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SEGURANÇA AQUÁTICA: UM TEMA QUE SALVA VIDAS
Maria Montessori (educadora, médica e pedagoga italiana - 1870/1952), disse uma frase assim: “O maior sinal de sucesso para um professor é poder dizer: as crianças agora estão trabalhando como se eu não existisse.” Esperamos ao final do texto, que você possa entender o por que desta frase e nos ajudar com esse tema.
Para muitas pessoas a água simboliza lazer, prazer, alegria, diversão, relaxamento, atividade física, dentre tantos outros motivos e sentimentos. Para as crianças, alguns desses sentimentos são ainda mais evidentes. A ligação do ser humano com a água é muito grande e iniciou-se, na verdade, antes mesmo do nascimento, afinal, vivemos nove meses em média durante o período gestacional dentro de um ambiente líquido. Entretanto, ao deixarmos esse ambiente por conta do nascimento, nos deparamos com um novo meio e necessitamos de uma nova adaptação, perdendo aquela que tínhamos no período anterior.
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Porém, continuamos a usar a água em diversos momentos da vida e por inúmeros motivos. E refletindo ainda sobre esse magnífico elemento da natureza, usamos a água também em seus outros estados físicos, como sólido e gasoso. Porém, para este nosso texto, vamos nos limitar ao seu estado líquido ou também como a denominação de ambiente aquático.
Mas, por que abordar sobre segurança aquática em um ambiente que parece ser tão bom e divertido como citamos anteriormente? Essa é uma pergunta importante e esperamos ao final deste texto, ajudar e disseminar o tema, para que realmente possa existir segurança aquática em todos os locais. Não gostaríamos de abordar um tema “pesado” como esse, mas como profissionais de Educação Física que somos, temos o dever e a obrigação de alertar a todos sobre a importância. Então vamos direto ao assunto: Os riscos de afogamento.
Talvez alguns de nós não observamos ao nosso redor esse tipo de situação. São poucos os casos divulgados nas mídias, nos telejornais ou outros meios de comunicação sobre casos de afogamento. Mas atenção! Os casos de afogamento são maiores do que possamos imaginar. Dados de 2020 da SOBRASA (Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático), apontam para uma média de 16 afogamentos seguidos de óbito por dia no Brasil. Parece ser difícil acreditar nesse número, mas é estatístico e real. Infelizmente, 5.818 brasileiros perderam a vida por conta de afogamento em 2020. De acordo com a mesma entidade, para as crianças na faixa etária de 1 a 14 anos, o afogamento representa uma das 3 maiores causas de óbito. Ainda para a entidade, aproximadamente outros 100.000 casos de incidentes não fatais podem acontecer anualmente no país, (SOBRASA, 2022).
No mundo esses números também são preocupantes. Em 2015, dos 192 países membros da OMS (Organização Mundial de Saúde), 40% relataram dados sobre afogamentos e representaram juntos aproximadamente 285 mil óbitos ao ano. Assim, estima-se que esse número possa
Diversas situações podem levar a casos de afogamento e de acordo com Dr. David Szpilman, presidente da SOBRASA, podem acontecer em todos os locais em que haja qualquer quantidade de líquido. É comum pensarmos que estas situações ocorram somente em piscinas, rios, lagos ou praias, mas também podem ocorrer dentro das residências, em banheiras, baldes e bacias e até em vaso sanitário. Alguns fatores de risco também são importantes para que ocorram os acidentes, como a idade (menores de 14 anos), ingestão de álcool, comportamento de risco e falta de supervisão (SOBRASA, 2022), além da própria ausência das habilidades e competências aquáticas.
Além das perdas de vidas humanas, ainda há o impacto financeiro causado pelos afogamentos ou pelos incidentes não fatais. Em avaliação feita entre 2008 e 2011, foram identificadas 7.674 pessoas hospitalizadas, consumindo 36.000 dias de permanência em hospitais (média de 6,6 dias/internação), com um custo total de R$8.429.094,24. (SOBRASA, 2022)

