Revista Abranet. Edição 23 . dez 2017 - jan/fev 2018

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+ ‘Brasilzão’ requer ISPs com mais imaginação e ousadia

+ Engajamento digital: feliz 2018!

+ Especial: passado, presente e futuro da Internet

associação brasileira de internet abranet.org.br ano VI . edição 23 . dez 2017 / jan / fev 2018

Maioridade: novas conquistas nos esperaM

Nos últimos 21 aNos, a Abranet consolidou-se como a representante da cadeia de valor da internet no Brasil. Esta é uma missão que assumimos no dia 7 de novembro de 1996 e que estamos levando à frente apesar das intempéries políticas e econômicas que de tempos em tempos afetam o Brasil. O legado está estabelecido, temos muito a comemorar e mais ainda a conquistar.

Estamos desbravando o Brasil para levar conexão à sociedade, transformando-a verdadeiramente em uma sociedade do conhecimento. Projetar os próximos anos tem tudo a ver com as reportagens desta edição da revista.

A matéria de capa revela que encontrar a fórmula do sucesso – a grande meta de todo empreendedor – não tem uma receita mágica, mas há boas práticas que podem e devem ser aplicadas. Mostramos exemplos de associados que driblaram a crise, apostam na inovação e estão buscando novos caminhos.

Fomos brindados com uma entrevista exclusiva com um dos responsáveis pela internet comercial no Brasil e um dos brasileiros no Hall da Fama da Internet Society, Tadao Takahashi. Às empresas de internet, Takahashi dá um conselho precioso: imaginem e ousem para construir as próximas décadas, que vão impor

transformações ainda mais radicais no que ele bem definiu como o ‘Brasilzão’.

Passado, presente e futuro. A revista Abranet também apresenta as principais tendências para 2018. Transformação digital, blockchain, internet das coisas (IoT), inteligência artificial (IA), aprendizado de máquina (machine learning) e realidades virtual e aumentada, aplicativos inteligentes, analytics e edge computing são tecnologias que batem à porta. Há ainda novas frentes surgindo, como o “event driven”, que mostra o digital dirigindo os rumos dos negócios. Estamos preparados para essa era?

Mais conectividade, mais oportunidades. A Abranet marcou presença no Futurecom, principal evento de telecomunicações da América Latina. Foram dias de discussões intensas sobre a adequação da internet à Economia Digital. Trabalho não nos falta nos próximos anos.

Chegamos ao término de 2017, o marco 21 da nossa história. Definitivamente, não foi um ano fácil, mas lutamos para sustentar nossos negócios. Enfrentamos as dificuldades e seguimos corajosamente. Que 2018 nos permita construir mais, fazer mais. Aos nossos associados, Feliz Natal e um Ano Novo de paz e prosperidade!

Boa leitura!

03 abranet.org.br dez 2017 / jan / fev 2018 editorial

05 | a B ranet responde

Pode-se alterar o prazo de suspensão parcial dos serviços de acesso à internet para cinco dias, visto que o sVa não está sujeito à fiscalização? Saiba a resposta do advogado Ricardo Augusto Marchi, do escritório Marchi Advogados.

06 | capa

Qual é a fórmula do sucesso?

Boas práticas aplicadas por corporações bem-sucedidas sugerem um caminho a seguir.

o Vii Fórum da internet, realizado em novembro, no Rio de Janeiro, debateu o passado, o presente e o futuro da internet no Brasil. A principal mensagem deixada pelos responsáveis pela implantação da rede no País foi: o momento é de maturar o que se fez e faz e avançar sem temer o que está por vir.

16 | entre V ista

tadao takahashi, um dos responsáveis pela infraestrutura de internet no País, diz que as empresas de Internet precisam abrir o leque e ir além dos serviços de acesso, informações e conteúdo..

18 | tendências

Engajamento digital: feliz 2018! O sucesso no mundo dos negócios digitais não é um privilégio das grandes multinacionais ou dos atuais líderes da indústria, mas está à mão de todas as empresas – grandes, médias ou pequenas, públicas ou privadas – que consigam estabelecer um foco estratégico, engajar toda a organização no projeto e usar as ferramentas certas.

22 | legislação

Discussão sobre a lei de proteção de dados avança. Marco da União Europeia entra em vigor no ano que vem e coloca mais obrigações para as empresas; no Brasil, orientação é que a lei não seja pensada apenas para as grandes organizações.

24 | futurenet / futurecom

mais conectividade, mais oportunidades. A Abranet marca presença, em mais um ano, no maior evento de telecomunicações da América Latina. Participa de um importante painel sobre a internet das coisas, que ocupará cada vez mais espaço no mercado e é um polo de oportunidades para os provedores, e anuncia parceria para levar às associadas melhores condições de negócio.

30 | opinião . p or Jo sé Janone Júnior, Vice-presidente da a branet

Reforma da Clt já está valendo. E agora?

O mundo mudou, as pessoas mudaram e as leis trabalhistas tinham que mudar também, pois elas não permitiam a flexibilização das relações de trabalho, nem quando havia concordância entre os trabalhadores e empregadores.

abranet.org.br

dez 2017 / jan / fev 2018

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04
índice
10 | especial

a B ranet responde

tem uma dúvida? q uer que um especialista da a ssociação Brasileira de i nternet responda? e screva para o a branet r esponde. o e-mail é abranetresponde@abranet.org.br

DEViDo à iNaDimPlêNCia de clientes, um provedor de internet enviou a pergunta acima buscando esclarecimentos sobre a possibilidade de alteração dos prazos para suspensão dos serviços. Sua dúvida reside, principalmente, no fato de o Serviço de Valor Adicionado (SVA) não estar sujeito às regulamentações e às fiscalizações da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Ricardo Augusto Marchi, advogado e sócio do escritório Marchi Advogados, lembra que a resolução 632/2014 da Anatel instituiu o Regulamento Geral de Direitos do Consumidor de Serviços de Telecomunicações, que visa a normatizar as relações entre consumidores e prestadoras de serviços relativos ao Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC), ao Serviço Móvel Pessoal (SMP), ao Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) e aos Serviços de Televisão por Assinatura.

“Não há, na referida norma, disposição de regular o SVA, prestado por vários dos provedores associados à Abranet. Soma-se a este argumento a própria natureza do SVA, o qual não é caracterizado como serviço de telecomunicações e, portanto, não sujeito à regulação da Anatel. Vale ressaltar que a Lei Geral de Telecomunicações

(Lei n.º 9.472/97), no parágrafo primeiro de seu artigo 61, dispõe claramente que os serviços de valor adicionado não constituem serviços de telecomunicações.”

Segundo orientação de Marchi, aos provedores que prestam o SVA em suas relações com seus consumidores, cabe o cumprimento das regras do Código de Defesa do Consumidor, as quais não estabelecem prazo mínimo de inadimplência para a suspensão dos serviços. “O Código de Defesa do Consumidor determina que, nos casos de dívidas dos consumidores, os fornecedores, na cobrança de débitos, não podem submeter o devedor a ridículo, nem praticar qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. A suspensão dos serviços prestados, em razão do não pagamento, é um direito do fornecedor e não caracteriza constrangimento ou ameaça”, explica.

Desta forma, de acordo com o advogado, o prazo de inadimplência para a suspensão dos serviços pode ser livremente estipulado pelos prestadores do SVA em seus contratos com os consumidores. “Contudo, esse prazo, como caracteriza uma penalidade, deve constar em contrato escrito, firmado entre o provedor e seus clientes, de forma clara e inequívoca”, ressalta.

ClassifiCados abranet

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Serviço gratuito da Abranet destinado aos Provedores de Internet, associados ou não, que desejam vender ou comprar equipamentos. O objetivo é fomentar um canal de negociação. Saiba mais em http://classificados.abranet.org. br
Pode-se alterar o prazo de suspensão parcial dos serviços de acesso à internet para cinco dias, visto que o SVA não está sujeito à fiscalização?

boas práticas aplicadas por corporações bemsucedidas sugerem um caminho a seguir

Qual é a fórmula do SuceSSO

a REsPosta PREVisíVEl para a pergunta do título é que não existe uma única receita que assegure o sucesso empresarial. Mas não é bem assim. Algumas práticas aplicadas por corporações bem-sucedidas sugerem um caminho a seguir. Nada é garantido, porém. Em comum, empresas longevas e rentáveis mostram que se deve, principalmente, primar pelo atendimento. De tão repetido, o tal foco no cliente já se tornou commodity, contudo, apesar de estar na ponta da língua dos executivos e no plano estratégico, a expressão nem sempre é seguida à risca pelos que a usam.

“Conseguimos alinhar produtos à demanda de mercado e buscamos sempre lançar produtos específicos”, resume Eduardo Neger, presidente da Neger Telecom, empresa que completou 30 anos em dezembro de 2017. Para ele, ouvir ocliente é o mais importante na hora de desenvolver novas soluções, especialmente, se o lançamento for para um nicho. “A internet rural sempre foi problema no Brasil. Desenvolvemos uma série de produtos para isto e seguimos

sempre atualizando o portfólio com este foco”, exemplifica. A empresa saiu de um faturamento de R$ 5,9 milhões, em 2014, para R$ 16,3 milhões no ano passado. A expectativa é encerrar 2017 com aumento de 10% no faturamento.

O relacionamento é chave para a Binário. Angelo Dias, gerente de Contas Corporativas da Binário, explica que a estratégia da empresa é avaliar constantemente as linhas de produtos comercializados para que estejam alinhadas ao que os clientes procuram. “Trabalhamos com projetos de infraestrutura, que são fundamentais para os negócios dos nossos clientes, e também buscamos abrir novas oportunidades, principalmente, em infraestrutura e serviços de computação em nuvem”, diz, acrescentando que entender a demanda e desenhar a oferta para que seja aderente à demanda (e não só considerada custo pelo cliente) têm sido bandeiras da Binário. “Se as soluções que provemos não fizerem parte do core business do cliente, ele não vai implementar.”

A fórmula do UOL Diveo para manter o crescimento

Roberta Prescott capa
? 06 abranet.org.br dez 2017 / jan / fev 2018

driblando a Crise

O que fazem as PMES para enfrentar o cenário adverso

VIda aPóS oS cortES – A necessidade de fazer ajustes nos custos e nas despesas, em busca de maior eficiência, manteve-se, e o principal desafio das empresas foi se adequar à nova realidade da economia com a estrutura enxuta.

InVEStImEntoS crItErIoSoS – As empresas emergentes de maior crescimento não deixaram de fazer investimentos em áreas importantes, com foco na ampliação da produtividade. Quase 90% das PMEs lançaram produtos ou serviços em 2016.

