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A PINTURA DIGITAL, O RESGATE DE ELEMENTOS DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA E A RESSIGNIFICAÇÃO DO OLHAR

Explorando a interdisciplinaridade e mobilizando conhecimentos de Arte e História na disciplina Odisseia, parte do currículo de eletivas da 2ª série do Ensino Médio, os estudantes exploraram as relações entre as fotografias de Christiano Júnior e os impactos da Diáspora Africana por intermédio da pesquisa, do diálogo e da prática em arte digital. A atividade realizada durante o 3º bimestre de 2022 mobilizou recursos da pintura digital, da análise de fontes históricas e da pesquisa e criação de manifestações artísticas que resgatam as conexões entre Brasil e África. Segundo Andrade (2017), "a diáspora não é apenas sinônimo da imigração à força, mas também uma redefinição identitária, ou seja, a construção de novas formas de ser, agir e pensar no mundo".

A atividade teve início com o contato e aprofundamento do fotógrafo português Cristiano Júnior. Nascido em 1832, Christiano Júnior produziu uma série de fotografias de pessoas escravizadas na década de 60 do século XIX. As fotografias, vendidas e expostas na Europa nos anos seguintes, retratam o cotidiano de um Rio de Janeiro marcado pela exploração de pessoas escravizadas. Ao vender as fotografias, Christiano Júnior alcançava mais uma forma de lucrar com os trabalhadores escravizados, que já eram explorados em seu cotidiano. Apesar da problemática, é possível analisar as imagens do fotógrafo como fontes históricas que trazem pistas não só da desigualdade racial, mas também de elementos relacionados à cultura afrobrasileira e o cotidiano do Brasil Império nos anos que antecederam a abolição da escravatura.

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A proposta de intervenção realizada pelos estudantes consistiu na alteração da fotografia "O homem com a caixa". A partir da pesquisa de referências da cultura afro-brasileira em artistas contemporâneos, como Abdias Nascimento e Luiz Zerbini e de elementos africanos no acervo de museus, os estudantes vivenciaram uma ressignificação da fotografia. Após o contato com o trabalho do fotográfo, os estudantes passaram a explorar recursos tecnológicos que possibilitaram a ressignificação da fotografia original, explorando conexões entre passado e presente.

O uso do programa Krita, editor de imagens digitais, e de suas principais ferramentas, como a utilização dos brushes, ferramentas de seleção, organização das camadas, inserção de textos e tipografias, entre outras, apoiaram o processo de criação e composição visual.

Além da prática da pintura digital com uso dos Macbooks, junto da utilização de mesas digitalizadoras, o processo reflexivo dos alunos aconteceu através da parte histórica, ao elaborarem intervenções a partir de ressignificações das fotografias de Christiano Júnior, com o resgate de elementos da cultura afro-brasileira. Para a pesquisa, as referências artísticas e históricas utilizadas pelos estudantes, foram acervos online do British Museum, do Google Arts and Culture e do Masp, ao reconhecer obras de artistas como Luiz Zerbini e Abdias do Nascimento.

Após a finalização das pinturas, o trabalho foi organizado em um vídeo para o Sarau anual, cuja temática centrou-se na comemoração do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. Diversas conexões podem ser feitas entre o processo criativo da atividade e o exercício artístico proposto durante a Semana de Arte Moderna de 1922. Em um plano abrangente, ambas as experiências buscam propor um novo olhar sobre a identidade nacional. Em 22, artistas das mais diversas áreas propunham uma ruptura com o academicismo europeu. Hoje, os estudantes propõem uma ruptura com a visão eurocêntrica que justificava a exploração de pessoas. É nesse processo que abrimos espaço para questionar: o que é ser brasileiro?

Para além das reflexões sobre a identidade nacional, podemos também aproximar a experiência de intervenção realizada pelos estudantes às inovações artísticas popularizadas durante e após a Semana de Arte Moderna de 22, uma vez que um dos principais focos dos artistas envolvidos era a exploração de diferentes linguagens em suas produções. Embora naquele momento a arte digital não fosse uma possibilidade, podemos imaginar que uma produção artística que utiliza técnicas mistas para valorizar a cultura nacional dialogue com Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Manuel Bandeira, e tantos outros que marcaram este momento histórico na arte brasileira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ANDRADE, Ana Luíza Mello Santiago. Diáspora africana. Disponível em: https://www.geledes.org.br/diaspora-africana/ Acesso em: 19 de outubro de 2022.

Fotografias de costumes brasileiros. Disponível em: https://artsandculture.google.com/story/mwUhZ8V-DYQHKg?hl=ptBR. Acesso em: 20 de setembro de 2022.

Centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. Disponível em: https://fcs.mg.gov.br/centenario-da-semana-de-artemoderna-de-1922/. Acesso em: 20 de setembro de 2022.

Vídeo sobre o processo criativo dos alunos https://drive.google.com/file/d/1ByOz3Pvk6eViFIOCHzEw2CCGmn0ENTAW/ view?usp=drivesdk

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