natural no período em análise, refletindo eficiência e crises económicas.
Assim, a evolução das emissões de CO2 nos diversos subsetores da cerâmica tem seguido uma trajetória condicionada por fatores tecnológicos, energéticos, económicos e regulatórios. A emissão específica de CO2 varia significativamente entre os subsetores, refletindo as suas especificidades produtivas, o tipo de matérias-primas utilizadas e as fontes de energia empregues, com menores emissões na estrutural e maiores no sanitário e cerâmica utilitária e decorativa.
Cerâmica estrutural Pavimento e revestimento Louça Sanitária
Cerâmica Utilitária e Decorativa Cerâmica Técnica, Refratários e Outros
Evolução da emissão de CO2 na indústria cerâmica (2005-2023) (Cálculos, estimativas e análise técnica realizados pelo CTCV, com base em diagnósticos e auditorias ambientais, dados do CELE e auditorias energéticas conduzidas pelo CTCV).
Emissões CO2 na Indústria Cerâmica (Acumulado)
NECESSIDADES DE DESCARBONIZAÇÃO NO CONTEXTO NACIONAL
Em Portugal, tomando como referência o ano de 2023, as emissões de CO2 das empresas abrangidas pelo CELE totalizaram cerca de 12,8 Mt CO2 eq., o que representa uma redução de aproximadamente 48% em comparação com 2013. No que respeita à indústria cerâmica, esta tem contribuído com cerca
de 2,5% a 3,5% das emissões totais do CELE desde o início do mecanismo em 2005. Em termos de número de instalações, o setor tem representado entre 25% e 40% das instalações nacionais abrangidas pelo CELE no período entre 2005 e 2023.
CO2 - Cerâmica CELE e Cerâmica Não-CELE
Alcançar a neutralidade carbónica do setor até 2050 representa um enorme desafio de descarbonização. As metas previstas para os setores CELE exigem a redução de emissões de 62% até 2030, de 62-75% até 2040, e de 90% até 2050, face aos valores de 2005.
- Cerâmica CELE Cerâmica Não-CELE (estimativa)
Evolução das emissões de CO2 no setor da cerâmica de 2005 a 2023 e indicação das necessidades de descarbonização face às exigências europeias para 2050 (M. Almeida, P. Frade, 2024).


Tecnologias e vetores de descarbonização
A descarbonização do setor cerâmico exige uma abordagem integrada, que combine várias estratégias e tecnologias para reduzir as emissões de GEE. O setor é responsável por grandes emissões de CO2, provenientes principalmente da queima de combustíveis fósseis em fornos, atomizadores e secadores, essenciais para a produção de cerâmica.
Um dos principais obstáculos à descarbonização da indústria cerâmica é o elevado custo das tecnologias e processos necessários para reduzir as emissões. A transição para fontes de energia renovável e a implementação de tecnologias de captura de carbono exigem investimentos elevados, o que pode ser um obstáculo, especialmente para empresas de menor dimensão. Embora existam incentivos e financiamentos, os custos de implementação e o tempo de retorno de investimento podem ser desafios significativos para a competitividade do setor.
A falta de infraestrutura adequada, para distribuição de gases renováveis como o biometano e o hidrogénio verde, e a necessidade de mais formação técnica especializada são desafios a serem superados. No entanto, a crescente pressão para reduzir as emissões está a impulsionar avanços no setor. A colaboração entre empresas, governo e centros de I&D será fundamental para tornar a descarbonização uma realidade e alcançar soluções viáveis e eficientes.
Vetores de descarbonização
Eletrificação Economia circular Tecnologias de remoção de CO2
Principais vetores de descarbonização.
Eficiência energética Combustíveis renováveis
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
As medidas de eficiência energética desempenham um papel essencial na descarbonização do setor cerâmico, contribuindo para a redução do consumo de energia e das emissões de CO2 associadas aos processos produtivos. Entre as principais ações destacam-se:
• Recuperação de calor residual – Aproveitamento do calor gerado nos processos para reutilização noutras fases da produção, reduzindo o consumo energético global.
• Melhoria do isolamento térmico de fornos e equipamentos
– Redução das perdas de energia térmica, aumentando a eficiência dos processos térmicos.
• Modernização dos sistemas de queima – Substituição ou otimização dos queimadores para melhorar a eficiência na combustão e reduzir o consumo de combustível.
• Utilização de motores de alto rendimento – Instalação de motores mais eficientes para reduzir o consumo elétrico em equipamentos auxiliares.
• Implementação de sistemas de monitorização e gestão energética (ex.: norma ISO 50001) – para permitir o controlo rigoroso dos consumos, identificação de ineficiências e definição de ações de melhoria contínua.
A pressão para a descarbonização, aliada ao aumento da eficiência e ao desenvolvimento tecnológico, fez com que as correntes de calor desperdiçado, ainda com uma energia considerável, passassem a ter interesse económico, tanto para a produção de potência elétrica ou mecânica.
• As tecnologias que podem ser usadas na transformação deste calor residual em energia útil dependem do uso final.
• Pode envolver a satisfação de novas necessidades térmicas (recuperação para o mesmo fim) ou a conversão dessa energia em trabalho ou energia elétrica.
Estas medidas, além de reduzirem a pegada ambiental, aumentam a competitividade das empresas, tornando a eficiência energética um vetor estratégico para uma indústria cerâmica mais sustentável.
Sistema de classificação energética ou escala energética, que indica o nível de eficiência energética de um edifício ou equipamento, utilizando uma escala de letras e cores.
Tecnologias e
GASES RENOVÁVEIS
Os gases renováveis representam uma alternativa promissora para a descarbonização do setor industrial da cerâmica que, tradicionalmente, depende fortemente de combustíveis fósseis como o gás natural para alimentar os seus fornos e secadores. As imposições da transição energética estão a acelerar a adoção de soluções mais sustentáveis e os gases renováveis desempenham aqui um papel crucial.
Gases renováveis relevantes para o setor:
1. Biogás e biometano
• O biogás é produzido a partir da digestão anaeróbia de resíduos orgânicos (como resíduos agrícolas, industriais ou urbanos).
• Após purificação, é convertido em biometano, com qualidade equivalente ao gás natural, podendo ser injetado na rede ou utilizado diretamente em processos industriais.
• É compatível com a infraestrutura existente e com os equipamentos industriais usados na cerâmica.
2. Hidrogénio verde
• Pode ser produzido por eletrólise da água, usando eletricidade proveniente de fontes renováveis (ex.: solar, eólica).
• Pode ser utilizado como combustível diretamente em fornos, embora exija adaptações técnicas, como queimadores específicos.
• Ainda enfrenta barreiras de custo e infraestrutura, mas está a ser considerado como uma solução a médio-longo prazo.

A adaptação das redes de gás das empresas para combustíveis renováveis é uma das exigências decorrentes da mudança no tipo de combustível utilizado, atendendo aos diferentes poderes caloríficos dos combustíveis e consequente necessidade de maiores caudais (©RW ENESRGIA, 2021).
Vantagens:
• Redução significativa das emissões de CO2, contribuindo para o cumprimento das metas climáticas nacionais e europeias.
• Melhoria da independência energética, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis importados.
• Aproveitamento de resíduos locais, fomentando a economia circular.
• Compatibilidade parcial com infraestruturas existentes, especialmente no caso do biometano.
Desafios:
• Custo de produção ainda elevado, principalmente no caso do hidrogénio verde.
• Disponibilidade e escala de fornecimento: é necessário desenvolver uma rede de distribuição robusta.
• Investimentos em adaptação tecnológica dos equipamentos industriais.
• Regulamentação e incentivos públicos ainda em desenvolvimento em muitos casos.