Analisando toda essa problemática que afeta famílias, crianças, jovens e adultos, a prevenção passa a ser a principal maneira de diminuir os riscos de acidentes e incidentes envolvendo os diversos ambientes aquáticos, portanto, toda ação para evitar esse risco é necessária. Ações e intervenções, tanto de esclarecimento e conscientização sobre os fatores de risco, como também ações pedagógicas, buscando autonomia e sobrevivência, que vão desde as habilidades e competências fundamentais para a adaptação ao meio aquático, como exemplo o controle respiratório, imersão, flutuação, deslocamento e sustentação, além do ensino dos nados culturalmente identificados como crawl, costas, peito e borboleta.
Pensando na divulgação de ações deste tipo, o INATI (Instituto de Natação Infantil), inspirado em países como Estados Unidos e Austrália, instituiu desde 2012 no Brasil o mês de novembro como o mês da segurança aquática, estimulando locais de práticas e atividades aquáticas, como academias, clubes, colégios e outras entidades, a desenvolver suas ações de conscientização aos praticantes. A época é bem propícia a realizar tais ações, por conta da proximidade da estação mais quente do ano, o verão, quando estatisticamente ocorrem mais acidentes, por conta obviamente do uso maior dos ambientes com água.
Com essa intenção, a equipe de natação do Colégio Uirapuru desenvolve regularmente ações para estimular a responsabilidade e a reflexão da importância dos cuidados com o ambiente aquático e com outras situações que envolvam riscos de acidentes e incidentes. Durante as aulas para todas as turmas, salientamos e reforçamos medidas de cuidados e segurança, além das atividades pedagógicas para o desenvolvimento das habilidades e competências para a adaptação e sobrevivência, bem como a proposição do ensino dos nados. As ações, intervenções e orientações da equipe de professores de Educação Física do Colégio Uirapuru com as crianças, iniciam antes mesmo de entrar na água, alertando para não correr, não empurrar o amigo ou a amiga, não entrar na água somente com a autorização de um adulto, nem quando não houver um adulto dentro da piscina e que não se deve entrar na piscina usando manobras arriscadas como saltos acrobáticos, como por exemplo o “salto mortal”. Após a entrada na água, a aula em si transcorre com supervisão constante, tomando medidas quanto a divisão e organização das turmas por nível de habilidade e quantidade, além disso, fazemos uso de materiais flutuantes, plataformas de apoio e estratégias pedagógicas que respeitam a individualidade e características de cada criança e grupo.
Além dessas ações durante o dia a dia, no mês de novembro, por conta da semana de segurança aquática, realizamos a nossa semana, intensificando as ações de prevenção e orientação ao tema. Realizamos com algumas turmas uma aula diferenciada, onde simulamos situações de risco para que pudessem refletir e sensibilizar-se quanto aos procedimentos a fazer, como identificar uma possível vítima de afogamento, buscar e disponibilizar um material flutuante para a mesma, buscar ajuda de um adulto próximo ou até mesmo solicitar contato através dos números de emergência 193, 192 ou 190. Alertamos para essas possíveis situações em qualquer local, como nas casas, nos clubes, nas praias ou outros locais.
Em outro momento da aula, as crianças entraram na água vestindo roupas, como calças e camisetas. A ideia era oportunizar a experiência de quem sofre uma queda na água sem estar com os trajes tradicionais sungas e maiôs, toucas e óculos. Até mesmo porque em alguns casos, essa situação também é possível. Desenvolvemos atividades onde as crianças tinham que observar o risco iminente e buscar o próprio salvamento, usando técnicas de flutuação, sustentação e deslocamento. Além disso, apresentamos outras técnicas usando a própria roupa como material flutuante ou material alternativo, como garrafa pet por exemplo.

As orientações quanto aos riscos de acidentes e incidentes envolvendo água, também foram no sentido de estarem atentos a todas as situações, tanto em suas casas como em outros ambientes, principalmente quando neste houver crianças pequenas, alertando sobre baldes e bacias com água deixadas no chão, para manter as portas dos banheiros sempre fechadas por conta do acesso ao vaso sanitário ou banheiras, bem como e, principalmente, sobre proteger e dificultar o acesso a piscina, com grades, lonas ou telas de proteção. Em relação a esses dois últimos, as lonas e telas, cabe uma observação importante ao adulto responsável pelo ambiente: atenção para que sejam extremamente fixados na borda da piscina para evitar o envelopamento ao sofrer o impacto por qualquer peso que seja.
Concluímos e esperamos com essa proposta pedagógica e também com esse texto, não causar medo, aflição ou aversão aos ambientes aquáticos, ao contrário, que reforcem com suas crianças e tantas outras pessoas puderem, a necessidade do saber nadar e estar adaptado a esse ambiente e ainda mais, impactar, atingir e disseminar para o maior número de pessoas os riscos de acidentes e incidentes envolvendo esses ambientes. As estatísticas mostram a necessidade de medidas de conscientização por todos e para todos, para que eventos tristes e traumatizantes não atinjam as famílias e a sociedade de modo geral. A água, aqui tratada como ambiente aquático e todas as suas possibilidades, são maravilhosos e devem ser aproveitados e utilizados com consciência, atenção e respeito às normas dos locais, para que todos os benefícios sejam potencializados, tanto em momentos de atividade física ou de lazer.


Finalizamos nossa contribuição ao Anuário do Colégio Uirapuru, lembrando da frase de Maria Montessori que nos introduziu a essa reflexão e que esperamos que ao longo do texto tenham entendido o significado. Nossa missão enquanto professores e professoras é muito mais do que ensinar a nadar. Que elas, as crianças, possam a partir das nossas ações pedagógicas, “trabalhar” sozinhas, ou seja, levar para além dos muros da escola, os ensinamentos e os momentos vividos aqui dentro, tornando-se protagonistas, responsáveis, críticas, conscientes e disseminadoras de ações e intervenções para o bem geral
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
INATI. Instituto de Natação Infantil. Disponível em: inati.com.br
SOBRASA. Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático. Disponível em: sobrasa.org