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LABIRINTOS, O ENTRELAÇAMENTO E OS CAMINHOS DO PENSAMENTO

As crianças diariamente vivenciam experiências nos espaços organizados em contextos que as convidam a brincar. É na interação com seus pares que as crianças têm a possibilidade de curiosear, ou seja, de fazer perguntas, de explorar, de criar e de transformar.

“Labirintos", projeto de estudo do Infantil 5, teve início com a construção de uma sessão que levasse as crianças a pensarem sobre o sujeito da investigação, neste caso, os labirintos.

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A sessão foi composta com fotos impressas dos labirintos criados ao redor do mundo, labirintos montados com brinquedos, canetas e folhas em branco para que pudessem registrar seus pensamentos Essa vivência convidou as crianças ao desafio de brincar e compartilhar as primeiras ideias e conhecimentos sobre a temática.

A roda de conversa foi uma oportunidade para que todas as crianças pudessem expor suas ideias, exercitar a escuta, refletir sobre opiniões e compartilhar sugestões. Foi na roda que as crianças trouxeram suas primeiras hipóteses sobre os labirintos.

“Labirintos são linhas que levam para um lugar!” contou Alice, 6 anos e 2 meses.

“É um caminho bem difícil, tem setas, curvas e retas!” disse Julia, 6 anos e 4 meses.

Para organização dessas ideias usouse o mapa mental, uma ferramenta que possibilitou a conexão das hipóteses e reflexões entre os grupos sobre o assunto a ser investigado.

O mapa mental é uma forma criativa de expressar visualmente o que já sabemos, o que desejamos descobrir e quais caminhos possibilitam novos conhecimentos. Assim, os conhecimentos vão se revelando em uma estrutura visual de símbolos, desenhos e palavras.

Daniela Martini. (2020, p. 22) destaca que o mapa mental desenvolvido por Buzan (2019) se baseia nas teorias do cognitivismo e das múltiplas inteligências e inspira-se em um modelo associativo, desenvolvendose de forma radial em todas as direções a partir de um argumento, de um conceito ou de uma ideia que é colocado no centro do esquema.

A visita à biblioteca do Colégio foi uma das possibilidades levantadas pelas próprias crianças a fim de buscar novas informações sobre os labirintos. Refletimos sobre a escrita da palavra LABIRINTO e buscamos o seu significado no dicionário, confrontando-o com as hipóteses levantadas pela classe. A reflexão sobre a escrita das palavras se dá ao longo do Infantil 5, quando em diversos contextos é solicitado aos alunos que criem suas hipóteses de leitura, levando em consideração os sons por eles já conhecidos.

disponibilizados em sala de aula (folhas, pinhas, pedras, gravetos e animais de plásticos) para que brincassem livremente. Fotos de labirintos repertoriaram as crianças em suas brincadeiras exploratórias que, geralmente, levaram a construções. Foi diante dessa constante exploração que as crianças foram convidadas a um novo desafio: “É possível construir um labirinto?”

Esses elementos da natureza foram novamente disponibilizados às crianças. Elas foram convidadas a se organizarem em pequenos grupos para dar início a provocação “É possível construir labirintos?”. Ao apresentarem aos amigos as crianças levantaram alguns questionamentos sobre as construções dos labirintos.

Ao longo da semana as crianças foram explorando os novos materiais

“Os caminhos não apareceram”!

“ Ficou um caminho em cima do outro e não é possível passar”.

“Está tudo bagunçado”.

“Tem muitas entradas e saídas”.

comentários dos alunos do Infantil 5 dicas dos alunos do Infantil 5

“Não podem fazer as paredes juntas”.

“Tem que ter uma entrada e uma saída”.

“Não precisa usar muitos galhos”.

Para responder aos questionamentos levantados pelas crianças, retomamos o mapa mental elaborado pelo grupo e conversamos sobre de que forma as construções tridimensionais poderiam se aproximar dos desenhos elaborados.

Convidamos o grupo para uma nova brincadeira, “Vocês poderiam ajudar os dinossauros a chegarem ao seu destino: a floresta?”

