Diálogos • Revista da CIP

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SET • OUT 2015 ELUL • 5775 | TISHRÊ • CHESHVÁN • 5776

REVISTA DA CIP

EMPATIA

colocar-se no lugar do outro e transformar o mundo


Que possamos valorizar o lado positivo de todos. ‫והוי דן את כל האדם לכף זכות‬

Vehevê dán et col haadám lecháf zechút Pirkêi Avot 1:6

A CIP deseja que 5776 seja um ano em que prevaleçam a alegria, o olhar positivo e a paz.

‫לשנה טובה תכתבו‬ LeShaná tová ticatêvu


PRESIDÊNCIA

Caros associados Chegando no final do ano judaico iniciamos sempre uma reflexão de nossas ações no último ano. É um momento importante para cada um de nós refletir sobre sua vida e suas ações. Na posição de presidente de nossa Congregação, faço esta reflexão para relembrar nossos objetivos e fazer um balanço de nossas atividades. Começo o balanço por nossa juventude. Neste julho tivemos mais de 500 jovens envolvidos em machanót e colônias da CIP. Além das três machanót da Avanhandava e da Chazit e das três colônias em Campos, tivemos uma sétima saída para os jovens que estão em transição entre chanichim e madrichim, são os teshug. Foi um sucesso que queremos repetir anualmente. O tradicional Cabalat Shabat da Colônia, no final de agosto, foi um sucesso de alegria e energia. Continuamos com nossa campanha de arrecadação para fazer reformas importantes em nossa casa em Campos. São doações com destino específico. Neste semestre atingimos 13% de nossa meta e contamos com a ajuda de todos para continuarmos. Este novo mandato (2015-2017) começou com o lema “Mais CIP na vida dos sócios”. É um reforço de nossa estratégia de participação da Congregação no ciclo de vida de nossas famílias. Uma das ações que nossos associados mais sentiram foram os diversos ciclos de palestras, tanto na CIP quanto na Livraria Cultura, que trouxeram debates incríveis à nossa comunidade. Estamos iniciando uma parceria importante com o Seminário Rabínico Latinoamericano Marshall T. Meyer. Este seminário, que foi fundamental na formação do atual judaísmo da América Latina, está iniciando cursos de alto nível em São Paulo. A CIP está apoiando a iniciativa que fortalecerá muito o judaísmo liberal no Brasil. Inicialmente com uma pós-graduação em judaísmo, o objetivo é formar de shlichei tzibur (líderes religiosos que podem liderar serviços) a morim (professores). Esperamos neste caminho identificar candidatos ao rabinato que poderão seguir seus estudos no exterior em algum seminário conveniado. Que neste ano de 5776 sejamos todos inscritos no livro da vida.

SÉRGIO KULIKOVSKY • PRESIDENTE

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EMPATIA, JUDAÍSMO E COMUNIDADE O judaísmo é, antes de tudo, empatia. O primeiro hebreu, Abrahão, destacou-se na narrativa bíblica e talmúdica pelo cumprimento natural de apenas um preceito, o acolhimento do próximo. Ele é mencionado no texto defendendo e lutando pelas causas justas alheias como se fossem próprias, como a possível integridade de alguns sodomitas e a descendência do Rei Avimelech, por exemplo. Segundo a interpretação tradicional da Torá, Moisés torna-se judeu quando incorpora o sofrimento dos escravos como o próprio, os adota como irmãos e descobre, assim, que eles realmente são seu povo. A empatia, a saída em direção ao encontro íntimo e existencial com o próximo acaba revelando a própria identidade. Na modernidade, os filósofos Hermann Cohen e Buber embasaram filosofias inteiras no desenvolvimento desse conceito de empatia judaica. Ao atribuirmos unicidade ao próximo, descobrimos nossa própria unicidade. Somos únicos quando vemos que o próximo é único. Apenas dando espaço para tudo que o outro é, sente e vive, adquirimos dentro de nós o mesmo espaço único. E é no encontro entre as totalidades únicas que se revela divindade de tudo. A ética da Torá começa demandando a saída da passividade diante do sofrimento alheio, a pontualidade no pagamento dos salários, e o amor e o cuidado pelo próximo e suas instâncias tanto quanto por nós mesmos e nossas instâncias. As Grandes Festas, embora convidem à introspecção do indivíduo, esclarecem que nada, mesmo na santidade de Iom Kipur, acontece se antes não esgotarmos nossos esforços em prol da paz dos que estão à volta. A festa de Sucót, que vem imediatamente depois, não se limita a lembrar com empatia a travessia de nossos antepassados no deserto. O chag estabelece o desafio de construir, hoje, sucót físicas e sociais, pessoais e comunitárias, que realmente sejam portas abertas, mentes e corações abertos para acolher. Pessoas, ideias e emoções. A comunidade existe especialmente para praticar a essência da empatia judaica. Sucót é a melhor das oportunidades. Contamos com você porque também estamos sempre abertos e ansiosos a recebê-lo e acolhê-lo. Rabino Ruben Sternschein

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PRESIDENTE Sérgio Kulikovsky RABINATO Michel Schlesinger Ruben Sternschein VICE-PRESIDENTE INSTITUCIONAL Tatiana Heilbut Kulikovsky DIRETORA DE COMUNICAÇÃO E MARKETING Laura Feldman COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: André Wajnberg Andrea Kulikovsky Andréia Hotz Carmen S. Carvalho David Golinkin Débora Sor Flávio Gikovate Guita Feldman Luciana Becker Haikewitsch Michel Schlesinger Rodrigo Berezovsky Ruben Sternschein Sergio D. Simon Sergio Kulikovsky Theo Hotz EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVEL Andréia Hotz (MTB 61.981) MARKETING Simone Rosenthal

A Congregação Israelita Paulista dá as boas-vindas a seus novos associados. • Ari Friedenbach • Cristiane Maria Sousa Sapiro e Ricardo Benjamin Sapiro • Debora Regina Paiva e Nathan Weissman Mehlberg • Fernando Rizzolo • Flávia Bydlowski e Raphael Bydlowski • Halina Werdesheim e Léo Herman Werdesheim • Ilana Cherzman Lissker e André Lissker • Juliana Zanelli Reis e Vitor Sayeg • Laura Semiatzh • Luciana Oliveira Fonseca e Ari Rechtman • Marina Ring e Gilberto Lachter Greiber • Mario Levi Manoel Finzi • Natan Freller • Ocir Gerson Gorenstein • Priscila Felberg e Rodrigo Felberg • Renata Aisen Wolf e Eli Wolf • Renata Wassermann e Marcelo Semiatzh • Sarah Oatney Weiler e Wirley Weiler • Thais Hamaoui Zausner e Fabio Wrobel Zausner BRUCHIM HABAIM

PROJETO GRÁFICO JAM Design FOTOS Arquivo CIP e Shutterstock Esta é uma publicação da Congregação Israelita Paulista. É proibida a reprodução total ou parcial de seu conteúdo. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião da CIP.

chazithanoarsp

FALE COM A CIP PABX: 2808.6299 cip@cip.org.br www.cip.org.br Administrativo/Financeiro: 2808.6244 Comunicação: 2808.6228 Diretoria: 2808.6257 Escola Lafer: 2808.6219 Juventude: 2808.6214 Lar das Crianças: 2808.6225 Marketing: 2808.6247 Rabinato: 2808.6230 Relacionamento com o associado: 2808.6258 Serviço Social: 2808.6211

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chazithanoarsp PARABÉNS CHAZIT!! Não só pelo segundo lugar, que foi muito merecido por toda nossa garra e suor. Mas parabéns principalmente por nosso jeito respeitoso de competir,... Ver todos os 34 comentários

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GASTRONOMIA Arroz doce sefaradi POR Andrea Kulikovsky

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LAR DAS CRIANÇAS Educação emocional para a construção de uma sociedade de paz POR Carmen S. Carvalho AÇÃO SOCIAL Um convite para refletir sobre o futuro POR Débora Sor

