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"SOMOS TODOS MIGRANTES"
Professora:Francileide Cunha
O título de abertura deste texto, não é de minha autoria, mas foi frase norteadora para o desenvolvimento das aulas de História e Geografia.
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Foi a partir destas palavras, escrita originalmente na Seção Opinião, do Gazeta Digital, e no texto de abertura da unidade Migração, povos e territórios, do nosso livro didático que Luis Henrique Lima, registrou
"No Brasil, somos todos migrantes ou seus descendentes. Camponeses alemães expulsos pela miséria migraram no século XIX para Santa Catarina, um deles o pai do meu bisavô. Sua neta, minha avó, casouse com um descendente de holandeses e portugueses, neto por parte de mãe de um cacique carijó da região do Contestado. A pesquisa genealógica familiar já identificou outras raízes portuguesas, francesas e guaranis. As novas gerações, as dos meus filhos, sobrinhos e primos, nasceram em oito estados brasileiros, do Rio Grande do Sul à Paraíba, passando por Mato Grosso. Da mesma forma, as famílias que conheço possuem todas elas raízes africanas, asiáticas e europeias, na sua maioria combinadas".
Através deste texto introdutório trabalhamos habilidades para selecionar, em lugares de vivência e em histórias familiares e/ou comunidade, elementos de distintas culturas, valorizando o que é próprio em cada uma delas e sua contribuição para a formação da cultura local, regional e brasileira (BNCC - EF04GE01).
Em âmbito escolar, as questões propostas permitiram que os alunos refletissem sobre diferentes fluxos migratórios no Brasil e sua influência na formação cultural da população brasileira.

Paralelo ao conceito de alfabetização geográfica, ocorre a alfabetização cartográfica, onde habilidades voltadas para a localização, orientação e representação do espaço geográfico são amplamente trabalhadas.
Leitura e interpretação de diferentes portadores de textos, a exemplo de mapas, plantas cartográficas, cartazes e o jornal Joca, vídeos e imagens, circularam pela sala de aula, possibilitando maior compreensão e profundidade destes fatos históricos.
Este momento também foi marcado por compartilhamentos de experiências familiares, concretizando as histórias narradas nos livros, pois ao realizar leituras, observar imagens, assistir a vídeos que traduziam vivências sobre migrações, os alunos passaram a fazer inferências com suas próprias histórias. Assim, trouxeram para sala de aula depoimentos sobre situações migratórias que envolveram avós, bisavós, tataravós, como exemplos de emigrantes que deixaram seu país de origem, atravessando oceanos em navios superlotados, de pouca higiene, trazendo na bagagem sonho de melhor condição de vida, na esperança e promessa de emprego nas fazendas de café e indústrias paulistas nas terras do atual Brasil.
Contextualizando, os alunos realizaram como Estudo do Meio, uma visita à Fazenda Nossa Senhora da Conceição. Fazenda histórica dos barões de café, desde 1810. Um museu aberto que trata da história dos imigrantes italianos que passaram a substituir a mão de obra escrava pelo trabalho nas lavouras de café. Durante a visita, conheceram a sede, a casa dos colonos, a Casa Grande do Barão e as instalações que compuseram o cenário do mais longo período da nossa História: período da escravatura. Observaram cuidadosa e respeitosamente senzalas, objetos usados para castigar africanos escravizados, materiais de uso pessoal e trabalho. Assim, conseguiram entrar em contato com histórias de suas lutas e conquistas, entrelaçando neste observar, sujeitos, fatos e fontes históricas.
…"Terras do atual Brasil…"
Em nossa história há traços das culturas indígena, portuguesa, africana e de tantos europeus que aqui desembarcaram.
Conhecer obras de arte, como a exemplo de "Todos somos um" e o recente painel Janelas Abertas para o Mundo, do artista e muralista Eduardo Kobra, destacando rostos de representantes das diferentes etnias, nos deu a oportunidade de enfatizar a importância do respeito à diversidade cultural. Com a leitura compartilhada do trecho localizado no documento UNESCO - DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE A DIVERSIDADE CULTURAL , ampliamos nosso olhar sobre o tema em discussão.



