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Aumenta o número de ciclistas em Aracaju, mas os problemas crescem na mesma proporção

para a UFS por aquele trecho e fico me arriscando no meio dos carros, porque não tem uma ciclovia nessa rota”, diz.

Apesar da SMTT assegurar que realiza constantemente a manutenção das ciclovias da cidade, a infraestrutura da malha cicloviária continua sendo um obstáculo para quem pedala na capital sergipana. Ítalo Melo, que começou a andar de bicicleta em 2020, conta que além de possuir muitos buracos, algumas ciclovias tem baixa sinalização, o que pode danificar a bicicleta e causar acidentes.

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os carros devem manter uma distância mínima de 1,5 metro para ultrapassar bicicletas, muitas vezes os condutores não respeitam essa lei. Essa infração aumenta o risco de acidentes em trechos sem ciclovias, onde os ciclistas precisam dividir as ruas com mais 341 mil automóveis que, segundo o Detran/ SE, circulam na cidade atualmente.

Por Sofia Gunes

O interesse pela bicicleta cresceu no Brasil durante a pandemia e vem se difundindo cada dia mais. Em Aracaju não foi diferente. Apesar de não existir um número exato de ciclistas na capital, uma vez que qualquer pessoa que tem condições de pedalar é considerado ciclista, a pesquisadora Sayuri Dantas, colaboradora da ONG Ciclo Urbano, observou em suas pedaladas diárias, um aumento perceptível de ciclistas nas pistas.

Pedalar tornou-se um hábito, especialmente para as pessoas que usam a bike como principal meio de transporte, seja para levar os filhos à escola ou até mesmo, transportar materiais de trabalho, fugindo do trânsito e da lentidão do transporte público, que vem se tornando cada vez mais caótico em Aracaju. Apesar de ser um meio de transporte eficiente, os ciclistas da capital ainda encontram alguns obstáculos, como problemas na infraestrutura das ciclovias e desrespeitos por parte dos motoristas.

Dono de uma loja de bicicletas, Ademario Gonçalves conta que as vendas no seu negócio aumentaram durante a pandemia. “As academias estavam fechadas e demoraram um tempo para voltar depois da flexibilização, sem poder utilizar esse espaço as pessoas optaram por andar de bicicleta, já que era algo ao ar livre”, disse. Após a pandemia, as pessoas não abandonaram o hábito de pedalar, pelo contrário, passaram a utilizar cada vez mais a bicicleta como meio de transporte regular. Em 2022 a loja de Ademario vendeu mais de 400 bicicletas, o que explica a percepção de que há mais ciclistas circulando.

Em 2008, Aracaju foi considerada a capital da qualidade de vida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). As ciclovias, que eram referência na região, foram um dos fatores que levaram a cidade a conquistar esse título e até mesmo serviu de modelo para outras capitais. Em 2011 a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) divulgou que as ciclovias da capital possuíam 55,9 km de extensão, sendo na época a maior malha cicloviária do Nordeste.

Doze anos se passaram e a malha cicloviária quase dobrou, totalizando aproximadamente 100 km atuais. Apesar disso, a quantidade de ciclovias continua sendo insuficiente para suprir as demandas da população. O número de habitantes, carros e bicicletas aumentou nesses últimos anos, mas as ciclovias não acompanharam esse crescimento de forma significativa e acabaram ficando para trás junto com o título de cidade com a maior malha cicloviária do Nordeste, que agora, segundo o levantamento feito pela Aliança Bike, pertence a Fortaleza no Ceará.

Aracaju, apesar de ser uma cidade plana, contribuindo para o uso da bicicleta, ainda encontra desafios para implantar uma estrutura eficiente que favoreça a prática do ciclismo. Mesmo apresentando um crescimento considerável e possuindo ciclovias (pista de uso exclusivo para a bicicleta, isolada do tráfego comum) e ciclofaixas (parte da pista, calçada ou canteiro destinada à circulação da bicicleta, delimitada apenas por pintura), a cidade perde a oportunidade de tornar o ciclismo um marco da capital.