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RABINATO Empatia contra o fanatismo POR Michel Schlesinger


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ESPECIAL • Liturgia Unetane Tokef • A origem misteriosa da reza das Grandes Festas POR Sérgio D. Simon

ESPECIAL • Bimá Proximidade e Transparência POR Andréia Hotz

e mais... 10 12 14 27 31 PROGRAME-SE ACONTECE

ACONTECE DIÁLOGOS PARALELOS

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Os ieladim e os livros POR Andrea Kulikovsky

valores e tradições

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JUVENTUDE GIRO CULTO JUDAÍSMO


Lançamento

Disponível na CIP e na Livraria Cultura. 8

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GASTRONOMIA

Arroz doce sefaradi POR Andrea Kulikovsky chef e consultora gastronômica Existem diversas tradições relacionadas à comida no Ano Novo Judaico. O sêder de muitas famílias sefaradim, por exemplo, inclui diversas comidas simbólicas que são servidas antes da refeição. Nestes pratos, os ingredientes são escolhidos um a um e significam um desejo ou uma benção para prosperidade e saúde no ano vindouro. Entre eles é possível encontrar romãs, tâmaras, feijões, beterraba, abóbora, salsão e a cabeça de um peixe. Na receita desta edição da Diálogos estão presentes vários destes ingredientes, o que, certamente trará bênçãos e desejos de um ano doce, próspero e cheio de saúde para a sua mesa de Rosh haShaná.

INGREDIENTES: 1 1/2 colher (chá) de sal 1 colher (chá) de páprica doce 1/2 colher (chá) de cúrcuma 1/4 colher (chá) de cominho 1/8 colher (chá) de pimenta preta 4 colheres (sopa) de azeite de oliva extra virgem dividido 1 colher (chá) de azeite de oliva 2 cebolas medias cor tadas pequenas 10 damascos secos, cor tados em quartos 6 figos secos, cortados em quar tos 1/4 xícara de cerejas secas 1/4 xícara de pistaches ou sementes de abóbora 1 xícara de arroz de grão longo (Jasmim ou Basmati) 1 xícara de água 1 ½ colher (chá) de casca de limão ou laranja ralada 1 xícara de semente de romã

MODO DE FAZER: Junte o sal, a páprica, a cúrcuma, o cominho e a pimenta em uma tigela pequena. Aqueça duas colheres de sopa de azeite de oliva em uma panela funda, com tampa. Adicione o arroz e as especiarias e misture bem. Cozinhe em fogo médio, por 3 ou 4 minutos, mexendo constantemente, para que as especiarias impregnem bem no arroz. Adicione uma xícara de água. Leve a ferver, tampe e reduza o fogo para baixo. Cozinhe por 20 minutos. Tire do fogo e deixe descansar por 15 minutos, tampado. Aqueça as outras duas colheres de sopa de azeite em uma frigideira não aderente. Adicione as cebolas e cozinhe em fogo médio por uns 20 minutos, mexendo constantemente e adicionando uma colher de sopa de água por vez, quando necessário, para não queimar. Transfira as cebolas para um prato e na mesma frigideira aqueça uma colher de chá de azeite de oliva. Adicione as frutas secas, os pistaches ou sementes de abóbora e cozinhe por 2 ou 3 minutos, mexendo sempre. Quando o arroz estiver pronto, solte-o com um garfo e adicione as cebolas, a mistura de frutas secas e a casca de limão ou laranja. Antes de servir, salpique as sementes de romã sobre o arroz.

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PROGRAME-SE

Grandes Festas Em Rosh haShaná e Iom Kipur a CIP oferece uma programação completa para as famílias. Além dos serviços religiosos conduzidos pelos rabinos e chazanim da Congregação, há ainda atividades e rezas voltadas exclusivamente para crianças e jovens. Saiba mais sobre a programação no site da CIP (www.cip.org.br/grandesfestas) e adquira seus lugares através do telefone 2808.6256/ 6258 ou do email grandesfestas@cip.org.br.

Ktanim Festas, s e tradições, conteúdo e vivência judaica do aica a i d c de forma divertida e significativa para crianças sso de ju a a a r de 4 a 10 anos. d pa ni mu co

Supervisão do rabinato da CIP e assessoria da consultora pedagógica Shirley Jugman Sacerdote, fundadora da Kitá Legal. Turmas na CIP ou em casa.

Informações e matrículas: 2808.6219 ou escolalafer@cip.org.br.

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Atividades e eventos em destaque Reflexões de Shabat

Todo sábado, um estudo criativo participativo sobre o trecho Todo sábado um eestudo criativo e participativo do semanal da Torá. trecho da Torá.

A atividade, realizada pelos voluntários do serviço

A morá Miriam Markus é a convidada do próximo dia 13, Neshamá, acontecem logo após o kidush na quando falará sobre a parashá Shelách Lechá. Como devemos Pequena Congregação. interpretar osSinagoga relatórios trazidosda pelos emissários-espiões enviados por Moshé à Terra Prometida e a reação do povo no Informações: 2808.6299 ou secretaria@cip.org.br. deserto? E hoje, tanto anos depois dos acontecimentos relatados, de que maneira a atual conjuntura de Israel se aplica ao conceito de “terra que emana leite e mel”?


Atividades

regulares

TERCEIRA IDADE

da CIP

INFORMÁTICA PARA SÊNIOR segundas e quartas-feiras às 9h30 e 11h

PENSAMENTO JUDAICO Liberdades e determinismos Curso com o rabino Ruben Sternschein. Quem fala dentro de mim quando digo “eu quero”? Qual o nosso grau de responsabilidade pela pessoa que somos e pela vida que levamos? Venha discutir e aprofundar seus conhecimentos à luz das fontes do pensamento judaico de todos os tempos. MIDRASH • PROFETAS • TORÁ • CABALÁ TALMUD • FILOSOFIA JUDAICA Os encontros acontecem toda quinta-feira às 19h, logo após a reza do Arvít. Informações e inscrições: 2808.6299 ou secretaria@cip.org.br.

COSTURA DA BOA VONTADE terças-feiras às 13h CLUBE DAS VOVÓS LOTTE PINKUSS terças-feiras às 14h (encontros quinzenais) CORAL SAMEACH quintas-feiras às 14h30

CULTO

GRUPO DE ESTUDOS DA PARASHÁ segundas-feiras às 19h30 PENSAMENTO JUDAICO quintas-feiras às 19h REFLEXÕES DE SHABAT sábados às 12h30 (após o kidush)

MÚSICA

CORAL KAVANÁ terças-feiras às 20h30 CORAL ABANIBI quartas-feiras às 20h30

Informações: 2808.6299 ou secretaria@cip.org.br

JUVENTUDE

MANHIGUT

sextas-feiras às 16h CHAZIT HANOAR sábados às 14h AVANHANDAVA sábados às 14h

DANÇAS

LehacÁ Eretz segundas-feiras, às 20h Harcadá terças-feiras, às 20h LehacÁ Nefesh quintas-feiras, às 19h

ENSINO

ESCOLA LAFER segundas, terças e quartas-feiras às 16h30 sextas-feiras às 8h30 KTANIM segundas-feiras às 17h30 e sextas-feiras às 10h (Ktanim Babait todos os dias) SHABAT IELADIM sextas-feiras às 18h45 SHAAT SIPUR sábados às 14h30

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ACONTECE 1

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1 e 2. O rabino Dr. Joel Roth, do Jewish Theological Seminary em Nova Iorque, visitou a CIP e conduziu sessões de estudo e aprofundamento com profissionais e voluntários da Congregação e da comunidade judaica paulistana. 3 e 4. Madrichim e chanichim da Avanhandava se reuniram para mais um acampamento. Mais de 60 jovens participaram das atividades no Sítio Buscapé, em Bragança Paulista.

