Concurso escrever com arte - 6ª edição

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Concurso Literário

ESCREVER COM ARTE 6ª edição| 2017 2018

Prémio António Arroio   


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Título: Concurso Literário Escrever com Arte, 6.ª edição, 2017/2018 Autores: AAVV © Escola Secundária Artística António Arroio e autores Prefácio: Julieta Silva Capa: recorte a partir do cartaz do concurso da autoria de Filomena Garlito. Montagem: Julieta Silva - Biblioteca | centro de recursos educativos Data: maio 2018


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Concurso Literário

ESCREVER COM ARTE

Prémio António Arroio

6.ª edição 2017|2018



PREFÁCIO

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Levada por fantásticos caminhos Atravessei caminhos vacilantes SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

ESCREVER COM ARTE No prefácio do livro digital da edição inicial deste concurso destacava as seguintes palavras, “ A primeira edição do concurso literário Escrever Com Arte traz o sabor da esperança: a esperança de que seja o primeiro de muitos concursos.” Esta sexta edição é mais uma vez a concretização desse desejo, com a convicção de que cada ano continua a trazer a frescura dos passos vacilantes dos nossos alunos no mundo da escrita, entre o espaço de referência do quotidiano à criação de mundos mais oníricos. Este ano o projeto adquiriu novos contornos, aliando-se à arte, a especialização de serigrafia e gravura, ganhando novos contornos, enriquecendo e fazendo jus ao nome “Escrever com Arte”. O concurso tem vindo a manter o propósito de dar oportunidade aos alunos criativos. A todos os alunos concorrentes, dirigimos uma palavra de apreço pelo ousar escrever, pelo ousar vencer, mas também pelo ousar falhar. A vida aprende-se umas vezes falhando, outras vencendo. Esta iniciativa é o resultado de parcerias. Agradecemos, em primeiro lugar, aos professores de Português que nela têm participado ativamente, aos professores de gravura e serigrafia, na pessoa da docente Fernanda Soares, pela excelente ideia desta parceria, aos alunos da especialização que cederam os seus trabalhos para inspirarem os textos. Deixamos também uma palavra de agradecimento aos professores do curso de design gráfico, pela produção de cartazes e diplomas, à professora Filomena Garlito, pelo cuidado e devoção que coloca na produção do desenho para o cartaz, à direção da escola, sem a qual não teria sido possível atribuir prémios, ao apoio logístico dos serviços administrativos, e, por último, a todos os alunos participantes, com uma nota especial aos premiados. Biblioteca | Centro de Recursos e Grupo de Português (Texto de abertura da sessão da entrega de prémios, a 06 de junho de 2018)

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POESIA

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A Introspeção de Vicente

De surra, os violinos miudinhos Alevantam-se das cadeiras, frenéticos, A lógica toca, alega, enuncia; Calam-se os burburinhos. Entoando um dó de desagrado Soam os violinos; rugem a Vicente Em fortes tonalidades parentes O mais rigoroso palavreado. Se em mil anos acartados O destinatário esquecer, em suma, O que a mente previamente evita, Duzentos pensamentos racionalizados Não chegarão de longe para compensar Aquilo que o coração incita.

1º Prémio Poesia Inês Soares Aguiar 10º D

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Além de

Linhas verticais, desvanecidas, contrastantes, que vão além das águas furtadas dos telhados. Vejo um laranja que ninguém viu. Agora, é castanho, será preto. Não se questiona o que cada um vê. Nem a cegueira será capaz de me impedir de o descrever. Olho as horas, o meu pulso mexe. A página fica negra, tenebrosa. Desvanece. Mas não o laranja. Lembra-me uma laranja algarvia no Douro.

2º Prémio Poesia Joana Barbosa 12ºO

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Tempo de Iluminação

existem dias que tudo parece nada, com falta de cor, tudo é vazio, aquilo que em tempos me era grande, acaba desinteressante. olho, mas não vejo vivo, mas não sinto choro, mas não sofro e assim, tudo o que sou me parece nada quero ter cor para não me perder no meio do nada, para que não me torne igual a tudo, aquele tudo que me parece nada.