InoVação no radar – Quase 70% das empresas conta com uma equipe dedicada (integral ou parcialmente) para a gestão e o desenvolvimento da inovação. Porém, em mais da metade das organizações pesquisadas, a estratégia de inovação ainda não é formal e documentada.

olhar Para dEntro – Revisar processos e atividades internas, implantar metas para redução de gastos e responder de forma ágil e estruturada às transformações e incertezas do ambiente de negócios.

aValIação dE cEnárIoS – Além de práticas de monitoramento e inteligência de mercado, é recomendável que as empresas façam o acompanhamento e a gestão dos riscos financeiros relacionados à sua atividade, de forma a visualizar cenários e estabelecer respostas aos desafios apresentados em cada um deles.

ImPortâncIa do comPlIancE – Boas práticas incluem implantação de uma estrutura de conformidade para lidar com as especificidades de se fazer negócio com organizações do setor público; possuir código de ética e conduta estabelecido e realizar auditoria interna.

fonte: estudo “pmes que mais crescem no Brasil” - deloitte

e sobreviver às crises está calcada em dois fatores fundamentais: a proximidade com os clientes e a abrangência de serviços essenciais. De acordo com Gil Torquato, CEO do UOL Diveo, a companhia concentra seus esforços nos clientes que demandam maior atenção no dia a dia, ficando próxima às necessidades que eles apontam. “Quando tem uma crise como a que estamos vivendo, a necessidade do cliente é por redução de custo. Entendemos a sua dor. Queremos que eles nos enxerguem como prestador de serviços de uma forma mais ampla, podendo terceirizar conosco para reduzir o custo dele”, diz Torquato.

O executivo do UOL Diveo lembra que a acirrada competição também obriga a empresa a manter-se na vanguarda e a fomentar a inovação. “Competimos com players globais e ganhamos porque conhecemos o complexo ambiente nacional, temos a sensibilidade local. O tempero brasileiro é um diferencial que temos para colocar na mesa. Problemas com máquinas e equipamentos sempre vão acontecer,

a questão é como encará-los”, aponta. O UOL Diveo atende a cerca de 2 mil contas, entre elas, 140 instituições financeiras e 70% do mercado de e-commerce brasileiro.

inovar é PreCiso

Inovar tem sido a palavra de ordem para as empresas bem-sucedidas, que, cada vez mais, procuram proporcionar retorno para o cliente em redução de custo ou otimização de recursos. O jeito, diz Carlos A. Bernardi, presidente da CTI, é encontrar fórmulas para o cliente gastar o mesmo e receber mais. A CTI consta há três edições do ranking nacional das cem PMEs [Pequenas e Médias Empresas] que mais crescem, feito a partir de estudo produzido pela Deloitte.

Questionado se esta equação – gastar o mesmo e receber mais – não poderia afetar o faturamento, Bernardi explicou que, normalmente, quando o cliente percebe o valor do fornecedor e verifica que, de fato, obteve resultados como economia de custos, ele tende a comprar outros

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produtos ou serviços.

Na Neger Telecom, apostar em produtos que solucionem problemas identificados pela empresa tem sido o motor propulsor da inovação. Um dos resultados foi o desenvolvimento de uma solução capaz de assumir o controle de drones. Em parceria com a Unicamp, a Neger Telecom criou o laboratório de inteligência espectral [leia mais sobre isto na página 28]. Ainda em desenvolvimento, o sistema despertou atenção nacional quando um drone sobrevoou, em novembro, a pista do aeroporto de Congonhas (SP), obrigando o cancelamento de pousos. “Este episódio em Congonhas atropelou tudo, já tem gente querendo comprar. Apareceu a oportunidade e vamos colocar o foco para este lado agora”, diz, explicando que o fato de ser uma pequena empresa confere agilidade quando é preciso mudar o direcionamento dos trabalhos.

Outros produtos inovadores incluem o rastreador para áreas rurais Metrosat, que já está gerando receita para a empresa e surgiu a partir de um problema apresentado por um cliente. A Neger Telecom também está trabalhando em soluções para monitorar a comunicação e o acesso à internet de dispositivos para identificar, por exemplo, o uso de celulares em salas durante provas de vestibular e concursos públicos. Neger ressalta que, na jornada da inovação, várias ideias não dão certo, e o mais importante é as empresas identificarem o fracasso para mudar de rota rapidamente.

Para Giovanni Cordeiro, gerente de Desenvolvimento de Mercado da Deloitte, ainda que cada empresa tenha uma história e siga um caminho diferente, em comum, as vencedoras têm o foco na busca constante pela inovação. Além disto, elas mantêm os investimentos, revisam processos internos e estão dispostas a prestar novos tipos de serviços. O especialista reconhece a dificuldade para manter os investimentos e a inovação em períodos difíceis e orienta as organizações a acharem um ponto de equilíbrio.

rankinG

Para ver os rankings em que constam os provedores, acesse:

“Tem de saber até onde fazer ajustes sem prejudicar a atividade. No momento de crescimento, as empresas tendem a expandir para atender à demanda, como abrir lojas. Às vezes, porém, não amplia da melhor forma, com um departamento contratando mais que o necessário. No momento de recessão, quando não existe mais aquela demanda, é o momento de olhar para dentro do negócio e revisar os processos, ver como pode ser mais eficiente”, aponta Cordeiro.

não está fáCil Para ninGuém

Nos últimos anos, com o Brasil atravessando crises políticas e econômicas, as organizações se viram diante de mais desafios e tiveram de reagir para não fechar as portas. “O momento no mercado todo não está fácil, todos estão reclamando da dificuldade de vender produtos e serviços. Em tecnologia, se se permanecer fazendo o mesmo, com a mesma eficiência, fica para trás. Em tempos que a economia anda de lado, escolhemos desenvolver produtos e serviços que ajudem os clientes a economizarem e a serem mais ágeis, otimizando os recursos que têm hoje”, diz Bernardi, presidente da CTI.

A CTI apostou em soluções para reduzir os custos de telefonia e transmissão de dados, como, por exemplo, interligando matriz e filial e fazendo conexões ponto a ponto e/ou por meio de redes virtuais privadas (VPNs). “Ajudamos as empresas a implantar sistema de telefonia pela internet e temos ferramenta de gerenciamento de política de acesso à internet, por meio de aplicativos que monitoram a rede, e com isto elas conseguem inibir o tempo gasto em redes sociais ou outros sites”, detalha Bernardi.

Identificar as reais necessidades dos clientes depende de um profundo conhecimento sobre eles. É preciso entender não apenas o ramo de atividade como também a importância dos serviços de internet para determinada empresa ou segmento. Somente assim o desenvolvimento de produtos e

anuário telecom 2017/as 100 maiores

http://www.forumeditorial.com.br/wp-content/uploads/2016/04/AnuarioTelecom2017-min.pdf

as PmEs que mais crescem no Brasil

https://www2.deloitte.com/br/pt/pages/strategy/articles/pequenas-medias-empresas-mais-crescem-Brasil.html

anuário telesíntese 2017

http://www.momentoeditorial.com.br/eventos/anuariots/Anuario-TeleSintese-Inovacao-em-Comunicacoes-2017.pdf

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serviços será eficaz a ponto de eles serem adquiridos.

Ao fazer avaliações de cenário, é possível notar a presença de corporações que estão tão envolvidas com a atividade-fim que não prestam a devida atenção às áreas de tecnologia e telecomunicação. Para este tipo de firma, o fornecedor pode atuar como consultor, fazendo, inclusive, o papel de gestor de TIC. “Os ISPs são muito hábeis nisto, porque é fácil para a gente entender [o que se precisa] e vender. Apenas competir no ‘arroz com feijão’, como vender acesso à internet, é básico; tem de adicionar valor. Quanto mais valor colocar em cima da internet, mais fácil será fidelizar os clientes”, aponta Bernardi.

A CTI tem crescido em torno de 22% a 25% ao ano no faturamento, graças, segundo seu presidente, aos novos produtos que incrementaram o portfólio, e mantido as margens líquidas no patamar entre 18% a 20% ao ano. A expectativa é fechar 2017 com faturamento de R$ 50 milhões. A empresa só trabalha com pessoas jurídicas, e a carteira tem aproximadamente 1.200 clientes ativos, desde a pequena empresa com tíquete médio de R$ 200 por mês até grandes companhias com tíquetes de R$ 40 mil mensais. Para Bernardi, esta diversificação é fundamental para manter as contas saudáveis. “Nosso faturamento é bem pulverizado. Outra dica que dou é focar no trabalho para PMEs. O pequeno empresário precisa do tipo de atendimento que nós podemos dar”, diz.

Para Marcia Ogawa, sócia-líder de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da Deloitte, firmar parcerias com grandes corporações com o objetivo de complementar ofertas para determinados segmentos pode ser um caminho interessante para incrementar o faturamento. É preciso, segundo ela, que os ISPs subam na cadeia de valor, não apenas levando acesso à banda larga, mas também provendo outros serviços, como de conteúdo, manutenção de redes e projetos de internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) e de cidades inteligentes.

Ampliar o escopo de atendimento requer fazer investimentos em capacitação para as novas tecnologias e estruturar o plano de negócios. “Deve-se, por exemplo, conhecer as tecnologias de conectividade que vêm a reboque de IoT, as aplicações de IoT, especificamente para smart cities, além de mudar o modelo de negócios, seja para subir na cadeia de valor, seja para acompanhar a evolução tecnológica”, destaca Marcia, que avalia que os provedores estão se profissionalizando mais.

aPosta Certeira

No fim de 2016, a Ascenty fez uma aposta ambiciosa: dobrar o parque de datacenters no Brasil. De lá para cá, construiu quatro datacenters e vai finalizar 2017 com oito em operação, localizados em Campinas, Jundiaí, Hortolândia, Sumaré, região metropolitana de Fortaleza, São Paulo (SP1 e SP2) e Rio de Janeiro. O ritmo seguirá forte em 2018, quando os planos apontam para a construção de mais cinco unidades.

O salto é enorme comparativamente a 2016, quando eram apenas quatro datacenters e a companhia se preparava para o aumento na demanda. “Não faz mais sentido para as empresas terem estes serviços dentro de casa”, diz o CEO, Chris Torto, ressaltando que, somente em 2017, foram investidos R$ 500 milhões na expansão dos datacenters.

Torto explica que junto com o aumento constante do digital há a necessidade de locais para armazenagem de dados, inclusive com replicação e backup. O aumento da quantidade de dados é exponencial, e esta tendência ajuda o setor de datacenter a passar praticamente imune às crises. Para 2018, a companhia prevê investimento de R$ 650 milhões.

Ele acredita também no potencial do segmento de segurança da informação e diz que atender bem o cliente constitui um pilar fundamental para a manutenção do crescimento. Além disto, para o setor de TI e telecom, Torto recomenda a busca constante por novas tecnologias. “Tem de achar um nicho para ter vantagem competitiva e sustentar o crescimento rentável, porque a pressão por preço é muito grande em commodity”, explica, ressaltando que ter uma ótima prestação de serviços deve ser o básico.