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5 e 6. A machané de inverno da Chazit Hanoar aconteceu em Sorocaba, no Sítio Vips, e contou com 151 jovens, entre madrichim e chanichim. 8

7 e 8. O Campo de Estudos Fritz Pinkuss, em Campos do Jordão, recebeu mais uma temporada da Colônia da CIP. Quase 250 jovens participaram das peulot, sempre divertidas e pautadas em um judaísmo moderno e inclusivo. 13


ACONTECE • DIÁLOGOS 1

Fotos: Tahia Macluf

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1 e 2. O primeiro encontro do projeto Dilemas Éticos contou com a participação do psicanalista Contardo Calligaris e do filósofo Mario Sergio Cortella. A mediação foi do jornalista Eugenio Bucci.

Fotos: Michele Mifano

3 e 4. Uma plateia animada conferiu, no Teatro Gazeta, o show Liberdade•Chófesh dos grupos de dança israelense da CIP, Eretz e Nefesh, e da Avanhandava e da Chazit Hanoar (Chaverim Chazak). 14


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Fotos: Tahia Macluf

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5 e 6. Muita animação na comemoração do 63º aniversário do Clube da Vovós Lotte Pinkuss, que contou com o talento da banda Klezmer Class. 7 e 8. O professor de Ciência Política da USP e prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad, foi o convidado do encontro entre Pensamento Judaico e Pensamento Político da série Filosofando. 15


ACONTECE • DIÁLOGOS 9

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9 e 10. Conduzido pela professora Maria Elci Spaccaquerche, mestre em Psicologia Social pela PUC, foi realizado na CIP o Conte um Conto – curso de interpretação e significados de contos infantis e arte de contar estórias. 11 e 12. Resgatar histórias de vida de uma forma prazerosa, lúdica e educativa foi a proposta da Oficina de Arqueologia e Memória que aconteceu em julho na CIP e que foi conduzida pela educadora Judith Mader Elazari, da USP.

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Fotos: Jacques Royzen

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Fotos: Tahia Macluf

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13 e 14. A pré-estreia da comédia musical Antes tarde do que nunca, com Miguel Falabella e Simone Gutierrez, reuniu a comunidade no teatro CETIP em prol do Lar das Crianças da Congregação. 15 e 16. A bioética foi o tema do segundo encontro do Dilemas Éticos, que contou com a participação de Fernando Reinach, coordenador do primeiro projeto Genoma brasileiro; e Lygia da Veiga Pereira, pioneira em pesquisa sobre célula tronco. O psiquiatra e biólogo Jairo Bouer mediou o debate. 17


O Lar das Crianças da CIP agradece o apoio dos patrocinadores para a pré-estreia beneficente do

Antes tarde do que nunca 18 ago • Teatro CETIP Cota Master

Betty e A. Jacob Lafer z‘l Cota Ouro

Cota Prata

Doador anônimo Cota Bronze

www.mrman.com.br

Cota apoio

Agradecimentos especiais

Jacques Royzen, Marcia Hercherhorn, Peppermint Place, voluntários e profissionais da CIP e do Lar das Crianças.

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Convidados, workshops, shows e eventos especiais.

Participe também do Projeto Diálogos da CIP.

Um importante passo da CIP rumo a novas e diversificadas atividades culturais e sociais. Através de ações voltadas para literatura, música, artes plásticas, cinema, dança e meio ambiente, e a partir de palestras, encontros e eventos, o projeto tem a finalidade de desenvolver na Congregação um importante polo de cultura e arte

1º Semestre de 2015

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EVENTOS

PÚBLICO NOS EVENTOS PALESTRAS

2000

CONVIDADOS ESPECIAIS Contardo Calligaris • Eduardo Jorge • Fábio Feldman • Fernando Haddad • Ilan Goldfajn • Luiz Felipe Pondé • Mario Sergio Cortella • Ricardo Herz • Banda Klezmer Class

SHOWS

1100

WORKSHOPS

160

CINE DEBATE

100

LOCAIS REALIZADOS CIP • Livraria Cultura do Conjunto Nacional • Livraria Cultura do shopping Villa Lobos • Teatro Gazeta

Seja um parceiro do Projeto Diálogos e direcione seu IR, pessoa física e jurídica, via lei Rouanet. Entre em contato: dialogos@cip.org.br | 11 2808.6226 | www.cip.org.br/dialogos

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LAR DAS CRIANÇAS

Educação emocional para a construção de uma sociedade de paz POR Carmen S. Carvalho coordenadora pedagógica do Lar das Crianças Quatro elementos nos constituem: corpo, intelecto, sentimento e espírito. O desenvolvimento integral do ser humano pressupõe, nesta medida, o cuidado, o investimento e o equilíbrio de todas essas dimensões. O desequilíbrio de uma delas gera sofrimento individual e social. Alegria, tristeza, raiva, inveja, desilusão, solidariedade, preguiça, decepção e medo são sentimentos comuns. Não há quem não os conheça. São a energética da vida, motores de nossas ações. Elos que nos unem, impulsionam e protegem. Mas não saber expressá-los pode nos colocar em perigo, gerar afastamento e sofrimento. Aprender a reconhecê-los e expressá-los deveria ser um dos principais objetivos da educação. Infelizmente nossa cultura ocidental valoriza apenas a dimensão corporal e a intelectual. Sentimento e espírito nem sempre fazem parte da educação dos filhos e alunos. E a sociedade paga um alto preço por essa posição. Fevereiro de 2015 foi marcado por conflitos entre as crianças e jovens do Lar. Suas angústias pessoais eram expressas por agitação, irritação e brigas. As menores diferenças de desejo, pensamento ou ação geravam ofensas, tapas e outras formas de agressão. Neste ambiente não há espaço para prazer ou aprendizagem.

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Canalizamos nossa energia na educação emocional e, quando as crianças brigavam, eram conduzidas para a coordenação. No início isso gerava pânico: fugiam, escondiam-se. Como não nos conheciam, esperavam que fôssemos brigar ou chamar seus pais e tinham medo das consequências. Esse foi nosso primeiro desafio: fazer com que percebessem que não havia razão para medo. Relação pautada no medo gera dissimulação, não a reflexão, o autoconhecimento e a evolução que eram nossos objetivos. Ao entrar surpreendiam-se: eram acolhidos sem sermões. Pedíamos que se sentassem e nos contassem suas histórias, um de cada vez. Parece simples, mas não é. Os dois estavam tomados pela raiva, acusavam-se reciprocamente: o outro era o culpado. Muitas vezes nesses momentos a briga se reacendia e um ia para cima do outro, de punho em riste. Fazíamos com que se sentassem longe, pedíamos silencio e dizíamos: Não queremos saber quem é o culpado. Isso não nos interessa. Em uma briga os dois sempre têm razão e os dois sempre estão errados. Têm razão porque sentiram algo que os levou a brigar. Estão errados porque sempre há uma forma de lidar com o que sentimos que não precisa da violência. E é sobre essas possibilidades que queremos conversar.


Invariavelmente nos perguntavam se não iríamos chamar suas mães, se eles não seriam suspensos. Respondíamos que não, que queríamos apenas conversar para que nas próximas situações de conflito pudessem ser resolvidas de forma diferente. E pedíamos que cada um contasse sua história. Essa era outra descoberta para eles. Não havia história correta ou verdadeira. Não julgávamos o que diziam, apenas ouvíamos em silêncio. Esse momento de escuta já tinha implicações: ouvir em silêncio acalma os ânimos. Gera o sentimento de ser respeitado. Possibilita conhecer motivações e sentimentos do outro. Quando o segundo contava sua história, o clima na sala já era diferente. Iniciávamos um terceiro momento. Já compreendemos o que aconteceu. Vamos pensar juntos o que poderia ter sido feito para evitar briga? Íamos relembrando os fatos até seu início, congelávamos o momento e perguntávamos: Aqui, exatamente aqui, o que será que poderia ter feito diferente para interromper a raiva e a briga não acontecer? No início não conseguiam imaginar. Dávamos sugestões. E se tivesse dito assim? E se fizesse isso? Ou aquilo? De tal maneira que percebessem que havia inúmeras formas de expressar seu sentimento, agir e reagir naquele momento. O olhar de descoberta deles era muito significativo. Vocês acham que em outra situação conseguiriam fazer diferente? Então podem voltar para sua atividade. O efeito foi incrível, em pouco tempo deixaram de fugir. Passaram a nos procurar sem que o educador os trouxessem. Sentavam e um deles dizia: Vou contar primeiro a minha história. Há muito tempo não nos pedem que sejamos juízes de seus atos. Quantas vezes durante a narrativa do que aconteceu já dizem, sem qualquer intervenção nossa, que aqui eu podia ter feito diferente. E fazem. Hoje temos um novo ambiente para aprendizagem e ela está começando a acontecer. Todos no Lar lidam com os conflitos de forma diferente. Acreditamos que essas crianças e jovens saberão resolver seus conflitos em casa e fora dela sem violência. E educarão seus filhos sem violência também. Mais do que isso: como aprenderam a conhecer e expressar seus sentimentos, também ensinarão seus filhos. Torcemos para que os pais e as escolas também compreendam e aprendam. Só assim conseguiremos construir um mundo novo, pautado no respeito e no qual as pessoas possam se relacionar bem e viver sem medo.