3º Prémio Poesia Luísa Gomes 10º A

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Vista duma Igreja

Esta é a vista da Igreja onde eu nasci, onde eu casei, onde eu rezei, a que muitas vezes visitei.

Da fachada não me esqueci, nem dos anjos, nem dos santos cantando alto, de vozes em coro, subindo o berço das abóbadas, entre vitrais pintados com luz do céu.

Toda a vida pensei que um dia voaria além do toque dos sinos, antes que a noite pesada tardasse, por cima dos hinos que ouvia, só para lado a Deus estar.

Todavia, não vejo ninguém agora sem ser esta vista da Igreja esbatida no vazio, e só eu, sozinho, sentado no altar.

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Se esta Igreja é tudo o que me lembro, então esta Igreja sou eu. Se ela desaparecer (ou quando, certamente) será que adormeço? Será que esqueço

Não.

Estar morto e estar adormecido são parecidos, mas não iguais. Pois como podes saber que estás a dormir, que vais acordar, se estás morto, sem te lembrar?

Mas que estranha é alma sem alma do ser humano Separada do seu corpo, debaixo duma Igreja

a apodrecer.

Menção Honrosa Poesia Beatriz Côrte-Real 12ºJ

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Rosto Amargo

Rosto amargo Semblante pesado Corpo sofrido Coração magoado. Olha para o espelho Vê o que não quer Escorre-lhe uma lágrima Quer ser uma mulher. Vai para a varanda Nota em seu redor Que tudo é mais belo Que tudo é melhor. Olha atentamente Vê um pássaro a aproximar Fica curiosa para saber O que este tem para lhe contar. O pássaro pergunta: “O que tens, minha querida? Porque estás tão tristonha? Não te corre bem a vida?” “Ó pássaro, estou tão triste Eu só queria ser feliz Mas não consigo entender O que de errado eu fiz.

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Então o pássaro decide, Como bom amigo que é É melhor tirar-lhe os olhos Para ela ter mais fé. “Minha querida, tu és forte Mas estás sempre a olhar Falta-te uma coisa importante Que é sentir e amar”. “Não te podes esquecer Que é necessário gostares de ti, Sentires-te bem contigo própria Como eu nunca vi!” E assim a menina fez Agora mais risonha e confiante O coração palpita feliz Transmite uma energia contagiante!

Menção Honrosa Poesia Ana Sofia Correia 11º N

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NARRATIVA

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Com o bater das asas

Era outono de 1942, o céu estava cinzento, o ar frio e húmido. Eu, bastante jovem, encontrava-me sentado no ramo corpulento do pinheiro crescido à frente da casa. Ao olhar para o horizonte, via a estrada de terra batida que espreitava por entre os pinheiros. Pensava em ti. Lembrava-me de quando partiste, do carro a percorrer o caminho até casa, a pequena carta de papel amarelado que trazias contigo. Lembrava-me da poltrona preta vazia no fim do corredor, do silêncio ensurdecedor que deixaste na casa, uma inquietação profunda dentro do peito. Percebia-se o desconforto da tua ausência, o espaço a mais na mesa e o afastamento das cadeiras para disfarçar a tua partida. Agora sentia a falta dos apertos e cotoveladas. Já não havia copos de café sobre a mesa do escritório, nem cinzas de cigarro a sujar o chão. As primeiras notícias da manhã já não vinham do mesmo portador. Engraçado como só percebemos o valor das coisas quando estas já não existem. Os dias foram passando… apesar de parecerem lentos, as suas horas seguiam sem piedade, mostravam que já passava um mês, dois e três, e a tristeza acabou por se converter em saudade. Já se passaram dez anos e ainda sinto muito a tua falta. Sei que, se começasse agora a enumerar todas as tuas qualidades, haveria de me perder em alguma, antes de conseguir dizê-las todas. Ou talvez não conseguisse esgotá-las. Mas foi necessária esta distância para reconhecer aquilo que, aqui, me parece tão evidente. Agora que cresci e amadureci, percebo que o corpo físico é como uma gaiola, o espírito é a ave que nela habita. Pensar que o espírito faleça ao morrer é como imaginar que o pássaro morre ao quebrar-se a gaiola. O pássaro não tem nada que recear a destruição da gaiola. A gaiola condiciona a ave de ser livre sem limitações impostas pela matéria. Observo os pássaros, como uma metáfora visual e poética que só se revela aos que se dispõem a ver além do que os olhos conseguem. Ao deslizarem pelo céu, as aves recordam-nos dos nossos entes queridos que já partiram. Todos os que deixaram este mundo para trás. Lembram-nos de que um dia também chegará a nossa hora de voar.