Obst Culos Na Pista

A ONG Ciclo Urbano atua em Aracaju desde 2007 promovendo “bicicletadas” - passeios de bicicleta em grupo que fazem ações em prol do ciclismo - e confeccionando placas de sinalização para ciclovias, além de realizar pesquisas sobre o ciclismo em Aracaju. A colaboradora da ONG, Sayuri Dantas, observa que as ciclovias da cidade além de não atenderem a quantidade de ciclistas, também se mostram ineficientes na logística. “As ciclovias aqui em Aracaju são colocadas como vias expressas, fazendo a conexão de extremos [...] a gente tem a ciclovia da Beira mar, mas chega no centro não tem mais. No bairro Jardins, Grageru, Luzia e Siqueira Campos, esses bairros que ficam no centro do mapa não tem ciclovias”.

Sayuri percebe a necessidade da construção de ciclovias ligando locais estratégicos, possibilitando a locomoção do público que usa bicicleta para ir ao trabalho, escola e outros locais no dia a dia de forma segura através das ciclovias.

Os estudantes são uma parcela da população que utilizam a bicicleta como meio de transporte, principalmente para ir e voltar da Universidade sem gastar com transporte público. Luan Raick, estudante de Turismo da UFS, sente falta de uma ciclovia na Barão de Maruim junto com a Desembargador Maynard.“Eu venho

O clima é outro ponto diretamente ligado à utilização da bicicleta como meio de transporte. Para Aracaju, que passa o verão com a temperatura média de 30°, a arborização é uma das possíveis soluções para amenizar o calor intenso. As árvores, que promovem sombra e melhoram a ventilação, fazem falta nas ciclovias. “A árvore é um elemento de conforto para a mobilidade, [...] o fator climático pesa muito para quem usa bicicleta aqui, as pessoas querem chegar bem e arrumadas a seus destinos, não completamente suadas, então o calor atrapalha essa mobilidade por meio da bicicleta”, ressaltou Sayuri.

A pesquisadora defende a necessidade da arborização das ciclovias de forma estratégica e não decorativa, como aconteceu na ciclovia do contorno na Avenida Tancredo Neves. “Eles colocaram palmeiras, uma árvore cara e que não faz sombra, não adianta nada para quem anda de bicicleta. [...]. Tem que ser pensadas árvores próprias para mobilidade urbana, que façam sombra, de porte alto”. Ela também destaca que as palmeiras podem ser até um obstáculo para os ciclistas, por causa das folhas que eventualmente caem no chão.

“Nas cidades com árvores as pessoas pedalam mais”, diz.

QUEM ESTÁ SEGURO?

A ONG Ciclo Urbano, que realiza pesquisas com ciclistas regularmente, percebeu que apesar das dificuldades com a estrutura das ciclovias, o maior motivo de insegurança dos ciclistas é a falta de respeito dos motoristas. Apesar do art. 201 do Código de Trânsito instituir que

Mesmo onde existem ciclofaixas, que ficam localizadas nas margens das vias, as mesmas não são respeitadas e são utilizadas como acostamento para os condutores, que invadem o local destinado aos ciclistas, para estacionar ou até mesmo fugir do trânsito.

O medo de acidentes não é em vão, segundo dados da SMTT, de 2020 para 2021 o número de acidentes com feridos cresceu 100%, passando de 20 para 40. Visando oferecer segurança aos ciclistas, a SMTT disse que além de destinar um espaço próprio à circulação dos ciclistas, “realiza campanhas educativas e de conscientização com todos que fazem o trânsito, dentre eles os ciclistas, orientando a todos que façam uso dos equipamentos de proteção individual, respeitem a sinalização e a legislação de trânsito.”

Mesmo com todos desafios, muitas pessoas pedalam diariamente em Aracaju. Sayuri Dantas salienta que, apesar dos benefícios para a saúde e para o meio ambiente serem destacados quando se fala em ciclismo, esse não é o principal motivo de quem adota o uso da bicicleta.

A pesquisadora comenta que o real motivo por trás dessa escolha é o fator financeiro. “Quando a gente faz a entrevista, as pessoas dizem que andam de bicicleta porque não gostam de ônibus, mas quando a gente vai conversar com essas pessoas a gente acaba percebendo que a questão econômica tem um peso muito grande nessa decisão de pedalar”, diz.

A bicicleta além de ajudar a desafogar o trânsito, promover uma melhora ao meio ambiente e a saúde de quem pedala, também é uma alternativa para que as pessoas de baixa renda consigam se locomover por toda a cidade sem gastos. Mas para que isso ocorra, precisam existir ciclovias que ofereçam segurança e conforto para os ciclistas.