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longa vida à internet!

os PRimEiRos 25 aNos da internet comercial no Brasil foram de muito trabalho e de ações desbravadoras, e a jornada ainda está longe de terminar. Registrar o hoje e projetar o amanhã exigem governança, resiliência e atenção. O passado determinou o modelo vigente. O futuro deverá escrever uma nova história. Cabe agora assegurar condições para planejar o que está por vir sem recear os impactos.

Desmitificar o novo é uma tarefa para quem faz a internet brasileira, sustentou um dos responsáveis pela estruturação da internet no País e membro do Internet Hall of Fame da Internet Society, Tadao Takahashi. Segundo ele, novas tecnologias estão ‘causando’, como a inteli-

gência artificial, porque, hoje, a internet oferece muita banda, muita capacidade e muito processamento de dados. “Nós, da velha geração, implementamos e desbravamos a rede. Cabe aos novos seguir em frente, maturar o marco regulatório, entender a visão econômica e melhorar o uso dessa infraestrutura”, salientou, ao participar do painel Passado, Presente e Futuro da Internet no Brasil, durante o VII Fórum da Internet, promovido pelo Comitê Gestor da Internet (CGI) e realizado de 15 a 17 de novembro, no Rio de Janeiro.

Takahashi observou ainda que a internet no Brasil

especial Ana Paula Lobo*
ricardo matsukawa / Julio cesar guimaraes
da esquerda para a direita: Júlio cesar urdangarin, vice-presidente do iplan rio; marcos dantas, do cgi.br; flávia lefrève, do cgi.br; maximiliano martinhão, coordenador do cgi.br e presidente da telebras; Henrique faulhaber, do cgi.br e leonardo soares, subsecretário de inovação do rio de Janeiro

O VII Fórum da Internet, realizado em novembro, no Rio de Janeiro, debateu o passado, o presente e o futuro da internet no Brasil. A principal mensagem deixada pelos responsáveis pela implantação da rede no País foi: o momento é de maturar o que se fez e faz e avançar sem temer o que está por vir

pode ser considerada “um pequeno milagre na área pública”, porque a Rede Nacional de Pesquisa (RNP) foi lançada no Governo Sarney, a legalização da internet aconteceu no Governo Itamar Franco, a criação do Comitê Gestor da Internet, no governo Fernando Henrique Cardoso, a consolidação da Internet, no Governo Lula, o Marco Civil da Internet foi aprovado no Governo Dilma e, agora, se discute, no Governo Temer, o modelo a ser adotado daqui para frente. “A internet permeou a política do País. Há, agora, uma oportunidade enorme para se escrever um momento relevante no Brasil. Espero muito

por isso. O CGI e o NIC [Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR] são estruturas dinâmicas que não devem ser modificadas a ferro e fogo, mas devem ser evoluídas”, reforçou o especialista.

Uma das implementadoras da internet no Brasil, a professora Liane Tarouco, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), lembrou que a internet mudou a forma como as pessoas vivem e pensam. Mas destacou que ainda há lugares onde o acesso à rede é travado e boicotado. “Temos um bem imaterial pelo qual é bom lutar. É bom que estejamos todos atentos”, defendeu.

Segundo ela, regras são necessárias, mas é missão en-

da direita para a esquerda: ronaldo lemos, do its/rio; demi getschko, do nic.br e cgi.br; flavio Wagner, da ufrgs; carlos afonso, da isoc; liane tarouco, da ufrgs e tadao takahashi, membro do internet Hall of fame da internet society

contrar um equilíbrio entre o excesso da interferência do Estado e a competição predatória do mercado. O presidente do NIC.br, considerado o “pai” da internet no Brasil, Demi Getschko, corroborou: “é preciso trabalhar para que a internet não fique restrita a um seleto grupo de usuários. Desejamos que a rede consiga manter no futuro tudo o que conquistou no passado”, completou.

é hora de Produzir teCnoloGia

Ao contrário de Tadao Takahashi, Carlos Alberto Afonso, presidente da Internet Society Brasil (Isoc) e diretor-executivo do Instituto Nupef - Núcleo de Pesquisas, Estudos e Formação, mostra-se assustado com o poder concedido aos algoritmos e às novas tecnologias. “Tenho medo do que está por vir. A inteligência artificial, por exemplo, é um alerta à humanidade. Os supercomputadores podem vir a ter mais habilidade que os seres humanos.

A tecnologia não é para matar o ser humano. Ela é para conviver com o homem”, afirmou.

Sobre a internet no Brasil, Afonso defendeu a manutenção do CGI.br com o status da multissetorialidade. “É um acerto. Fomos copiados no mundo. A governança da rede criada no Brasil é um exemplo”, pontuou. Prever o futuro da tecnologia é uma tarefa inglória, sinalizou Ronaldo Lemos, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS/Rio), ao lembrar que muitos gênios erraram feio ao tentar fazer previsões, entre eles, o ex-presidente da Microsoft, Steve Ballmer, que desdenhou do iPhone, dispositivo que redesenhou omercado de telecomunicações mundial.

Lemos observou que o País, mesmo em um momento de muitas incertezas, possui prestígio internacional pela quantidade de acertos somados em relação à governança da internet. “Os valores que levaram a esses acertos ainda estão

professora da universidade federal do rio grande do sul

tadao takahashi

membro do ‘internet Hall of fame’ da internet society

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“O CGI e o NIC são estruturas dinâmicas que não devem ser modificadas a ferro e fogo, mas devem ser evoluídas.”
“Temos um bem imaterial pelo qual é bom lutar. É bom que estejamos todos atentos.”
liane tarouCo
ricardo matsukawa / Julio cesar guimaraes

entre nós, entre eles, o Decálogo de Princípios do CGI.br, que deve ser protegido como referência”, sustentou.

Mas prestígio não é tudo, e há de se trabalhar por avanços. Lemos informou que existe a missão de conectar 100 milhões de brasileiros que estão fora da rede. Uma das ações seria levar banda larga, de verdade, às escolas, cujo custo estimado seria de R$ 15 bilhões, de acordo com estudo feito pelo ITS/Rio. “Infelizmente, não saímos do papel ainda com essa ação”, lamentou. Também advertiu que o Brasil é o único país na América do Sul sem uma Lei de Proteção de Dados Pessoais, o que representa um atraso de 30 anos em comparação aos vizinhos Uruguai, Chile, Argentina e Colômbia. “Dados são o caminho da economia digital”, preconizou (leia matéria sobre a proteção dos dados pessoais no box ao lado).

Em sintonia com Tadao Takahashi, Ronaldo Lemos afirmou que o Brasil não pode temer as novas tecnologias e

lei de dados Pessoais: qual o Ponto de equilíbrio?

A aprovação de uma lei de proteção aos dados pessoais é estratégica para o Brasil, mas é preciso entender que os dados são o novo motor da economia global, sejam eles pessoais ou não, e que há a exigência de uma segurança jurídica, observou a diretora do Departamento de Políticas e Programas Setoriais em Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Miriam Wimmer.

A executiva acredita que o PL 5.276/2016, que cria a Lei de Proteção de Dados Pessoais no Brasil, deve passar por longas etapas antes de sua aprovação. “É necessário encontrar um ponto de equilíbrio”, observou. A diretora do MCTIC advertiu que os mecanismos de consentimento para uso dos dados são frágeis e exigem um novo desenho.

A legislação precisa não apenas tratar dos direitos individuais dos usuários, mas também entender o contexto dos dados diante de novas tecnologias, como a inteligência artificial, pontuou a representante da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), Ana Paula Bialer.

“O pilar na discussão da legislação de proteção de dados pessoais é a questão da confiança: o ecossistema só funciona a partir do momento em que as empresas tratam os dados de maneira íntegra e têm consequências se não o fizerem”, sugeriu.

Já o professor da UFRJ Danilo Doneda, que redigiu o texto base da Lei de Proteção de Dados Pessoais quando atuou como assessor no Ministério da Justiça, definiu os dados como um ‘corpo eletrônico’. Ele considera um erro pensar em dados sem que eles estejam ligados às pessoas. “Os dados projetam a personalidade e, se deixarem de projetar, deixam de ser úteis, representam uma entidade não existente”, pontuou. Por conta disso, considera que é necessário um instrumento jurídico para contrabalançar a assimetria informacional. O painel sobre privacidade de dados integrou a programação do VII Fórum da Internet, no Rio de Janeiro.

* comreportagemdeBrunodoAmaral,doTeletime

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“É preciso trabalhar para que a internet não fique restrita a um seleto grupo de usuários. Desejamos que a rede consiga manter no futuro tudo o que conquistou no passado.”
demi GetsChko presidente do nic.br

observou, em relação à inteligência artificial, que não podemos ser mais um mero consumidor do que virá de fora. “Esse jogo da IA é global, e é certo que Estados Unidos e China estão entre os vencedores. Precisamos dar um salto e irmos além de sermos ávidos consumidores das novidades. Temos que ter condições de produzir tecnologia aqui. Explorar essas tendências para melhorar a vida do brasileiro. Temos que olhar para a frente sem medo. Precisamos assegurar vida longa à internet no Brasil”, completou.

O VII Fórum da Internet também discutiu o melhor modelo de governança da internet. A multissetorialidade do Comitê Gestor da Internet foi um consenso, mas ainda há arestas a serem aparadas, especialmente no convívio entre governo, academia e empresas. No evento, o governo adotou uma postura de ouvir mais do que falar. Coube à academia, ao terceiro setor e às empresas revelarem suas propostas.

ProPosta da abranet

A Associação Brasileira da Internet (Abranet) apresentou, como base para um consenso, uma proposta com cinco pontos em destaque:

1. Multissetorialismo, com a participação significativa de todos os setores.

2. Lógica bottom-up no funcionamento da estrutura e na formulação de políticas e posicionamentos.

3. Abertura das comunidades constituintes para todos os interessados.

4. Transparência e accountability de todas as comunidades constituintes.

5. Consenso como regra de operação em todas as instâncias decisórias.

Na proposta da entidade, o Comitê Gestor é estruturado em três instâncias. Na base, cada um dos setores (público, empresas, terceiro setor e academia) organiza

Carlos alberto afonso presidente da internet society Brasil (isoc) e diretor-executivo do instituto nupef - núcleo de pesquisas, estudos e formação

ronaldo lemos diretor do its/rio

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abranet.org.br
“[O CGI] é um acerto. Fomos copiados no mundo. A governança da rede criada no Brasil é um exemplo.”
“Os valores que levaram a esses acertos ainda estão entre nós, entre eles, o Decálogo de Princípios do CGI.br, que deve ser protegido como referência.”
ricardo matsukawa / Julio cesar guimaraes

eduardo Parajo presidente da abranet e conselheiro do cgi.br

sua própria composição de ‘membros associados’. O caráter é amplo, de forma a criar um canal permanente das comunidades com o CGI.