1º Prémio Prosa Catarina Borges 10ºI 21


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A última página do meu diário

Domingo, 13 de Dezembro de 2017

Ela levou-me. Ela levou tudo de mim. Primeiro, o cérebro… Um campo minado de inseguranças, de medos e mágoas, ressentimentos e desilusões, que podiam detonar a qualquer segundo dos meus dias. Depois, encheu os meus olhos cor de cinza de lágrimas amarguradas, que ardiam enquanto deslizavam lentamente pela minha pele reluzente e molhada, até se desfazerem na mancha saturada da almofada. De seguida, furtou a minha vontade constante de sorrir… Levou os meus membros… Impediu-me de dançar, de pintar, de me movimentar. Levou os meus pulmões, deixei de respirar e sufoquei. O estômago… Emagreci. O fígado, quando comecei a automedicar-me com três tipos de bebidas alcoólicas por dia. Os rins, os intestinos e o pâncreas. Levoume as entranhas, mas também me levou a força, a motivação e a consciência… A vontade, o interesse, a paixão, a esperança, os planos, a confiança, os sonhos, os objetivos, o querer, o fazer e o dizer. Levou-me a felicidade e foi ser feliz com ela para outro lugar… A felicidade não me visita mais. Parei de a ver definitivamente, quando procurei o meu pai, de manhã, para me levar à escola, e só encontrei o resto das suas beatas apagadas, no cinzeiro, a minha mãe, em choque, sentada na cama de casal, com as mãos na cabeça e os cotovelos apoiados nos joelhos, e o meu irmão mais novo, a soluçar, com os braços a envolver o corpo frágil da nossa mamã, em desespero, que quis acreditar que não a levou apenas por esquecimento. Nesse dia não fui à escola. Deitei-me na cama, com os estores fechados quase por completo, o cobertor negro e felpudo a cobrir todo o meu corpo, e esperei por ele. Tentei ver o meu filme favorito, sem som. Queria estar alerta, no caso de ouvir a chave a remexer na fechadura da porta principal do nosso apartamento. Porém, preferi focar o meu olhar sem vida no teto e observar o reflexo da luz quente e amarela tornar-se escuridão.

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O meu pai não voltou nessa noite… Nem em nenhuma das duzentas e cinquenta e sete noites seguintes. A minha felicidade também não voltou. Senti falta de ambos por largos meses. No entanto, parei de sentir… Estava anestesiada, paralisada, distante, congelada. Quatro da manhã e estava a beber leite quente, na esperança de aquecer a minha alma. Enquanto sugava o líquido pela palhinha e este preenchia a minha boca, Ela sugava o meu ser, esvaziava-me por completo, arrancava pedaços de mim. Eu estava a desaparecer. Ela pegava em mim, amarrotava-me, atirava-me ao chão e pisava-me… Enquanto eu, sem fôlego, tentava, repetidamente, apanhar-me, resgatarme, voltar a pôr-me de pé. Ela ficou ainda mais perturbadora, envolveu-me com os seus enormes braços, como um escudo negro que reprime a liberdade. Prendeu-me em casa. Isolou-me dos meus amigos. Enclausurou-me no quarto. Tornou-me indiferente à minha família. Deixou-me no meu próprio mundo, sem bilhete de volta para o mundo real. Hoje sinto-me fatigada, incapaz, infeliz… Dói-me a cabeça, dói-me o corpo, dói-me a alma… Antes de agir ou falar, peço-lhe permissão. Inspiro ar, expiro-a… inspiro ar, expiro-a… Todas as noites, quando me deito, Ela deita-se ao meu lado. E, embora a cama seja pequena, Ela arranja sempre uma forma de caber, pois diz que não posso viver sem Ela, nem Ela sem mim. Quando há responsabilidades, saídas, um grande evento ou uma ida ao correio, Ela questiona-me, horas antes, dias antes... E, mesmo quando respondo a todas as questões, Ela volta a colocá-las, receosa de que eu não tenha a certeza do que irei fazer, de como irei fazer, do que irei dizer, da forma como vou andar, se o que vou vestir é apropriado, se eu sou apropriada. Acumulo um excesso de passado e um excesso de futuro. O presente ficou sem espaço para poder habitar. Sinto a angústia contorcer-se no lugar vazio onde o coração costumava estar. Os demónios estão de volta, mais fortes do que nunca. Procuram outra guerra, querem vencer…

