Suplemento S. Valentim

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S. Valentim

10 | Fevereiro | 2012

Namorar aos 58 anos: “agora aproveito o melhor que a vida me dá!” Chama-se Ana Maria Caetano e vive nas Caldas há nove anos. Depois de ter enviuvado costumava comentar com as suas amigas que só chamaria namorado a um homem que não fumasse, não bebesse e que gostasse tanto de praia e de dançar como ela. Caso contrário, não queria ninguém. E encontrou-o. É o seu Arnaldo e namoram há 12 anos. Ambos reformados, cada um mantém a sua casa, mas viajam com regularidade e todos os sábados saem para dançar. Aos 58 anos, Ana Caetano vive um namoro bem diferente daquele que viveu nos anos 70. Ana Caetano é natural de Santarém e chegou a viver em menina nas Caldas com a família pois o seu pai foi guarda prisional na cidade. Dois anos depois, devido à profissão do pai, iria viver para Almada. Ana Caetano começou a namorar com o marido, João Caetano quando tinha 19 anos, em 1970. Conheceram-se na sede do Stella Maris, grupo católico que dava apoio às pessoas da marinha mercante. Os elementos do grupo acabavam por servir de ligação entre as tripulações e a comunidade em terra. Ele trabalhava na Lisnave, acompanhava os comissários de bordo e o grupo religioso “recebia as pessoas que estavam em trânsito trânsito”. João Caetano, tal como o pai de Ana, gostava de mariscos e patuscadas e foram muitas as tardes de sábado que passava com ambos nas cervejarias da O meu pai fazia-se de concapital. “O vidado e vinha connosco, logo eu dizia que o João namorava com ambos!”. Costumavam ir à Cervejaria Trindade em Lisboa e à marisqueira Tirano em Alcabideche. Aliás, foi nesta última que o seu futuro marido, após a mariscada, tomou coragem para pedir ao pai de Ana Maria para a namorar, algo que o próprio já desconfiava. Não se lembra de terem conseguido ficar sozinhos pois Ana Maria viveu um namoro tradicional, com pai ou mãe quase sempre presentes. Viviam-se os anos 70 e namorava-se na sala de estar enquanto a mãe estava bem perto, na sala da costura. Só estavam um pouco mais à vontade, para trocar beijos, sempre que o pedal da máquina de costura estava a funcionar (que indicava que a mãe estava a coser roupa, logo não iria “vê-los”). Quando o pedal parava, tinham que retomar o jogo de cartas da época, o crapô e deixar os mimos para depois. Ana Caetano teve pois um namorado muito vigiado e tradicional, com os pedidos (e respectivo anel) de namoro, noivado e de casamento. Decidiram então casar e foram bem recebidos pelas duas famílias. Já casada, Ana e João Caetano tinham interesses diferentes. No entanto, ela nunca deixou de ir ao cinema com as suas amigas e de estar na praia, apesar do marido não gostar do Sempre nos respeitámos sol e mar. “Sempre e dávamos espaço a cada um um”, conta. Do casamento nasceu uma menina, que acompanhava a mãe. Até porque aos 46 anos João Caetano fale-

ceu, vítima de um enfisema pulmoSó estive casada 19 anos e nar. “Só quando o meu marido faleceu, a minha filha tinha 17... 17...”, contou. “TINHA QUE GOSTAR DE PRAIA E DE DANÇAR!”

