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“Não como estranhos ou simples espectadores”

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Coração jovem

Coração jovem

A Diocese de Toledo, em sintonia com a Igreja do Brasil, assumiu como prioridade o Pilar do Pão que nos faz voltar para a Liturgia e sua espiritualidade. E, sendo a missa um ato tão importante na vida da comunidade cristã, foram gravados 57 vídeos que estão disponibilizados para nossas comunidades. Aproveitando tal iniciativa vamos tratar da Celebração Eucarística para torná-la mais conhecida, vivida, participada e amada.

Como não se pode compreender bem a Eucaristia sem ter presente o conjunto de seus ritos, vamos abordar ao longo de várias edições, os ritos iniciais, a Liturgia da Palavra, a Liturgia Eucarística e os ritos finais, analisando cada um de seus elementos mais significativos.

Antes de tratarmos da celebração propriamente dita, existem alguns elementos anteriores à celebração que são importantes para bem celebrar e que, por vezes, nem sempre são valorizados em nossas comunidades.

Acolhida Do Povo Na Porta

Elemento nem sempre presente em nossas comunidades, mas que tem demonstrado grande eficácia naquelas que dele fazem uso, é o gesto simples, mas significativo, de alguns membros da equipe de celebração acolherem os fiéis que vêm à missa, já na porta da igreja, dando-lhes as boas-vindas ao chegar na casa da comunidade.

O gesto da acolhida é um elemento carregado de simbolismo. Acolher quem chega para a celebração é reconhecer o valor de cada pessoa que vem para a celebração, manifestando que todos e todas, sem exceção, são importantes diante de Deus e da Igreja.

“Ninguém vai para assistir a missa, como bem nos recorda o Concílio Vaticano II: ‘Que os fiéis estejam presentes a este mistério, não como estranhos ou simples espectadores, mas como participantes conscientes, piedosos e ativos’”. (SC, nº 48)

Mas não podemos esquecer que quem chega não é acolhido em nome dos que estão exercendo tal ministério, pois é sempre Deus quem convoca o povo, sendo Cristo aquele que acolhe e se une aos fiéis para, com eles, elevar ao Pai o seu supremo culto. Quem acolhe os irmãos na porta da igreja, realiza um ministério importantíssimo.

Dessa forma, quando acolhemos quem chega para a celebração, estamos sendo instrumentos de Cristo, o verda- deiro acolhedor. Quando recebemos os fiéis, além de ser sinal de boa educação, é uma forma de demonstrar alegria pela presença de quem chega e incentivo a participação nos gestos, nos cantos e respostas da celebração. Este é um elemento importante que deveria ser redescoberto e valorizado em nossas comunidades. Infelizmente, porém, constatamos que são poucas as comunidades que realizam tal gesto.

O acolhimento dos irmãos e irmãs, porém, não é tarefa fácil, pois envolve contato direto e diversificado com quem chega e nem todos possuem os requisitos necessários para realizá-lo. Acolher é um dom e exige humildade e simplicidade, espírito de sacrifício, alegria verdadeira, abertura para com o desconhecido e o inesperado e, sobretudo, amabilidade nos gestos e constante afeição diante do outro. Somente quem gosta de se relacionar com pessoas e sente-se bem em acolher o próximo deveria exercer este ministério.

Outro detalhe importante é que a acolhida para os que chegam não se reduz somente a quem está na porta da igreja, mas compete a todos da comunidade. E não somente nas celebrações, mas em todos os demais contextos da vida da comunidade.

Entrada No Clima Celebrativo

Uma vez que os que chegam já foram bem recebidos e encontram-se reunidos no interior da igreja, a comunidade está, segundo a compreensão de muitos, preparada para celebrar a Eucaristia. Mas, necessita-se ainda criar o clima para a ação litúrgica ou, em outras palavras, compor o ambiente para a celebração que a comunidade vai realizar. Trata-se de algo de grande utilidade, mas que algumas vezes e em certos lugares tem passado despercebido. Na verdade, tal falha pode comprometer a própria compreensão e participação da missa por parte do povo.

Sempre se faz necessário um tempo de passagem, durante o qual somos introduzidos nos vários lugares e nas várias atividades que realizamos. Não se pode trocar de situação de uma hora para a outra, sob pena de não nos situarmos satisfatoriamente nos variados ambientes e de não produzirmos o quanto poderíamos produzir. Ninguém pode entrar num momento de oração ou celebração sem ter sido bem preparado para tal. O povo, proveniente das diversas regiões da cidade e trazendo consigo as mais variadas preocupações, precisa se tornar povo celebrante, capaz de participar inteiramente da ação litúrgica. E isso só se alcança com a preparação da assembleia.