Portugal tem vindo a apostar fortemente na produção de biometano e hidrogénio verde, com projetos-piloto e investimentos em curso. A indústria cerâmica portuguesa está a estudar soluções para adaptar os seus processos, com apoio de fundos europeus (como o PRR e o Portugal 2030). A descarbonização é também uma exigência crescente dos mercados internacionais, especialmente na União Europeia, o que pode tornar o uso de gases renováveis uma vantagem competitiva. Impacto da substituição do gás natural por hidrogénio em diferentes percentagens volúmicas, nas emissões de CO2 e NO x (Inês Rondão, 2022).
ELETRIFICAÇÃO
A eletrificação do processo cerâmico é uma das principais estratégias para a descarbonização da indústria cerâmica, pressupondo que a eletricidade usada provém de fontes renováveis (solar, eólica, hídrica).
Implica substituir os sistemas tradicionais a gás natural (ou outro combustível fóssil) por equipamentos elétricos, principalmente nas etapas de secagem e cozedura.
Vantagens:
• Permite alcançar temperaturas de trabalho de 1600-1800 °C (toda a gama de aplicações).
• Maior segurança – sem risco de explosão por falha do sistema de combustão.
• Elevada precisão nos processos e reprodutibilidade de condições (melhor do que na combustão).
• Utilização de energia limpa (se for de origem renovável).
• Possibilidade de autoconsumo (ex. fotovoltaico).
• Ausência de gases de combustão – melhoria das emissões gasosas, limitada a emissões relacionadas com a cozedura do material e decoração aplicadas.
• Sem emissões diretas de CO2 – exceto na cozedura de materiais contendo matérias-primas carbonatadas ou compostos orgânicos (ex. monoporosa).

• Perdas energéticas inferiores pelas chaminés – a quantidade de gases gerados no forno pode diminuir entre 80 a 90%. Havendo sempre gases gerados no tratamento térmico do material cerâmico (H2O, CO2, SO2, HF, etc.).
Forno elétrico para cozedura de revestimento em monoporosa instalado na empresa Equipe Cerámicas.
• Menor consumo energético – para uma mesma cozedura em combustão. Necessária a mesma quantidade de energia para cozer o produto, no entanto os consumos para manter a temperatura são inferiores nos fornos elétricos em relação aos fornos a combustão.
Desafios e limitações
• Investimento inicial elevado, especialmente em grandes fornos elétricos.
• Capacidade da rede elétrica local pode ser limitante (potência disponível).
• Adequação tecnológica: nem todos os tipos de cerâmica suportam bem a substituição direta por tecnologia elétrica.
• Custos da eletricidade podem ser superiores aos do gás natural (embora este cenário possa vir a alterar-se).
A eletricidade já é usada em processos auxiliares, como atomização, transporte, ventilação e controlo, mas a cozedura e secagem continuam maioritariamente a utilizar tecnologias a combustão.
A eletrificação será provavelmente complementar a outras soluções de descarbonização, como gases renováveis e tecnologias de captura de CO2.
Espera-se uma eletrificação progressiva, começando por linhas produtivas com menor exigência térmica ou mais flexibilidade.

Interior de um secador elétrico, com utilização de infravermelho (Dastech Solutions).
Fornos totalmente elétricos Bombas de calor de alta temperatura Secagem por infravermelhos


Eletrificação do processo de atomização


Sinterização de porcelana com micro-ondas

Exemplos de eletrificação dos processos térmicos.
PRODUÇÃO DE ENERGIA VERDE
A energia verde constitui um vetor fundamental para a descarbonização da indústria cerâmica, através da integração de fontes renováveis nos sistemas de produção. A energia solar fotovoltaica assume particular relevância pelo seu potencial de autoconsumo industrial, enquanto as comunidades de energia renovável oferecem uma abordagem estruturada para a otimização de recursos energéticos, partilhados com empresas vizinhas ou residentes locais.
Energia solar fotovoltaica - Fonte de energia renovável que converte luz solar em eletricidade. Funciona com base no efeito fotovoltaico, onde a radiação solar gera corrente elétrica.
• Baixa manutenção e longa vida útil dos sistemas (20–30 anos).
• Energia limpa, sem emissões de GEE durante a operação.
• Permite autoconsumo, reduzindo a dependência da rede elétrica.
• Excedentes podem ser injetados na rede.
• Custo de investimento inicial em queda nos últimos anos, com retorno a médio prazo.

Instalação de painéis fotovoltaicos na cobertura de uma unidade industrial.
Comunidades de Energia Renovável (CER) - assumem um papel estratégico, permitindo a produção, partilha e consumo local de energia limpa, especialmente solar fotovoltaica. O conceito de produtor âncora, geralmente uma unidade industrial com elevado consumo energético, viabiliza a instalação de centrais fotovoltaicas sobredimensionadas, cujo excedente pode ser partilhado com empresas vizinhas ou residentes locais.
Além dos benefícios ambientais e económicos, as CER promovem a coesão territorial, o envolvimento das comunidades locais e a criação de novos modelos de negócio colaborativos, posicionando o setor cerâmico como agente ativo na transição energética para a neutralidade carbónica até 2050.
COMBUSTÍVEIS NEUTROS EM CARBONO
Combustíveis neutros em carbono, onde se destaca a biomassa, que por ser de origem biológica e renovável, pode constituir uma fonte de energia descarbonizada, uma vez que o CO2 libertado na sua queima é compensado pelo CO2 absorvido pelas plantas durante o seu crescimento.
Na indústria cerâmica, os tipos mais viáveis incluem:
• Pellets de madeira (biomassa densificada e padronizada);
• Estilha de madeira (resíduos florestais ou agrícolas triturados);
• Bagaço de azeitona, cascas de frutos secos, palha compactada, etc;
• Resíduos de serrarias (ex. pó de serrim) e de fábricas de mobiliário;
• Farinhas de biomassa.
A biomassa deve ter baixo teor de humidade, alto poder calorífico e baixo teor de cinzas para evitar problemas de operação nos fornos.
Deve ainda cumprir com os critérios de sustentabilidade, previstos na diretiva RED, para ser considerada neutra em carbono no CELE.
Vantagens:
• Redução de emissões diretas de CO2 (consideradas emissões biogénicas).
• Utilização de resíduos locais, promovendo a economia circular.
• Substituição direta de combustíveis fósseis, sem necessidade de eletrificação.

Estilha de madeira, um resíduo florestal que pode ser valorizado como combustível neutro em carbono, para a indústria cerâmica (diaplant, 2025).
Desafios e Considerações Técnicas
• Adaptação dos fornos: a combustão da biomassa é diferente da combustão do gás natural. Pode ser necessário adaptar queimadores, controlar melhor a temperatura, lidar com a formação de cinzas, etc.
• Abastecimento estável e sustentável: é preciso garantir que a biomassa usada vem de fontes sustentáveis e esteja sempre disponível.
• Normas ambientais e qualidade do ar: a queima de biomassa pode emitir partículas finas e compostos voláteis (efeito cruzado). É fundamental ter sistemas de controlo eficientes.
• Custo de investimento inicial: adaptação de fornos, silos de armazenamento, sistemas de alimentação automática.
A descarbonização deste setor com biomassa é particularmente interessante em Portugal dada a forte presença florestal ou agroindustrial, com abundância de matéria-prima residual.
ECONOMIA CIRCULAR E DESIGN PARA A SUSTENTABILIDADE
A economia circular desempenha um papel fundamental na descarbonização da indústria cerâmica ao promover a utilização mais eficiente dos recursos e a redução das emissões ao longo de todo o ciclo de vida dos produtos. Em contraste com o modelo linear de "extrair-produzir-descartar", a economia circular privilegia a retenção de valor através da reutilização, reciclagem e reintrodução de materiais nos processos produtivos. Esta abordagem permite evitar emissões associadas desde a extração de matérias-primas virgens até à deposição de resíduos em aterro.
Assim, algumas das estratégias de economia circular na cerâmica englobam:
• Ecodesign: Integra considerações ambientais no design do produto, influenciando até 80% dos seus impactes ambientais. Desde a conceção, procura otimizar o desempenho ambiental ao longo de todo o ciclo de vida, promovendo o uso eficiente de recursos.
• Prevenção e valorização de resíduos | Simbioses industriais: A incorporação de resíduos na cerâmica, tanto da própria indústria (poeiras, lamas, cacos) como de outros setores (papel, fundição, pedras, curtumes, etc.), reduzindo o consumo de matérias-primas e fortalecendo a economia circular. Inclui ainda partilha de infraestruturas (incluindo energéticas) e serviços.
• Extensão do ciclo de vida: Visa prolongar a utilidade dos produtos cerâmicos e valorizar resíduos através da sua reconversão em novos materiais ou produtos.
• Pensamento de ciclo de vida: Valoriza o uso eficiente de recursos em todas as fases do produto — da extração ao fim de vida — promovendo decisões mais sustentáveis.


