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A ORTOGRAFIA NO FUNDAMENTAL I: UM OLHAR PARA A ESCRITA DAS PALAVRAS

Há muito que se aprender > além da ortografia > para produzir textos de qualidade. Mas, como o ensino de ortografia que se defende privilegia o desenvolvimento de uma consciência metacognitiva, ao estimular o pensamento investigativo para descobrir as regularidades ortográficas, as crianças aprendem muito mais do que qual letra empregar para grafar uma palavra. Aprendem a observar, a entreter-se com ela (Nóbrega, 2013).

E, pensando em alunos de 4º e 5º anos, sabendo que a maneira que a criança pronuncia as palavras pode levá-la a errar em sua escrita (muitas vezes por ainda não terem aprendido que há regras a serem seguidas), propusemos, durante nossas aulas, várias atividades extra-livro e que foram de grande valia para o estudo proposto.

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Desde o início da aquisição da leitura e escrita as crianças são levadas a conhecer diferentes elementos que compõem aquilo que virão a conhecer como Língua Portuguesa. E quando, finalmente, estão prontas, começam a ser desafiadasprincipalmente no que diz respeito ao ato de escrever.

Neste ano tivemos um olhar diferenciado para as aulas de ortografia em Língua Portuguesa, como resultado do grupo de estudo de professoras e coordenadora pedagógica. Através da formação continuada, pautamos os estudos na aquisição das normas ortográficas pelos alunos e levamos às crianças ao olhar investigativo em relação à língua.

Maria José Nóbrega (2013, p. 51) explica que, enquanto estão sendo alfabetizadas, as crianças utilizam diversas estratégias e procedimentos para a aquisição de novos conhecimentos, sendo um deles o de realizar uma comparação entre o que falam e aquilo que escrevem. Desta forma, é normal que os primeiros textos produzidos por esses alunos apresentem marcas da variação linguística presentes nas comunidades em que vivem.

Nas classes de alfabetização, observamos que crianças pequenas escrevem culher em vez de colher, pois escrevem como falam. Já nas classes de crianças maiores, ainda ocorre a transcrição da fala para a escrita, principalmente na escrita espontânea, como em estavão para estavam; versso para verso, e a oscilação de M e N antes de P e B, ou até mesmo o acréscimo do til, pois todos acrescentam o som nasal às palavras.

Em nosso Colégio recebemos crianças vindas de várias regiões do Brasil, com seus sotaques diversos. Quando em Sorocaba se fala leite, tendo na última vogal "e" o som de destaque; para o Paulistano, que fala leiti, talvez essa troca de "e" por "i" possa também aparecer na escrita.

Entendemos que a equipe de professores deva estar preparada para perceber os erros de escrita dos alunos e traçar um caminho que possa ajudar ao grupo, assim como individualmente, de maneira que eles entendam as regras e regularidades da língua apresentadas em cada ano escolar, e compreendam o motivo daquelas palavras serem escritas deste ou daquele modo.

As famílias de palavras são exemplos fáceis de se trabalhar com radical, sufixo e prefixo. Em outros termos, quando levamos os alunos a descobrirem que todas as palavras da família da "casa" devem ser escritas com "s" e trabalhamos com elas a pesquisa de diversos vocábulos, a inserção de sufixos e prefixos à palavra escolhida, verificamos, no final do estudo, que as próprias crianças são capazes de elaborar regras e exemplos.

O trabalho em pares ou pequenos grupos, torna-se muito produtivo nos momentos de estudo da língua e ortografia, assim como a troca que um grupo faz com os outros. As discussões sobre como se escreve, as constatações após inferências e questionamentos feitos pela professora, e, por fim, o reconhecimento de que a regra que elaboraram (com suas próprias palavras) pode ser utilizada para a resolução de exercícios, faz com que sejam protagonistas de suas descobertas e de sua aquisição de conhecimento.

Uma pesquisa como essa, com passos prédefinidos, na qual o professor sabe onde quer chegar (ou seja, quais conhecimentos são esperados que os alunos adquiram), faz com que as crianças participem e colaborem durante o estudo, assim como um aluno ensina ao outro aquilo que já aprendeu e se apropriou do assunto estudado. E todos só têm a ganhar.

Além desse trabalho com a ortografia, tabulamos os erros ortográficos dos alunos do 4º e 5º anos, captados de textos que escreveram, tendo em vista que a questão do hábito escritor é construída quando colocamos a mão na massa - quando, de fato, escrevemos; e é a partir dos exercícios de escrita que passamos a conhecer nossos alunos.

Com isso, levantamos dados como dúvidas e dificuldades individuais, sendo este um instrumento de avaliação de nossos alunos; desta forma, proporcionamos às professoras conhecerem os erros e os avanços durante o ano. Assim, pudemos propor estratégias, exercícios e estudos de acordo com a necessidade de cada classe, utilizando jogos online, bingo de palavras, ditados, entre outros recursos de aprendizagem.

Como afirma Teixeira (2011, p. 81) “os sentidos próprios da existência da língua escrita, seus usos e funções (são) motivação intrínseca para a aprendizagem”. Assim, entendemos que o trio leitura, ortografia e escrita de textos representam pilares importantes na constituição do sujeito pensador, tendo em vista que um depende do outro; a aprendizagem da ortografia, além de ser investigativa, também é contextualizada no desenvolvimento da leitura e escrita, aprimorando diversas habilidades para que o aluno possa cada vez mais ler, escrever e compreender o mundo que o cerca com um olhar diferenciado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

NOBREGA, M. J. Como eu ensino: ortografia. São Paulo: Melhoramentos, 2013.

TEIXEIRA, T. C. F. A perspectiva infantil sobre a escrita na escola. In: COLELLO, S. M. G. (org.) Textos em contextos: reflexões sobre o ensino da língua escrita. São Paulo: Simmus, 2011.

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