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COMO COMEMORAMOS A INDEPENDÊNCIA

Ana Bastos e Eduardo Torres

1822-2022, duzentos anos de vida independente do nosso país. Um momento tão marcante para nossa nação merecia um espaço abrangente no nosso trabalho como instituição educacional e cultural. Foi assim que desde os pequeninos, da Educação Infantil e do Fundamental I, até os jovens cidadãos do Ensino Médio, foram instigados a refletir sobre este momento histórico.

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A passagem do Bicentenário da Independência do Brasil foi o momento que marcou parte dos trabalhos desenvolvidos no Colégio Uirapuru. Neste contexto, tivemos a oportunidade de analisar documentos históricos escritos e pictóricos com as segundas séries do Ensino Médio, que ajudaram a formatar, inventar e a imaginar o nosso país.

A análise e reescrita da carta de Caminha, um dos documentos fundadores do Brasil, mais a observação e interpretação de obras como “A batalha dos Guararapes” (1879), de Victor Meirelles, entre outras, foi de especial riqueza crítica na formação dos nossos jovens alunos.

Outra das propostas para estimular o imaginário dos nossos alunos na data do bicentenário foi a exibição de 3 filmes que ajudaram a construir uma linha de compreensão histórica. Estes foram “Os inconfidentes” (1972); “Carlota Joaquina – Princesa do Brazil” (1995); e “Independência ou morte” (1972). Se observam a data do primeiro e do último filme, foram produzidos para o 150º aniversário da independência nacional.

Contudo, um dos pontos altos neste trabalho de reflexão e de vivenciar estes duzentos anos foram as visitas realizadas por diversas personalidades, que trouxeram um olhar diferente e particular do nosso país e o momento que vivemos.

O professor Leandro Karnal, na palestra inaugural, trouxe com sua simplicidade, oratória e cultura, um questionamento muito válido para este 2022: temos algo a comemorar na realidade atual do país? Esta pergunta foi deslizada no mesmo momento em que o palestrante se deslocava entre o 150º aniversário pátrio, tempo em que frequentava a escola e a futura comemoração dos 250º anos do país, tempo em que nossos alunos serão amadurecidos cidadãos responsáveis pela nação.

A seguir, o convidado da vez foi o filosofo, escritor e prêmio Jabuti, Daniel Munduruku, filho da tribo Munduruku do Pará. De forma cálida e simpática, o palestrante falou pelas tribos indígenas do país e da sua difícil relação com o Estado brasileiro. Ele lembrou suas vivências enquanto criança na tribo e logo depois no colégio dos “brancos” na década de 1970, quando havia um projeto de incorporação dos indígenas à sociedade brasileira, com toda a problemática e violência que isto significou.

O seguinte convidado foi o psicólogo, mestre em educação e pesquisador sobre questões étnico-raciais e masculinidade negra, Marco Pereira. A fala do palestrante, ou como ele indicou, um negro ocupando um espaço de fala, girou em torno dos negros e o Brasil, numa abordagem segura e necessária que destacou a estrutura racial do Estado brasileiro, e a violência real e simbólica que são enfrentadas pelas comunidades negras no nosso país.

Em setembro, nosso calendário marcava outra palestra que foi reagendada para outubro, era sobre o Brasil receptivo, o país que abre suas portas de forma acolhedora.

A senhora Sonia Steiner, natural da Bélgica, nos contou sobre a experiência de sobreviver ao Holocausto nazista, num campo de concentração infantil, na Segunda Guerra Mundial (acontecimento que também marca nossa História). Pela primeira vez, a sobrevivente abriu seu coração e suas lembranças para um grupo de jovens que, de forma privilegiada, envolveram na narrativa de traumática experiência.

Finalmente, a última palestra do projeto Brasil 200 anos, um acontecimento especial para encerrar com alegria este ano de 2022 que iniciamos sob a sombra da pandemia e terminamos com a expectativa de um futuro melhor. Este último encontro enalteceu nossa cultura, através de uma das suas manifestações mundialmente conhecidas, o Samba. Nosso palestrante foi um jovem músico brasileiro negro, doutor em música, compositor e regente da Filarmônica de Kentucky, o maestro João Carlos Rocha, reconhecido internacionalmente e havendo se apresentando em salas como a Carnegie Hall de Nova York, tocou no nosso palco, junto à cantante portuguesa - professora da Miami University - Paula Gândara. Trouxe um panorama do Samba desde o século XIX até nossos dias, abordando a importância da população negra no desenrolar e evolução desta festa nacional e fechou com um concerto pocket da dupla Gândara Rocha.

