Correio do Ribatejo de 16 de Dezembro

Page 29

correio policial

Edição n.º 6.287 | 16 de Dezembro de 2011

Problema Policial

“Aconteceu em 1977” Joãozinho “Azarento” andava mesmo cheio de azar. Enquanto se tratara de roubar carteiras… arrombar carros… e assaltar casas, a “coisa” não lhe desagradara. A colheita geralmente compensava… E o risco de passar uma temporada “à sombra” não o atemorizava. De resto, toda a Polícia o conhecia bem… e aos colegas… e ao Chefe. Mas também não ganhava nada com isso porque todos eram espcialistas na “matéria”.

Por: “Jomape” (Alferrarede) No entanto, agora o “negócio” era mais sério! Aquela ideia do Chefe transformar a malta (e sem lhes dizer “água vai”…) num grupo de bombistas, até lhe pusera os cabelos em pé… Primeiro porque não conhecia a “profissão”… Depois, com o seu azar habitual, qualquer dia iria mesmo pelos ares com a bomba e tudo. Ou então seria “engavetado” para toda a vida… Não! Não lhe agradava mesmo nada… Nunca matara ninguém… Nem queria matar. Roubar, isso era outra coisa… O melhor seria “reformar-se” enquanto era tempo! E até podia ser que ganhasse “algum” do lado contrário… Conhecia tanta coisa e tanta gente… Contudo, a sorte não queria nada com ele. Desde que os seus dois primeiros trabalhos haviam fracassado, pois as bombas tinham sido descobertas antes da explosão, o Chefe já não era o mesmo para ele… Parecia-lhe que ficara desconfiado… Como se pudesse ler o seu pensamento! Se assim

fosse, estava “tramado”… Mas, que diabo, tantas bombas são descobertas antes de rebentarem… E os jornais naqueles dois casos, até haviam noticiado que tinha sido por acaso… A verdade é que andava mesmo obcecado com aquela história. *** Era mesmo de propósito. Com o tempo “bestial” que estava… logo havia de lhe marcar trabalho para o dia seguinte… Já não poderia aproveitar aquele primeiro domingo de Primavera para tomar uma boa “banhoca” na praia… Teria de adiar a inauguração da “época balnear”. Ainda por cima, obrigara-o a estar todo aquele dia fechado em casa do Chefe para planearem uma série de “trabalhos”. Nem sequer conseguira uma aberta para comprar o jornal… E, só depois do jantar, após a saída dos colegas, é que chegou o novo “recruta”, um magnífico “relojoeiro”, arranjado pelo Chefe, para prepararem o engenho para o dia seguinte. Seria para o meiodia. E, desta vez, o Chefe determinou que a “encomen-

CORREIO DO RIBATEJO

29

A correspondência para a página policial deve ser enviada para Correio do Ribatejo, Rua Serpa Pinto, n.º 98, Apartado 323 2001-904 Santarém, ou pelo email: geral@correiodoribatejo.com

Coordenação de Domingos Cabral

soas que se encontravam nas redondezas. Felizmente, ninguém mais fora atingido. Mas, Joãozinho “Azarento” voara mesmo pelos ares. Cerca de dois minutos depois, o Insp. Nunes dos Santos, ao chegar ao local, com os seus agentes, encontrou um monte de destroços… embora tivesse identificado imediatamente aquelas orelhas inconfundíveis. Então, duvidou que se tratasse de mero acidente, e as suas suspeitas avolumaramse ao descobrir, no meio dos despojos, um pequeno pedaço de papel com as seguintes anotações: 10/I/22/23/24 8/II/14/15/16 27/III/11/10/12. Extraordinário! O homem ia anotando os “prémios” de sua “apólice de seguro”…

Era evidente. Mas, nem todos os números da última linha, escritos hoje, sem dúvida, correspondiam aos factos! Como explicar esta anomalia? O Insp. afastou-se um pouco, para pensar com mais calma e, passados alguns instantes, encontrou a solução. Voltou ao local, procurou com cuidado, encontrou… e ainda conseguiu confirmar a sua hipótese. A verdade é que podia ter evitado aquela morte! Estava desolado, pois nem sequer poderia incriminar o culpado, que premeditara um mais que provável acidente para originar um verdadeiro suicídio involuntário. *** Joãozinho “Azarento” morrera precisamente ao meio-dia. Paz à sua alma.

