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PROJETO DE VIDA
As práticas de alfabetização evoluíram muito desde que a cartilha começou a ser aplicada naquele contexto histórico, em que grande parte da população não sabia unir duas letras para formar sílabas, quanto mais compreender textos mais complexos relacionados à vida cotidiana. Guardadas as devidas proporções e contextos, percebe-se que, atualmente, tanto os profissionais da educação quanto as famílias e os próprios jovens estudantes ainda estão aprendendo a associar os conteúdos aprendidos na escola com sua aplicação prática na transformação de suas vidas individuais e coletivas.
O que você vai ser quando crescer?
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O que fará da sua vida?
Você formará família?
Vai trabalhar em quê?
Onde pretende morar?
O que você quer da vida?
Quem nunca ouviu esses questionamentos, não é mesmo? A resposta para essas e outras perguntas semelhantes não está em nenhum livro didático, mas pode ser construída e elaborada com os alunos, dentro da escola. E é o que fazemos ao longo de toda a trajetória escolar enquanto trabalho interdisciplinar com o apoio da Orientação Educacional, sendo que o objetivo principal é o de abordar com os alunos temas que os auxiliarão na reflexão para possíveis respostas a todos esses questionamentos.
Autonomia, responsabilidade, resiliência, aspectos da vida pessoal, profissional e social; esses são alguns dos temas a serem desenvolvidos em sala de aula - e fora dela - com aqueles que devem ser os protagonistas dessa jornada.
O Projeto de Vida é o caminho que cada indivíduo traça entre “quem ele é” e “quem ele quer ser”. É um planejamento pessoal, pensado e elaborado de maneira organizada, estratégica e detalhada acerca de diversas áreas da vida. É uma proposta curricular que auxiliará o aluno no planejamento de suas metas e ações, para curto, médio e longo prazo, a fim de que ele possa alcançar os seus sonhos.
O projeto deve ser “realizável, flexível e dinâmico”, servindo como suporte que facilita e motiva o aluno em busca da realização de seu propósito.
Além disso, a Base Nacional Comum Curricular, enquanto documento norteador do trabalho escolar em âmbito nacional, apresenta em sua essência o trabalho socioemocional como um aspecto fundamental do desenvolvimento do indivíduo/aluno.
Por isso, a formação integral dos alunos é um objetivo de suma importância dentro da nossa escola e por isso, nosso Projeto de Vida é construído desde o Berçário, passando pela Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II, seguindo até o Ensino Médio. Em cada um dos segmentos, estes projetos são trabalhados de uma forma, sendo que se aprofundam e ficam mais complexos a cada etapa, de acordo com os processos dos alunos.
O Berçário, que compreende crianças de 0 a 3 anos de idade e constitui o Uirapuru Bebê, é a porta de entrada para os nossos alunos. Esperamos que as crianças que entram no Berçário caminhem conosco até o Ensino Médio e, para isso, construímos a história dos nossos alunos desde a sua chegada ao Colégio.
Nesta etapa, o trabalho da Orientação Educacional é realizar os primeiros registros da identidade discente. Nesta fase, os bebês e as crianças bem pequenas começam a estabelecer as primeiras relações sociais e estas se dão no contato com as berçaristas e com as outras crianças do espaço coletivo. Essas relações são as principais promotoras na construção de suas identidades.
Olhar, gesto, toque, fala e ação, a troca dessas linguagens com outros pares, mais ou menos experientes, permitem que nossos pequenos se apropriem da "humanidade" que os envolve e, cada um, de acordo com as suas aprendizagens, devolvem ao meio suas conquistas, modificando ações e permitindo que outros se apropriem do que lhe é peculiar.
A observação diária, os registros dos processos de desenvolvimento, as fotos e os vídeos dos momentos experimentados no Colégio ilustram a história de vida de cada bebê e criança que passa pelo Uirapuru Bebê e os acompanha ao longo da sua escolaridade.
No Ensino Fundamental I, as crianças são valorizadas no processo ensinoaprendizagem. Levamos em consideração e respeitamos as etapas diferenciadas de cada criança. As intervenções da Orientação Educacional nas turmas dos 2º e 3º ano baseiam-se no trabalho com a educação em valores, convivência cidadã, educação solidária, socioambiental, cidadania digital, autonomia, orientação de estudos e ritos de passagem.