Portanto, após ter chegado à Igreja e nos poucos minutos que antecedem a entrada do sacerdote e dos ministros, o povo deve receber uma preparação imediata em vista da celebração. Isso naturalmente exige que os fiéis se conscientizem da necessidade de chegar à Igreja momentos antes de começar a missa, pois não se pode preparar quem chega em cima da hora ou, pior ainda, quem costuma chegar atrasado.

A maneira mais simples e eficaz de se preparar para a missa é guardando um suficiente tempo de silêncio. Neste momento, por exemplo, pode-se proceder ao ensaio de um ou outro canto, para facilitar a sua execução no decorrer da celebração. Caberia também aqui uma comunicação sobre algum aspecto do tempo litúrgico no qual a comunidade se encontra ou do acontecimento fundamental que o grupo vai recordar na ocasião ou ainda de algum gesto concreto a ser ressaltado. Tudo isso, porém, com muita brevidade, para não cansar os fiéis, não atrasar a missa e não atrapalhar o desenvolver da ação litúrgica.

A Missa J Come A Em Casa

A missa só é possível porque quem vai “celebrar” resolveu sair de casa e se dirigir para o lugar do encontro. Lembre-se que todos “celebramos” a missa e não somente o padre, que é aquele que “preside”. Ninguém vai para assistir a missa, como bem nos recorda o Concílio Vaticano II: “Que os fiéis estejam presentes a este mistério, não como estranhos ou simples espectadores, mas como participantes conscientes, piedosos e ativos” (SC, nº 48). E aprofunda: “É preciso que os fiéis se aproximem dela com as melhores disposições interiores, que seu coração acompanhe sua voz, que cooperem com a graça do alto e não a recebam em vão” (SC, nº 11). Portanto, a missa já começa em casa, com a decisão pessoal de cada um de nós: “Vou à missa”!

“É por causa de Deus que saímos de nossas casas, deixamos nossas ocupações. Viemos para adorar, para louvar e agradecer. Viemos para ouvir sua Palavra e suplicar pelo alívio de nossos sofrimentos e pela vinda do Reino entre nós. Viemos para anunciar a morte do Senhor até que Ele venha e para proclamar a ressurreição. Viemos para ser por Ele revestidos da força do alto e enviados em missão, voltando de onde viemos: nossa casa, nossas convivências, o trabalho, a vida em sociedade”.

O caminho que percorremos para chegar ao lugar da celebração representam os tantos passos dados durante a semana que passou: nossa caminhada pessoal e pastoral; trabalho que reali- zamos em casa, no campo, na cidade e tantos outros passos dados ao longo de toda a semana.

Ao entrar pela porta, a realidade que vivemos entra junto conosco para a celebração. Mas é bom prestar atenção à porta. Por ela entramos no recinto sagrado. Transpondo essa fronteira, esse limiar, reconhecemos que toda realidade, toda a nossa vida, tudo o que existe e que está de alguma forma presente em nós tem uma direção, tem um ponto de referência, tem um ponto de chegada, que é Deus.

Aliás, foi Deus quem nos convocou, quem nos chamou. É em nome dele que nos reunimos: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. É a Trindade que nos acolhe, pelo ministério da equipe de acolhimento e pelo presidente da assembleia que diz: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com vocês!”. É por causa de Deus que saímos de nossas casas, deixamos nossas ocupações. Viemos para adorar, para louvar e agradecer. Viemos para ouvir sua Palavra e suplicar pelo alívio de nossos sofrimentos e pela vinda do Reino entre nós. Viemos para anunciar a morte do Senhor até que Ele venha e para proclamar a ressurreição. Viemos para ser por Ele revestidos da força do alto e enviados em missão, voltando de onde viemos: nossa casa, nossas convivências, o trabalho, a vida em sociedade.

Embora a missa dependa de uma decisão pessoal, ela não é uma ação individual e muito menos individualista. Para celebrar a missa, somos chamados a constituir a assembleia litúrgica, a formar juntos um corpo comunitário, que ora, adora, bendiz, oferece e canta a uma só voz, a uma só alma, a um só coração.

Os ritos iniciais da missa são o momento para juntos buscarmos e criarmos esse entrosamento, no Espírito de Jesus. A assembleia vai se estruturando como um corpo: procura agir em conjunto, em que cada pessoa assume seu lugar, situando-se corretamente perante Deus e em relação às outras pessoas. Mas esse é um assunto para nosso próximo artigo.

Pe. Sérgio Augusto Rodrigues Assessor diocesano da Pastoral Litúrgica

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