Em seguida, em uma camada intermediária, conselhos setoriais (de cada um dos quatro) funcionariam como instâncias deliberativas para as questões surgidas na base, cuidando de coordenar os trabalhos de sua respectiva comunidade. A sugestão é que esses conselhos tenham de 12 a 15 membros, no máximo.

Finalmente, há o que a Abranet chama de ‘Conselho

Superior’ do CGI.br. Ou seja, aquilo que é o comitê gestor de hoje viraria esse ‘pleno’ ou instância decisória. A sugestão é mudar um pouco o desenho atual, passando a cinco representantes por setor, em um total de 20 membros, com um prazo de transição de 12 meses, contado a partir de janeiro de 2018. “Nós estamos tendo a oportunidade de ir além. Já somos vistos como um modelo, mas estamos desenhando uma nova etapa para a internet no Brasil”, reforçou o presidente da Abranet e conselheiro do CGI.br, Eduardo Parajo.

marCo Civil da internet: efeito e Causa

Aprovado em abril de 2014, o Marco Civil da Internet dá demonstrações permanentes de sua centralidade legal e jurídica. Elas estão no número de projetos de lei que tentam de alguma forma modificar a Lei 12.965/14, mas também no de decisões judiciais que vão consolidando a jurisprudência em assuntos relacionados à internet.

“Tantas iniciativas para modificar pontualmente, às vezes emergencialmente em casos de ‘pânico moral’, e um número bastante expressivo de ações judiciais mostram a centralidade da lei, mostram como ela era necessária”, resumiu Carlos Affonso Souza, diretor do ITS/Rio.

Pelo viés da jurisprudência, as indicações são positivas. “Depois de quase quatro anos, o Marco Civil da Internet tem se consolidado em vários temas. O Judiciário tem aplicado de forma criteriosa, regular e frequente o Marco Civil. Temas como responsabilidade civil têm sido frequentemente objeto de decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que vem reiteradamente consolidando entendimentos, chegando até a mudar o que era a orientação do próprio Tribunal”, disse Affonso.

Praticamente todas as semanas são apresentados projetos de lei para modificar o Marco Civil, lembrou a coordenadora do Intervozes, Bia Barbosa, no debate sobre os desafios enfrentados pela legislação. “Há uma vigilância permanente da implementação da lei que a sociedade civil deve perseguir. O tripé neutralidade, privacidade e liberdade de expressão continua válido. Mas está longe de ser implementado da maneira que esperávamos.”

O afã legislativo que busca, em geral, facilitar a remoção de conteúdo ou garantir acesso sem ordem judicial, lembraram os debatedores, deixa de lado o fato de que esses pontos foram exaustivamente discutidos na tramitação da lei. “Muito do que se quer legislar agora não são lacunas. Mas fruto da composição complexa da construção de uma lei como essa. Para que a lei continue boa, não podemos ceder à tentação das vontades e achar que dá para cada um interpretar a lei para atender a sua própria demanda”, enumerou Luiz Fernando Castro, representante do Governo no CGI.br.

*ColaboraramLuisOswaldoGrossmann,doportalConvergênciaDigitaleaassessoriadeimprensadoCGI.br

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“Já somos vistos como um modelo, mas estamos desenhando uma nova etapa para a internet no Brasil.”

entre V ista

Tadao Takahashi

Membro do ‘ i nternet Hall of Fame’ da i nternet s ociety

“brasilzão” precisa de isps com imaginação e ousadia

Abrir o leque e ir além dos serviços de acesso, informações e conteúdo. Esta deve ser a prioridade estratégica das empresas de internet nos próximos 25 anos no Brasil, observa Tadao Takahashi, um dos responsáveis pela infraestrutura de internet no País. O especialista projeta uma melhoria na oferta da internet, mas não o fim da desigualdade digital. Com relação à governança da internet, diz que “há muitas questões em aberto”.

como o senhor projeta os próximos 20 anos da Internet?

Do ponto de vista tecnológico, o mundo verá transformações radicais em que a raiz estará no uso da internet – serviços de mobilidade e logística com veículos autônomos; cidades como megaentidades ativas e responsivas; atividades e aplicações recheadas de inteligência artificial com pouca ou nenhuma interferência humana etc. A parte de regulação da internet terá ultrapassado as querelas de telecomunicações versus as OTTs e enfocará desafios humanos relacionados com conteúdos, enquanto as megaempresas de serviços internet estarão cercadas por iniciativas antitruste (mas seguirão impávidas mesmo assim...!).

Os governos terão definido algumas linhas inegociáveis de atuação, especialmente em segurança e defesa. E a população seguirá, como hoje, meio abobalhada entre a

evolução vertiginosa de tecnologias e aplicações, de um lado, e a apreensão com os seus impactos sociais, do outro lado. A disseminação da internet por todo o País, com velocidade de acesso e variedade de aplicações, terá melhorado, mas ainda será bastante desigual – não é possível supor que problemas sociais e econômicos que estão na base da má distribuição digital terão sido resolvidos em vinte anos...!

São os provedores locais de internet e telecomunicações que estão levando infraestrutura de banda larga para o interior do Brasil ou para as cidades com menor poder econômico. como eles devem projetar suas redes pensando nos próximos 25 anos da internet?

Acho que os ISPs precisam manter e, na realidade, aumentar suas apostas em imaginação e ousadia. Começando por imaginação: tendências como IoT, Software Based Networks etc. dependerão basicamente de provedores locais de produtos e serviços para se materializarem junto às PMEs, entidades públicas e usuários em geral, nas cidades e na zona rural do “Brasilzão” da vida real; os ISPs devem se mirar e se reconhecer como os intermediários ideais entre os provedores de backbone e os clientes de internet Brasil afora, prestando amplo leque de serviços, não mais limitados a acesso, informações e conteúdo.

Falando de ousadia: os ISPs têm de mudar a imagem de “underdogs” de serviços internet no Brasil e se colocarem como os verdadeiros agentes da transformação do “Brasilzão” em um Brasil Digital; parte dessa mudança implicará, por exemplo, passar a atuar ativamente no Congresso para adiantar agendas como o do Estatuto da Cidade, o Plano Nacional da

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reprodução do site imaginingtheinternet.org

Educação etc. Todas essas frentes necessitam de uma Agenda Digital que o Governo Federal contempla somente da distância segura que Brasília garante para qualquer plano com relação à vida concreta das ruas.

Já se fala da internet como um serviço de utilidade pública como água, energia e saneamento básico. Isso é possível no Brasil?

Sim, certamente será possível e desejável definir a internet dessa forma. Mas, para não provocar retrocesso, acho que será necessário fazer duas coisas: (i) promover uma nova Lei de Telecomunicações que realmente mereça o nome, simplificando o marco legal/regulatório na área, dividindo tudo em basicamente duas camadas: transporte e aplicações; e (ii) definir o que será internet dentro desse novo contexto legal/ regulatório. A partir disso, se poderá definir precisamente um serviço universal que poderá ter uma parte na nova definição de transporte e outra parte na definição precisa sobre o que é a internet dentro desse novo marco legal/regulatório. Ou só na camada de transporte do novo modelo...!

Quais são as ações que podem vir a ser tomadas para aperfeiçoar a governança da internet? E qual o papel do cGI?

Talvez o maior problema que o modelo brasileiro de governança da internet está enfrentando hoje seja o de haver ficado “parado no tempo” e não haver seguido um processo contínuo de evolução, com revisões planejadas a cada período de, digamos, quatro anos. Nesse relativo imobilismo institucional, a agenda do CGI, no nível internacional, acabou

por se pautar por acompanhar a evolução do ICANN. No nível nacional, o CGI acabou por se pautar por responder a desafios oriundos especialmente do setor de telecomunicações. É certo que houve avanços principionistas com o Decálogo e, depois, legais com o Marco Civil da Internet.

Mas várias questões importantes para o futuro permaneceram e permanecem em aberto. Por exemplo, o que deve ser a “internet” hoje, do ponto de vista legal/regulatório? Como deve ser encaminhada a questão no contexto de um futuro marco regulatório para comunicações, aplicações e conteúdos digitais no País?

Isto dito, parece-me que o CGI tem ainda papel importante a cumprir no Brasil, especialmente com seu modelo de representação “multistakeholder”, evitando exageros de setores.

Faltam alguns ajustes imediatos, que a proposta da Abranet no Fórum da Internet ajuda bastante a encaminhar. Isto evitará, por exemplos, “surtos” como o do setor governamental dos últimos tempos. O futuro é “multistakeholder”, e uma nova encarnação do CGI me parece mais apropriada do que uma agência governamental com todas as atuais (e possivelmente futuras) atribuições do par CGI/NIC.

o Brasil ainda não tem uma lei de proteção aos dados. Estamos ficando para trás depois de termos elaborado o marco civil da Internet?

Há duas questões aqui. A primeira é a proteção de dados de forma segura, dentro do País e na “fronteira cibernética” do Brasil com o mundo, de forma a assegurar o cumprimento adequado do Marco Civil da Internet e ir além dele onde necessário. A segunda questão é a de privacidade de indivíduos vis-à-vis requisitos de segurança e a disseminação ilícita de informações.

Acho que ambas as frentes avançarão bastante em 2018, devido à influência de avanços legislativos em outros países e/ou a dinâmica dos acontecimentos no País (devido, por exemplo, às eleições de 2018)

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“Os ISPs têm de mudar a imagem de ‘underdogs’ de serviços internet no Brasil e se colocarem como os verdadeiros agentes da transformação do ‘Brasilzão’ em um Brasil Digital.”

engajamento digital: feliz 2018!

O sucesso no mundo dos negócios digitais não é um privilégio das grandes multinacionais ou dos atuais líderes da indústria, mas está à mão de todas as empresas – grandes, médias ou pequenas, públicas ou privadas – que consigam estabelecer um foco estratégico, engajar toda a organização no projeto e usar as ferramentas certas

tRaNsFoRmação DiGital, blockchain, internet das coisas (IoT), inteligência artificial (IA), aprendizado de máquina (machine learning) e realidades virtual e aumentada, aplicativos inteligentes e analytics, edge computing e plataformas conversacionais são algumas das tendências que permearão o universo da tecnologia da informação a partir de 2018. Sua empresa está preparada para aplicar essas tendências? Para o Gartner, a estratégia do sucesso está centrada no engajamento. E, segundo a consultoria, não é privilégio das companhias mais ricas ou poderosas, mas pode ser adotada por toda e qualquer organização.