O mapa mental, elaborado anteriormente por todo o grupo de crianças, foi importante para a nova construção que fariam, uma vez que elementos essenciais para que a formação do labirinto fossem contemplados. Cada grupo construiu o seu labirinto, considerando as propriedades dos seus materiais e conforme os critérios lidos no mapa mental, como: entrada, saída, paredes, caminhos com retas e curvas, armadilhas e caminhos falsos.

Acreditamos na potência em trabalhar em grupo, uma vez que facilita as relações sociais, as construções cognitivas, verbais, simbólicas, culturais, mas, sobretudo, o trabalho em pequeno grupo concede às crianças a possibilidade de escolher o que fazer com quem está, onde e em que momento.

Para Dubovik (2020, p. 87), quando as crianças estão em pequenos grupos, constroem projetos juntas, exploram, trocam ideias, experimentam, fazem negociações, dialogam e aprendem. Assim sendo, as crianças foram desafiadas novamente e, dessa vez, a se aventurar em um grande labirinto corporal, construído no quintal da sala com curvas, retas, obstáculos, paredes falsas e armadilhas. No final do percurso as crianças encontraram os livros “Labirintos: parques nacionais”, de Nurit Bensusan, obra em que o autor retrata, por meio de labirintos, algumas das áreas de preservação ambiental de nosso país. O livro ofereceu às crianças a possibilidade de ampliarem seus conhecimentos sobre as construções de labirintos em floresta, mar, rios, dunas, cerrado, entre outros.

Após a apreciação do livro as crianças escolheram quais labirintos dos parques nacionais achavam mais interessantes, tornando-se este o objeto de estudo e análise nos pequenos grupos, quando analisavam e registravam por meio de mapas mentais o que havia sido observado em cada labirinto.

Observações Antonio , 6 anos 6 meses

“Os caminhos são retos e têm lama”.

Observações Isadora , 5 anos 9 meses

“Esse labirinto tem caminhos longos e retos”.

Observações João, 6 anos 1 mês

Após a análise os grupos deveriam elaborar um planejamento de como reproduzir o labirinto do livro. Segundo Ostetto (2000, p. 177): “planejar é a atitude de traçar, projetar, programar e elaborar um roteiro, tendo interações e experiências múltiplas dentro de um grupo.” Para este planejamento, precisaram pensar sobre os materiais que utilizariam nas construções, como seriam os percursos, como fariam as armadilhas e as localizações das entradas e saídas.

"Precisamos de farinha, bacia, água, areia e animais”.

“Nosso caminho do labirinto vai ser bem difícil e com curvas!”

“Vamos colocar os animais como armadilhas”.

“ Vai ter os pés marcando a entrada e saída".

As crianças trouxeram as ideias de quais materiais poderiam ser usados nas construções dos labirintos e, a partir disso, criaram projetos no papel sulfite para idealizar suas futuras construções tridimensionais, além disso foram oportunizados para que verificassem sua eficácia dos materiais, sendo eles: areia, farinha, pedras, folhas, gravetos, argila, animais de plásticos, papéis, canetas, recipientes com água e blocos de madeira. Com seus projetos em mãos, os grupos se reuniram e selecionaram os materiais necessários para suas construções.

Desenho, recorte, pintura, construção com objetos tridimensionais e modelagem foram as linguagens exploradas pelas crianças para a execução do projeto de construção dos labirintos.

O livro “Labirintos: parques nacionais”, também foi um instrumento bastante importante para repertoriar as crianças, uma vez que, ao mesmo tempo ampliou as ideias, as provocou para construírem labirintos com diversos tipos de elementos.

No contexto labirinto acrescentamos um novo suporte: a lousa, parede do quintal da sala, acompanhada do instrumento giz de lousa.

Desta vez, destacamos o labirinto do parque nacional “Sertão veredas”, presente no livro citado acima, representado em imagens impressas como: sertanejos em mulas, rios, palmeiras buritis, montanhas e do vilarejo e solicitamos que o grupo recriassem esse labirinto utilizando as imagens anexadas na lousa parede e giz de lousa. As crianças traçaram, desenharam linhas que tornaram diversas formas, ora combinando ou não uma com as outras, percebendo e interpretando que aqueles desenhos na lousa partiram delas, por algo que não foram lhes dados, mas criado por elas mesmas.