Abordagem da economia circular, face à abordagem da economia linear.
Um dos principais vetores de descarbonização passa pela substituição de matérias-primas carbonatadas , como o calcário ou a dolomite, por resíduos ou subprodutos industriais isentos de carbono ou com menor teor, ou seja matérias-primas alternativas. Esta substituição evita as emissões de CO2 resultantes da decomposição térmica dos carbonatos durante o processo de fabrico (emissões de processo), que podem representar até 20 a 25% das emissões diretas na indústria cerâmica.
Do lado energético, a incorporação de materiais com valor calorífico, incluindo resíduos não recicláveis ou subprodutos orgânicos, permite reduzir a dependência de combustíveis fósseis, que são a principal fonte de emissões diretas nesta indústria. Estes combustíveis alternativos não só contribuem para a neutralidade carbónica, como também evitam a emissão de GEE associados à decomposição de resíduos em aterro.
Além da redução direta de emissões, a economia circular gera benefícios indiretos, como a diminuição da pressão sobre os recursos naturais, menores emissões e a promoção de cadeias de abastecimento mais resilientes e sustentáveis. Ao fechar ciclos de materiais e energia, a indústria cerâmica pode alinhar-se com as metas de descarbonização sem comprometer a qualidade dos seus produtos e, ao mesmo tempo, gerar valor económico e ambiental.
Oportunidades de crescimento económico e inovação
Redução dos impactos ambientais
Oportunidades de emprego
Diminuição da depêndencia em importações
Benefícios da economia circular.
Economia circular
Económico
Ambiente
Social Recursos
A transição para a economia circular é vista pela Comissão Europeia como uma oportunidade para modernizar e transformar a Europa no seu caminho para uma competitividade sustentável, permitindo reduzir a pressão sobre os recursos naturais e constitui, assim, uma condição prévia para alcançar o objetivo de neutralidade climática até 2050.
Na indústria cerâmica, as fontes mais viáveis de matérias-primas secundárias incluem:
• Resíduos industriais (ex.: cinzas volantes, escórias, lamas de ETAR, caco cerâmico).
• Resíduos agrícolas e florestais.
• Menor extração de recursos naturais, promovendo simbioses industriais.
• Redução da deposição de resíduos em aterros.
• Possível melhoria das propriedades dos produtos.
• Redução da energia de cozedura e consequentes emissões de GEE.
Desafios e Considerações Técnicas:
• Variabilidade na composição dos resíduos.
• Subprodutos de outras indústrias (pedra, papel, vidro, metalurgia, fundição, etc.). Vantagens da utilização de matérias-primas secundárias/ alternativas:
• Necessidade de tratamento prévio.
• Resistência à mudança no setor.
• Cumprimento de normas e regulamentos.
As ferramentas de avaliação de ciclo de vida - ACV desempenham um papel crucial na demonstração da circularidade das estratégias.
Aplicações e exemplos:
• Uso de lamas de ETAR em produtos cerâmicos estruturais (tijolos e telhas).
• Incorporação de cinzas volantes em grés.
• Utilização de resíduos de vidro ou de construção e demolição como substitutos de feldspato ou areia.
Em suma, os vários setores da cerâmica têm capacidade para inovar e valorizar resíduos/subprodutos da própria e de outras indústrias, promovendo estratégias de economia circular e simbioses industriais.
É no entanto, necessário garantir que os resíduos e subprodutos a incorporar não geram impactes ambientais ou de saúde e devem cumprir normas de qualidade e segurança dos produtos finais. O uso deve ser tecnicamente viável e economicamente justificável.
CAPTURA, ARMAZENAMENTO E UTILIZAÇÃO DE CO2 (CCUS)
A captura, armazenamento e utilização de CO2 (conhecida como CCUS – Carbon Capture, Utilisation and Storage) ganha importância como solução complementar à descarbonização em processos onde eletrificar ou substituir integralmente por energias renováveis não é viável ou não permite eliminar todas as emissões, nomeadamente as relacionadas com a decomposição de matérias-primas (ex.: carbonatos e compostos orgânicos).
Tecnologias de captura de CO2
• Pós-combustão
• O CO2 é capturado dos gases de escape após a combustão, normalmente através de solventes químicos (ex. aminas).
• É a tecnologia mais madura e mais facilmente adaptável a unidades industriais existentes.
• Requer espaço adicional e consumo energético (penalização energética).
• Oxi-combustão
• A queima é feita com oxigénio puro em vez de ar, produzindo um gás de escape altamente concentrado em CO2 e vapor de água, facilitando a separação.
• Mais eficiente em termos de captura, mas requer reformulação significativa dos fornos.
• Pré-combustão (menos comum neste setor)
• O combustível é convertido em hidrogénio e CO2 antes da combustão. Usado mais em indústrias como o aço ou o cimento.
Existem diferentes métodos de separação do CO2 em misturas de gases, a sua seleção e desempenho dependem de critérios como:
• Composição do gás
• Concentração de CO2.
• Nível de contaminantes,
• Fluxo do gás e flutuações.
• Aplicação do CO2 ou nível de pureza desejado (> 95% para hidrogenação e > 99% para transporte).
• Utilidades e oportunidades de integração energética.
• Custo e disponibilidade de soluções comerciais.

Tecnologias de captura de CO2 (NET4CO2).
Armazenamento de CO2 (CCS)
• O CO2 capturado pode ser comprimido e transportado (por camião, gasoduto ou navio) até locais de armazenamento geológico (ex.: formações geológicas profundas).
• Em Portugal, a capacidade de armazenamento geológico ainda está a ser avaliada, com possibilidades em zonas offshore da costa atlântica.
Utilização do CO2 (CCU)
Em vez de armazenar, o CO2 pode ser valorizado como matéria-prima, por exemplo:
• Produção de carbonatos usados em cerâmica técnica ou materiais de construção.
• Incorporação em processos químicos (ex. produção de metanol, combustíveis sintéticos).
• Cura de cimento ou betão com CO2 para formar carbonatos estáveis.
Ainda em fase de desenvolvimento tecnológico ou piloto na maioria dos casos, mas promissoras a médio prazo.
Desafios e limitações
• Baixa concentração de CO2 nos efluentes gasosos provenientes do processo cerâmico, com necessidade de desenvolvimento de soluções tecnológicas adaptadas.
• Elevado custo de investimento e operação, sobretudo em pequenas e médias empresas.
• Necessidade de integração com outras tecnologias
(ex. eletrificação, gases renováveis) para maximizar impacto.
• Falta de infraestrutura de transporte e armazenamento de CO2 em Portugal, o que limita a aplicabilidade imediata do CCS.
• Regulamentação e incentivos ainda em consolidação na UE, embora já exista financiamento europeu disponível para projetos piloto.

Cadeia de processos envolvidos nas soluções de captura, utilização e armazenamento geológico de carbono (NET4CO2).
NOVOS PROCESSOS DE FABRICO
Abordagens disruptivas no setor da cerâmica visam substituir os processos convencionais por tecnologias inovadoras que eliminam ou reduzem significativamente as emissões de carbono, promovendo eficiência energética e flexibilidade produtiva. Destacam-se aqui algumas das soluções mais promissoras nesta transformação.
Microgranulação via seca: visa a produção de pós granulares com boa fluidez e compressibilidade, adequados para prensagem isostática ou uniaxial. Constitui uma alternativa mais eficiente e sustentável à tradicional granulação por via húmida (atomização).
Baseia-se na aglomeração de matérias-primas cerâmicas com a ajuda de uma quantidade mínima de água e/ou aditivos (como ligantes e agentes anti-estáticos). As etapas principais incluem:
1. Mistura de matérias-primas secas com aditivos.
2. Compactação preliminar, por vezes com rolos compactadores (roll compaction).
3. Quebra e classificação dos aglomerados obtidos, gerando grânulos com distribuição granulométrica controlada.
4. Eventual secagem térmica leve, dependendo da humidade residual.