Utilizamos o Portfólio do Estudante para dar início à organização das atividades realizadas pelas crianças no contraturno, auxiliando-as na reflexão das propostas realizadas fora da escola, para que desde o início elas, juntamente com seus pais, sejam capazes de refletir sobre o cotidiano escolar e familiar.
Durante as aulas, dialogamos e refletimos sobre as práticas para manter uma boa rotina de leitura, a organização do ambiente de estudos, como eliminar os distratores do ambiente familiar, como manter o foco atencional ao realizar as lições de casa e os estudos, quais materiais devem ser trazidos para a escola, como organizar a mochila e como deve ser feito o estudo em cada disciplina.

Mensalmente este trabalho é monitorado e desenvolvido com novas estratégias, conforme a necessidade individual de cada aluno.
Seguindo com o trabalho de convivência cidadã, realizamos no momento dos intervalos várias oficinas, nas quais as crianças desenvolvem inúmeras atividades e habilidades em grupo.
No 4º e 5º anos desenvolvemos o portfólio de estudante, com o intuito de trabalhar as habilidades pessoais, socioemocionais e de estudos. Mensalmente, por meio de dinâmicas ancoradas na disciplina positiva e com o material do portfólio de estudante, a Orientadora Educacional promove reflexões sobre estes aspectos.
Assim, dinâmicas como a Ikebana para reconhecer e valorizar a sua produção e a dos colegas, respeitando as diferenças e as escolhas pessoais; círculos restaurativos para refletir sobre os sentimentos e atitudes ao perder ou ganhar nos jogos, roda de conversas sobre palavras de encorajamento aos colegas, são exemplos que estiveram presentes ao longo de 2022 promovendo o desenvolvimento das habilidades socioemocionais.
No portfólio de estudante, os alunos puderam entender e preencher a "Roda da Vida", uma no 1º semestre e outra no 2º semestre, identificando e analisando os aspectos que mereciam maior atenção, bem como o progresso que reconheceram ao longo do ano. Dessa forma, se autoavaliaram em sete quesitos: meu papel de filho, rotina de estudos, disposição para fazer novas amizades, relação com família, inteligência emocional, o que faço pelo outro e saúde física.
O Mapa dos Sonhos foi outra atividade que permitiu aos alunos pensarem sobre os principais desejos a curto, médio e longo prazo. Registrando por meio de escrita e/ ou desenho, evidenciaram os seus sonhos e pensaram nas etapas a percorrer para que se concretizem. Do sonho simples ao complexo, dentre ter um cachorro ao construir uma família, ganhar um videogame ao escolher uma profissão, viajar para Campo do Jordão ao dar uma volta ao mundo, sonhar permite ter objetivos e perceber que podem ser palpáveis a depender das nossas escolhas.
Identificar as habilidades pessoais, foi outra proposta do portfólio do estudante, não é tarefa fácil olharmos para nós mesmos, reconhecermos as nossas potencialidades e fragilidades, mas exercitar esta dinâmica de nos percebermos, favorece o autoconhecimento e a aceitação para a construção da pessoa que queremos ser.
No Projeto de Estudos, os alunos diariamente receberam estudos orientados, de forma a indicar o passo a passo do quê e de como estudar, desenvolvendo o hábito de estudo autônomo e colocando em prática diversos procedimentos de estudos. Ao final de cada bimestre, a autoavaliação dos estudos orientados e a reflexão sobre o processo de aprendizagem permitiram a autorregulação e o reconhecimento de diferentes metas para o próximo bimestre, que foram registradas no portfólio do estudante.