A experiência em explorar, investigar e vivenciar construções potencializaram as crianças a uma nova etapa, organizar a construção de um grande labirinto, na praça do Colégio e compartilhar com todos os amigos de outras turmas.

O acréscimo de novos materiais e instrumentos, nas sessões, foi um desafio para que pensassem sobre os seus usos. Materiais que trouxeram maiores desafios de manuseio pelas suas propriedades. Elementos como: granulados, farinha, sal e areia foram manipulados, também, com o funil com bocais de largura diferenciada. Essa experiência proporcionou a exploração de texturas, medidas, espessuras, resoluções de problemas em como manipular e controlar o escoamento do funil e habilidades para construir diferentes tipos de linhas.

As crianças levantaram suas hipóteses para resolução de problemas, testaram, observaram seus pares, refletiram sobre estratégias e possibilidades para criarem desenhos e labirintos.

Brincar com água é uma das atividades mais fascinantes para as crianças e o mesmo ocorreu com a produção da barbotina, ou seja, a mistura resultante da argila em pó com a água.

Oferecer a elas materiais para que experimentem novas possibilidades e, então, obtenham, novas aprendizagens foi uma das intenções desse contexto. Desenhar com materiais e recursos não convencionais é um convite à expressão das crianças e às suas capacidades de criar.

Segundo Paulo Fochi (2022): “Desenho não é representação. A criança quando senta para desenhar, não necessariamente tem necessidade, intencionalidade de representar o mundo. Para ela, o desenho é experiência, é pensamento”; sendo assim, as crianças do Infantil 5, colocaram no papel, suas ideias e construções para que pudessem, posteriormente, serem transportados ao tridimensional.

Foi pelo grande interesse das crianças pelos Labirintos que elas foram convidadas a criar os seus.

Em roda compartilharam suas sugestões de temas, refletiram quais seriam as problematizações, percursos e armadilhas.

E as criações iniciaram, Animais nas florestas procurando seus familiares, céu com unicórnios voadores procurando castelos, cidades com pessoas procurando o caminho de casas, mar com peixes e tubarões perdidos, entre outros temas.

As criações ficaram espetaculares, arquivamos os registros e transformamos em passatempo para as crianças brincarem nas férias.

Caminhamos juntos nesse processo, oferecendo a oportunidade para as crianças darem forma às suas ideias por meio do desenho e da construção.

Labirintos, com diversos materiais e ferramentas. Labirintos gráficos, bidimensionais e tridimensionais.

As experiências vivenciadas nos contextos, também, possibilitaram construir as aprendizagens sociais, pois em que cada desafio tiveram a oportunidade de compartilhar com seus pares seus saberes. Entendendo que os amigos também podem ser fontes de inspirações, relações de amizades, cumplicidade, confrontos, negociações e diferentes pontos de vista. E assim, entre linhas retas e curvilíneas, experiências e testagens, as crianças entrelaçaram seus pensamentos na criação de seus labirintos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

OSTETTO, L. E. planejamento na educação infantil: mais que a atividade, a criança em foco. In: ______ (Org.). Encontros e encaminhamentos na educação infantil: partilhando experiências de estágios. Campinas: Papirus, 2000.

DUBOVIK, Alejandra e Cippitelli, Alejandra. A linha como linguagem: repertório do visível. São Paulo: Phorte, 2020.

DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho. O desenvolvimento do grafismo infantil. 3. ed São Paulo: Panda Educação, 2020.

BUZAN, Tony. Dominando a técnica dos mapas mentais: guia completo de aprendizado e o uso da mais poderosa ferramenta de desenvolvimento da mente humana. São Paulo: Cultrix, 2019 http://www.educacao.faber-castell.com.br/ qual-e-o-papel-do-desenho-para-a-expressaodos-sentimentos-das-criancas/ acesso em 25/10/2022.

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