Tecnologia de microgranulação Migratech©.
Vantagens:
• Redução significativa do consumo de água e eliminação das fases de secagem e atomização típicas da via húmida.
• Menor consumo energético global.
• Menores emissões de CO2 (contribuindo para a descarbonização).
• Processo mais rápido e compacto, com menor área de instalação.
• Redução de resíduos líquidos (como águas residuais ou lamas de filtro prensa).
Desafios e limitações:
• Pode exigir controlo rigoroso das propriedades do pó, nomeadamente da humidade e da distribuição granulométrica.
• Algumas formulações cerâmicas podem não ser compatíveis com a prensagem a seco sem ajustes específicos.
• A qualidade estética (p. ex.: em superfícies vidradas) pode ser ligeiramente inferior à obtida por via húmida, dependendo também do processo de sinterização.
Tecnologias de secagem e cozedura avançadas
Micro-ondas: aquecem materiais através da excitação das moléculas de água e outros componentes polares, gerando calor de dentro para fora, ao contrário dos métodos tradicionais (como fornos a gás), que aquecem de fora para dentro por condução e convecção.
Secagem:
• Mais rápida e eficiente: pode ser até 10 vezes mais rápida do que métodos convencionais.
• Redução de fissuras e deformações: o aquecimento homogéneo reduz gradientes térmicos e tensões internas.
• Menor consumo de energia: apesar do custo elevado da tecnologia, o consumo energético pode ser mais eficiente por unidade de produto, sobretudo em produtos sensíveis.
Cozedura:
• Menos comum, mas promissora: ainda em fase de investigação e prototipagem para muitas aplicações, com avanços significativos.
• Permite cozedura a temperaturas mais uniformes, com melhor controlo do perfil térmico.
• Possibilidade de cozedura híbrida (complementando fornos convencionais), reduzindo o tempo de ciclo.



Tecnologia de cozedura com micro-ondas (CTCV, 2022).
Infravermelhos (IR): A radiação infravermelha transmite calor por radiação eletromagnética, geralmente na gama entre 0,78 µm e 10 µm. Ao incidir sobre uma superfície, essa energia é absorvida e convertida em calor, aquecendo diretamente o material, sem necessidade de aquecer o ar em redor.
Secagem:
• Secagem superficial muito rápida, ideal para peças finas, vidrados ou argilas com humidade residual superficial.
• Utilizada como pré-secagem antes da entrada nos secadores tradicionais, acelerando o processo global.
Cozedura ou Pré-aquecimento:
• Embora não substitua a cozedura final (que exige altas temperaturas uniformes), a IR pode ser usada como pré-aquecimento rápido para reduzir o tempo dentro dos fornos principais.
Sinterização flash: consiste na aplicação de um campo elétrico a um corpo cerâmico enquanto este é aquecido. A uma determinada temperatura (abaixo da de sinterização convencional), ocorre um fenómeno repentino onde a condutividade elétrica do material aumenta drasticamente, iniciando a densificação quase instantaneamente, "efeito flash".
• Temperaturas até 500–900 °C abaixo das convencionais.
• Tempos de sinterização de poucos segundos a minutos.
Desafios e Limitações
• Escalabilidade limitada: a maioria das aplicações é ainda de laboratório ou prototipagem; difícil escalar para grandes volumes ou peças grandes.
• Necessidade de controlo rigoroso: exige precisão na temperatura, corrente elétrica e atmosfera de sinterização.
• Compatibilidade com materiais: nem todos os materiais cerâmicos reagem da mesma forma ao campo elétrico.
• Investimento em infraestrutura especializada.
A transição para processos de fabrico cerâmico mais sustentáveis exige uma abordagem integrada: combinar fontes de energia limpa, novas tecnologias térmicas, matérias-primas alternativas e controlo digital da produção. Muitas destas soluções estão em fase piloto, mas têm potencial para revolucionar a indústria nos próximos anos.

Princípio de funcionamento da técnica de sinterização flash (projeto FLASHPOR).
FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS DIGITAIS PARA A DESCARBONIZAÇÃO
A transformação digital disponibiliza várias soluções tecnológicas que podem apoiar os principais desafios da descarbonização na indústria cerâmica, como o elevado consumo energético, a ineficiência dos processos e a monitorização limitada. Estas ferramentas permitem otimizar o consumo energético, reduzir desperdícios, melhorar a eficiência produtiva e promover modelos de negócio circulares, contribuindo assim para uma indústria cerâmica mais sustentável e alinhada com os objetivos de neutralidade carbónica.
MES / SCADA / IoT – Controlo e otimização dos processos produtivos
Os sistemas MES e SCADA permitem monitorizar e controlar os processos produtivos em tempo real, melhorando a rastreabilidade, eficiência e gestão operacional.
Os sensores IoT recolhem dados críticos como temperatura, consumo energético ou emissões, permitindo ajustes dinâmicos e manutenção preditiva.
A integração destas tecnologias contribui para uma operação mais eficiente, com menor consumo de energia e menos desperdício.

Big Data e Analytics – Análise de dados
A indústria cerâmica gera grandes volumes de dados a partir de sensores, sistemas de produção, qualidade e manutenção. O uso de Analytics permite transformar estes dados em informação estratégica, identificar padrões, otimizar processos e antecipar falhas.
Esta análise é fundamental para reduzir consumos energéticos, melhorar a qualidade e apoiar decisões orientadas à descarbonização.

Sistema SACMI HERE (SACMI,2025)
Inteligência Artificial (IA)
A IA e o Machine Learning permitem que os sistemas aprendam com os dados, otimizem parâmetros de produção e aumentem a eficiência energética.
Os modelos preditivos podem antecipar falhas, ajustar automaticamente processos e apoiar uma gestão inteligente da produção.
Também se destaca o design generativo, que otimiza o desenvolvimento de produtos, reduzindo materiais e tempos de cozedura.
Digital Twins – Gémeos Digitais
Os gémeos digitais criam réplicas virtuais de equipamentos ou linhas de produção, simulando diferentes cenários para reduzir consumos e emissões.
Permitem testar alterações sem parar a produção, prever o desempenho de fornos e otimizar parâmetros de forma contínua.
São úteis em formação, desenvolvimento de produto e planeamento estratégico, apoiando a inovação e a sustentabilidade.
Apesar do elevado potencial das ferramentas digitais para descarbonizar a indústria cerâmica, persistem desafios importantes, como a dependência de tecnologias proprietárias, que limita a flexibilidade; a disponibilidade e qualidade dos dados, essenciais para uma aplicação eficaz; a complexidade na integração e interoperabilidade entre diferentes sistemas; a falta de técnicos qualificados, especialmente em áreas como análise de dados; e os custos elevados de implementação, que representam uma barreira significativa, sobretudo para as pequenas e médias empresas (PMEs).

Os gémeos digitais permitem analisar e efetuar simulações num ambiente de teste seguro e eficaz (©Haiyin Wang/Alamy).