Não posso deixar de destacar a abertura desta palestra musical, que ficou nas mãos dos nossos alunos das 1ª série do Ensino Médio, sob o comando do professor Rafael Corrêa. Eles interpretaram duas músicas para homenagear os nossos convidados, evidenciando o compromisso dos nossos jovens com o Colégio e suas propostas artístico-culturais, mesmo com o calendário escolar chegando ao fim. Esta apresentação foi desenvolvida na disciplina eletiva "O Trem" ministrada pelo professor Rafael, na qual se investigam as músicas regionais brasileiras, sua poética e o que elas nos dizem.

Terminamos o ano de 2022 no mais alto.

PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL: OFICINAS DE ANÁLISE E CRÍTICA CRIATIVA

Simultaneamente aos trabalhos junto ao corpo discente, foram feitas duas oficinas (de 120 minutos cada) com os professores da Educação Infantil e Ensino Fundamental 1, ambas orientadas pela professora Ana Bastos. Os objetivos das oficinas foram: distinguir diferentes narrativas oficiais do processo de independência do Brasil, estabelecer características do processo de independência, discutir os fatores que levaram à independência, criticar com argumentos históricos o processo de independência do Brasil, e teorizar o processo de independência do Brasil a partir da interpretação de pinturas oficiais.

A primeira oficina aconteceu no mês de maio e voltou-se para a introdução e problematização do tema da Independência do Brasil. Os professores participantes leram e refletiram sobre o tema a partir de três pinturas históricas relacionadas à independência: Aclamação de Dom Pedro I, Imperador do Brasil, no Campo de Sant'Ana, Rio de Janeiro/Dia do Fico (9/ jan/1822), Jean-Baptiste Debret, 1816-31; A Proclamação da Independência, FrançoisRené Moreaux, 1844; Independência ou Morte!/O grito do Ipiranga, Pedro Américo, 1888.

Cada participante recebeu uma folha impressa, na qual devia anotar:

- o título, o nome do pintor e a data de publicação da obra

- o que vê em cada pintura

- o que pensa sobre o que vê em cada qual

- o que há de comum entre as 3 pinturas

- o que há de diferente

- uma questão-hipótese

Trata-se, nessa primeira abordagem, de práticas comuns à rotina de pensamento chamada Deslumbramento, que podemos usar para criar uma cultura crítica e questionadora dos acontecimentos históricos na sala de aula. Todas as fases de leitura e interpretação foram acompanhadas pela professora Ana Bastos a fim de estimular as falas dissonantes e estruturar as dúvidas em questões com valor acadêmico e pedagógico. No final da primeira oficina, aconteceram rodas sucessivas de discussão. Organizadas livremente entre os participantes. Para a oficina seguinte, todos ficaram com a tarefa de finalizar a questão-hipótese e fazer a leitura do que texto FAUSTO, Boris. A INDEPENDÊNCIA, História do Brasil. São

Paulo: EdUSP, 2015, pp. 112 a 116.

Na segunda oficina, que aconteceu no início do mês de junho, focamos na discussão e sistematização de informações, sobre as quais se estruturou a crítica criativa do tema da Independência do Brasil. Dessa vez, foi aplicada a estratégia de agrupamentos por funções. Eram grupos de quatro professores, um professor de cada série, cada qual com as seguintes funções: escriba -> responsável por redigir/escrever orador -> responsável pela divulgação oral temporizador -> responsável por administrar o tempo almoxarife -> responsável por administrar os materiais e fontes de pesquisa

Os agrupamentos deviam retomar as questões-hipóteses a partir do conjunto de palavras selecionadas pela professora Ana Bastos e disponibilizadas no Classroom, que fora composto a partir dos registros feitos na primeira oficina. Em seguida, tinham de escolher o conjunto de palavras que estava mais propício às questões-hipóteses do agrupamento. Para, por fim, acessar a leitura do texto de Boris Fausto e, se possível, registrar dados e informações sobre o conjunto de palavras a cargo do agrupamento.

Depois dessa fase inicial, aconteceu a grande roda de conversa para sistematização de informações. Os agrupamentos faziam suas exposições, enquanto a professora Ana Bastos ia alinhando as falas ao texto de Boris Fausto e ideias surgidas desde a primeira oficina. Fomos construindo, assim, a etapa final do nosso trabalho: a reconstrução do Grito do Ipiranga.

Cada agrupamento recebeu uma folha A4 e uma reprodução impressa das três pinturas oficiais usadas no início de nossas reflexões, lá na primeira oficina. Os agrupamentos deviam recortar livremente as imagens, selecionar partes e colá-las a fim de construir uma outra imagem para a Independência do Brasil. Tinham de usar a imaginação e desenhar à vontade. O ponto essencial de reconstrução era, tão somente, a interpretação do agrupamento para o que não foi dito nas imagens oficiais. Ao finalizar a montagem da imagem, fotografaram para que a professora anexasse à apresentação coletiva. Para fecharmos nossas oficinas, cada agrupamento teve até 3 minutos para expor as suas ideias a partir da imagem criada.

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