Além dessas tecnologias, que já começam a entrar no dia a dia das empresas e ficam, portanto, mais maduras, outros conceitos emergem e figuram na lista de novidades a serem observadas. São elas: “event driven”, quando o digital direciona o negócio; gêmeos digitais, termo que se refere à representação digital de uma entidade ou sistema do mundo real; e experiência imersiva com as realidades virtuais, aumentadas e mistas, que estão mudando a maneira como as pessoas percebem e interagem com o mundo digital (leia sobre dez tendências em tecnologia no box nas páginas 14 e 15).

De acordo com o Gartner, em 2021, as marcas pioneiras que redesenharem seus sites para apoiar pesquisas visuais e de voz aumentarão as receitas de comércio digital em 30% e acima de 50% das organizações gastará mais por ano em

criações de bots e chatbots do que em desenvolvimentos tradicionais de aplicativos para dispositivos móveis. Até 2019, a inteligência artificial eliminará mais empregos do que vai gerar, no entanto, o número dos que serão criados devido à IA em 2020 será suficiente para superar esse déficit.

Com relação à internet das coisas, até 2020, a estimativa da consultoria é que ela estará em 95% dos eletrônicos para novos projetos. Uma vez que esta tecnologia cresça, os compradores rapidamente irão mover-se para produtos disponíveis na internet de coisas, e o interesse e a demanda aumentarão velozmente.

A recomendação do Gartner é que todo fornecedor deve, no mínimo, fazer planos para implantar a tecnologia IoT em seus produtos. Até 2022, a metade de todos os investimentos de segurança para a IoT irá para remediação e recuperação de falhas em vez de proteção.

inteGração

Em evidência em 2017, a transformação digital consolida-se como prioridade nos próximos anos até em função de um uso maior da inteligência artificial, segurança digital e internet das coisas. Chamadas pelo Gartner de tecnologias de efeito de rede, elas exercem papel fundamental para ajudar líderes de TI (CIOs) a tomar decisões táticas de tecnologia isoladas e construir uma plataforma digital

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t endências
Roberta Prescott

de negócios estratégica e integrada.

a revolução do bloCkChain

A principal tendência para o próximo ano é a adoção de blockchain. De acordo com a lista das previsões de TI para 2018 da Dimension Data, a tecnologia por trás da moeda virtual bitcoin tem grande potencial de transformar o mundo financeiro, de negócios e a sociedade por meio de uma variedade de aplicações. E por isto será destaque em 2018. Para o líder de tecnologia da multinacional, Ettienne Reinecke, o blockchain tem se tornado cada vez mais bem-sucedido, principalmente, com o setor de serviços financeiros de mercados de capital dos Estados Unidos e europeus migrando para plataformas de blockchain, e ações similares acontecendo em mercados como o Japão.

De acordo com o Gartner, até o final de 2020, o setor bancário obterá US$ 1 bilhão em valor comercial a partir do uso de criptomoeda baseada em blockchain. O valor combinado atual das criptomoedas em circulação em todo o mundo é de US$ 155 bilhões, e essa quantia vem aumentando à medida que os tokens continuam a proliferar e o interesse do mercado cresce.

O especialista da Dimension Data usa o resgate pedido por cibercriminosos responsáveis pelo recente ataque de ransomware WannaCry, que demandaram pagamentos em bitcoin, para ilustrar como os cibercriminosos estão confiantes de que a criptomoeda provê um mecanismo seguro, indicando o nível de segurança da abordagem de banco de dados distribuídos. Para Reinecke, o blockchain tem o potencial de reconstruir a cibersegurança, mas a indústria ainda precisa chegar a um acordo com a tecnologia.

Esse conjunto único de tecnologias cria padrões virtuosos de crescimento, permitindo que o executivo lide com um ambiente em que as ondas disruptivas se acumulem, exponencialmente. Mike Harris, vice-presidente sênior de Pesquisas do Gartner, destaca que a IA será fundamental para resolver os desafios de segurança digital e em IoT. “Será uma defesa essencial, criando continuamente risco adaptativo e respostas de confiança. Então, priorize seu investimento em IA, começando no topo de sua organização com líderes capacitados”, ressalta Harris.

De acordo com Harris, cerca de 10% dos CIOs já estão usando IA no processo de recrutamento e gerenciamento de talentos. Isso irá ajudá-los a encontrar pessoas e a desenvolver seus colaboradores. A inovação, segundo ele, possibilita combinar as melhores capacidades das pessoas com as melhores capacidades dos sistemas de aprendizado de máquina.

O Gartner defende que o sucesso no mundo digital não é apenas para gigantes multinacionais ou os atuais líderes da indústria, mas para todas as empresas, grandes, médias ou pequenas, públicas ou privadas, que consigam estabelecer um foco estratégico, engajar toda a organização no projeto e usar as ferramentas certas.

Segundo a consultoria, no processo de transformação di-

gital, as empresas podem contar com três aceleradores: a destreza digital; as tecnologias de efeito de rede; e a industrialização da plataforma digital, ou seja, fazer com que ela seja integrada e coordenada, permitindo adicionar ou interromper dinamicamente os jogadores ou mudar a relação entre eles.

Para Hung LeHong, vice-presidente & parceiro do Gartner, a beleza da plataforma digital industrializada é o fato de ela permitir criar valor em todas as direções em escala: para cima, para dentro e para fora. “A criação de valor costumava ser unidirecional, da organização aos clientes. Agora, ela pode escalar em todas as direções, de qualquer pessoa, em qualquer lugar, para qualquer um, em qualquer lugar”, diz.

Chave do suCesso

O êxito da transformação digital é analógico: são as pessoas as principais responsáveis pelo sucesso da estratégia da empresa nessa jornada. Se os funcionários não estiverem engajados, todo o projeto de mudança da companhia fica

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em risco, por melhor que esteja desenhado. Cassio Dreyfuss, vice-presidente de Pesquisa do Gartner, destaca que a transformação digital não é – ou não deve ser – de tecnologia e nem da área de TI, mas sim uma mudança que começa com a transformação das pessoas. Segundo ele, sem isto, as companhias não conseguirão atingir o objetivo.

Dreyfuss reconhece que, atualmente, as funções nas organizações já não são mais fechadas com pessoas especializadas. “Hoje temos um crescimento forte, de cerca de 60%, de busca por habilidade e conhecimento fora da TI para diversas funções, com a participação, em outras áreas, de pessoas que não são do ramo, mas conhecem tecnologia”, explica. Dentro desse contexto, é fundamental para o CIO criar uma cultura de destreza digital, ou seja, enfatizar que não se trata de dominar o conhecimento de determinada linguagem ou software, mas de tirar partido da tecnologia para executar as atividades.

A destreza digital é um novo design organizacional e uma mistura de talentos para um ambiente de trabalho diferente, um local de trabalho digital de alto desempenho. As organizações devem mudar internamente para mudar externamente,

as 10 tendênCias

b ase em ia . A criação de sistemas que possam aprender, adaptar e potencialmente atuar de forma autônoma será um campo de batalha importante para fornecedores de tecnologia, pelo menos até 2020. A capacidade de usar a inteligência artificial (IA) para aprimorar a tomada de decisões, reinventar modelos de negócios e ecossistemas e refazer a experiência do cliente irá gerar recompensa para as iniciativas digitais até 2025.

aPliCativos inteliGentes e analytiCs . Os aplicativos inteligentes criam uma nova camada intermediária entre pessoas e sistemas e têm o potencial de transformar a natureza do trabalho e a estrutura do local.

Coisas inteliGentes As coisas inteligentes são coisas físicas que vão além da execução de modelos de programação rígidos para explorar a IA como forma de oferecer comportamentos avançados e interagir mais naturalmente com os arredores e as pessoas.

segundo o Gartner. Dreyfuss esclarece que, para escalar, precisa-se de pessoas com destreza digital, que sejam colaborativas, ágeis, analíticas, inovadoras e criativas. E que também tenham capacidade e o desejo de explorar tecnologias existentes e emergentes para melhores resultados de negócios. “É necessário criar uma cultura digital em toda a organização; sem isto, não se faz transformação digital. Tem de fazer com que as pessoas se sintam confortáveis em usar a tecnologia nas suas atividades”, diz, completando que, “nesse cenário, o papel do líder de TI é de orquestrador.”

O Gartner alerta que os disruptores digitais estão surgindo em todas as indústrias, e é necessário que os CIOs abracem a transformação digital. A receita para o setor digital atinge 20% do total da receita, deixando claro que esse movimento não pode ser interrompido. O que difere é o tempo que cada setor irá demorar para entrar na onda e o tipo de impacto.

De acordo com a consultoria, 77% das prioridades de negócio são dependentes de tecnologia. E os executivos de TI devem tomar a liderança no processo de transformação digital ao invés de serem reativos, esperando chegar as demandas das áreas. O papel do CIO pode variar, ex-

Gêmeos diGitais . O termo refere-se à representação digital de uma entidade ou sistema do mundo real. Gêmeos digitais bem projetados de ativos têm o potencial de melhorar significativamente a tomada de decisões empresariais. A inovação está ligada a suas contrapartes do mundo real e é usada para entender o estado do produto ou sistema, responder a mudanças, melhorar as operações e agregar valor.

na Ponta da nuvem . A edgecomputing descreve um tipo de computação em que o processamento de informações e a coleta e entrega de conteúdo são colocados mais perto das fontes dessa informação. Os desafios de conectividade e atraso, restrições de largura de banda e maior funcionalidade embutida favorecem modelos distribuídos.

Plataformas ConversaCionais . As plataformas conversacionais impulsionarão a próxima grande mudança de paradigma na forma como os seres humanos interagem com o mundo digital. A uma pergunta ou comando do usuário, a plataforma responde executando algumas funções, apresentando alguns conteúdos ou solicitando uma entrada

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plica Mike Harris, vice-presidente sênior de Pesquisas do Gartner, nomeando três perfis: um CIO parceiro, um CIO construtor digital ou um CIO pioneiro digital.

O CIO parceiro deve operar de forma mais transacional, com foco em gerenciamento de serviços e valoração do investimento. O construtor digital deve projetar e habilitar novos produtos e serviços e trabalhar com outros profissionais da empresa. Já o pioneiro digital atuará como empreendedor, alavancando tecnologias para construir novas capacidades, novos modelos de negócios e novos fluxos de receita para alcançar valor.