Projeções para o setor
As projeções para o setor cerâmico nos próximos anos indicam uma trajetória de crescimento moderado da produção, acompanhando a recuperação económica e a procura por materiais de construção e produtos cerâmicos técnicos e decorativos, tanto a nível nacional como internacional. Este aumento da atividade industrial poderá implicar uma subida do consumo energético global do setor, especialmente em energia térmica, que continua a representar a maior parte do consumo total, devido à elevada dependência dos fornos de cozedura. O gás natural mantém-se como o principal combustível, embora se preveja uma diversificação gradual da matriz energética com a introdução de fontes renováveis e combustíveis alternativos, como o hidrogénio ou a biomassa.
No que respeita ao consumo de eletricidade, espera-se um crescimento progressivo impulsionado pela eletrificação de processos, nomeadamente nas fases de secagem, preparação de pastas e eventualmente na cozedura, à medida que tecnologias de fornos elétricos forem sendo testadas e integradas. A transição para eletricidade de origem renovável será determinante para garantir uma redução real das emissões associadas a este vetor energético, num contexto de crescente exigência regulatória e de mercado.
Em termos de emissões globais de GEE, o setor enfrenta o desafio de dissociar o crescimento da produção do aumento das emissões. Apesar dos avanços tecnológicos e da melhoria na eficiência energética, as emissões diretas, sobretudo resultantes da queima de combustíveis fósseis e da decomposição das matérias-primas calcárias, continuam a representar uma parte significativa do impacto ambiental da cerâmica.
As projeções apontam para uma redução gradual das emissões específicas (por tonelada de produto), mas o volume absoluto de emissões poderá manter-se estável ou descer ligeiramente, dependendo da velocidade de adoção de tecnologias disruptivas, da penetração de energias limpas e da implementação de políticas eficazes de descarbonização em toda a cadeia de valor.
PROJEÇÕES DO SETOR: PRODUÇÃO
Na Indústria Cerâmica nacional perspetiva-se, em 2050 face a 2024, um crescimento global da produção. Este crescimento global decorre de um crescimento médio anual:
• De [0,2% - 0,3%] do subsetor da Cerâmica Estrutural, que se mantém como o subsetor mais representativo desta indústria, em volume de produção, sendo impulsionado pela produção de tijolo e dos agregados leves;
• De [0,4% - 0,5%] do subsetor de Pavimento e Revestimento;
• De [1,0% - 1,2%] do subsetor da Louça Sanitária;
• De [0,6% - 1,2%] do subsetor da Cerâmica Utilitária e Decorativa, alavancada pelas indústrias de Porcelana e Faiança;
• De [0,28% - 0,34%] do subsetor da Cerâmica Técnica, Refratários e outros até 2050.
As projeções de produção da indústria cerâmica até 2050 foram elaboradas com base na análise de tendências históricas de produção, exportações e importações, bem como taxas de crescimento previstas em estudos de mercado.
Projeções de produção da Indústria Cerâmica Nacional1

Projeções de produção da Indústria Cerâmica Nacional1 (CTCV complementado com dados estatísticos do INE, Statista, Global Markets Model e Oxford).
1.Nota: Para efeitos de análise das projeções da produção da indústria da cerâmica em Portugal até 2050, foram calculadas previsões em banda, representando a evolução da produção máxima e mínima esperada para cada subsetor. Devido à complexidade visual e à dificuldade de interpretação dos dados, optou-se por utilizar uma linha que reflete os valores médios da banda de cada subsetor, facilitando a compreensão das dinâmicas esperadas do setor.
PROJEÇÕES DO SETOR: CONSUMO GLOBAL DE ENERGIA TÉRMICA E ELETRICIDADE
Considerando um cenário Business as Usual, que estima a evolução das necessidades energéticas da Indústria Cerâmica considerando as previsões de crescimento de produção do setor, mantendo os vetores energéticos, tecnologias e práticas industriais as is, perspetiva-se, em 2050 face a 2024, um aumento anual médio das necessidades energéticas de 0,8%. Este aumento global decorre do crescimento anual médio:
• De 0,2% do subsetor da Cerâmica Estrutural, resultando de um consumo energético diretamente proporcional ao crescimento de produção de alguns produtos do subsetor, nomeadamente tijolo e agregados leves;
• De 0,5% do subsetor de Pavimento e Revestimento, o subsetor mais representativo desta indústria, em termos de consumos energéticos;
• De 1,2% do Louça Sanitária;
• De 1,5% no subsetor da Cerâmica Utilitária e Decorativa sendo este aumento do consumo de energia alavancada pelas indústrias da Porcelana e da Faiança;
• De 0,3% do subsetor da Cerâmica Técnica, Refratários e outros.
As projeções no consumo de energia apresentadas no gráfico consideram energia térmica e energia elétrica de forma agregada.
Projeções das necessidades energéticas da Indústria Cerâmica

Projeções das necessidades energéticas da Indústria Cerâmica (CTCV complementado com dados estatísticos do INE, Statista, Global Markets Model e Oxford).
PROJEÇÕES DO SETOR: EMISSÕES GLOBAIS DE GEE – BUSINESS AS USUAL
Considerando um cenário Business as Usual, que estima a evolução das emissões de âmbito 1 e 2 da Indústria Cerâmica considerando as previsões de consumo de energia e de crescimento de produção do setor, mantendo os vetores energéticos, tecnologias e práticas industriais as is, perspetiva-se, até 2050, face a 2024, um aumento médio anual das emissões de 0,3%. Este aumento global das emissões de GEE decorre do aumento médio anual:
• De 0,1% no subsetor da Cerâmica Estrutural;
• De 0,4% no subsetor da Louça Sanitária;
• De 1,1% no subsetor da Cerâmica Utilitária e Decorativa, o subsetor mais intensivo em carbono desta indústria;
• Para o subsetor Cerâmica de Pavimento e Revestimento estima-se uma redução média anual das emissões de -0,3%;
• Para o subsetor da Cerâmica Técnica, Refratários e outros estima-se uma redução média anual das emissões de -0,1%;
O facto do crescimento da produção dos subsetores da Cerâmica de Pavimento e Revestimento e da Cerâmica Técnica, Refratários e outros ser mais reduzido que os restantes subsetores aliado à redução progressiva do fator de emissão do mix energético considerada no cenário Business as Usual, resulta num decréscimo das emissões de GEE destes subsetores no horizonte temporal considerado.
As projeções de evolução de emissões de GEE apresentadas no gráfico consideram os âmbitos de emissões 1 e 2 de forma agregada.
Projeções das emissões de GEE Business as Usual da Indústria Cerâmica

Projeções das emissões de GEE Business as Usual da Indústria Cerâmica (CTCV complementado com dados estatísticos do INE, Statista, Global Markets Model e Oxford).