*** No outro dia, Joãozinho “Azarento” acordou mesmo a tempo de cumprir o horário que havia estabelecido na véspera, enquanto não adormecia. Agarrou no “objecto” e saiu… Comprou o jornal para ler mais tarde, descansadamente… Desta vez teria de ser ao contrário… E, se… Queria lá saber… Se calhar ainda era a melhor solução! Entrou numa cabine telefónica, onde se demorou pouco tempo… Ao sair viu as horas no seu relógio… E lá foi andando vagarosamente. Mais uma hora de caminho e outra para se safar… Terminara o azar de Joãozinho “Azarento”. A cem metros do Ministério, o estrondo alarmou todas as pes-

Solução do Problema “O Colar Desaparecido”, de “Tony Cooper”, publicado no dia 2/12/2011 - Apesar de Vítor Lopes ser pouco amigo de trabalhar, andar metido em namoricos e jogar à batota e criar a má fama que já tinha – nada nos diz que tivesse sido ele a roubar o cordão… Depois, se o fosse, seria um “ladrão” demasiado ingénuo ou mesmo brincalhão, pois iria retirar o cordão dentro da casa… apenas para o colocar no guiador da bicicleta… Se fosse ele, porque não o “esconderia” noutro lugar apenas de si conhecido? — Quanto ao Rui Pedro (…) a ingenuidade seria ainda maior ao retirar o cordão

de um lado e pô-lo noutro bem à vista. Se o fizesse, no desejo de pretender incriminar o irmão, colocaria o cordão, por exemplo, sob o selim da bicicleta ou escondido sob o colchão da cama onde o irmão dormia…ou nas roupas deste. Por outro lado, quem souber o que é regar uma horta com “água corrida” avalia e sabe imediatamente que ele não se poderia ausentar dali pois que a água mostraria logo que o “regador” o havia feito… - Do casal nem é bom falar, pois nada nos leva a essa suspeita… - Finalmente, temos os “animais” da casa: a gata e a pega… Se tivesse sido a primeira, faria um enorme estardalhaço ao retirar o colar da

concha com a pata, ou, se a abocanhasse, não só era capaz de ficar marcado com os dentes como seria maior o barulho ao saltar da cómoda para o chão, com o cordão à sua frente… Mas com a pega, e sabendo-se da tendência destas para roubar objectos (especialmente os brilhantes) que vão esconder sempre noutros lugares (geralmente nos ninhos) podemos admitir que o tivesse levado no bico e ao passar ali (voando da casa para a árvore onde teria o seu), o colar se prendesse no guiador da bicicleta, lhe oferecesse resistência e ela o tivesse abandonado. Concorrente contemplado: João Gomes Santarém

em frente de montões de notas, distribuindo os quinhões aos seus cúmplices. Um jornal comparava o “seu” assalto ao do comboio-correio, em Inglaterra, e instintivamente repudiou a ideia: não podiam fazer comparações, pois o “seu” assalto seria diferente de tudo. Num esforço supremo, tentou pôr em ordem os seus pensamentos. Ordenou os pormenores numa sequência lógica na sua entrada no mecanismo do “seu” assalto. Nada. Nada havia esquecido. Tudo se encontrava em ordem cronológica, perfeita, tão perfeita como o mecanismo de um relógio. Tudo fora previsto, ensaiado, e os seus

