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Livros, apesar necessários, estão se tornando uma realidade cada vez mais distante e cara

Centro Médico Jardins, em uma biblioteca. O objetivo do projeto é fazer com que as pessoas façam os livros circularem, levando livros e trocando por outros disponíveis na biblioteca. A iniciativa que começou como um sonho, hoje já possui mais de 5 mil seguidores nas redes sociais. A estudante de fisioterapia Leylanne Oliveira conheceu a Aracaju Biblioteca Livre através do instagram e a iniciativa acabou chamando sua atenção. Por ter momentos em que não dispunha de dinheiro para a compra de livros novos, Leylanne já optou pelo projeto e influenciou diversas amigas a conhecer e participar também. “É importante a gente ter um espaço assim, eu acredito que a leitura é uma via essencial para a educação, para a nossa sociedade e para o ser humano em si”.

Por Gabrielle Oliveira

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A leitura sempre foi o ponto de partida para uma boa formação cultural, imaginária e do próprio pensamento crítico. Porém, cada vez mais barreiras são impostas na luta do acesso à leitura. Segundo dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2015 para 2019, houve uma queda de 4,6 milhões de leitores. Além disso, o aumento no preço do papel, consequentemente, fez com que o preço dos livros aumentasse consideravelmente. Em 2023 o preço médio do livro subiu 5,2% chegando a R$43,42, afetando ainda mais o público leitor.

A pesquisa considera como leitor toda pessoa que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses. Na capital sergipana, 58% dos aracajuanos são considerados leitores, esse número equivale a 358 mil pessoas que leram. Desse percentual, 74% afirmaram que gostam de ler, ou seja, mais de 264 mil da população. Dessa forma, uma série de fatores influenciam na democratização da leitura, podendo variar em questões financeiras e de incentivo.

O Avan O Da Leitura

Como uma fuga dos altos preços impostos pelo mercado de livros impressos, o consumo dos livros digitais, também conhecidos como e-books, acabou crescendo. Esses e-books podem ser acessados através de dispositivos como o kindle, tablets e até mesmo pelo celular. Mas, até onde essa é uma alternativa viável para toda a população brasileira?

Para a aquisição dos livros digitais é necessário que se tenha acesso à internet para a compra, download ou até mesmo para a leitura online do material, mas, infelizmente, as condições de acesso à internet ainda são bastante desiguais no Brasil. Em um estudo realizado pelo Instituto Locomotivas e da empresa de consultoria PWC mostra que mais de 33 milhões de brasileiros não possuem acesso à internet. Além disso, outro obstáculo para o acesso aos livros digitais são os próprios dispositivos, que possuem valores elevados e que muitas vezes são tidos como objetos de luxo.

Além disso, no Brasil existem aproximadamente 100 milhões de leitores, sendo que, destes, 61,2 milhões não são estudantes. Segundo o mestre pela Universidade Federal de Sergipe na área de Estudos Literários Gustavo Aragão, “este contexto se deve, no meu ponto de vista, ao déficit educacional que nos assombra, assim como ao alto custo dos livros impressos, à deficiência que há no processo de inclusão digital que impede o acesso aos e-books e às obras disponibilizadas em plataformas digitais”.

Ainda segundo a pesquisa, entre 2015 e 2019 houve uma queda no número de leitores nas classes A e B, que têm dedicado mais tempo de seu cotidiano às redes sociais, ou seja, o hábito da leitura se concentra em classes sociais de ganho mais elevado, que têm dedicado mais tempo às redes sociais do que aos livros. Para Gustavo, “isso evidencia o fosso abissal em que se encontram as classes C, D e E quando se trata de leitura em nosso país”.

As questões de hábito e incentivo também foram debatidas com o professor e mestre. Para ele, o cultivo do hábito da leitura começa em casa, estimulado no ambiente familiar. O mesmo serve para o incentivo da leitura, que deve nascer na família, alcançar a escola, mas também ser alvo de políticas públicas que visem a promoção e a democratização do acesso à leitura e à cultura. É um dever da família, da Escola e do Estado promover uma sociedade leitora.

Mas o que se fazer em uma realidade tão desigual e desfavorável para tantas pessoas? Foi pensando justamente no acesso que projetos foram idealizados, como o LerCiclar, por exemplo, que foi criado em 2020, um pouco antes do isolamento social por conta da COVID-19.

O INCENTIVO À LEITURA Tudo começou quando os criadores do projeto, Gabriella Carvalho e o marido Jorge Peixoto, estavam pedalando do bairro Suíça até o centro da cidade quando acabaram encontrando um contêiner de lixo com vários livros. E foi a partir daí que o casal começou a pensar no descaso com um instrumento tão poderoso. ”Um livro hoje em dia é extremamente caro, o que já desfavorece muita gente que tem interesse em ler e desencoraja qualquer pessoa de ser tragado pelo desejo de ler” , diz Gabriela. O casal também pensou nas dificuldades que as pessoas estavam passando para encontrar quem aceitasse doações, e por esse motivo acabaram jogando os livros fora.

Foi assim que decidiram criar o LerCiclar, um projeto que serve como mediador e veículo para as pessoas que querem se desfazer dos livros e encontrar quem os receba. No início do projeto, acabaram encontrando diversas dificuldades em doar livros nas próprias instituições de incentivo à educação. Por conta disso, destinaram a maior parte das doações para o interior, já que lá as pessoas aceitam de braços abertos. Atualmente o projeto atua em cidades como Aracaju, Simão Dias, Paripiranga e outros.

Por mais que seja um projeto recente, Gabriela demonstra interesse em expandir a iniciativa para que possa contribuir e ajudar ainda mais pessoas. “Nós ainda não somos ONG, porque existe um processo todo até o reconhecimento e estamos ainda tramitando isso”. Mas a vontade e o desejo de tornar a leitura mais acessível à população, não é um desejo somente da Gabriela e do Jorge.

Foi em março de 2017 que Ivna Ariane deu início ao projeto Aracaju Biblioteca Livre. A psicóloga transformou a recepção do seu consultório, localizado no

Do outro lado da cidade, na zona Norte de Aracaju, existe um projeto semelhante ao que Ivna criou lá na recepção de seu consultório, porém, esse fica ao ar livre. O projeto Bugioteca fica no canteiro central da rua Geni da Silva Dias, no bairro Bugio.

O idealizador do projeto foi José Adailton Dantas, morador do bairro Bugio. A ideia surgiu quando ele estava na faculdade, mas o sonho vem desde a infância. Adailton relata que sempre teve o sonho de ter uma biblioteca pública pertinho dele, e a partir do momento que resolveu criar o projeto, recebeu todo o apoio de seus amigos.

Criada no ano de 2015, a Bugioteca recebe muitas doações de livros e possui a mesma premissa do Aracaju Biblioteca Livre, um espaço de compartilhamento e de incentivo à leitura. Adailton acredita que o projeto impacta a vida dos marcadores do bairro, incentivando a reflexão.

Graças a esses projetos sociais, Aracaju possui alternativas para tentar driblar todos esses fatores que impedem o avanço do acesso à leitura.