Quando tiver um namorado ele “Quando não pode beber ou fumar, tem que saber dançar e gostar tanto de praia como eu eu”. Era o que Ana Caetano comentava com as suas amigas, vários anos depois de ter enviuvado. O que lhe diziam era que seria muito difícil encontrar alguém assim. Mas ele apareceu. Em 1999 conheceramse na praia, tendo sido apresentados por uma amiga comum. Passado algum tempo, reencontraram-se e decidiram trocar os números de telefone. “Depois fomos ganhando amizade e acabámos namorados namorados”. A verdade é que Arnaldo Canal, 62 anos, passa dias inteiros na praia, adora dançar e apenas bebe socialmente. Tal como Ana Caetano, gosta de se nem imaarranjar e quando viajam “nem gina as malas que levamos com as toilettes para a tarde e noite! noite!”. Arnaldo Canal é divorciado, tem casa na Amadora e uma outra habitação na Foz do Arelho, onde passa grande parte do tempo, sobretudo no Verão. Telefonamo-nos várias vezes “Telefonamo-nos aos dia. Logo de manhã para dar os bons dias, à tarde para contar o que andamos a fazer e à noite, se não estivermos juntos juntos”, conta Ana Caetano, acrescentando que, se por algum motivo não se ligam, “parece que falta alguma coisa” coisa”. Como são ambos reformados, sentem-se sempre de férias e aproveitam para viajar e conhecer outras localidades. Todos os anos passam uma semana juntos fora da região. O Dia dos Namorados é sempre para comemorar e Arnaldo Canal oferecelhe todos os anos peluches e flores. Ana Caetano dá sempre um cartão alusivo à data e um objecto pessoal Vamos janou uma peça de roupa. “Vamos tar ou aproveitamos as promoções dos Namorados para passar o fim de semana fora fora”, disse.

Ana Caetano quando tinha 14 anos e hoje. A praia sempre foi uma das suas paixões, que partilha com o namorado.

se estivéssemos juntos. Posso estar casada e estar mais sozinha do que separada separada”, diz Ana Caetano. Nas coisas mais simples Ana faz as tarefas de forma diferente do seu namorado. Por exemplo, se for ela a cozer peixe com batatas, ela põe o sal no início e se for ele, só no fim. “ Ora se for eu a começar a cozinhar e o Arnaldo a acabar, vai dar asneira pois o prato acaba por ficar salgado” fica insondo”. Se for ao contrário, “fica so porque ninguém vai pôr sal sal”. Daí a existência de regras básicas: se é Arnaldo a cozinhar, a Ana não sequer entra na cozinha. “Fico sentada na sala à espera espera”. Se for na sua casa, Somos visitas é Ana que faz tudo. “Somos na casa um do outro outro”, conta. E afinal qual é o segredo para um bom relacionamento? “Cada um tem o seu espaço, respeitamo-nos mutuamente e não deixamos de fa-

zer as coisas que gostamos gostamos”. Ana Caetano diz que a relação com Arnaldo é muito baseada na amizade, na confiança e na cumplicidade e esta “é muito mais forte do que se estivéssemos juntos 24horas por dia dia”. E como fazem nas alturas festivas? Ana Caetano explica que a véspera e o almoço de Natal são passados cada À noite é para um com a sua família. “À nós. Ficamos à lareira, fazemos um petisco leve e trocamos as nossas prendas prendas”, revelou. O fim do ano também é para o casal e normalmente passam-no fora. “Este ano fomos para Salamanca, mas normalmente vamos algures para o Norte do país país”, conta. No Carnaval trajam a rigor e divertem-se sempre com grupos de amigos. “Por enquanto ainda não nos apetece ficar em casa”, disse Ana, pois o sábado à noite é para dançar.

Percorrem as dancetarias de Óbidos, Leiria, Batalha, Lisboa ou Torres VeVamos onde houver baile dras. “Vamos baile”, disse, explicando que o casal gosta de se arranjar e de dançar a pares. Ana Caetano gosta do ambiente de baile pois lembra-lhe os tempos de juventude. Sejam músicas latinas, kizomba ou slows, Ana e Arnaldo são um dos pares habituais das pistas de dança. Ana Caetano diz que agora vive a melhor fase da sua vida e que sente mais mulher. “Casei com 21 anos e agora estou numa fase em que faço o que quero e na verdade sinto-me mais realizada como mulher mulher”, contou, rematando que gosta de se arranjar e não é raro desfilar toilletes para o namorado a ajudar a decidir qual é a melhor roupa para saírem. Natacha Narciso nnarciso@gazetacaldas.com

A CULPA É DO SAL...

Para já cada um vai manter a sua casa. O que não quer dizer que no futuro o casal não possa mudar de ideias. Gostamos da nossa indepen“Gostamos dência e apoiamo-nos mais do que

É raro o sábado à noite que não saem para dançar. O casal gosta de se arranjar, de sair e de passear.


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