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PEQUENOS PESQUISADORES: UM OLHAR SOBRE A IMENSIDÃO DO CÉU
A criança olha para o céu azul.
Levanta a mãozinha, quer tocar o céu.
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Não sente a criança que o céu é ilusão:
Crê que não alcança, quando o tem, na mão.
(Manuel Bandeira)
Ao olharmos para o céu ao escurecer o que podemos observar: o maior biscoito do mundo ou a lua em uma de suas fases?
No primeiro semestre de 2022, as crianças do Infantil 3, entraram em contato com um novo gênero textual: a história em quadrinhos, através do projeto “Uma aventura entre amigos” (utilizando como base a literatura do livro “Boa noite planeta”, do autor argentino Ricardo Liniers), e tiveram a oportunidade de vivenciar a maravilhosa experiência de pesquisar sobre a imensidão do céu, as estrelas, as nuvens, o arco-íris, o amanhecer, o entardecer etc.
Ao folhear as páginas do livro e ouvir a história, as crianças observaram e imaginaram a menina que, com seu fiel amigo (um bichinho de pelúcia) brincava diariamente. Juntos descobriram coisas novas. Quando o sol se escondia, “Planeta” (nome do seu amigo) criava vida e, em uma dessas noites, juntamente com o Elliot e o Bráulio tentaram pegar o maior biscoito do mundo. Mas será que aquela grande bola no céu era um biscoito de verdade?
A pesquisa teve seu início logo nas primeiras páginas da leitura do livro, no qual as crianças tiveram a oportunidade de observar o nascer do sol juntamente com os personagens. A professora realizou uma pergunta norteadora como instrumento : Quando olhamos para a página na qual o dia está amanhecendo o que podemos observar no céu?
Aluno 1: Olha o céu está com muitas cores.

Aluno 2: Sim, tem laranja embaixo, amarelo aqui e bem lá em cima um azul.
Aluno 3: Ele está amarelo por causa do sol.
Aluno 4: Eu acho que está um arco-íris diferente. A origem do conhecimento está na pergunta, ou nas perguntas, ou no ato de perguntar
(FREIRE; FAUNDEZ, 1985, p. 48).
A cada nova etapa da pesquisa, a pergunta norteadora era o elo mais importante para a realização do processo de aprendizagem e, para que cada momento se tornasse único, as crianças eram “colocadas” no centro desse processo, de maneira ativa e fundamental, no qual a resposta dada para os questionamentos eram estimuladas a ir muito além do simples “não” ou “sim”. Os conhecimentos prévios de cada criança era validada e potencializada gerando discussões e reflexões de grande valia para todos do grupo.
‘Observar’ tem um significado oculto: observar significa servir, e para tal tenho que “compreender” (understand), ou seja, fica embaixo daquele que quero compreender (FRIEDMANN, LAMEIRÃO, LEVY, ECKSCHMIDT; FARIAS, 2022, p. 33).
O QUE OS MEUS OLHOS PODEM VER?
Planeta, Elliot e Bráulio, na aventura noturna, compartilharam grandes experiências com as crianças do infantil 3. Novas experimentações e descobertas foram surgindo na imensidão de possibilidades que tem em nosso céu, como as fases da lua, o sol e a lua no mesmo céu durante o dia, as diferentes formas e cores com o céu nublado e o céu chuvoso, contribuindo de forma significativa para cada observar do céu. A criança é um ser em contínuo movimento. Este estado de eterna transformação física, perceptiva, psíquica, emocional, e cognitiva promove na criança um espírito curioso, atento, experimental. Seu olhar aventureiro espreita o mundo a ser conquistado. Vive em estado de encantamento diante dos objetos, das pessoas e das situações que a rodeiam. A descoberta vem mesclada com o desejo de posse, como se proclamasse: “O que é meu é eu” (DERDYK, 2020, p. 19).

Por meio de inúmeras observações, foi perceptível o desenvolvimento das crianças em relação à linguagem, à escuta, à imaginação, aos questionamentos e, principalmente, ao olhar curioso para o novo. Ficando evidente o protagonismo das crianças por meio das suas falas: acolher o mundo inteiro da criança, as suas expectativas, os seus planos, as suas hipóteses e as suas ilusões. Significa não deixar passar, como se fosse tempo inútil, o tempo que a criança dedica às atividades simbólicas e lúdicas, ou o tempo empregado para tecer as relações “escondidas” com outras crianças (STACCIOLLI, 2013, p. 28).
Aluno 1: Eu vi essa nuvem em casa, mas não saiu na minha foto!
Aluno 2: No meu céu tinha azul escuro, mas depois só tinha azul claro.
Aluno 3: Eu achei um arco-íris depois que a chuva foi embora, tia!
Em cada momento as crianças observavam o céu e traziam suas percepções para serem compartilhadas em roda, cada relato refletia o interesse e as expectativas feito pelas crianças.
E vocês acham que as observações pararam por aqui? Não! Elas foram além do que os olhos podiam ver… Foram em busca de ressignificar o que já haviam visto, e com as vivências precisavam concretizar toda essa experiência.
A partir desse momento os registros foram surgindo. Com os olhos aguçados nas infinitas transformações do céu, as crianças representaram o que estavam apreciando de uma forma artística, criando as suas próprias pinturas.

Tivemos momentos para representar um dia chuvoso, podendo vivenciar um ambiente preparado com sons de chuva, trovões e raios, cheiro de terra molhada, remetendo à uma memória afetiva, também pudemos representar o lindo arco- íris, após um dia de chuva. Em um dos momentos contamos com a participação da família, para garantir um belo momento de observar o céu ao entardecer, uma experiência riquíssima trazida pelas nossas crianças, foram imensuráveis oportunidades que garantimos uma aprendizagem com significado e sentido para as crianças do infantil 3.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil / Edith Derdyk. - 3. ed. - São Paulo: Panda Educação, 2020. 160 pp.
EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Leila& FORMAN, Georg. As cem linguagens da criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. 158 p.
FRIEDMANN, Adriana; LAMERIÃO, Luiza; LEVY, Ana Paula; ECKSCHMIDT, Sandra; FARIAS, Vanda. Olhares para as crianças e seus tempos: caminhos, frestas, travessias. Cachoeira Paulista, SP: Passarinho/ Diálogos Embalados, 2022. 312 p. :il.
STACCIOLI, Gianfranco. Diário de acolhimento na escola da infância. Campinas: Autores Associados, 2013.