Entre as recomendações, o Gartner aponta para a necessidade de entender as melhores práticas e desenvolver indicadores de desempenho (KPIs, na sigla em inglês) para toda a empresa. Segundo Harris, KPIs digitais se tornarão a bússola empresarial, incorporada aos objetivos de desempenho de cada líder da organização.

além do rótulo

Para se adequar às demandas das empresas no rumo da transformação digital, muitos fornecedores de tecnologia

adicional. Nos próximos anos, as interfaces conversacionais se tornarão um objetivo principal de design para a interação do usuário e serão entregues em hardware dedicado, recursos de sistema operacional, plataformas e aplicativos.

exPeriênCia imersiva Enquanto as interfaces conversacionais estão mudando a forma como as pessoas controlam o mundo digital, as realidades virtuais, aumentadas e mistas estão mudando a maneira como as pessoas percebem e interagem com o mundo digital. A realidade mista, um tipo de imersão que combina e estende a funcionalidade técnica tanto de AR (realidade aumentada, na sigla em inglês) como de VR (realidade virtual, na sigla em inglês), está emergindo como escolha de experiência imersiva, proporcionando uma tecnologia atraente que otimiza sua interface para combinar melhor a maneira como as pessoas visualizam e interagem com o mundo.

bloCkChain O blockchain está evoluindo de uma infraestrutura de moeda digital para uma plataforma de transformação digital. As tecnologias de blockchain oferecem uma saída radical dos atuais mecanismos centralizados de transação e manutenção de registros

estão colocando o rótulo de digital no portfólio já existente. “O mesmo produto está travestido de transformação digital”, ressalta Dreyfuss. “Estamos ajudando os fornecedores no debate sobre o portfólio de tecnologia para a transformação digital”, acrescenta.

O vice-presidente de Pesquisa do Gartner explica que, na teoria, qualquer tecnologia pode ser componente para a transformação digital, mas isto não significa que o produto, em si, seja a solução para essa mudança. Um fator fundamental neste processo é a interoperabilidade entre os componentes. “Na nossa pesquisa com CIOs sobre os fornecedores mais amigáveis para transformação digital, eles apontaram que os produtos monolíticos não são amigáveis, ou seja, a estratégia de lock-in não serve mais”, destaca Dreyfuss.

Do lado das empresas compradoras, a orientação é saber o que quer antes de abrir a porta para o fornecedor.

“Os CIOs dizem que querem aumentar as parcerias com os fornecedores nos próximos anos, mas com base em uma arquitetura mais ágil e flexível e não com soluções de ponta a ponta, porque isto não vai servir para a transformação digital”, diz.

e podem servir como base de negócios digitais disruptivos tanto para empresas estabelecidas quanto para startups.

event driven . O negócio central para o digital é a ideia de que o negócio está sempre monitorado e pronto para explorar novos momentos comerciais digitais. Os eventos de negócios podem ser qualquer coisa que seja percebida digitalmente, refletindo a descoberta de condições importantes ou mudanças de condições, por exemplo, a conclusão de uma ordem de compra ou desembarque de uma aeronave.

risCo adaPtativo Contínuo e de Confiança . Para ativar de forma segura as iniciativas de negócios digitais em um mundo de avançados e focados ataques, líderes de segurança e gerenciamento de riscos devem adotar uma abordagem de avaliação contínua de risco adaptativo e de confiança (CARTA - Continuous Adaptive Risk and Trust Assesment) para permitir a tomada de decisões em tempo real, com base no risco e na confiança e com o uso de respostas adaptativas. A infraestrutura de segurança deve ser adaptável em todos os lugares, para abraçar as oportunidades e gerenciar os riscos que se movem à velocidade do negócio digital.

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fonte: gartner

discussão sobre a lei de Proteção de dados avança

Com Dois PRoJEtos de lei principais em tramitação no Congresso, a discussão sobre privacidade e proteção de dados evolui no Brasil. Contudo, sem um marco regulatório específico, o País ainda está bem atrás da União Europeia, cujos países encontram-se em fase de adequação para ficarem de acordo com a nova legislação – a Regulação Geral de Proteção de Dados (RGPD) –, que passa a valer a partir do ano que vem. Novas regulamentações fazem-se necessárias à luz da evolução tecnológica e da globalização.

No Brasil, os dois projetos de lei (PL) que estão em andamento são o PL 5276/2016, aguardando parecer na Câmara, e o projeto de lei do Senado PLS 330/2013. Ambos visam a estabelecer o âmbito de aplicação de critérios como territorialidade e finalidade, princípios aplicáveis ao tratamento, requisitos para o tratamento e direitos do titular dos dados.

Na visão de Ciro Torres Freitas, advogado da Pinheiro Neto Advogados, a lei deve seguir duas premissas. A primeira diz respeito à privacidade, que tem de ser analisada quanto à sua natureza de direito subjetivo fundamental. “Nós temos a prerrogativa de controlar aspectos privados,

de divulgar ou não e para quem. Não cabe ao Estado impor a privacidade, cabe ao cidadão. Então, não pode ter lei obrigando a privacidade. Ela deve assegurar o direito, e o cidadão escolhe se quer ou não. A segunda premissa é a valoração que o próprio titular dá ao seu direito”, enfatizou. Freitas destacou também que a lei não pode atravancar um serviço ou produto e deve deixar claro quem prevalece, se o PL ou o Marco Civil da Internet.

Para Freitas, a criação de uma lei brasileira para proteção e privacidade de dados não pode inibir ou impedir a prestação de serviços e não pode atrapalhar o funcionamento das empresas, principalmente, as pequenas e médias. Ele aponta que se deve pensar em uma proteção de dados não olhando apenas as grandes companhias. “Tem de pensar que a lei será aplicada a pequenos empreendedores. É muito prudente ter equilíbrio para que

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“Tem de pensar que a lei será aplicada a pequenos empreendedores. É muito prudente ter equilíbrio para que a nova lei assegure o desenvolvimento tecnológico.”
Ciro torres freitas advogado da pinheiro neto advogados
legislação Roberta Prescott
Marco da União Europeia entra em vigor no ano que vem e coloca mais obrigações para as empresas; no Brasil, orientação é que a lei não seja pensada apenas para as grandes organizações

bairrao associada-sênior da garrigues portugal

a nova lei assegure o desenvolvimento tecnológico”, diz. O advogado acredita que o Brasil terá uma lei de proteção de dados aprovada em 2018.

vanGuarda

A União Europeia (UE) aprovou a Regulação Geral de Proteção de Dados (RGPD) em 2016, e ela passa a vigorar em 25 de maio de 2018. Entre seus objetivos, está fazer face ao impacto das novas tecnologias, garantir a transparência para os titulares dos dados e aumentar o controle que eles dispõem sobre a sua informação pessoal.

Durante dois anos – desde a entrada em vigor em maio de 2016 até poder produzir efeitos, em 2018 –, as empresas passam por um período de transição e adaptação ao novo quadro legal. A RGPD coloca conceitos chave de proteção de dados, tais como o princípio da responsabilidade proativa e a abordagem ’risk based approach’. “Há uma alteração do tipo de consentimento para garantir que companhias como a Google não possam dispor dos dados pessoais e vender para outras empresas. A disponibilização dos dados pessoais é um direito pessoal”, ressalta Isabel Bairrao, associada-sênior da Garrigues Portugal. “As empresas têm o dever de informar ao titular dos dados o que será feito com eles”, completa.

Os novos direitos dos titulares dos dados incluem o direito ao esquecimento, à limitação do tratamento de dados (a pedido do titular, seus dados pessoais não serão usados para operações de tratamentos específicas) e à portabilidade, ou seja, o direito de receber os dados pessoais num formato estruturado e de uso comum. Com a entrada em vigor da lei na União Europeia, as empresas passam, por exemplo, a ser responsáveis pelo tratamento dos dados, com a obrigação de não apenas cumprir as normas, como provar que as cumprem, ou seja, devem mapear processos e documentar suas ações. Com isto, há uma transferência do ônus, que era do governo, para o responsável pelo tratamento.

falta de PreParação

Apesar do tempo decorrido, uma pesquisa do SAS sobre os desafios que as companhias terão de enfrentar para cumprir as normas da RGPD mostrou que nem todas estão preparadas para cumprir as normas. A pesquisa foi feita com 340 executivos de diversas indústrias e mercados e revelou que menos da metade das organizações consultadas (45%) possui um plano estruturado para entrar em conformidade com a nova regulamentação e mais da metade (58%) sequer está totalmente consciente das consequências quanto ao descumprimento.

Em nota, o gerente de Soluções de Negócios do SAS, Arturo Salazar, aponta que muitas empresas não sabem se são compatíveis ou não com a regulamentação e nem por onde começar para estarem em conformidade com a RGPD. Segundo ele, a recomendação é iniciar com uma estratégia sólida de governança de dados para garantir que as tecnologias e as políticas estejam em vigor e permitam entender completamente onde os dados estão armazenados e quem tem acesso a eles.

A pesquisa revelou ainda que as grandes companhias, aquelas com 5 mil funcionários ou mais, estão mais bem equipadas para lidar com a RGPD, com 54% delas conscientes do impacto sobre os negócios, contra apenas 37% das pequenas empresas. Somente 24% das organizações fazem uso de uma consultoria externa para se tornarem compatíveis com a RGPD.

Com relação às empresas de governo, a pesquisa apontou que apenas 26% delas estão conscientes do impacto da RGPD, sendo este o porcentual mais baixo de qualquer segmento da indústria. Com a RGPD, as pessoas têm o direito de pedir que seus dados sejam apagados ou transferidos para outra empresa. Isso traz questionamentos sobre as ferramentas e processos que as organizações precisam programar. Para 48% das empresas consultadas, encontrar dados pessoais em seus próprios bancos de dados já é por si só um desafio. Nesses casos, o cumprimento das regras da RGPD será uma tarefa ainda mais relevante.

Entre as empresas pesquisadas, 58% delas têm problemas para gerenciar a portabilidade dos dados e o chamado direito de ser esquecido. Controlar o acesso aos dados pessoais também é um desafio a ser levado em conta. Grandes organizações e instituições financeiras são as que têm mais dificuldade em encontrar dados pessoais armazenados em seus bancos de dados se comparadas a outras empresas.

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“A disponibilização dos dados pessoais é um direito. As empresas têm o dever de informar ao titular dos dados o que será feito com eles.”
isabel

Mais conectividade, mais oportunidades

Um amPlo DEBatE sobre os desafios e as oportunidades em internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) assinalou, este ano, a participação da Abranet no Futurecom, o maior evento de telecomunicações da América Latina. Durante o Futurecom, também foi anunciada a parceria com a fabricante Ruckus, pela qual as associadas da Abranet passam a ter acesso a equipamentos de ponta e em condições competitivas para disseminar hotspots no País.

Em entrevista em vídeo, Eduardo Parajo, presidente da Abranet, explicou que a partir da parceria firmada com a

Ruckus, unidade de negócios da Brocade, as associadas poderão ampliar as linhas de negócios e expandir o serviço de Wi-Fi em ambientes corporativos, comerciais e públicos.

“Nossa ideia é que a parceria com a Ruckus traga mais valor agregado para a oferta dos provedores”, ressaltou.