Artigo 3 – A diversidade cultural, fator de desenvolvimento
A diversidade cultural amplia as possibilidades de escolha que se oferecem a todos; é uma das fontes do desenvolvimento, entendido não somente em termos de crescimento econômico, mas também como meio de acesso a uma existência intelectual, afetiva, moral e espiritual satisfatória.
Falar sobre diversidade implica em darmos foco às nossas ações e relações diárias. Implica em darmos foco à empatia, à tolerância, à disseminação do preconceito, à evitar constrangimentos e, principalmente a pensarmos que estamos buscando uma sociedade mais justa com respeito às diferenças, principalmente naquilo em que somos todos iguais: reconhecimento e exercício dos nossos DIREITOS e DEVERES.
A escola é um espaço ímpar para se falar, viver e desenvolver habilidades que norteiam a diversidade e o respeito, pois aqui, desde as séries iniciais, é o local onde as relações, além do grupo familiar, serão ampliadas, é aqui, neste espaço que os primeiros conflitos e frustrações desencadeadas por nossos pares, serão vivenciadas e nestas relações, sempre mediadas por educadores, é que os alunos desenvolverão capacidade para a autodefesa, autovalorização, autocrítica, autorespeito, ampliando competências intra e interpessoal.
… imigração …emigração…
- De quais países vieram os imigrantes?
- Quais foram os motivos dessa imigração?
- Qual a diferença entre os tipos de migrações?
- Há diferença entre as migrações?
Para responder as questões que surgiram durante nossos estudos e nossas leituras de textos compartilhados, usamos como recurso visual, o vídeo "O que é migração?"- do canal Minuto GeografiaGeografia desenhada.
Vale ressaltar que essas ferramentas complementam e contribuem para o trabalho docente, pois proporciona a visualização e a audição, toca os sentidos e envolve os alunos, favorecendo a construção do conhecimento, a formulação e a reformulação de hipóteses sobre diferentes temas estudados.
Imprescindível para que se realize o processo de aprendizagem e a apropriação dos conceitos, a sistematização do conhecimento pode ser feita através de registros escritos, pictóricos, mapa mental, quadro comparativo, entre outros. Dessa forma os alunos foram convidados a realizar de forma autônoma atividades onde a diferença entre os conceitos IMIGRANTE e EMIGRANTE fossem representados.
Todo bimestre, priorizamos a realização de trabalho em grupo e neste, não foi diferente. Favorecer essa vivência é também valorizar a diversidade de competências acadêmicas, aumentar e aprofundar a oportunidade de aprender conteúdos, desenvolver a linguagem favorecendo a equidade*.
O trabalho em grupo realizado com esse princípio, é delegado através das distribuição de papéis, com instruções e etapas precisas, dando a eles autoridade para que sejam responsáveis, que cumpram suas tarefas de maneira a decidirem ser a melhor, sendo todos componentes, sem exceção, responsáveis por contribuir para o sucesso de sua equipe e pelo domínio dos conceitos envolvidos.
Outro ponto importante no trabalho em grupo, se refere à forma como os alunos serão avaliados. Além de saberem suas funções para o bom andamento e desenvolvimento da atividade, eles também têm acesso aos critérios de avaliação, podendo ter uma clara ideia de como serão avaliados e sobre como devem, durante o processo de realização da atividade, medir e regular seus próprios esforços.

"Toda vez que aprendemos, nosso cérebro forma, fortalece ou conecta rotas neurais. Precisamos substituir a ideia de que a capacidade de aprendizagem é fixa pelo reconhecimento de que estamos todos em uma jornada de crescimento"
(Jo Boaler - Mente sem barreiras)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
DREGUER, Ricardo e MARCONI, Cássia. Presente História. Ed.Moderna. 5ª Edição. Guia e recursos didáticos para o professor - 2018.
GUELLI, Neuza e NIGRO, Cíntia. Presente Geografia. Ed.Moderna. 5ª Edição. Guia e recursos didáticos para o professor - 2018.
BURD, Leo - Programa de aprendizagem criativa: 4º ano do ensino fundamental: guia do professor. São Paulo - Bloccolab - gestão editorial, ano 2019.
*equidade - substantivo feminino
1.apreciação, julgamento justo.
2. virtude de quem ou do que (atitude, comportamento, fato etc.) manifesta senso de justiça, imparcialidade, respeito à igualdade de direitos.
Elizabeth G. COHEN, Rachel A. LOTANPlanejando o trabalho em grupo - Estratégias para salas de aula heterogêneas - Instituto Sidarta. 3a Edição - Penso, 2017.
BOALER, Jo - Mente sem barreiras - as chaves para destravar seu potencial ilimitado de aprendizagem. Porto Alegre. Penso - 2020.