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AÇÃO SOCIAL

Um convite para refletir sobre o futuro POR Débora Sor coordenadora do Núcleo da Maturidade da CIP Envelhecer é um processo contínuo que tem início no nascimento. Para as pessoas com mais de 60 anos, refletir sobre o futuro é buscar bem-estar e autoconhecimento e ver nascer uma nova mentalidade. O fenômeno do envelhecimento deve provocar várias mudanças na economia e nas relações sociais nas próximas décadas. Pensando nesta nova geração de 60+, o Núcleo da Maturidade da Congregação já começou a oferecer atividades que contribuem na redução do isolamento, na estimulação mental e no bem-estar desse público. Mantendo, claro, a promoção de atividades culturais, lúdicas e de aprendizado de tecnologia e também as assistenciais.

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Em parceria com a Central de Orientação ao Trabalho a área também está atenta ao mercado de trabalho para os aposentados e aqueles que estão pensando em aposentadoria e que buscam, nessa fase, realizar novos projetos de vida. Porque quando esses “novos idosos” se mantêm atualizados, sua experiência e maturidade garantirão vantagens importantes para o empreendedorismo, por exemplo. E isso eles podem adquirir através de coaching, palestras e atendimentos individuais oferecidos pela COT. Ainda pensando no amanhã, a oportunidade de fazer a diferença na vida de alguém também é dada aos adultos acima de 60 anos que gostam de trabalho voluntário. O


Núcleo da Maturidade está desenvolvendo um novo formato de voluntariado, no qual haverá a possibilidade de utilizar habilidades e experiências de vida em causas de interesse social ou comunitário. Um bom exemplo de ação para fortalecer o trabalho voluntário realizado pela terceira idade da Congregação foi o curso Conte um Conto, realizado no primeiro semestre deste ano como parte do projeto Diálogos e com incentivo da Lei Rouanet. Conduzido por Maria Elci Spaccaquerche, mestre em Psicologia, o curso teve como objetivo fortalecer a interpretação e significação de contos infantis e dar ferramentas para melhorar da arte de contar histórias. Esse conteúdo foi solicitado pelas voluntárias do projeto Vida-Chai, que visitam creches da periferia da cidade de Campos do Jordão e promovem brincadeiras e contação de histórias. Novos cursos e atividades para o aperfeiçoamento e a valorização pessoal, além do desenvolvimento de habilidades para o trabalho voluntário, estão sendo desenvolvidas pelo departamento de Ação Social através do Núcleo da Maturidade e serão oferecidas para a comunidade já no início do próximo ano. Para manter-se informado sobre as ações do departamento, visite o site da CIP (www.cip.org.br) ou curta a página da CIP no Facebook (www.facebook.com/cipsp).

Mais de 50 pessoas participaram do curso conduzido pela professora Maria Elci Spaccaquerche.

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RABINATO

Empatia contra o fanatismo POR Michel Schlesinger rabino da Congregação

Será que é ético contratar uma pessoa para gerar um filho em meu lugar? Depois de uma enchente ou um terremoto, posso cobrar qualquer preço que as pessoas estejam dispostas a pagar por ítens de primeira necessidade? Posso pagar para alguém servir o exército no meu lugar? Qual deve ser nossa posição sobre casamento de pessoas do mesmo sexo, venda de órgãos, suicídio assistido ou aborto? Esses dilemas éticos foram retirados do livro Justiça, escrito pelo professor Michael Sandel. Responsável por uma das aulas mais concorridas da universidade de Harvard, o docente ensina filosofia universal através de casos concretos sociedade contemporânea. Em um linha semelhante, You be the judge, de Joel Grishaver, é uma obra escrita para estimular o debate entre jovens e adolescentes judeus sobre questões contemporâneas com soluções inspiradas nas fontes judaicas. E se um juiz disser que aceita um testemunho apenas se o judeu retirar sua kipá para não parecer mais idôneo que as demais testemunhas? Será que é permitido mentir quando o dano da verdade for ainda maior? E se soubermos que o colega de classe fez algo errado? Falamos ou não ao professor?

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pria vida e a vida da sua família. Este tipo de questionamento é muito próximo daquilo Ao mesmo tempo consigo me solidarizar com o habitante que nós conhecemos na tradição rabínica clássica. O Talde Gaza que busca viver em segurança em um Estado prómud é um livro que traz dilemas do cotidiano dos rabinos prio e que sofre com o contra-ataque israelense e a ditadura nos primeiros séculos da nossa Era e possíveis soluções de um grupo terrorista. para as diferentes situações. Para cada pergunta, existem Fiquei impressionado com o número de pessoas que sempre diversas respostas possíveis. Quando achamos que assumiu uma posição fanática para um extremo ou outro existirá uma conclusão, o Talmud faz questão de deixar as em relação ao conflito. Nas mídias sociais eram abundanvárias respostas abertas sem uma solução única. E mesmo tes as manifestações que acusavam Israel de genocídio em quando existe um fechamento, o próprio obra se pergunta, um extremo ou declaravam que todos os muçulmanos como no tratado de Eduiót (1:5): “por que as opiniões misão terroristas, na outra ponta. noritárias foram preservadas?”. Justamente durante as crises é que De maneira geral, a maioria dena vida real cada temos nossa capacidade de moderatermina a lei no Talmud. Portanto, o pergunta possui ção testada. É quando nos vemos em livro poderia registrar apenas a resmeio a um conflito que somos desaposta vencedora. No entanto, ele traz diversas respostas fiados a manter alguma lucidez sobre todo o detalhamento das discussões legítimas possíveis. Isso a complexidade do panorama que se e descreve as opiniões vencidas com apresenta. A fuga para uma extremidaa mesma dedicação que descreve os não significa dizer que de do espectro de opções é um mecaposicionamentos vencedores. Por que? não existem certo e nismo que nos traz alguma ordem em “Para que as questões possam ser reerrado, justo e injusto, circunstancias de profunda desordem. pensadas no futuro e uma corte tenha Todos buscamos aquilo que é rotibase para uma decisão diferente”. legítimo e ilegítimo, neiro, conhecido, seguro, familiar. Assim O Talmud reconhece que uma resmoral e imoral. No como uma criança precisa de rotina para posta pode ser ideal para determinado funcionar com tranquilidade e segurança, momento político, social ou econômico, entanto, entre um e nós também buscamos viver, na maior mas circunstâncias novas exigem novas outro existem infinitos parte do tempo, uma vida com um rerespostas. Por isso a obra tem sua grangramento que nos traga equilíbro. diosidade justamente no fato de pretons de cinza. Quando chega o conflito, temos servar as várias possibilidades, mesmo nossa rotina quebrada. Somos lançados para um lugar onde quando não possuíam efeito prático na ocasião da discussão. habita o novo, o desconhecido, o inusitado e o diferente. Tal sistema tem por objetivo, no meu entendimento, nos Como mecanismo de defesa, nos lançamos ao corner das ensinar humildade intelectual. A ideia é aceitar que o fato possibilidades disponíveis para que então tenhamos alguma de uma resposta ser mais apropriada para determinada cirsegurança restituída. Acredito que seja mais fácil se tornar cunstância, não significa que as outras possibilidades sejam um fanático em momentos de crise do que construir um falsas, ruins ou irrelevantes. Cada opinião carrega sua dose posicionamento complexo e sensato. de verdade e, como tal, precisa ser respeitada e preservada. O problema é que a vida está repleta de pequenas e No ano passado, o conflito entre Israel e o Hamas mobigrandes crises. Se adotamos a fuga para o fanatismo como lizou a comunidade judaica mundial. No Brasil, a atitude da mecanismo de defesa estaremos, muito provavelmente, assuchancelaria de convocar o embaixador brasileiro fez com mindo posturas extremistas em diversos aspectos de nossa que a comunidade ficasse ainda mais envolvida na discussão vida. Viveríamos cada vez mais distantes da possibilidade de sobre a crise de Gaza. transitar pela existência com a beleza que somente o equilíParticipei pessoalmente dos momentos iniciais do conflito brio pode proporcionar. durante uma viagem a Israel. Por duas vezes me refugiei em As mesmas pessoas que assumiram posicionamentos radicais abrigos antiaéreos porque a sirene soou em Jerusalém. Pude na crise de 2014 vão se posicionar de maneira fanática nas deperceber de perto o que significa para os israelenses viver mais perguntas dos dilemas judaicos e humanos. com a possibilidade de ter que correr para proteger a pró-