Como parte de sua oferta recém-expandida de oferecer melhores conexões, a fabricante anunciou uma nova solução multigigabites, que confere um desempenho mais eficiente enquanto disponibiliza uma escalabilidade flexível e gerenciamento simplificado, atendendo às necessidades

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divulgação futurecom / abranet
a abranet marca presença, em mais um ano, no maior evento de telecomunicações da américa latina. Participa de um importante painel sobre a internet das coisas, que ocupará cada vez mais espaço no mercado e é um polo de oportunidades para os provedores, e anuncia parceria para levar às associadas melhores condições de negócio.

de negócios e organizações de todos os tipos e tamanhos.

“O acesso rápido e confiável ao Wi-Fi é agora simplesmente um imperativo para o fornecimento de conectividade”, disse Marcos Dias, gerente-regional de Vendas da empresa. “A Ruckus oferece soluções de rede que suportam a demanda por capacidade de dispositivos móveis inteligentes cada vez mais poderosos e utilizados para acessar conteúdos multimídia.”

No Futurecom, a associação contou com um estande de 272 metros quadrados, com mezanino, que teve a participação das empresas Arbor, China Telecom, CMA, Comba, Globenet, Kathrein, L8, Openet, a própria Ruckus, Solid, Technobox, Tejas, Telecall, WDC, Wztech e Xplay, além das entidades Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann, sigla em inglês para Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números), Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR / Comitê Gestor da Internet (NIC/CGI.br) e Sindicato de Empresas de Internet do Estado de São Paulo (Seinesp).

internet das Coisas

A capilaridade oriunda da expansão dos pequenos provedores no Brasil, especialmente em regiões desassistidas de infraestrutura, será fundamental para o desenvolvimento da internet das coisas no País. Foi o que defendeu o presidente da Abranet, Eduardo Parajo, durante o painel que discutiu os modelos de negócios em IoT no Futurecom 2017. “Essas empresas podem efetivamente colaborar,

assista à íntegra da entrevista com eduardo parajo http://youtu.be/cf39mowuvtk

principalmente, criando infraestrutura que hoje não tem nessas regiões, estabelecendo um cenário bastante promissor para o futuro, e no qual elas podem estar inseridas, colaborando com outros players”, destacou Parajo.

Ele também advogou que a regulamentação inicial para a IoT seja diferenciada. “Estamos falando de um mercado desconhecido; então seria recomendável esperá-lo desenvolver e corrigir o que será preciso à medida que ele crescer, buscando alavancá-lo”, ponderou. “Temos de pensar

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“Nossa ideia é que a parceria com a Ruckus traga mais valor agregado para a oferta dos provedores.”
eduardo Parajo presidente da abranet

diferente e não tentar colocar a IoT dentro de regulações que já existem hoje para outros setores ou atividades. Isso, mais o apoio com políticas públicas de incentivo, seria um bom ponto de partida para o processo de desenvolvimento da IoT no Brasil”, acrescentou.

Parajo afirmou que sempre destaca aos pequenos e médios provedores que as grandes operadoras não são seus concorrentes. “Existem disputas de mercado, evidentemente, mas os pequenos e médios estão fazendo um trabalho complementar”, disse. Em sua avaliação, essa complementaridade deve ser ampliada com a entrada de novos players na cadeia, como os fornecedores de tecnologia, sensores e aplicativos.

Para o executivo, é fundamental as empresas envolvidas com a IoT se unirem na busca por soluções que tornem a tecnologia um sucesso. “Não podemos tentar excluir um ou outro. Não temos uma única solução que possa ser aplicada a tudo em IoT, precisaremos dos vários atores da cadeia”, alertou. “O grande lance em IoT estará no processamento das informações, na necessidade de termos sensores espalhados, enviando informações para datacenters e clouds para serem processados. Aqui teremos uma grande oportunidade para todos poderem alavancar um futuro mais promissor.”

força do aGroneGóCio

Em outro painel no Futurecom, representantes de empresas de diversos setores concordaram que o uso da TI vai

mudanças na Clt

permitir ao Brasil dar um salto no agronegócio. Eduardo Neger, conselheiro da Abranet, lembrou que o agronegócio está no radar da associação há algum tempo e ressaltou que para a IoT florescer no campo dois pilares precisam caminhar juntos: aplicações e conectividade. “O gargalo é a infraestrutura. Ainda que existam hoje soluções e modelos que sejam eficientes, em algum momento, o sistema precisa conectar-se à internet”, ressaltou.

Para contornar a conectividade precária, a Agrosmart oferece uma solução que cria uma rede mesh a partir do ponto de internet que a propriedade tenha e replica o sinal para conectar os sensores instalados na plantação e que monitoram variáveis ambientais específicas de cada talhão. Filha de produtor rural, Mariana Vasconcelos cofundou e hoje é CEO da Agrosmart, startup que provê soluções em internet das coisas para oagronegócio, acelerada pela Baita via Startup Brasil e Google Launchpad Accelerator.

Para Neger, a faixa de frequência dos 450 MHz, atualmente subutilizada pelas operadoras, poderia ser realocada para os ISPs. “Os provedores foram responsáveis pelo crescimento da banda larga no País. A faixa dos 450 MHz não foi utilizada. Os provedores ficariam felizes se houvesse compartilhamento de frequência ou se as telcos devolvessem essa frequência ociosa para Anatel, porque têm interesse em usá-la para aplicações rurais”, ressaltou. “A

Durante palestra sobre a reforma trabalhista no Futurenet 2017, Carlos Bernardi, presidente do Sindicato das Empresas de Internet do Estado de São Paulo (Seinesp), abordou os principais pontos da nova lei e ressaltou que “o impacto da reforma trabalhista é positivo para o setor.” De acordo com ele, foram alterados mais de cem artigos da CLT e houve adição de esclarecimento de pontos importantes. “Eu tenho fé que isto vai diminuir a insegurança jurídica e as empresas vão se sentir mais seguras para investir”, completou.

Entre os pontos positivos, Bernardi destacou o trabalho a distância, o fracionamento de férias, o banco de horas, a livre estipulação contratual para quem tem salário acima de R$ 12 mil e mudanças no intervalo para refeição. Também mencionou o trabalho intermitente e o regime de tempo parcial. Para ele, a criação da cláusula arbitral e da câmara arbitral significará menos processos no Judiciário. “O Seinesp tem câmara conciliatória e estamos vendo a possibilidade de instalar uma câmara arbitral”, adiantou.

Bernardi recomendou às empresas estudarem as mudanças e não deixarem apenas a cargo do departamento pessoal ou do contador. “Envolvam-se e leiam. Os gestores precisam saber sobre as novas leis, tanto para usufruir benefícios quanto para evitar a criação de passivos trabalhistas”, defendeu.

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questão regulatória e o uso mais racional desta faixa são pontos fundamentais para levar conectividade, que ainda é um gargalo para aplicações, ao campo”, completou.

Maria Teresa Lima, diretora-executiva da Embratel, acredita que a colaboração entre as empresas é a chave para a adoção de soluções de tecnologia no campo e admitiu que o custo da banda larga satelital acaba sendo um fator inibidor. “Temos oito satélites que complementam a nossa rede e que cobrem o País todo. Pelas dimensões do Brasil, temos de usar satélite, mas isto não viabiliza economicamente para o produtor. Temos feito investimentos na expansão das redes e na modernização da plataforma. A explosão de IoT se dará por meio das plataformas de mobilidade”, disse.

Outro ponto que deve ser considerado e que, de acordo com Mariana Vasconcelos, tem sido sensível é o tipo de sensor. “Falta melhor material, um hardware melhor, que a bateria aguente”, disse, completando que muitos dispositivos não estão preparados para aguentar o ambiente do campo e acabam se deteriorando facilmente. Ela também criticou as grandes empresas, tanto operadoras quanto fabricantes: “Falta interface, abrir a mente para empoderar as pessoas que estão na ponta, porque a IoT já é viável economicamente. Nunca consegui fazer parceria com operadora; quando batemos na porta, ela não atende. Temos de comprar de quem está revendendo, inclusive fora do Brasil.”

Ter um padrão para a IoT, frequência definida e casos de negócios nos quais a conta feche são, na opinião de Douglas Benitez, diretor de Desenvolvimento de Negócios para a América Latina da Qualcomm, pilares fundamentais para maior desenvolvimento da tecnologia no campo. Ele defendeu o padrão de narrowband-IoT como o ideal para a IoT no campo, uma vez que oferece custos nos mesmos patamares à 2G. “Para termos soluções em escala, com massa crítica mundial, temos de ser um padrão global e aberto”, disse.

Janilson Bezerra, diretor de Inovação e Novos Negócios da TIM Brasil, completou que, além desses pontos, as empresas precisam entender que a IoT no campo rodará não na computação em nuvem, mas na fog computing. “É a nuvem próxima à aplicação, porque o tempo de resposta, a latência, tem de ser menor. Então, é preciso trazer esta computação em nuvem para mais perto da aplicação”, explicou.

isPs: mais relevânCia

Para Vanderlei Rigatieri Jr., da WDC Networks, os provedores de internet aumentaram sua importância no mercado entre 2012 e 2017. O executivo, em palestra no Futurenet, lembrou como os ISPs sentiram-se ameaçados pelos combos e a TV paga e destacou que no cenário atual eles despontam como protagonistas na oferta da ultrabanda larga regional. Houve, segundo Rigatieri, uma reviravolta no mercado entre 2012 e 2017, com o enfraquecimento da Oi, e os ISPs ganharam espaço. “A Oi quebrada está dando um espaço enorme para os provedores de internet do Norte e Nordeste”, enfatizou.

Ele ressaltou o aumento da implantação de redes de fibra ótica por parte dos provedores de internet e comentou que a substituição dos equipamentos de rádios por fibra deve acontecer como reflexo da evolução tecnológica. “Quando, em 2012, falava-se que o futuro seria FTTH, escutei que seria impossível para um provedor de internet ter fibra ótica”, lembrou, completando que hoje quem puxa o crescimento da fibra ótica são justamente os ISPs. “Há mais oportunidades para os ISPs. Existe, segundo o Ipea, uma demanda de 50 milhões de domicílios que não têm nenhum tipo de banda larga fixa chegando até eles. O Brasil tem muito espaço para crescimento, para atender com rede de banda larga”, destacou. Olhando para o futuro, Rigatieri ressaltou que ainda será necessário construir muita rede não apenas para atender à demanda de quem ainda não tem conexão banda larga, como também por causa das perspectivas de crescimento da computação em nuvem, big data e IoT. “O País é muito grande e regionalizado. Acredito muito que minis datacenters vão ter muita demanda, mas o provedor de internet terá de entregar serviços de qualidade”, acrescentou. “Sinto que os provedores são ‘monotask’, mas talvez seja o momento de serem ‘multitask’ e entenderem o seu nicho dentro da região. Construir rede ainda é bom negócio, mas o futuro não será somente rede. Tem de achar uma aplicação”, resumiu.

