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Disparidade entre escolas públicas e privadas evidencia desigualdade educacional em Aracaju

Instituições privadas oferecem recursos avançados, e colégios públicos lutam para suprir necessidades básicas dos estudantes

Por Caio Queiroz

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A educação é um direito fundamental de todo cidadão, mas a realidade vivida por estudantes de Aracaju, capital de Sergipe, revela uma grande desigualdade no acesso à educação de qualidade. Se, por um lado, as escolas privadas possuem ar-condicionado e melhores infraestruturas, por outro, faltam investimentos e professores na rede pública de ensino. De acordo com a Secretaria da Educação de Aracaju, 15 instituições de ensino médio da rede pública apresentam problemas em suas instalações. Isso corresponde a 16% do total de escolas da cidade. Esse é um obstáculo grave que afeta a qualidade da educação oferecida nos colégios e precisa ser tratada com urgência pelas autoridades responsáveis. Os recursos financeiros das escolas também são um dos fatores que influenciam no desempenho dos alunos. Conforme o levantamento realizado pelo Censo Escolar de 2020, as escolas privadas que lecionam o Ensino Médio possuem salas de aula climatizadas, bibliotecas com vasto acervo, laboratórios bem equipados e acesso à tecnologia de ponta, enquanto as escolas públicas da rede estadual sofrem com a falta de recursos básicos, como ventiladores, carteiras e materiais didáticos. Além disso, muitas instituições públicas têm problemas estruturais, como rachaduras nas paredes e telhados quebrados. Segundo a estudante da rede pública de ensino Mariana Santos, a falta de laboratórios de ciência e informática prejudicam o aprendizado. “Vejo meus amigos que estudam em escolas privadas tendo acesso a recursos e aulas de alta qualidade. É triste perceber que a educação é tão desigual em nossa cidade”, disse.

Qualidade De Ensino

A qualidade de ensino é outra diferença gritante entre as escolas públicas e privadas. Segundo o Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (IDEB) de 2019, as escolas públicas de Aracaju possuem uma média de 4,6 pontos, enquanto as escolas privadas têm uma média de 6,6 pontos. A diferença de dois pontos pode parecer pequena, mas na prática significa que os alunos das escolas privadas têm uma formação muito mais completa e melhor preparada para o futuro.

Para a professora de Inglês da rede privada de ensino Cátya Nunes, a ausência de recursos impacta diretamente na qualidade da educação oferecida. “A falta de materiais pedagógicos e livros didáticos prejudicam a qualidade de ensino, muitas vezes os professores de escolas públicas são excelentes profissionais mas não possuem recursos para desenvolver seu trabalho”, disse.

A julgar pelas evidências, nas escolas privadas, os recursos financeiros possibilitam uma série de vantagens para os alunos. Além dos investimentos na educação, elas costumam oferecer atividades extracurriculares, como aulas de música, teatro e esportes, que contribuem para o desenvolvimento social e cognitivo dos estudantes.

A professora de Geografia da rede pública de Aracaju Daniele Mota acredita que o investimento em atividades extracurriculares é um fator importante para a formação dos alunos. “Essas atividades contribuem para a formação integral dos alunos e os preparam para o futuro”, disse.

Apesar dos avanços na educação em Aracaju nos últimos anos, a desigualdade entre escolas públicas e privadas ainda é uma realidade preocupante. A pedagoga Mary Regina ressalta que uma dessas diferenças é a sobrecarga de trabalho do professor, já que os professores da rede estadual não possuem suporte administrativo. “O professor da rede pública precisa lidar com turmas grandes e heterogêneas, o que dificulta o processo de ensino”, afirma.

Tecnologia

A tecnologia também é um ponto que contribui para a desigualdade na educação em Aracaju. Enquanto as escolas privadas investem em equipamentos de última geração, como tablets, computadores e lousas digitais, muitas escolas públicas ainda enfrentam a falta de acesso à internet.

Segundo o estudante da rede privada de ensino Mateus Ribeiro, as escolas particulares possuem uma tecnologia de ponta e um ambiente de ensino que estimulam o aluno. “É difícil não perceber as diferenças na qualidade da educação que recebo e a que meus amigos recebem em escolas públicas. Espero que um dia todos tenhamos uma educação de qualidade”, conclui.

Para tentar diminuir essa desigualdade, o poder público vem implementando políticas de incentivo à educação. Um exemplo é o programa Bolsa Escola, que oferece benefícios financeiros para que estudantes de baixa renda matriculados em escolas privadas possam arcar com os custos da mensalidade escolar.

Além disso, a Secretaria Municipal de Educação de Aracaju, por exemplo, tem investido na melhoria da infraestrutura das escolas públicas, com a construção e reformas de escolas, além da distribuição de kits escolares e uniformes.

O Secretário de Educação de Aracaju, Zezinho Sobral, destaca que a gestão municipal tem buscado investir em melhorias na qualidade do ensino público, apesar dos desafios enfrentados. “Estamos trabalhando em diversas frentes para reduzir as desigualdades na educação, desde a formação continuada dos professores até a modernização da infraestrutura das escolas”, afirma o secretário.

Segundo ele, algumas das medidas adotadas incluem a criação de grupo de estudos para professores, a ampliação do programa de alimentação escolar e implementação de tecnologias educacionais para facilitar o aprendizado dos alunos. Para o secretário, é importante manter um diálogo constante com as comunidades escolares para entender as suas demandas e necessidades, e trabalhar em conjunto para buscar soluções para os problemas enfrentados. “Acredito que com o trabalho conjunto da gestão pública, das comunidades escolares e do setor privado, podemos oferecer uma educação de qualidade para todos os alunos de Aracaju”, conclui Zezinho Sobral. Diante dos desafios enfrentados pela educação pública em Aracaju, é fundamental que os gestores públicos se empenhem em buscar soluções para reduzir a desigualdade educacional. Afinal, o acesso à educação de qualidade é um direito fundamental de todos os cidadãos e um dos principais pilares para o desenvolvimento social e econômico de uma nação.