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São pessoas que deslegitimam as opções judaicas religiosas que não passam pela ortodoxia, que acham que o valor de um judeu e o de um não judeu são diferentes, são mulheres e homens que acreditam que devem prevalecer diretos diferentes para indivíduos em função de sua cor, condição social, gênero ou orientação sexual. Em outras palavras: a experiência demonstra que o fanatismo não se expressa apenas em um aspecto específico da vida do homem. Pessoas que não estão equipadas para analisar a vida com toda a sua complexidade farão o mesmo em diferentes áreas de seu dia a dia. Rosh haShaná é um convite para voltar a contemplar o mundo com a beleza da sua complexidade e para reforçarmos o exercício da empatia, nossa capacidade de se colocar no lugar do outro. Quando celebramos a criação do primeiro homem, da primeira mulher e de todas as perguntas decorrentes desta nossa crença, somos despejados em um turbilhão de perguntas que não possuem uma única resposta e exercitamos nosso poder de vislumbrar a vida com toda a sua complexidade. Afinal de contas, o ano começa em Nissan, na festa de Pêssach, como ensina a Torá, ou em Tishrê? Comemoramos 5776 mesmo quando cientistas afirmam que o mundo tem bilhões de anos como base na teoria do Big Bang? Adão e Eva foram criados simultaneamente como ensina o primeiro capítulo de Gênesis ou Eva foi criada a partir da costela de Adão como relata o capítulo seguinte? Se o mundo começou com um único casal, de onde viemos todos nós? O Iom Kipur é considerado o momento de confirmação do julgamento do homem e do mundo e, uma vez mais, somos confrontados por perguntas que não possuem respostas simples. Vivemos em um mundo justo? Cada pessoa possui a vida que merece? Existe relação de nexo entre comportamento e circunstâncias da vida? Onde fica Deus quando existe sofrimento? Por que o ímpio prospera? As Grandes Festas, de alguma maneira, nos convidam a celebrar uma vida que se renova todos os anos com toda a complexidade das perguntas que não possuem uma única resposta possível. Como nos dilemas do livro do professor Sandel, na vida real cada pergunta possui diversas respostas legítimas possíveis. Isso não significa dizer que não existem certo e errado, justo e injusto, legítimo e ilegítimo, moral e imoral. No entanto, entre um e outro existem infinitos tons de cinza. Desejo que saibamos nos inspirar na tradição judaica de debates ricos e complexos. Que possamos vencer nossa inclinação a nos refugiarmos no conforto dos posicionamentos simplificadamente fanáticos. Que Deus nos inspire a enxergar a beleza que existe na complexidade da vida e que saibamos preservar as opiniões minoritárias porque um dia poderão ter um sentido maior. Que sejamos capazes de conviver com questões abertas e saibamos nos colocar no lugar do outro.

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PARALELOS

O que é se colocar no lugar do outro? POR Flávio Gikovate médico-psiquiatra, psicoterapeuta, conferencista e escritor Uma das operações psíquicas mais sofisticadas que aprendemos, lá pelos sete anos, é esta, de tentarmos sair de nós mesmos para imaginar como se sentem as outras pessoas. De repente podemos olhar para a rua num dia de chuva e imaginar – o que, de certa forma, significa sentir – o frio que um outro menino pode passar por estar mal agasalhado. Nossa capacidade de imaginar o que se passa é como uma faca de dois gumes. O engano mais comum – e de graves consequências para as relações interpessoais – não é imaginarmos as sensações de uma outra pessoa, e sim tentarmos prever que tipo de reação ela terá diante de uma certa situação. Costumamos pensar assim: “Eu, no lugar dela, faria desta maneira.” Julgamos correta a atitude da pessoa quando ela age da forma que agiríamos. Achamos inadequada sua conduta sempre que ela for diversa daquela que teríamos. Ou melhor, daquela que pensamos que teríamos, uma vez que muitas vezes fazemos juízos a respeito de situações que jamais vivemos. Quando nos colocamos no lugar de alguém, levamos conosco nosso código de valores. Entramos no corpo do outro com nossa alma. Partimos do princípio que essa operação é possível, uma vez que acreditamos piamente que as almas são idênticas; ou, pelo menos, bastante parecidas. Cada vez que o outro não age de acordo com aquilo que pensávamos fazer no lugar dele, experimentamos uma enorme decepção. Entristecemo-nos mesmo quando tal atitude não tem nada a ver conosco. Vivenciamos exatamente a dor que tentamos a todo o custo evitar, que é a de nos sentirmos solitários neste mundo. Sem nos darmos conta, tendemos a nos tornar autoritários, desejando sempre que o outro se comporte de acordo com nossas convicções. E assim procedemos sempre com o mesmo argumento: “Eu, no lugar dele, agiria assim.” A decepção será maior ainda se o outro agiu de modo inesperado em relação à nossa pessoa. Se nos tratou de uma forma rude, que não seria a nossa reação diante daquela situação, nos sentimos duplamente traídos: pela agressão recebida e pela reação diferente daquela que esperávamos. É sempre o eterno problema de não sabermos conviver com a verdade de que somos diferentes uns dos outros; e, por isso mesmo, solitários. Aqueles que entendem que as diferenças entre as pessoas são maiores do que as que nos ensinaram a ver, desenvolvem uma atitude de real tolerância diante de pontos de vista variados a respeito de quase tudo. Deixam de se sentir pessoalmente ofendidos pelas diferenças de opinião. Podem, finalmente, enxergar o outro com objetividade, como um ser à parte, independente de nós. Ao se colocar no lugar do outro, tentarão penetrar na alma do outro, e não apenas transferir sua alma para o corpo do outro. É o início da verdadeira comunicação entre as pessoas.