No Ensino Fundamental II, iniciamos o Portfólio do Estudante em formato virtual, para que os alunos possam ter a continuidade e evolução pessoal ao longo da escolaridade. Este material tem como objetivo estruturar as atividades que compõem o processo de desenvolvimento da autonomia, responsabilidade, resiliência, aspectos da vida pessoal, social e orientação para os estudos. Uma das atividades desenvolvidas com os alunos do EFII (6º e 7º anos), tinha como objetivo: reconhecer as características que cada aluno percebia em si mesmo e que todos reconheciam nele; perceber características que os outros reconheciam no aluno, porém o próprio aluno não as percebia; ajudar os alunos a entender que somos diferentes e ir além da compreensão e ver como nossas diferenças são vantagens, as quais podemos acolher e celebrar. Como exemplo podemos citar a atividade do "Reino Animal".
A dinâmica consistia na observação pelos alunos de fotos de alguns animais (leão, tartaruga, camaleão e águia), que eram coladas no espaço da sala de aula. Em seguida, os alunos eram convidados a olhar bem as fotos e podiam escolher apenas um animal que gostariam de ser por um dia. Quando todos já tinham feito o registro, a orientadora pediu para os alunos colarem os post-its no cartaz que estava fixado no quadro com o nome do animal que haviam escolhido. O primeiro impacto observado pelos alunos foi o de terem percebido que cada aluno havia escolhido um animal diferente e o motivo da escolha também era diferente. Na sequência, a orientadora convidou os alunos para se reunirem em grupo, de acordo com os animais escolhidos e orientando-os a discutir com os colegas, usando o consenso do grupo para uma resposta do coletivo, sobre porque não escolheram os outros animais. Durante a apresentação de cada grupo para os colegas de classe, alguns alunos começaram a demonstrar alguns sentimentos como indignação e raiva, pois estavam ouvindo fragilidades sobre o animal que haviam escolhido para ser por um dia. Havia burburinhos entre os alunos, expressões visíveis em seus rostos de não concordarem com aquelas falas negativas sobre os animais escolhidos. Outros alunos com tom de voz alta diziam: " Cada um tem a sua opinião".

Após a apresentação dos grupos onde foi exposto num primeiro momento as potencialidades de cada animal, suas características positivas, quando escolhem ser o animal por um dia e, em seguida, ouviram de outros grupos as fragilidades e os aspectos negativos do animal escolhido, os alunos demonstraram indignação. Alguns alunos em tom de voz alto e com expressão de indignação falaram que os alunos tinham que respeitar as diferenças dos animais. Logo após a apresentação de todos os grupos de animais, a orientadora solicitou que todos retornassem aos seus lugares e iniciou a reflexão com os alunos. A orientadora perguntou ao grupo: "O que aconteceria se todos os alunos tivessem escolhido o mesmo animal? "Como vocês se sentiram quando ouviram os outros grupos falar sobre as fragilidades do animal escolhido?" "Como essas diferenças aprendidas por vocês por meio das características dos animais podem contribuir com a nossa sala de aula, enquanto espaço coletivo?" , "Como podemos melhorar a convivência uns com os outros?"
As vivências realizadas com as turmas do Ensino Fundamental II, são vivências socioculturais, lúdicas, que trabalham questões relacionadas à identificação emocional do aluno com um animal, formação de grupos com outros alunos que se identificam com o mesmo animal, crítica aos grupos formados por alunos que escolheram outros animais e recepção de críticas dos outros grupos. Assim como reflexão sobre se todos tivessem escolhido o mesmo animal, como a partir das diferenças constatadas entre os alunos e como aceitar as diferenças de cada um e como as diferenças entre os alunos podem contribuir para enriquecer a sala de aula, enquanto espaço coletivo. Neste sentido, percebemos que a atividade proporcionou aos alunos uma consciência não intuitiva sobre as diferenças e como trabalhamos juntos numa comunidade, transcendendo a consciência de turma e permitindo compreender a importância da nossa diversidade enquanto seres humanos.
Outra atividade desenvolvida com os alunos, que dão suporte para o trabalho do Projeto de Vida, foi o Mapa dos Sonhos. A ferramenta utilizada possibilitou aos alunos pensarem num propósito de vida, pensando onde se quer chegar e, sobretudo, dispor da alegria e energia necessária para seguir na
Ampliamos a esfera da vida relacionada ao projeto de estudos, refletindo sobre a importância de uma rotina diária de estudos, sobre a sistematização dos conhecimentos por meio das tarefas de casa e a ampliação da prática dos estudos orientados. Além das reflexões os alunos são convidados a cada bimestre a pensar sobre suas potencialidades e fragilidades que observam no caminho percorrido durante o processo ensino e aprendizagem, até o percurso final de seu resultado.
A reflexão possibilita ao aluno encontrar novas estratégias de estudos e mudanças de comportamento que possibilita o avanço na sua autonomia diante da sua responsabilidade enquanto estudantes.
Os alunos do 8º e 9º anos, se dedicaram na elaboração da carta de apresentação do portfólio, pensando na construção de um documento curricular que acompanhará sua vida escolar.