Análise de custos e benefícios resultantes da dasimplementação medidas, técnicas e tecnologias
A definição de trajetórias ótimas de descarbonização carece de análises de custo-benefício aos vetores, medidas e tecnologias de descarbonização consideradas.
A evolução do custo médio de descarbonização ao longo do horizonte temporal estabelecido não é estanque, estando dependente de um conjunto de enablers com influência direta na evolução do custos dos vetores.
A presente análise de custo-benefício considera os custos de investimento, evolução dos custos operacionais, alterações de combustível/feedstock e respetivo potencial de redução de emissões.
Vetor de descarbonização
Eficiência energética
Combustíveis renováveis
Eletrificação
Tecnologias de remoção de emissões*
Economia circular
Legenda:
Relevância reduzida
Custo médio de descarbonização1 €/tCO2eq.
Relevância moderada
Relevância elevada
Evolução dos mercados de carbono
Relevância para a definição do custo de descarbonização
Disponibilidade e custo dos feedstocks2
Disponibilidade e custo da eletricidade renovável
Adaptação de novas tecnologias3 à escala industrial
Take-off de tecnologias de CCS4 e CCUS5
Incentivos à circularidade
1. Custo de descarbonização por tCO2eq reduzido contempla custos de investimento, feedstock, potencial de redução de emissões ou preço de carbono. Quando aplicável, ao custo do vetor subtrai-se o valor do feedstock (e.g.,biometano por gás natural) que deixa de ser consumidos devido à transição tecnológica. 2. Biomassa, combustíveis fósseis (e.g. gás natural). 3. Tecnologias com TRL baixo (e.g. tecnologias de secagem de vácuo, novos processos de sinterização, micro-ondas/infravermelhos). 4. Carbon Capture and Storage 5. Carbon Capture, Utilisation and Storage
* Considerado horizonte temporal 2040 | 2050
O vetor eficiência energética apresenta em 2025 um custo médio de descarbonização relativamente elevado, influenciado pelo investimento inicial em equipamentos e/ou tecnologias. A redução considerável no consumo energético, traduz-se na redução de custos e emissões de GEE, pelo que se estima uma tendência de redução gradual do custos médios de descarbonização ao longo do tempo, face a 2025.
O custo médio de descarbonização estimado pela adoção de combustíveis renováveis, nomeadamente biometano e hidrogénio (15%), é relativamente elevado em 2025. No entanto, perante previsões de aumento da disponibilidade destes combustíveis e respetiva redução do preço, estima-se que ambos sejam soluções custo-benéficas a adotar pela Indústria Cerâmica no horizonte temporal estabelecido.
A redução do consumo de combustíveis fósseis por via da eletrificação dos processos industriais é uma solução de descarbonização crítica para a indústria nacional alcançar as metas de redução de emissões estabelecidas. A evolução para uma rede elétrica neutra em carbono em 2050, aliada a um preço de eletricidade cada vez mais baixo (estimando-se valores abaixo de 80€/MWh), tornam a eletrificação num importante vetor de descarbonização para esta indústria. Por outro lado, o elevado investimento inicial em equipamentos/tecnologias traduz-se num custo médio de descarbonização elevado em 2025, ainda que, com previsão de descida gradual ao longo do horizonte temporal considerado.
Pelo seu baixo nível de TRL** atual, as tecnologias de remoção de carbono, nomeadamente CCUS***, apenas são consideradas, neste roteiro, de 2040 em diante, prevendo-se um custo médio descarbonização abaixo dos 250€/tCO2eq., com tendência a reduzir ao longo do tempo.
A economia circular, nomeadamente a reutilização de caco cerâmico, constitui-se como um vetor de descarbonização
custo-benefício, pelo facto de permitir a redução de emissões através da redução da procura de matérias-primas virgens e, de não exigir um investimento inicial significativo.
Eficiência energética
Combustíveis renováveis
Eletrificação
Tecnologias de remoção de emissões*
Economia circular
Legenda:
Tendência de custo decrescente
de custo crescente
1..Custo de descarbonização por tonelada de CO2 equivalente reduzido inclui custos de investimento, feedstock, potencial de redução de emissões ou preço de carbono. Quando aplicável, ao custo do vetor subtrai-se o valor do feedstock (e.g.,biometano por gás natural) que deixa de ser consumido devido à transição tecnológica.
* Considerado horizonte temporal 2040 | 2050. **Tecnology Readiness Level. *** Carbon Capture, Utilisation and Storage .
Vetor de descarbonização
Custo médio de descarbonização1 (€/tCO2eq.)