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Porém, também eu estou mais forte que nunca… E, mais uma vez, não vou deixá-los ganhar. A Depressão não me levou.

2º Prémio Prosa Beatriz Maçarico 11º N

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Azul e uma folha de papel

Lápis, borracha e uma folha de papel. Espero, sentada com um lápis na mão, mas borracha, não. O papel já é tão branco. E nada que tenha o privilégio de lá ser desenhado deve ser apagado. Contemplo o papel… Já é tão bonito assim, de que serve fazer-lhe riscos em cima? Sentada, à espera que um traço, um pequeno traço azul, tinja a folha. Estico a mão, aproximando o lápis… Não consigo. Guardo a folha num local seguro, para que não se estrague de riscos. E olho para o chão. De repente, torna-se azul num desenho que se apedreja. Não piso no quadrado onde acertei, porque lhe dói. E fico leve, muito leve, para não o pisar muito. Depois salto, salto muito alto, a voar, até ao azul do meu vestido, até ao azul do céu. E, sem querer, caio, caio no chão. Lembro-me de olhar o azul mais uma vez. Transformara-se num monstro que, um dia, desenhei numa folha de papel. Pobre folha! O azul espalha-se pelo chão, tentando alcançar os meus pés. E eu corro, corro, com os sapatos escorregadios da tinta e os cabelos embaraçados do vento, ainda à espera que um traço, um pequeno traço azul, pudesse tingir a folha de papel, ou o chão.

3º Prémio Prosa Marta Paula 10ºM 27


Um sorriso na tempestade

Naquele dia, não me apetecia sair de casa. Queria ficar no sofá, enrolada numa manta bem quente, a ver um bom filme. Mas ele insistiu tanto que não fui capaz de dizer “não”. Saí de casa. Se previsse o futuro nunca o teria feito. Quando cheguei à rua, ele já lá estava, encostado ao seu carro, com aquele sorriso que eu tão bem conhecia. Aproximei-me, fingindo um ar zangado. - Por quê essa cara? - perguntou ele, num tom desafiador. Não lhe respondi. Um silêncio estabeleceu-se entre nós, entrei no carro, ele fez o mesmo, e partimos. O nosso destino era-me desconhecido, mas tinha a leve sensação de que estávamos a ir para a zona de Belém. Parámos e percebi que o meu palpite estava certo. Saímos do carro, em silêncio. - Sei que a tua vontade de estar aqui é quase nenhuma, mas podes fazer um esforço para desfrutar da tarde que planeei para nós? - disse ele, rispidamente, quebrando o silêncio. Assenti. Começámos a caminhar em direção aos jardins. Não éramos os únicos a fazê-lo. De facto, a quantidade de pessoas que se encontrava na rua era surpreendente, mas a calma e a ausência de agitação prevaleciam. Mal chegámos aos jardins, sentámo-nos na relva. Fechei os olhos, inspirei profundamente, expirei e senti o meu coração abrandar. - Obrigada. - disse-lhe eu, olhando para ele, arrependida. Ele sorriu. - És uma rapariga difícil de decifrar, Mara. - afirmou. - Não podemos ser todos iguais, não achas, Gabriel? - indaguei eu. Ficámos fixados no olhar um do outro. Ele agarrou-me na mão e encostei a minha cabeça no seu ombro dele. Sentia-me protegida a seu lado. O tempo foi passando, e, quando demos por isso, já tinha entardecido. Decidimos então ir lanchar qualquer coisa. Levantámo-nos e fomos andando até encontrarmos um café. De repente, um enorme estrondo invadiu a cidade e gritos de terror começaram a surgir. A princípio, não percebemos o que se estava a passar mas, depois, inúmeros homens de preto, armados dos pés à cabeça, começaram a disparar aleatoriamente, atingindo mortalmente inocentes, que mais cedo passeavam pacificamente por ali. O caos instalou-se, naquele que era considerado, por mim, um dos sítios mais calmos da movimentada Lisboa. Crianças corriam, 28


