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É TEMPO DE TRAVESSIA

Orientadora Educacional:Flávia Proença

Professoras:Denise Lopes e Gabriella Gomes

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Somos seres múltiplos, criaturas complexas

Amadurecemos no abrigo de nossos casulos

Somos a colheita de nossas experiências

Somos crianças, criando asas.

(Guilherme Bellini Pinheiro - aluno do 9º Ano D)

O poema do aluno Guilherme revela um dos aspectos mais significativos da passagem dos alunos do Ensino Fundamental para o Ensino Médio: o amadurecimento, seguido da criação de asas, que se lançam para os novos desafios.

O rompimento do casulo, no entanto, não acontece subitamente. Da mesma forma que na natureza, é preciso tempo, espaço e experiências. Assim, o 9º ano do Ensino Fundamental foi marcado por diversos momentos nos quais se fez necessário parar e pensar: o que estamos sentindo? Quais recordações levaremos dessa etapa? Como imaginamos o futuro? Como celebraremos essa passagem?

Entendemos o 9º ano como uma série decisiva, parte do rito de passagem escolar e, como tal, repleto de significados e tradições. Para a nossa sociedade, os rituais - sejam eles de qual ordem forem - têm como marca comum a repetição e oferecem uma sensação de segurança, não apenas por sua familiaridade, mas porque promovem um sentimento de coesão social (RODOLPHO, p. 138). Na adolescência, o ritual de passagem tem especial importância no aspecto do pertencimento do grupo e fortalecimento de vínculos.

Sendo assim, a equipe pedagógica, com especial acompanhamento da Orientação Educacional, cuidou para que esse ritual de passagem não fosse apenas a cerimônia de formatura realizada em dezembro mas, sim, um conjunto de atividades pedagógicas sensíveis e adequadas ao momento que os alunos vivenciaram.

O início desse processo, aguardado com muita expectativa pelos nossos alunos, foi a construção da identidade visual da camiseta usada por eles, não só na tão esperada viagem de formatura, mas ao longo do ano letivo. Esse processo envolveu pesquisa, negociações, discussões em grupo, além de decisões de ordem estética e visual que foram acompanhadas nas aulas de Arte, em seus processos de criação.

Camiseta pronta e malas arrumadas, chegou a hora de partir para um momento de integração muito especial: a tão sonhada viagem de formatura! O grupo embarcou para a agradável região de Sapucaí Mirim (MG) em dias inesquecíveis no Resort NR. A viagem contou com diversas atividades esportivas, de integração, festas e baladinhas que viraram a noite, conversas gostosas, danças, risadas e muita diversão. No retorno da viagem, ainda era possível sentir pelos corredores os efeitos desse momento tão mágico! A harmonia, felicidade e integração dos alunos era cada vez mais visível.

Para continuar o processo da caminhada em direção ao final da etapa, foi preciso, também, parar e olhar um pouco para trás. Assim, em uma atividade muito sensível conduzida nas aulas de Língua Portuguesa e Arte, com apoio da Orientação Educacional, os alunos resgataram suas memórias afetivas em seus processos de escolarização. Para isso, cada um trouxe ao Colégio um objeto afetivo que tenha marcado sua história, o qual foi apresentado aos demais alunos em um momento introspectivo que aconteceu em um lugar igualmente especial: o Quintal Uirapuru, local que guarda muitas memórias dos nossos alunos. Em seguida, o conjunto dos objetos, bem como suas histórias foram apresentados no Museu de Memórias, apresentado no Festival das

Olhar para o passado significou não só o resgate das próprias memórias, mas também a conexão entre as duas pontas de suas trajetórias: a do início com o desfecho do Ensino Fundamental. A fim de selar esses extremos, os alunos vivenciaram, na Educação Infantil, uma atividade de integração com os pequenos. Esse momento aconteceu de forma planejada, no qual os alunos realizaram rodas de leituras e brincadeiras, estreitando laços entre duas gerações tão distantes, rendendo momentos divertidos e de grande emoção.

Celebrar uma jornada de tantas conquistas e aprendizagens merece um planejamento especial. Assim, em uma série de atividades desenvolvidas no último bimestre do ano, os alunos foram conduzindo e criando como seria o dia do encerramento. Essas etapas envolveram a escolha das apresentações, definição da entrada, elaboração de discursos, layout do convite, textos para declamação, playlist da cerimônia e roteiro de apresentação. Nesse contexto, tudo foi cuidado para que esse momento tão especial fosse, de fato, criado e desenvolvido pelos alunos, para que celebrassem suas conquistas junto da equipe escolar e de seus familiares.

Nessa circunstância, o projeto de formatura é decorrente de um processo dialógico e complexo que perpassa diversas etapas repletas de significados, as quais se somam a fim de evidenciar verdadeiramente uma construção coletiva simbólica e única, que tem seu desenlace no dia da cerimônia de encerramento, evento ímpar em suas trajetórias e aguardado ansiosamente por todos. É nesse momento que a celebração, por fim, ganha ares de dever cumprido e de despedida de um ciclo vivido intensamente.

É, portanto, tempo de travessia, é chegado o momento de nossos jovens, ainda há pouco nossos meninos e meninas, caminharem rumo ao futuro com a fluidez na alma de quem é constituído por vivências e memórias significativas. O desconhecido agora se apresenta a cada instante e se mostra em infinitas possibilidades. Faz-se necessário vivenciálo de coração aberto como quem está pronto para escrever novas páginas no livro da vida. Nas palavras de Guimarães Rosa, "quem elegeu a busca, não pode recusar a travessia. O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

RODOLPHO, Adriane Luisa. Rituais, ritos de passagem e de iniciação: uma revisão da bibliografia antropológica. Estudos Teológicos, v. 44, n. 2, p. 138-146, 2004.

ROSA, Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

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