Trajetórias custo-eficazes de redução de emissões de GEE
Trajetória de Emissões (âmbitos 1 e 2)
Indústria Cerâmica
Potencial de descarbonização face ao total de emissões abatidas em cada quinquénio
Vetor de descarbonização
Eficiência energética
Economia circular
Biomassa
Biometano
Eletrificação
Cenário Business as Usual
Cenário de Neutralidade Carbónica - Âmbito 1
Cenário de Neutralidade Carbónica - Âmbito 2
Novas tecnologias
Legenda:
Potencial reduzido
Potencial moderado
Potencial elevado
Potencial muito elevado
Para a análise foram estabelecidos dois cenários de evolução de emissões:
Business as Usual (BAU) – que estima a evolução de emissões de GEE considerando as previsões de crescimento de produção do setor, mantendo os vetores energéticos, tecnologias e práticas industriais as is.
Neutralidade Carbónica – que estima a evolução de emissões de GEE considerando as previsões de crescimento de produção do setor e a implementação de vetores, medidas e tecnologias de descarbonização custo-eficazes ao longo do tempo, com o objetivo de alcançar a neutralidade carbónica da Indústria Cerâmica em 2050.
O Cenário Business as Usual (BAU) assume que as práticas industriais permanecem inalteradas, prevendo apenas um aumento da produção da Indústria Cerâmica até 2050 e um crescimento das emissões de âmbito 1 e 2, considerando um mix de eletricidade neutro em 2050.
No Cenário de Neutralidade Carbónica, as emissões de âmbito 1 diminuem 15% em 2030 face ao Cenário BAU, devido a vetores como a eficiência energética, economia circular, maior utilização de biomassa e novas tecnologias. O desenvolvimento de novas tecnologias transversais aos diversos vetores de descarbonização apresenta um papel de relevo no alcance da neutralidade carbónica em 2050.
Após 2030, a redução das emissões de âmbito 1 torna-se mais
acentuada, com a crescente eletrificação do processo produtivo, a adoção de biometano e a utilização de hidrogénio verde.
As emissões de âmbito 2 variam em função do mix de eletricidade e do nível de eletrificação. Após 2030, as emissões registam um ligeiro aumento devido ao maior consumo de eletricidade, mas diminuem antes de 2040 com a crescente redução do fator de emissão. Com um mix energético nulo, estima-se redução total das emissões de âmbito 2 em 2050.
*Carbon Capture, Utilisation and Storage. * * Novas tecnologias são definidas como outras tecnologias de maturidade reduzida, relativamente às quais se prevê um aumento da disponibilidade em escala industrial ao longo do horizonte temporal considerado.
CENÁRIOS PARA O SUBSETOR DA CERÂMICA ESTRUTURAL
Trajetória de Emissões (âmbitos 1 e 2)
Cerâmica Estrutural
Cenário Business as Usual
Cenário de Neutralidade Carbónica - Âmbito 1
Cenário de Neutralidade Carbónica - Âmbito 2
Potencial de descarbonização face ao total de emissões abatidas em cada quinquénio
Vetor de descarbonização 2025-2030
Eficiência energética
Economia circular
Biomassa
Biometano
Eletrificação
CCUS**
Novas tecnologias
Legenda:
Potencial reduzido
Potencial moderado
Potencial elevado
Potencial muito elevado
No Cenário Business as Usual (BAU), prevê-se um crescimento na produção relativa ao subsetor da Cerâmica Estrutural até 2050, resultando num aumento das emissões de âmbito 1 e 2.
No Cenário de Neutralidade Carbónica, até 2030, as emissões de âmbito 1 são reduzidas em comparação com o Cenário BAU, devido a medidas de eficiência energética, economia circular, novas tecnologias, biomassa e crescente adoção de biometano. Após 2030, a biomassa e o biometano constituem-se como os principais vetores de descarbonização do subsetor.
As tecnologias CCUS** também são consideradas, mas apenas após 2040 e com potencial reduzido.
As emissões de âmbito 2 diminuem até 2030, em função de um mix energético com um fator de emissão que diminui de forma gradual, estimando-se uma redução total das emissões de âmbito 2 em 2050.
*Carbon Capture, Utilisation and Storage. ** Novas tecnologias são definidas como outras tecnologias de maturidade reduzida, relativamente às quais se prevê um aumento da disponibilidade em escala industrial ao longo do horizonte temporal considerado.
CENÁRIOS PARA O SUBSETOR DO PAVIMENTO E REVESTIMENTO CERÂMICO
Trajetória de Emissões (âmbitos 1 e 2)
Cerâmica de Pavimento e Revestimento
Cenário Business as Usual
Cenário de Neutralidade Carbónica - Âmbito 1
Cenário de Neutralidade Carbónica - Âmbito 2
Potencial de descarbonização face ao total de emissões abatidas em cada quinquénio
Vetor de descarbonização
Eficiência energética
Economia circular
Hidrogénio verde (15%)
Biomassa
Biometano
Eletrificação
CCUS*
Novas tecnologias
Legenda:
Potencial reduzido
Potencial moderado
Potencial muito elevado
No Cenário Business as Usual (BAU), prevê-se um crescimento na produção relativa ao subsetor Cerâmica de Pavimento e Revestimento até 2050, resultando num aumento das emissões de âmbito 1 e 2.
No Cenário de Neutralidade Carbónica, até 2030, as emissões de âmbito 1 são reduzidas em comparação com o Cenário BAU, devido a medidas de eficiência energética, economia circular e novas tecnologias. Após 2030, a redução das emis-
sões torna-se mais acentuada principalmente com a adoção biometano, biomassa e hidrogénio verde, mas também com a eletrificação do processo produtivo. As tecnologias CCUS** também são consideradas, mas apenas após 2040 e com potencial reduzido.
As emissões de âmbito 2 diminuem progressivamente até 2050, em função do nível de eletrificação e do mix energético, que se estima que seja nulo em 2050.
*Carbon Capture, Utilisation and Storage. ** Novas tecnologias são definidas como outras tecnologias de maturidade reduzida, relativamente às quais se prevê um aumento da disponibilidade em escala industrial ao longo do horizonte temporal considerado.
CENÁRIOS PARA O SUBSETOR DA LOUÇA SANITÁRIA
Trajetória de Emissões (âmbito 1 e 2)
Cerâmica de Louça Sanitária
Potencial de descarbonização face ao total de emissões abatidas em cada quinquénio
Vetor de descarbonização
Eficiência energética
Economia circular
Hidrogénio verde (15%)
Biometano
Eletrificação
Cenário Business as Usual
Cenário de Neutralidade Carbónica - Âmbito 1
Cenário de Neutralidade Carbónica - Âmbito 2
Novas tecnologias
Legenda:
Potencial reduzido
Potencial moderado
Potencial elevado
Potencial muito elevado
No Cenário Business as Usual (BAU), prevê-se um crescimento na produção relativa ao subsetor da Louça Sanitária até 2050, resultando num aumento das emissões de âmbito 1 e 2.
No Cenário de Neutralidade Carbónica, até 2030, as emissões de âmbito 1 são reduzidas em comparação com o Cenário BAU, devido, sobretudo, a medidas de eficiência energética. Após 2030, a redução das emissões torna-se mais acentuada, com a adoção de hidrogénio verde e a eletrificação do processo produtivo. As tecnologias CCUS** também são consideradas, mas apenas após 2040 e com potencial reduzido.
As emissões de âmbito 2 diminuem até 2030, em função de um mix energético que decresce gradualmente até 2050. Após 2030, as emissões aumentam devido à preponderância do vetor eletrificação no subsetor, diminuindo novamente antes de 2040 com a redução do fator de emissão. Com um mix energético nulo, estima-se redução total das emissões de âmbito 2 em 2050.
*Carbon Capture, Utilisation and Storage. ** Novas tecnologias são definidas como outras tecnologias de maturidade reduzida, relativamente às quais se prevê um aumento da disponibilidade em escala industrial ao longo do horizonte temporal considerado.
CENÁRIOS PARA O SUBSETOR DA CERÂMICA UTILITÁRIA E DECORATIVA
Trajetória de Emissões (âmbitos 1 e 2)
Cerâmica Utilitária e Decorativa
Potencial de descarbonização face ao total de emissões abatidas em cada quinquénio
Vetor de descarbonização 2025-2030 2030 - 2035
Eficiência energética
Economia circular
Hidrogénio verde (15%)
Biometano
Eletrificação
Cenário Business as Usual
Cenário de Neutralidade Carbónica - Âmbito 1
Cenário de Neutralidade Carbónica - Âmbito 2
Novas tecnologias
Legenda:
Potencial reduzido
Potencial moderado
Potencial elevado
Potencial muito elevado
No Cenário Business as Usual (BAU), prevê-se um crescimento na produção relativa ao subsetor da Cerâmica Utilitária e Decorativa até 2050, resultando num aumento das emissões de âmbito 1 e 2.
No Cenário de Neutralidade Carbónica, até 2030, as emissões de âmbito 1 são reduzidas em comparação com o Cenário BAU, maioritariamente devido a medidas de eficiência energética, mas também devido aos vetores economia circular e novas tecnologias. Após 2030, estima-se uma redução mais acentuada das emissões, com a eletrificação do processo produ-
tivo e de forma mais moderada com a adoção de biometano e hidrogénio verde. As tecnologias CCUS** também são consideradas, mas apenas após 2040 e com potencial reduzido.
As emissões de âmbito 2 diminuem até 2030, em função de um mix energético que decresce gradualmente até 2050. Após 2030, as emissões aumentam devido à preponderância do vetor eletrificação no subsetor, diminuindo novamente antes de 2040 com a redução do fator de emissão. Com um mix energético nulo, estima-se redução total das emissões de âmbito 2 em 2050.
*Carbon Capture, Utilisation and Storage. * * Novas tecnologias são definidas como outras tecnologias de maturidade reduzida, relativamente às quais se prevê um aumento da disponibilidade em escala industrial ao longo do horizonte temporal considerado.
CENÁRIOS DA CERÂMICA TÉCNICA, REFRATÁRIOS E OUTROS
Trajetória de Emissões (âmbitos 1 e 2)
Cerâmica Técnica, Refratários e Outros
Cenário Business as Usual
Cenário de Neutralidade Carbónica - Âmbito 1
Cenário de Neutralidade Carbónica - Âmbito 2
Potencial de descarbonização face ao total de emissões abatidas em cada quinquénio
Vetor de descarbonização
Eficiência energética
Economia circular
Hidrogénio verde (15%)
Biometano
Eletrificação
CCUS*
Novas tecnologias
Legenda:
Potencial reduzido
Potencial moderado
Potencial elevado
Potencial muito elevado
No Cenário Business as Usual (BAU), prevê-se um crescimento na produção relativa ao subsetor da Cerâmica Técnica, Refratários e outros até 2050, resultando num aumento das emissões de âmbito 1 e 2.
No Cenário de Neutralidade Carbónica, até 2030, as emissões de âmbito 1 são reduzidas em comparação com o Cenário BAU, maioritariamente devido a medidas de eficiência energética, mas também economia circular e novas tecnologias. Após 2030, a redução das emissões torna-se mais acentuada, principalmente devido à eletrificação, mas também com
a adoção de hidrogénio verde e biometano. As tecnologias CCUS** também são consideradas, mas apenas após 2040 e com potencial reduzido.
As emissões de âmbito 2 diminuem até 2030, em função de um mix energético que decresce gradualmente até 2050. Após 2030, as emissões aumentam devido ao crescente consumo de eletricidade, diminuindo novamente antes de 2040 com a redução do fator de emissão. Com um mix energético nulo, estima-se redução total das emissões de âmbito 2 em 2050.
*Carbon Capture, Utilisation and Storage. * * Novas tecnologias são definidas como outras tecnologias de maturidade reduzida, relativamente às quais se prevê um aumento da disponibilidade em escala industrial ao longo do horizonte temporal considerado.


Necessidades energéticas para a descarbonização
A descarbonização do setor cerâmico implica uma transformação profunda no seu modelo energético, exigindo a substituição progressiva dos combustíveis fósseis por eletricidade verde, gases renováveis, como o hidrogénio verde e o biometano, e a biomassa. Este setor, altamente intensivo em energia térmica, enfrenta o desafio de manter a eficiência e qualidade dos processos industriais, ao mesmo tempo que reduz drasticamente as suas emissões de CO2.
Para suprimir as necessidade energéticas da indústria cerâmica estima-se que serão necessárias em 2050 (em função também do mix disponibilizado):
• 7500-9500 TJ de biometano
• 2500-5000 TJ de hidrogénio verde
A transição energética da indústria cerâmica exigirá um aumento substancial da oferta e disponibilidade de energia verde, tanto elétrica como de gases renováveis. Estima-se que, para cumprir metas de neutralidade carbónica até 2050, o setor terá de triplicar ou quadruplicar o consumo atual de eletricidade renovável e substituir quase a totalidade do gás natural por biometano ou hidrogénio verde. Este caminho requer investimento público e privado, infraestruturas energéticas adaptadas e um forte compromisso com a inovação e digitalização industrial.
Biometano 5000-6500 6000-8500 7500-9500
Hidrogénio 500-1000 1000-3500 2500-5000
TJ 2030 2040 2050