amigos eram homens que sabiam do ofício. Na manhã seguinte, quando o Banco abrisse as portas, espalhar-seia pelo país inteiro a notícia do assalto. E embora o não quisessem, todos teriam de reconhecer a centelha do seu génio. Sorriu. Sorriu outra vez. Mas escassas horas o separavam do seu objectivo. Sem saber porquê, sentiuse nervoso. A aproximação das horas, o pensar no tempo que ainda faltava, fizeram-no acelerar o pulsar do seu coração. Tentou dominar-se. Precisava de se dominar, de continuar a ser aquele homem frio, calculista e enérgico que os outros apreciavam. Ergueu-se da cama. Tirou

do casaco os cigarros e começou a fumar. Aproximou-se da janela, puxou o cortinado para o lado e ficou com a mão encostada à parede, erguida acima da cabeça, em atitude repousante e meditativa. Lá em baixo, dois andares mais abaixo, do outro lado da rua, ficava o “seu” Banco. E, dentro de poucas horas, esse Banco ficaria na história do crime, na história dos mais perfeitos assaltos da História e esse assalto seria seu, seria o “seu” assalto. O rosto tornou a iluminarse-lhe por um sorriso largo. Voltou costas à janela e deitou-se de novo. Poucos minutos decorre-

ram. Subitamente, aos seus ouvidos e sobrepondo-se ao ruído normal da rua, chegou o som de qualquer coisa confusa que não conseguia definir. Apurou os ouvidos numa tentativa de averiguar o que se passava e onde se passava. Levantou-se de um pulo e dirigiu-se à janela. Ouviu tiros mesmo antes de olhar para baixo. Uma comoção enorme se apossou dele. Sentiu que o corpo era despojado de qualquer parcela de energia e agarrou-se ao parapeito para não cair; lá em baixo, do outro lado da rua, dois andares mais abaixo, alguém acabava de assaltar o Banco…

da” fosse entregue mais sobre a hora, para reduzir as possibilidades de novo fracasso. Como já era tarde, ele dormiria lá em casa do Chefe e de lá sairia com o “embrulho” directamente para o local. Levaria mais de uma hora a pé, pois não iria correr riscos inúteis… Há sempre quem tenha boa memória…

*** Convida-se, agora, o leitor a explicar este caso, justificando convenientemente a sua teoria. As respostas devem ser enviadas, no prazo de dez dias, para “Correio Policial”, Correio do Ribatejo, Rua Serpa Pinto, 98, Apartado 323, 2001-904 – Santarém, ou pelos emails: geral@correiodoribatejo.com, ou d.cabral@sapo.pt. Sortearemos um livro entre as respostas recebidas. A solução e o nome do contemplado serão aqui divulgados no dia 30 do corrente.

Conto

“O assalto” Fechou a porta e rodou a chave na fechadura. Olhou a cama, o guarda-roupa, a pequena mesa e a janela. Tirou o chapéu e atirou-o, num pequeno voo, na direcção da mesa. As abas tocaram o móvel levemente e, num impulso caprichoso, o

Por: Lima Rodrigues chapéu oscilou na borda da mesa e acabou por cair. Sorriu. Parecia não estar com a mão muito certa. Depois, vagarosamente, despiu o casaco. Não se deu ao cuidado de se descalçar quando se deixou cair na cama. Por momentos, fixou o olhar no tecto. Suspirou

longamente e sorriu-se. No seu pensamento, em fantástica cavalgada, desfilavam todos os pormenores do que iria ser um dos assaltos mais extraordinários da nossa era. Via já os cabeçalhos dos jornais, o ar intrigado dos polícias, as reclamações do público. Num fugaz instante, conseguiu mesmo vislumbrar um homem falando no que lhe pareceu ser um congresso qualquer. Sorriu. Rememoriou os pormenores um por um, mas o pensamento não o deixava concentrar-se neles: ultrapassavaos velozmente para se fixar apenas no que seria o após assalto. E continuou a ver o mundo inteiro a falar no “caso do assalto ao Banco” e via-se


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.