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ESPECIAL • Liturgia

Unetane Tokef A origem misteriosa da reza das Grandes Festas

POR Sérgio D. Simon presidente do Museu Judaico de São Paulo O magnífico poema litúrgico (piyut) Unetane Tokef, cantado no serviço de Mussaf das Grandes Festas, sempre me impressionou por sua beleza poética e pela sua temática. Antes mesmo de aprender hebraico, me perdia em seu texto, que descreve, em linguagem exaltada, como é feito o julgamento de cada um e como é selado o nosso destino para o ano vindouro. A tradição dos piyutim, iniciada ainda em Israel por volta do século I e grandemente desenvolvida na Península Ibérica, na Alemanha e na França na Idade Média, serviu para adornar a liturgia judaica original e moldar o serviço religioso como o conhecemos hoje em dia. O Unetane Tokef é considerado uma joia entre os piyutim de nosso povo. Certa vez, estando em Rosh Hashaná na sinagoga conservadora Kesher Israel em Washington, D.C., frequentada por meus tios, deparei-me com o Machzor comentado daquela congregação. Lá conheci a história de Unetane Tokef. Diz a tradição que a reza foi publicada por Rabi Kalonimus ben Meshulam (morto em 1096), de Mainz, que era um dos mais destacados payetanim do século XI. Este piyut era conhecido por uma história popular, cuja menção mais antiga havia sido encontrada no livro Or Zaru’a, do Rabi Itzhak de Viena no Séc. 13. Dizia a história:

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Mainz era um dos três grandes centros do judaísmo centro-europeu, juntamente com Speyer e Worms. Ali vivia Rabi Amnon de Mainz, um rico e erudito rabino judeu de ascendência nobre, que era muito respeitado por judeus e não-judeus em sua época. Vários nobres das cortes da região aconselhavam-se com Rabi Amnon, um homem cuja sabedoria e bom senso eram admirados por todos. Entretanto, Rabi Amnon era constantemente pressionado pelas autoridades locais a converter-se ao cristianismo. O paciente Rabi sempre conseguia convencer os monarcas e autoridades eclesiásticas da época que ele poderia melhor lhes servir se continuasse a professar a fé judaica e pudesse continuar seus estudos. Certa vez, entretanto, após uma sessão particularmente amedrontadora com o arcebispo local, Rabi Amnon solicitou que lhe dessem três dias para pensar sobre sua possível conversão ao cristianismo. Nestes três dias, o sábio quedou-se em sua casa, sem comer e sem beber, chorando de arrependimento porque poderia ter passado a impressão de que titubeara em sua fé e que poderia converter-se. Ao término do prazo solicitado, Rabi Amnon, envergonhado, não compareceu à corte do Arcebispado para dar sua resposta. Imediatamente, soldados dirigiram-se à casa do sábio e prenderam-no. Forçado a considerar-se culpado, Rabi Amnon disse que preferiria morrer a renunciar à fé judaica. Em seguida, o velho homem foi submetido a cruéis torturas físicas, tendo tido suas mãos e pés amputados como castigo. Idoso e muito enfraquecido, não conseguindo mais sair de sua casa, Rabi Amnon pediu para ser levado uma última vez à sinagoga local. Era manhã de Rosh Hashaná e o rabino pediu ao chazan que parasse o serviço antes da Kedushá. Recitou, então, o Unetane Tokef, que ele havia havido composto por inspiração súbita. Tão logo terminou o poema, Rabi Amnon morreu. Três dias mais tarde, apareceu em sonho a Rabi Kalonimus ben Meshulam e ensinou-lhe esta reza, para ser introduzida no serviço de todas as congregações. Li esta história, em versões levemente diferentes, em várias fontes. Meu interesse pelo assunto aumentou quando, buscando mais informações sobre Rabi Amnon de Mainz, descobri que nada existia, na história judaica nem nos escritos da época, sobra a existência de um sábio com este nome. Como poderia um homem desta estatura, um gigante da Torá, sábio e influente, ter composto um piyut tão central ao judaísmo e não deixar nenhum outro rastro na história? Muitos sábios, rabinos, payetanim da mesma época aparecem em diferentes escritos, com ampla documentação sobre suas vidas e obras. Sobre Rabi Amnon, nada. Apenas uma reza. É possível que a história de Rabi Amnon seja totalmente inventada. Martin Bernard, em seu livro Prayers in Judaism, sugere que a lenda de Rabi Amnon tenha se originado em histórias populares de outros mártires da época, alguns inclusive não judeus. Acho esta explicação pouco provável: não me parece do caráter judaico adaptar este tipo de história para nossas tradições. Mas algo muito mais interessante aconteceu: foram encontrados trechos do Unetane Tokef nas camadas mais antigas da Genizá do Cairo, junto com escritos datando de muitos séculos antes desta história de Rabi Amnon. Alguns estudiosos atribuem a Yanai, um paiyetan que viveu em Israel antes do século VII, a autoria do poema. Isto porque ele diz, em sua parte final, “uTeshuvá, uTefilá uTzedaká maavirin et zroa hagzerá”, ou seja, “o Arrependimento, a Oração e a Caridade mudam um destino adverso”. Esta fórmula é encontrada em outros escritos antigos de Israel, especialmente no Genesis Rabá, um texto do clássico do judaísmo provavelmente da época do Talmud Yerushalmi, anterior ao século V.

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De um modo ou de outro, esta reza grandiosa, de origens obscuras, estabeleceu-se como um dos pontos altos do serviço religioso das Grandes Festas. Os judeus ashkenazim a entonam logo após a Amidá e imediatamente antes da Kedushá. Já muitos judeus sefaradim não a introduziram em seus ritos. Os judeus marroquinos, entretanto, a recitam antes do início do serviço de Mussaf. Na tradição polonesa e russa, o Unetane Tokef é recitado nos dois dias de Rosh Hashaná e no Iom Kipur. Os sefaradim que a usam em geral o fazem apenas em Rosh Hashaná. Mas o que diz, afinal, o Unetane Tokef? Em sua primeira parte, exalta a grandeza deste dia, quando a força do Trono do Senhor deve ser louvada, porque Ele é o Árbitro e Juiz Supremo de nosso destino. Em seguida, descreve como se escuta, nos céus, o som do grande shofar e os anjos tremem, declarando: “O Dia do Julgamento chegou!”; em seguida, todos os seres humanos desfilam perante o Senhor como carneirinhos, enquanto o Ele conta o número de suas criaturas, define o seu tempo de vida e inscreve o seu destino num grande livro. “Em Rosh Hashaná é inscrito o nosso Destino, e o mesmo é selado em Iom Kipur”, diz a reza. “Quem viverá e quem morrerá; quem perecerá pelo fogo, quem pela água; quem pela espada, quem pela besta; quem pela fome, quem pela sede, quem pelo terremoto, quem pela praga; quem enforcado, quem apedrejado, quem terá paz e quem será molestado, quem ficará rico e quem ficará pobre, quem subirá e quem descerá”. “ E o Arrependimento, a Oração e a Caridade mudam o destino adverso”, termina a reza. Creio que a lenda de Rabi Amnon de Mainz talvez tenha sido inventada para lembrar o povo judeu sobre a necessidade de se manter a fé sob quaisquer circunstancias. Isso foi importante naquela época, quando se iniciavam as Cruzadas e, com elas, uma enorme perseguição aos judeus da Europa, que eram forçados a se converter. O que nos restou foi a força intensa destas imagens, que nos lembram da importância de repensarmos nossas vidas, nossos atos e todas as suas consequências, a fim de que possamos corrigir o rumo de nossa existência terrena por ocasião das Grandes Festas.