Capacitar para a descarbonização
As metas para a descarbonização definidas a nível nacional e europeu são ambiciosas, num contexto em que os mercados se tornam cada vez mais exigentes. Torna-se, por isso, indispensável capacitar empresários e quadros técnicos com a informação e o conhecimento necessários para uma transição económica e tecnológica bem-sucedida. Apesar de representar uma rutura com alguns dos paradigmas atuais, este processo deve ser visto como uma oportunidade para impulsionar uma transformação estrutural e reconfigurar a atividade industrial, tanto ao nível dos processos produtivos como da gestão e utilização dos recursos, promovendo, assim, o crescimento do setor.
De acordo com o estudo “O Futuro do Trabalho nos Setores da Cerâmica e Cristalaria”, promovido pelo CTCV com o apoio da Nova SBE, a maioria dos perfis profissionais apresenta lacunas significativas em quase todas as competências ambientais avaliadas. A capacidade de conhecer e aplicar ferramentas e técnicas de avaliação de sustentabilidade e descarbonização é atualmente uma competência crítica, com elevada necessidade de reforço em diversos perfis, sobretudo em funções técnicas e estratégicas como engenheiros de processo, técnicos de manutenção, qualidade ou desenvolvimento. Alguns destes perfis apresentam lacunas de competência que atingem 8 numa escala de 0 a 10, o que evidencia a urgência em capacitar os quadros técnicos da indústria cerâmica para os desafios da transição climática.

Ceramic
ACELERADOR DE DESCARBONIZAÇÃO - CAPACITAÇÃO
Acelerador de Descarbonização
A1. Task force: desenvolvimento de uma estratégia de capacitação para descarbonização
A2. Mapeamento das necessidades de competências para a sustentabilidade e descarbonização
Plano de Ação
Liderar e Coopetir: partilhando uma visão única e conjunta do setor, de médio e longo prazo.
Reskilling e Upskilling: de múltiplos perfis profissionais, especialmente nos quadros técnicos
A3. Oferta formativa STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Matemática)
A4. Formatos imersivos de treino: aceleram a transferência de conhecimento
A5. Parceria com universidades: estimular o interesse dos jovens licenciados para a temática
A6. Articulação com o Governo: definição de estratégias e quadros políticos de apoio


Considerações finais
A descarbonização do setor da cerâmica exige uma revisão profunda dos seus produtos e processos, tornando-os mais eficientes e sustentáveis. Esta transição implica uma maior flexibilidade tecnológica e produtiva, capaz de integrar alternativas energéticas e novos recursos, como matérias-primas secundárias e fornos híbridos.
As tecnologias prioritárias para a descarbonização do setor cerâmico passam por uma combinação de soluções que atuam em diferentes etapas do processo produtivo. A eficiência energética continua a ser uma base fundamental, através da modernização de equipamentos, otimização térmica e recuperação de calor nos fornos. A integração de fontes de energia renovável, como solar fotovoltaico ou combustíveis neutros em carbono, é igualmente essencial, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis. A eletrificação dos processos, nomeadamente da secagem e cozedura, representa uma alternativa promissora, especialmente quando alimentada por eletricidade verde. Paralelamente, o desenvolvimento e a utilização de combustíveis alternativos, como o hidrogénio verde ou o biometano, oferecem soluções viáveis para processos que exigem elevadas temperaturas. Por fim, tecnologias emergentes de captura e utilização ou armazenamento de CO2 (CCUS) poderão desempenhar um papel relevante, especialmente em unidades com emissões residuais difíceis de eliminar, contribuindo assim para uma trajetória efetiva rumo à neutralidade carbónica.
Uma redução significativa das emissões implica em alguns casos a adoção de tecnologias verdadeiramente disruptivas, muitas das quais ainda se encontram em fase de desenvolvimento. Nesse sentido, a implementação de projetos demonstradores assume um papel crucial para testar, validar e escalar soluções inovadoras. A colaboração intersetorial torna-se igualmente essencial para partilhar conhecimento, reduzir riscos e acelerar a inovação.
A modernização dos métodos de produção , como a introdução da microgranulação, permite ganhos significativos de eficiência energética e hídrica. O uso de matérias-primas secundárias, provenientes da reciclagem ou de resíduos industriais, contribui para uma economia mais circular e sustentável, reduzindo a extração de recursos naturais e o impacto ambiental global da cadeia de valor.
A capacitação de empresários e quadros técnicos é indispensável para liderar esta transição, que deve ser encarada como uma oportunidade para modernizar a indústria, aumentar a eficiência e reforçar a competitividade num mercado cada vez mais orientado para a sustentabilidade.
O caminho para a descarbonização no setor cerâmico não é único nem linear, exigindo abordagens diferenciadas consoante as especificidades de cada empresa, processo produtivo e contexto tecnológico. Reconhecendo essa diversidade, o setor tem vindo a trabalhar de forma colaborativa com os diferentes elementos da cadeia de valor, desde fornecedores de matérias-primas e equipamentos até clientes e distribuidores, bem como com centros tecnológicos e instituições de investigação. Esta cooperação tem sido essencial para testar soluções, partilhar conhecimento e desenvolver tecnologias adaptadas aos desafios da indústria. Mais do que apenas responder às metas climáticas impostas, esta dinâmica está a promover o crescimento do setor numa perspetiva de modernização, qualificação técnica e enriquecimento do know-how, preparando as empresas para um futuro mais sustentável e competitivo.

Especialistas e entidades convidadas
O Roteiro para a Neutralidade Carbónica da Indústria Cerâmica até 2050 contou com a participação de especialistas convidados, provenientes de diferentes áreas, instituições e empresas, que contribuíram com o seu conhecimento e experiência na elaboração de conteúdos em diversas áreas de conhecimento.
• C. Zorrinho (Ex-Eurodeputado - Membro efetivo da Comissão de Indústria, Investigação e Energia)
• M. Vallebona e A. Palleschi (Cerame-Unie – Confederação Europeia da Indústria Cerâmica)
• P. Gomes e P. Palhau (Daikin Portugal)
• M. Santos, J. André, R. Mendes e E. Costa (Universidade de Coimbra, Portugal e Sciven)
• S. Ferrer, M Aguiella, M. J. Sánchez, A. Mezquita e E. Monfort (ITC-AICE e Universidade Jaime I, Espanha)
• S. Freitas (APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis)
• M. J. Benquerença, R. Queiroga e S. Albuquerque (CleanWatts)
• A. Vidigal (Consultor e Especialista em energia e TIC)
• B. S. Santos (Instituto Superior Técnico, Portugal)
• J. C. Rodrigues (AP2H2 – Associação Portuguesa para a Promoção do Hidrogénio)
• E. Fernandes (Instituro Superior Técnico, Portugal)
• N. Nascimento (Floene)
• ABA – Associação de Bioenergia Avançada
• F. Loureiro, D. Direito, G. Lourinho, C. Gonçalves, J. Bernardo e F. Gírio (BIOREFLaboratório Colaborativo para as Biorrefinarias , Portugal)
• P. Brito (Instituto Politécnico de Portalegre, Portugal)
• B. Arias e D. Parra (CIIAE – Centro Ibérico de Investigación en Almacenamiento Energético, Espanha)
• J. A. Labrincha (Universidade de Aveiro, Portugal)
• M. Dondi e C. Zanelli (CNR-ISSMC Faenza, Itália)
• P. Vilarinho (Universidade de Aveiro, Portugal)
• L. C. Costa (Universidade de Aveiro, Portugal)
• A. R. Martinho, F. Coelho, M. Costa e H. Matias (Net4CO2 - Network for a Sustainable CO2 Economy, Portugal)
• N. Franco, H. Rodrigues, R. Ferreira, J. M. Fernandes, S. M. Ferreira, E. Seduvem, B. Costa e A. P. Gonçalves (EY, Portugal)
Roteiro para a Neutralidade Carbónica
da Indústria Cerâmica
até 2050
Sumário executivo

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