Trabalhamos os projetos de estudos, analisamos estratégias diferenciadas com o objetivo de contribuir na organização da rotina escolar, elaboramos metas a curto, médio e longo prazo nos âmbitos da vida pessoal e acadêmica e ao término de cada bimestre realizamos momentos de autoavaliação sobre o desempenho escolar, com reflexões sobre as ações que precisam ser aperfeiçoadas.

Refletimos também sobre a importância do autoconhecimento trabalhando as habilidades pessoais, onde cada estudante entrou em contato com suas características individuais através do seu olhar e do olhar do outro. Os alunos construíram o mapa dos sonhos com a reflexão de "quem eu sou e onde eu quero chegar", escrevendo e/ou ilustrando de forma positiva, colocando a busca pelo autoconhecimento nas coisas a serem alcançadas.
Um dos momentos mais marcantes para os alunos do 8º e 9º anos, foi a introdução ao Projeto de Vida onde, aplicamos a atividade da Roda da Vida que é uma ferramenta importante para visualizar as diferentes áreas: família, papel de filho, saúde física, olhar para o outro, social, rotina de estudos, emocional e controle financeiro (novo aspecto acrescentado tendo em vista novas responsabilidades). Esta análise teve como objetivo, ajudar o aluno a identificar onde é necessário investir mais tempo e atenção e onde é preciso melhorar, buscando o equilíbrio de todas as áreas.


No Ensino Médio, a proposta do Projeto de Vida foi dar continuidade ao trabalho realizado até o EF II, por meio de acompanhamento em sala de aula e individualmente nas primeiras séries. A partir de momentos de reflexão coletiva e individual, e utilizando o Portfólio do Estudante, os alunos tiveram a oportunidade de se autoavaliar para identificar suas potencialidades. Por meio do aprofundamento do portfólio, os alunos do EM tiveram a oportunidade de criar a Roda da Vida com novos aspectos a serem analisados, tais como: espiritualidade/propósito, diversão, saúde, contribuição social, organização financeira, realização, desempenho acadêmico, autoconhecimento, vida social, intimidade e família.

Além disso, na 1ª série ocorreu um aprofundamento dos processos de estudos para desenvolvimento da organização acadêmica, consolidando e refinando os métodos aprendidos até então. No Ensino Médio os alunos tiveram a oportunidade de participar de muitas atividades extras e, por isso, foram encorajados desde o primeiro bimestre a se organizarem, com a ajuda da Orientação Educacional, de forma efetiva, para que conseguissem acompanhar as atividades que mais os interessavam.
Na 2ª série, as disciplinas eletivas de Business e Dream Plan tiveram como objetivo trazer ferramentas para que os alunos observassem suas características individuais e como poderiam trabalhar em grupo. Além das intervenções da Orientação Educacional de forma coletiva e individual. Importante salientar que uma das intervenções coletivas realizadas tinha como objetivo realizar reflexão sobre autocompaixão e autorregulação por meio da observação e troca de como cada um reagia diante das situações. Este momento aconteceu no Espaço Eco, ambiente que os mais velhos frequentam menos e adoram.
Com o objetivo de dar suporte a todo o processo de fechamento do período de formação estudantil, foram realizados acompanhamentos muito próximos aos alunos, começando pela organização das comissões de formatura. Estas comissões representam a conclusão do Ensino Médio e da vida escolar, já que, ao longo do ano, passaram a ter cada vez mais responsabilidades e desenvolver autonomia para vivenciar mais de perto a vida adulta. Sob o aspecto acadêmico e de escolha, foram realizados acompanhamentos individualizados para identificação de cursos, instituições de interesse e muitas orientações de apoio para este momento.
Desse modo, o Projeto de Vida dos alunos é trabalhado no Colégio Uirapuru ao longo de toda a vida escolar, sempre de acordo com a faixa etária para apoiá-los no desenvolvimento de suas potencialidades. Trabalhar os projetos de vida é uma forma de transformar o indivíduo em cidadão crítico, analítico e que saiba se posicionar para que estabeleça objetivos de vida que abarque a mudança positiva da sociedade e no entorno em que se inserem.