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VALORES E TRADIÇÕES

As quatro faces de Simchát Torá POR Rabino Prof. David Golinkin Presidente do Schechter Institute, em Jerusalém

O povo judeu adora Simchát Torá por ser um momento espiritual delicioso que permite aos judeus se alegrarem e dançarem com corpo e alma. Porém, em um segundo olhar, a festa contém um número de mensagens mais profundas. Amor pela Torá Antes de mais nada, Simchát Torá simboliza nosso amor pela Torá. Não somente nos foi ordenado a estudar a Torá a cada dia e lê-la publicamente no Shabat, às segundas-feiras e às quintas, mas por mais de mil anos tem sido nosso costume dançar com ela uma vez por ano. Pouquíssimos povos no mundo dançam com seus escritos sagrados. O estudo da Torá nos une intelectualmente a ela e sua leitura pública nos une a ela comunitariamente, mas a festa de Simchát Torá nos une à Torá emocionalmente – e este é um laço que não pode ser desfeito. A natureza cíclica do estudo da Torá Simchát Torá simboliza que o estudo da Torá não tem começo nem fim. Como dizemos em nossa reza de Maarív a cada noite: “pois [as palavras da Torá] são as nossas vidas e a duração dos nossos dias; dia e noite nós meditaremos sobre elas”. Na Espanha do século XIV, o rabino David Abudraham explicou: “nós recomeçamos a ler Bereshít [em Simchát Torá]... para que do mesmo modo que tivemos o mérito de terminar de lê-la, que possamos ter o mérito de começá-la novamente”. A natureza democrática do estudo da Torá Também simboliza o fato de que a Torá pertence a todo o povo de Israel, ideia expressa em vários de seus costumes. No século XII, na França, começou-se a ler VeZót haBerachá

tantas vezes fossem necessárias “até que toda a Congregação tivesse tido uma aliá”. Na Alemanha, no século XIV, surgiu o costume da aliá kol hanearim (todos os menores) para que todas as crianças recebessem uma aliá coletiva. Muitas congregações modernas seguiram esta tendência democrática, proporcionando uma aliá a todos na congregação: homens, mulheres e crianças. O desenvolvimento da Lei Judaica A halachá se desenvolveu de geração em geração, de país em país. E não há melhor prova para esta afirmação do que Simchát Torá. Um feriado que só começou a ser comemorado século X, na Babilônia, e que se espalhou por todo o mundo judaico, em que cada grupo contribuiu com novos costumes, os quais foram sendo absorvidos por todo o povo judeu. Os judeus babilônicos inventaram a festa e o seu nome e começaram a dançar em Simchát Torá. Na França, adicionaram os versos Atá Horêita. Os judeus espanhóis iniciaram o costume de recitar de cor o começo de Bereshít, enquanto novamente os franceses instituíram que um Chatán Bereshít deveria ler o começo de Bereshít. Em Ashkenaz, adicionaram uma hacafá à noite, enquanto o Ari haCadosh e seus alunos em Safed decidiram que deveria haver sete hacafót ao redor da bimá. Em resumo, Simchát Torá não é apenas um feriado de dança e alegria, mas também é símbolo do nosso amor pela Torá, da natureza cíclica do estudo da Torá, da natureza democrática de seu estudo, e do desenvolvimento da Lei Judaica através das gerações. Tradução: Theo Hotz

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JUVENTUDE • Iad beIad

Viagem à essência judaica POR André Wajnberg sheliach Lech lechá. Quando lemos a passagem da Torá na qual D’us diz ao primeiro judeu, Abraão: “Vai de tua terra, de tua parentela e da casa de teu pai para a Terra que te mostrarei.” A Torá não nos conta de uma jornada somente física. “Lech lechá” quer dizer “Vá a ti mesmo”. Vá à procura de tua essência e, através desta jornada, conheça esta essência, estude, fortaleça e, inclusive, mude, se for necessário. A viagem a Israel do Iad beIad da Juventude da CIP é um Lech lechá. Não propomos uma viagem que é a passagem de um lugar para o outro fisicamente e com objetivos simplesmente turísticos. Queremos que nossos jovens de 15 a 17 anos conheçam, sim, Israel e sua história antiga e mais recente, e aprendam sobre realidade do Estado de Israel através do encontro com a sociedade israelense e seus desafios. O diferencial do projeto é que estas visitas e encontros servem de instrumento não só para aumentar o conhecimento dos jovens, mas também a percepção de que o judaísmo e a realidade do Estado de Israel estão ligados aos desafios existentes em suas vidas. Portanto, são partes integrais de suas identidades. Durante a estadia em Israel, além de visitas a sítios tradicionais como Jerusalém, Tel Aviv, Eilat e Galileia, o grupo tem a oportunidade de realizar três dias de ativismo ecológico e social. Os jovens passarão um final de semana em residên-

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cias de jovens israelenses da mesma idade e ficarão por três dias no Kibutz Lottan, que junta judaísmo, ecologia e vida em comunidade. A viagem inclui também uma visita a Haifa para que o grupo conheça as diferentes religiões que existem em Israel. Tudo isso sem contar a interação social entre os jovens e as aventuras na natureza que também são partes importantes da viagem. É uma jornada vibrante para o crescimento grupal e pessoal. O Iad beIad é uma das bases que sustentam o projeto de educação judaica da CIP. Junto com o curso Manhigut de formação de madrichim e com o trabalho realizado dentro de nossos movimentos juvenis, a viagem a Israel busca que o jovem tenha uma visão mais ampla e critica sobre o judaísmo e, consequentemente, realize ações coerentes no trabalho voluntário como madrich e madrichá. Para tanto, em 2015 o grupo será acompanhado pelo rabino Michel Schlesinger, pelos madrichim de nossos movimentos juvenis, Jo Kestelman e Gui Pasmanik, e por mim. Termino convidando você a realizar um investimento certo: quem passa pela experiência do Iad beIad guardará e transmitirá para sempre o que viver e aprender durante o projeto. Entre em contato com o Departamento de Juventude e saiba como ajudar um de nossos jovens.


Iad beIad

Israel espera por você Você que deseja fortalecer sua identidade judaica para se tornar um futuro líder comunitário, aproveite a oportunidade de conhecer mais sobre Israel e nossa história na companhia do rabino Michel Schlesinger, do sheliach André Wajnberg e de dois madrichim da CIP.

Faça parte do programa De 23.12.2015 a 12.01.2016

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PAR A JOVE DE 1 NS 5A ANO 17 S

Preços especiais com tudo incluso: transporte, alimentação completa, passeios e acomodação. 33 Informações: juventude@cip.org.br. (11) 2808.6214


JUVENTUDE • Shnat

Da rua Antonio Carlos até Israel POR Luciana Becker Haikewitsch e Rodrigo Berezovsky madrichim da CIP e participantes do Shnat 2015

Para quem não sabe, esse ano nós e outros doze jovens (entre 18 e 19 anos) estamos passando por um programa chamado Shnat Hachshará. São dez meses em Israel representando nossas tnuót (movimentos juvenis) – Avanhandava, Chazit Hanoar e Colônia da CIP Fritz Pinkuss – nos capacitando e pensando em nosso crescimento pessoal e comunitário. Resumir tudo que fizemos até agora neste ano de Shnat não é fácil. Conviver quatro meses com jovens de toda a América Latina em um instituto só de formação de madrichim; acompanhar seminários, aulas, capacitações e atividades de sionismo, língua hebraica, judaísmo, educação, liderança e diversos outros temas; acionar nossa militância em um mês e meio de voluntariado; fazer passeios, visitas e viagens por todos os lugares de Israel e ter a oportunidade de conhecer os mais diversos aspectos dessa complexa sociedade; ter a chance de sair da zona de conforto, da casa de nossos pais com todos os mimos, para cair em uma vida de independência e em um momento de estabelecer relações intensas com pessoas de muitos lugares e também entre nós, os jovens membros dos movimentos juvenis da CIP, neste intenso programa. Mesmo assim, há muito mais por vir. Acabamos de encerrar o período de trabalho voluntário em três cidades diferentes - Haifa, Carmiel e Modiin – sendo que os primeiros dois trabalhos foram no geral sociais e o terceiro em uma fazenda (e centro educativo) 100% ecológica e vegana. Começamos mais uma fase de aprendizado em Kiriat Yam, onde temos aulas de hebraico e participamos de grupos de discussão sobre temas relevantes e de nosso interesse. Depois encerraremos o ano com dois meses em um kibutz chamado Revivim no meio do deserto do Negev. Um diferencial da kvutzá (grupo) desse ano é a quantidade equitativa de representantes das três tnuót, o que nos faz ter como um dos focos principais a união da nossa Juventude. Acreditamos que é de extrema importância a integração, comunicação e troca de experiências entre os membros dos nossos movimentos. Esse ano de Shnat passa muito rápido. Em breve, entre dezembro e janeiro, estaremos de volta às nossas casas e à nossa comunidade. Aprendemos muito e ainda queremos ter muitas mais experiências relevantes para nossa formação, pois, na volta, o trabalho será árduo. Grande parte da responsabilidade pelas tnuót será nossa, assumiremos cargos de liderança e continuaremos educando chanichim e futuros membros ativos da comunidade. Levaremos adiante novos e antigos projetos e seguiremos com o processo de dar voz aos nossos jovens dentro da CIP.

