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UMA CAMINHADA PERSEVERANTE E DE RESPEITO

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Coração jovem

Coração jovem

A entrevista começa tendo presente a foto de capa desta edição da revista da comunidade católica. Ela é de uma das ruas que direcionam ao Seminário Maria Mãe da Igreja, em Toledo, a casa formativa onde o Diácono Leonardo viveu desde 2015 e que certamente lhe ofereceu os bons ensinamentos para assumir esta missão por meio do ministério ordenado. Ali, ele estudou os conteúdos próprios da Filosofia e Teologia, realizou sua experiência seminarística, recebeu muitas orientações diante das inquietações próprias do período de discernimento e, certamente, soube aproveitar para o bem da sua vocação.

Olhar para aquela direção foi como revisitar esse passado não tão distante, mas que já faz parte da sua história vocacional. A imagem já mostra que estar naquele ambiente com seu pai tem familiaridade, emoção e muito esforço na educação para a formação de seu caráter, por meio das palavras de incentivo em vista da sua caminhada vocacional.

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“Registrar esse momento nesta rua que dá a perspectiva do Seminário, mas fora dele, mostra que algumas coisas não mudam: a relação com a família. Uma relação marcada pela presença do pai, tanto no incentivo vocacional para o ingresso no seminário, quando no período ali vivido e agora nesse processo de ordenações. Graças a Deus eu posso contar com minha família para tudo isso”, afirma o diácono Leonardo. Para o senhor Benedito, essas palavras são recebidas com alegria. “Temos um carinho recíproco entre nós, um bom relacionamento entre pai e filho e agora, fazendo essa foto, bem próximo da ordenação e coincidindo com o mês dos Pais, é uma alegria para toda a família”, complementa o pai.

Depois realizada a foto, no caminho em direção à Cúria Diocesana, onde aconteceu esta entrevista, Benedito diz ter recordado da época em que o filho ingressou no Seminário. “E aí passa um filme na cabeça: todo tempo que ele passou no Seminário, as confraternizações que participamos com ele e seus colegas seminaristas, enfim, fica muito essa imagem de convivência. Foram muitas idas e vindas, e depois em casa eu e a esposa Angela dialogando sobre o que havíamos conversado com o Leonardo. Tudo isso vem à nossa memória”, diz.

Por sinal, o então seminarista Leonardo nunca havia deixado de partilhar suas alegrias e até inseguranças em determinados momentos da caminhada vocacional. Ele mesmo confirma que sempre houve esse diálogo aberto com os pais. “Nossa relação é de muita proximidade e de confiança, como deve ser a família. Nunca deixei de expor minhas tensões, mas também as minhas alegrias nos principais momentos de reflexão”, revela.

Quando a perspectiva profissional está envolvida, os pais cobram mais esforço, mais determinação, mais força e compromisso dos filhos para seguir adiante e não desistir. Muitas vezes, esse tipo de atitude pode causar frustrações. Mas com Leonardo, a família teve outra postura. “Nunca fizemos uma cobrança ao Leonardo com relação a ele permanecer no Seminário ou exigindo que ele fosse um sacerdote. Sempre o deixamos bem à vontade para fazer o amadurecimento da sua vocação. O que sempre fizemos é rezar pelas vocações, confiando em Deus”, garante Benedito. Para Leonardo, o apoio recebido da família, ao ficar bem à vontade para o discernimento vocacional, proporcionou a liberdade, como ele mesmo descreve. “Nos trabalhos de motivação vocacional percebemos que muitas vezes é a família que deseja muito que o filho seja padre e vai pressionando um pouco o candidato que nem está no seminário. Graças a Deus eu não tive isso em casa. Até no início, quando trouxe a notícia de que queria ingressar no seminário, meus pais até pensaram ‘Como assim’? E depois isso, eu senti total apoio. De minha parte também conversava na época com eles que esse era um processo de discernimento e que poderia mudar. Lembro a única coisa que meu pai pediu: ‘Não abandonando a fé em Cristo, o resto está tudo certo’”, conta o diácono. Esse comportamento dos pais em relação à sua permanência no Seminário é o que ele caracteriza como liberdade. “Isso me deu também tranquilidade, afinal não me sentia pressionado em dar passos para corresponder à expectativa de alguém que não fosse a mim mesmo. Isso faz com que a caminhada se torne muito saudável e a resposta vem com essa liberdade”, complementa.

Aos poucos, parece que a missão do senhor Benedito, como pai, está cumprida. Para alguns, até pode significar que de agora em diante ele não precisa mais se preocupar. Passou o processo formativo, filho encaminhado, vocação estabelecida, ordenação agendada. Será que é isso mesmo? Leonardo responde antes do pai: “Acho difícil”. Mais uma vez, mostra-se a força da relação entre os dois.

“Em casa, sempre fomos muito apegados, muito próximos. O Leonardo está aí para ser ordenado e continuamos os mesmos, com muita proximidade. Isso é muito forte entre nós. Acho que é natural da família que está bem próxima de Deus”, entende Benedito.

Nesse momento da entrevista, o senhor Benedito não conteve as lágrimas de felicidade ao recordar todo esse apoio dado à decisão de Leonardo quando ele mesmo teve a atitude de ingressar no Seminário. Esse momento representa muito para Benedito, interpretando como se Deus estivesse conversando com ele que preparava algo diferente para Leonardo. Assim que ele lembrou do Evangelho de João, a emoção o alcançou e uma breve pausa na entrevista foi necessária para um amparar o outro. Realmente, algo muito forte nesse contexto familiar e vocacional. “Toda família pensa na escolha da profissão, mas a questão da vocação sacerdotal e religiosa cabe muito naquele versículo ‘Não foste vós que me escolheste, mas eu vos escolhi’ (Jo 15,16). Já tínhamos uma boa caminhada na Igreja como família e para mim e a Angela foi um chamado de Deus quando o Léo ingressou em 2015 no Seminário. Creio que era Deus que colocava sua mão, e tudo que é sua vontade não mudamos”, disse Benedito emocionado, agora abraçado com o filho.

“No momento que eu falei que ingressaria no Seminário o pai esboçou um certo espanto porque estávamos nos propondo a outro caminho, com perspectiva de outro futuro. Naquele momento ele fazia um investimento educacional em mim, pensando numa resposta profissional. Lembro que ele me perguntou se era isso mesmo e se eu tinha certeza. Então, passamos por aquele momento do ‘baque’, de uma certa estranheza, mas logo em seguida veio o apoio irrestrito”, lembra o diácono. “Foi um baque, mas depois vimos que era um chamado”, completa o pai

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