desorientadas, chamando, desesperadamente, pelos seus pais, corpos ensanguentados jaziam no chão, as pessoas pareciam clamar ao céu por misericórdia, a dor e o sofrimento podiam sentir-se por todo o lado e até o alegre azul do céu foi substituído por um deprimente cinzento. Todos tentavam encontrar um local seguro para se proteger, e eu, vidrada naquela desgraça, nem me apercebi do perigo que corria ao estar ali, estática, no meio da rua. Senti uma mão puxar o meu braço bruscamente. - Mara, temos de nos esconder! - disse-me Gabriel com a preocupação mais terna que alguma vez senti. Dei-lhe a mão, apertei-a e comecei a decifrar o seu olhar, compreendendo, naquele mesmo momento, que seria a nossa última vez juntos. Ouvi um disparo, olhei para o lado e vi o Gabriel cair, derrotado. Lágrimas desceram pela minha face e desejei nunca ter saído de casa naquela tarde. - Não te vás embora, por favor. Eu preciso de ti! - gritava eu, em desespero. - És mais forte do que pensas, Mara. Não te deixes ir abaixo por causa disto… Disse isto, sorriu e fechou os olhos. Eu não queria acreditar que aquilo acabara de acontecer. Deitei-me ao seu lado e ali fiquei, imóvel, à espera que tudo acabasse, querendo que ele acordasse, imaginando que tudo aquilo não passava de um filme que poderia ter ficado a ver no sofá, enrolada numa manta bem quente.

Menção Honrosa Prosa Margarida Martins de Mira 10ºI

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NÃO

SIM

NÃO QUERO

CALA-TE

O Alfonso, doente na sua cama, mal conseguia manter os olhos abertos, entre os seus tétricos sonhos e as sopas desapetecíveis que eram imediatamente rejeitadas pelas suas papilas gustativas como uma necessidade fisiológica, tudo o que ele sabia era que tinha de gritar com a sua avó CALA-TE NÃO Agora com as cordas vocais cansadas e o seu encéfalo exausto apercebeu-se de uma coisa: uma fome insuportável que originava no centro do seu corpo e que por ele se alastrava. Claro que Alfonso considerou o facto de não comer há cinco dias como possível causa desta necessidade, mas rapidamente entendeu que tal não era o caso. Impulsivamente fletiu as pernas, ainda deitado na sua cama, tapou os olhos com o braço esquerdo e GRITOU. Não berrou, GRITOU. Com esta gritaria desmesurada reparou que a sua fome estava a desaparecer. E este grito tornou-se num Brado, este Brado tornou-se num GUincho, este GUincho transformou-se num CLAmor e este CLAmor num URRO. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA. Com o resto das suas energias proclamou este URRO gutural e apercebeu-se duma coisa, as suas amígdalas tinham sido expelidas da sua garganta para cima da cama.

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Agora contente e já sem fome, a sua carranca tornou-se num sorriso, levantou-se de cama e foi a correr ter com a sua avó, de amígdalas na mão, gritando “AVÓ, AVÓ, JÁ NÃO TENHO DE FAZER A OPERAÇÃO”.

Menção Honrosa Prosa Vasco Muralha 12º Q

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Índice

Prefácio

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POESIA 1.º Prémio

07

2.º Prémio

09

3.º Prémio

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Menções Honrosas

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NARRATIVA 1.º Prémio

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2.º Prémio

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3.º Prémio

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Menções Honrosas

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