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Fomento à inovação

FiRmaR PaRCERias com o meio acadêmico pode ser um caminho para fomentar a inovação. Em palestra no Futurenet 2017, evento realizado pela Abranet dentro da programação do Futurecom, o diretor-executivo da Inova Unicamp, Newton Frateschi, falou sobre como a universidade pode ajudar a indústria. Ele mostrou dados comparativos entre as patentes requeridas pelo Brasil e pelos Estados Unidos, evidenciando o quanto aqui são as universidades públicas que lideram os pedidos, e nos Estados Unidos são as privadas.

“A primeira universidade dos EUA que aparece é a da Califórnia, em 71º lugar. Pesquisa e desenvolvimento (P&D) se fazem na indústria, e a universidade pode ajudar”, ressaltou, acrescentando que no Brasil há pouca P&D nas empresas. Na Unicamp, as empresas podem integrar o parque de ciência e tecnologia. “A companhia faz

a vez das startuPs

um projeto de P&D dentro da universidade”, disse. “Nesse ecossistema, são gerados cerca de 22 mil empregos e um faturamento de R$ 3 bilhões de reais.”

Um dos exemplos é a Neger Telecom, que criou, em parceria com a Unicamp, o primeiro laboratório brasileiro dedicado a drones, contramedidas e segurança espectral, segundo explicou Eduardo Neger, presidente da empresa e também membro da diretoria da Abranet. A conexão sem fio é o elo entre diversas aplicações, de internet das coisas e aplicativos a drones, e fomentar a segurança e a inteligência espectral torna-se fundamental, por isto, a criação do laboratório especializado no tema.

Neger explicou que a segurança da radiofrequência é uma questão que não pode ser negligenciada quando se fala em implantações de soluções de IoT, 5G, uso de dro-

Empreendedores estão vislumbrando aplicar o conceito de internet das coisas para desenvolver soluções que se proponham a mudar o modelo de negócios em setores variados, e diversas startups estão sendo criadas de olho em oportunidades nesse mercado. Uma delas quer aplicar a IoT para redução de desperdício de alimentos no varejo, conforme contou o empreendedor Antonio Rossini, cofundador e CEO da Nexto, empresa que nasceu em 2010. “No mundo, desperdiça-se 1,3 bilhão de toneladas por ano. Se reduzirmos o desperdício somente no varejo, isso aumentaria o lucro das empresas em 29%”, disse, apontando também que, a cada dez graus de elevação na temperatura, diminui em três vezes a vida útil do alimento na prateleira.

A Nexto desenvolveu tecnologia para, por meio de pequenos sensores, monitorar em tempo real a temperatura e a umidade, enviando os dados para a nuvem. “O mercado é promissor e grande, ultrapassa centenas de milhões de reais”, ressaltou. Atualmente, a Nexto conta com modelos de negócio de venda ou comodato do hardware, serviço e software como serviço e tem cerca de 30 clientes de setores da indústria, do varejo e de serviços alimentícios.

A Keycar identificou potencial nos carros conectados. Como explicou o sócio Bruno Lettieri, o que motivou a criação do negócio foi a paixão do brasileiro por carro e por smartphone e a ascensão de modelos de compartilhamento de veículos. “Hoje, vemos montadoras indo nessa direção do compartilhamento”, destacou. A Keycar nasceu no início de 2017 com o objetivo de desenvolver soluções de mobilidade e conectividade para permitir ao cliente final ter seu carro conectado. Lettieri acredita que carros inteligentes a um custo acessível estarão disponíveis para pessoas físicas, permitindo a elas controlar o veículo por meio de aplicativo e usar os mecanismos de telemetria para colocar em prática o conceito de compartilhamento.

Sem vínculo com instituições ou incubadoras, a OneRF Networks se autodenomina uma startup independente que usa recursos próprios para criar solução de alto desempenho e baixo custo, segundo o empreendedor Eduardo Caldas Cardoso. “Percebemos uma lacuna na criação de solução de conectividade inovadora, robusta e de baixo custo para atender ao mercado nacional e que seja fácil de usar e aplicar”, destacou. “O modelo foi criar uma solução IP fim a fim conectando dispositivos com OneRF.”

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nes, funcionamento de aplicativos que requerem sinal de GPS e celular, entre outros. “Quando olhamos para este ecossistema, temos ao final da conectividade o elo da conexão sem fio e em algum momento vamos usar radiofrequência, mas percebemos que a discussão fica sempre na camada de software e das aplicações, sem abordar que há uma grande vulnerabilidade na camada física”, ressaltou.

Ao comentar a inovação, o professor Leandro Tiago Manera, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explicou que é imprescindível bloquear o drone para impedi-lo de in-

vadir determinadas áreas, como presídios. A técnica aplicada mais comum, comhecida como jamming, deixa sem funcionar toda a faixa de frequência usada pelo equipamento.

O desafio, então, é como ocupar apenas a pequena faixa de comunicação entre o drone e seu controle. “Fizemos a técnica de spoofing, de montar um sistema que entenda a comunicação usada entre controle e drone e envie o mesmo sinal, a mesma informação para o drone em uma taxa mais rápida do que a do controle. Isto é relativamente complicado. Assim, o drone passa a responder ao nosso controle. Já conseguimos assumir o controle de alguns drones”, revelou.

De acordo com ele, a aplicação vai da iluminação pública e medição avançada à indústria 4.0, cidades inteligentes e agronegócio. A startupvai desenvolver, em parceria com a Qualcomm, um gateway inteligente, incorporando machine learning, alta capacidade de processamento local, conexão direta com a rede de sensores e padrão de internet em todas as camadas. A meta para 2018 é estruturar o negócio para entrar numa fase de expansão. “E para isto estamos buscando parceiros”, revelou.

Contudo, ter uma boa ideia não basta para lançar uma startup e obter sucesso. É preciso elaborar um plano de negócios e conseguir executá-lo. A opinião foi compartilhada por diversos participantes do painel “A internet e a inovação – startups, investidores, aceleradoras e corporações”, mediado por Dorian Guimarães, presidente da Isat, durante o Futurenet 2017.

Um dos alertas principais foi dado por Guilherme Ralisch, consultor do Sebrae-SP. “Empreendedor de startup é parte do nosso público-alvo. Vemos muitos empreendedores nascendo, e a possibilidade de empreender com tecnologia é muito disseminada. Mas tem muita gente iludida com startups, porque acha que é fácil montar e vai ficar rico. Não é assim; as startups têm uma jornada longa e árdua; leva uns dois anos até ter o produto”, ressaltou.

Na busca por capital, os empreendedores podem recorrer a fundos de investimentos e também a aceleradoras que podem ajudá-los a avançar mais rapidamente. Marcelo Hideo Sato, partner na Astella Investimentos, explicou que o fundo foca em empresas que já têm produto. “Venture capital é uma classe ainda pouco conhecida no Brasil”, acrescentou. Já a Liga Ventures, como detalhou seu cofundador e diretor Rogério Tamassia, conecta grandes empesas com startups para gerar negócios. “As grandes empresas descobriram que as startups podem ser meio de inovação aberta, em vez de fazer em casa, e que com isto elas ganham velocidade.”

Do lado das companhias, José Eduardo Velloso, engenheiro de Tecnologia e Inovação da Bosch, destacou que a empresa se adaptou para começar a trabalhar com startups. “Comparado com 30 anos atrás, mostra como a Bosch está se reinventando para ser a maior empresa de IoT e para isto está adotando modelo de ter startups internas”, disse. Avançada na interação com startups, a Qualcomm vem trabalhando com elas, seja licenciando suas tecnologias para empresas que tenham interesse em desenvolver soluções, seja investindo em firmas em qualquer estágio de desenvolvimento, explicou o diretor-sênior de Desenvolvimento de Negócios, Jorge de Paula Costa Avila.

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divulgação futurecom / abranet

v ice-presidente da a branet e fundador da s unrise net, uma das primeiras provedoras de internet no Brasil, fundada em 1995

reForMa da cLt já está vaLendo. e agora?

O mundo mudou, as pessoas mudaram e as leis trabalhistas tinham que mudar também, pois elas não permitiam a flexibilização das relações de trabalho, nem quando havia concordância entre os trabalhadores e empregadores.

ComEçoU a ViGoRaR no Brasil a partir de 11 de novembro de 2017 a reforma da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), popularmente conhecida por Reforma Trabalhista. Comemorada por muitos e lamentada por alguns, a mudança de determinados pontos das relações de trabalho entre empregadores e empregados, além de mesclar sentimentos de esperança e incerteza para ambos, foi uma reforma necessária.

quem Comemorou?

Em primeiro lugar, a maioria de trabalhadores que não se sentia representada por grande parte dos seus sindicatos laborais, sindicatos esses que recebiam vultosas quantias de dinheiro através de descontos compulsórios de seus salários, mas não conseguiam converter de maneira satisfatória esses recursos financeiros na defesa dos interesses dos seus representados. Os sindicatos dos empresários (patronais) existem por força de lei, para poderem manter aberto um canal de diálogo e de negociação com o sindicato dos trabalhadores, ou seja, para buscar o equilíbrio entre as partes.

Em segundo lugar, os empregadores da iniciativa privada, que se sentiam prejudicados com uma Justiça que tinha que proferir sentenças com base nos fatos e à luz de

leis trabalhistas de mais de 70 anos que não correspondiam aos problemas trabalhistas do presente. Os números dos resultados dos julgamentos comprovam que a balança da Justiça do Trabalho pendia quase sempre para o lado do trabalhador, fato que inibia a atividade empresarial no Brasil. Sem exemplificar, resumidamente, podemos apontar a famosa “insegurança jurídica”.

Por que reformou?

Essencialmente, por dois motivos: a tentativa de gerar mais empregos formais com registro em carteira de trabalho e arrecadação da previdência pública; e a atualização de entendimentos sobre as novas relações de trabalho, principalmente para atender as novas profissões existentes.

O mundo mudou, as pessoas mudaram, e as leis trabalhistas tinham que mudar também, pois elas não permitiam a flexibilização das relações de trabalho, nem quando havia concordância entre os trabalhadores e empregadores. Por exemplo, hoje, muitos trabalhadores se preocupam com sua saúde e qualidade de vida, e, além de trabalharem fora, muitos também cuidam das suas casas, filhos e se cuidam também, mas se esses trabalhadores quisessem fazer apenas meia hora de almoço para saírem mais cedo do trabalho e buscarem seus filhos na escola, ou irem para uma academia de ginástica, não podiam. Graças à reforma trabalhista, agora podem.

Vivemos numa era de superexposição de notícias e informações, especialmente na internet, onde qualquer caso de abuso ou ilegalidade está mais fácil de ser registrado, fiscalizado e denunciado. Portanto, e por tudo, vale a pena darmos esse voto de confiança à reforma trabalhista e acreditarmos que estamos caminhando para diminuir o desemprego no País.

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paulo m azevedo opinião abranet.org.br dez 2017 / jan / fev 2018

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