Vidas Secas na Cidade

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O tempo foi se passando e a cada mês nós ficávamos mais ricos. Passamos a morar na Zona Oeste de São Paulo em Higienópolis, compramos dois carros, eu e meu irmão fomos para uma escola particular e meu irmão passou também a ter aulas particulares para que pudesse se sair melhor na escola e minha mãe finalmente ganhou aquela cama de couro igual a de Tomás da Bolandeira que tanto queria. Todos nós estávamos achando estranho que meu pai estava ganhando tanto dinheiro, pois, apesar de não estar parando em casa, ele estava agindo muito estranhamente e nenhum de nós sabia até aquele dia com o que ele estava trabalhando ou como ele ganhava todo aquele dinheiro. Eu e minha mãe começamos a investigar, pois já que ele não passava tempo em casa, conseguíamos mexer em suas coisas com tranquilidade. Após cerca de três horas já havíamos conseguido contas e documentos o suficiente; começamos a ler tudo e pensar, até que achamos um contrato no qual ele havia assinado e jurado sigilo em relação a quem havia o contratado. Ao pesquisar o nome da "empresa", que era praticamente cem por cento secreta, vimos que eram contratadas pessoas com a finalidade de cometer crimes hediondos como homicídio em troca de uma grande quantidade de dinheiro. Guardamos isso entre nós por um tempo, porém víamos que meu pai estava cada vez mais aflito e desconfortável. Decidimos então confrontá-lo, não sabíamos no que aquilo daria, porém estávamos dispostos a enfrentar os riscos. Esperamos até o final da semana, pois minha mãe estaria em casa e eu e meu irmão não teríamos aula. Quando ele chegou em casa, pudemos ver em seus olhos que não esperava que nós estivéssemos fora de nossos quartos, pedimos para que sentasse e fomos direto ao ponto. Ele não teve reação, pude ver que estava confuso e surpreso, mas não demonstrou nada. Após cerca de quinze minutos começou a falar; nos disse que odiava o que fazia, porém odiava ainda mais a situação na qual nos encontrávamos antes, disse que faria tudo e qualquer coisa para que nós pudéssemos ter uma vida boa e sermos felizes, que não se importava com a vida dele e sim apenas com as nossas, com o futuro do meu irmão, com o meu futuro e com a felicidade da minha mãe, disse que a única coisa que queria era ver minha mãe sossegada depois de tudo que já havia passado. Acho que nunca ouvi meu pai falar tanto. Na manhã seguinte, eu e minha mãe conversamos, apesar de que tudo o que meu pai estava fazendo fosse horrível, no fundo sabíamos que ele só queria nosso bem. Levamos tudo em consideração mas não tínhamos dúvida que a coisa certa a fazer seria denunciá-lo à polícia. Preferimos ligar para a polícia, achamos que chamaria menos atenção e que seria mais simples. Quando chegaram em nossa casa, apenas levaram meu pai, foi tudo muito rápido então nenhum de nós teve reação, a não ser meu irmão mais novo, que estava em choque por conta de sempre ter sonhado em ser como meu pai.

Continua….


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