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Shaná Tová 5776

Cartões de Rosh Hashaná enviados da Europa para familiares no Brasil (décadas de 1920 /1930). Acervo do Museu Judaico de São Paulo.

Se voce tiver objetos de sua família para doar para o nosso acervo, entre em contato: administrativo@museujudaicosp.org.br 11 3258-1396. 35


ESPECIAL • Nova Bimá

Proximidade e transparência POR Andréia Hotz editora da Revista

Sergio Fahrer, considerado um dos mais expressivos nomes do design contemporâneo brasileiro e responsável pela criação da nova bimá da sinagoga Etz Chaim, conta como foi a construção da peça, que levou quase um ano para ficar pronta. Revista Diálogos Como foi receber a solicitação de criar uma nova bimá para a sinagoga da CIP? Sergio Fahrer Antes de mais nada preciso dizer que sou frequentador e admirador da CIP. Meus filhos fizeram Bar e Bat-mitsvá na entidade e a família toda tem uma admiração muito grande pela Congregação. Já havia uma afinidade por eu frequentar as atividades e eventos da CIP e por acreditar na sua postura e na sua dinâmica em relação ao judaísmo. Como sou designer há muitos anos e tenho trabalhos realizados no Brasil e no exterior, fui convidado para fazer parte do desafio de criar uma bimá que tivesse um grande diferencial e que pudesse, como ponto mais importante, aproximar as pessoas da reza.

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RD • Como os profissionais e voluntários da CIP participaram do projeto? SF • Todos participaram de uma forma muito positiva e muito ativa. Desde o primeiro encontro, que contou com a participação do presidente da CIP, Sergio Kulikovsky, dos rabinos Michel Schlesinger e Ruben Sternschein, do diretor de Culto, Mario Bohm, e dos chazanim Alê Edelstein e Avi Bursztein. O Avi foi um dos que mais se envolveram com todo o processo. Ele foi muito importante, sempre bastante interessado em todas as etapas da criação da peça. É importante dizer que a bimá não foi feita apenas pelo designer. Essa interlocução entre o que a CIP pretendia e o trabalho do artista foi muito importante. Não posso dizer que esse trabalho é apenas meu, ele é principalmente desse coletivo. A opinião de todos foi muito importante. RD • Por que a bimá foi construída em acrílico? SF • Apresentei inicialmente duas propostas: a primeira era de a peça ser completamente transparente para que não tivesse nenhuma barreira entre quem está assistindo o serviço religioso e os rabinos, chazanim e o baal corê; e a segunda trazia a bimá como ponto forte de integração com o espaço da sinagoga, com uma cor muito parecida com a cor do piso. Ficamos com a primeira proposta. A transparência, inclusive, foi apontada como um importante reflexo desta nova fase da CIP, que tem como ponto principal uma relação mais direta entre a Congregação e o associado e frequentador. Decidido o material da bimá e definida a importância da transparência, percebi que seria interessante dar a ela mais um significado. Apresentei então uma releitura da escultura que está no hall de entrada – criada pela artista Anita Kaufman – como a ilustração para a frente da peça. Foi assim que decidimos, juntos, a aparência da bimá e seus significados. RD • Como foi o processo de construção? SF • Curvar a madeira é a característica principal do meu trabalho como designer. Aqui no Brasil somos, meu irmão e eu, a referência mais importante no trabalho com a madeira curvada. É uma técnica que desenvolvi na década de 1990 e que utiliza mantas de tecido e colas bicomponentes para dobrar a madeira, o que garante uma resistência muito grande para a peça. Tecnologia de materiais, então, é algo que eu gosto muito, sobre o qual pesquiso bastante. E, apesar de nem todo

mundo saber, o acrílico é um material muito maleável e prático: ele consegue ser curvado e, se acontecer de aparecer algum risco, ele sai com polimento – o que dá uma excelente durabilidade às peças. É também resistente e, por mais incrível que possa parecer, ecologicamente correto quando é do tipo reciclado – como é o caso da bimá da CIP. O modelo de construção da peça também é inteligente. A nossa bimá foi feita em camadas - tampo inclinado, tampo inferior, duas laterais e a frente – e utilizando parafusos, não cola. Vamos imaginar que um dia ela caia e a lateral quebre. Nesse caso seria preciso trocar apenas a lateral, o que levaria cerca de dez minutos. Procuramos reunir o que tivesse de mais cuidadoso em relação à execução do projeto. O desenho da frente da peça, por exemplo, foi feito a laser a partir de uma técnica limpa que não oferece riscos para o operador da máquina. É o que existe de mais moderno nesse tipo de trabalho. Pensamos também no manuseio da peça. Nos preocupamos bastante com a altura do encaixe das mãos para que não fosse necessário fazer força para movê-la. Tive a preocupação de que todas as etapas da construção fossem absolutamente limpas, transparentes, sem resíduos e ecologicamente corretas. Somamos todo o significado espiritual e quase poético da bimá com uma construção que utiliza a mais moderna tecnologia. RD • A definição do projeto e sua execução duraram quanto tempo? SF • Meu processo de criação levou, aproximadamente, 90 dias. Fiz uns dez desenhos à mão livre até chegar naquele que seria interessante apresentar. Levamos cerca de dois meses para executar o projeto, e depois mais dois meses para construir a peça. Da ideia inicial à entrega da bimá, o processo levou de oito a nove meses. RD • Qual etapa foi a mais complicada? SF • Tudo fluiu com muita naturalidade. Troco muito com a minha equipe de design e as soluções acabaram surgindo. Tenho 20 anos de experiência na área e passei por tantos materiais, aprendi e experimentei tanta coisa, que acabei criando um repertório interessante de soluções técnicas – o que ajuda muito na hora de criar. De maneira geral, a execução do projeto foi feliz em todos os sentidos. O mais desafiador foi traduzir todas as ideias e informações, foi levar em consideração todos os aspectos da bimá.

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RD • Como designer, qual foi o momento mais importante do projeto? SF • O ponto alto foi quando imaginei a transparência da peça e decidi inclinar o tampo onde fica o rolo da Torá para que as pessoas que estivessem sentadas acompanhando o serviço religioso pudessem, de alguma forma, acompanhar a leitura através da transparência. E como o pergaminho também é relativamente transparente, é possível enxergar as letras da Torá quando a luz incide sobre ela. O somar a transparência da bimá à inclinação do tampo para fazer com que todos na sinagoga, não apenas aqueles que subiram para fazer uma aliá, se sintam parte do serviço religioso, me deixa muito orgulhoso e feliz. RD • Participar da construção da nova bimá da CIP trouxe algo para você? SF • Ainda estou muito emocionado com essa oportunidade. Minha família e eu fomos convidados para o primeiro serviço de Shacharít de Shabat depois da entrega da peça. Subimos para acompanhar a leitura da Torá e o rabino Ruben, que estava conduzindo o serviço, disse que, para a CIP, eu e meu trabalho temos a mesma importância de um artista bastante conhecido na tradição judaica por criar móveis e objetos para sinagogas. Fiquei imensamente emocionado. Chorei, meu pai chorou. A gente não imaginava ouvir algo tão bonito. Sinto-me honrado por ter sido o ar tista que interpretou os significados da bimá e as necessidades da CIP, e por ter a chance de contribuir com a comunidade. É, com cer teza, uma das coisas mais bonitas que aconteceram na minha vida, isso de poder devolver através do meu trabalho. A Congregação pode contar comigo sempre que precisar de qualquer trabalho na minha área de atuação. Se puder devolver algo para a entidade que já fez tanto por mim e por meus filhos, que cresceram aqui, farei com alegria e de coração.

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C•O•T

sua conexão

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de trabalho

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Escola Lafer

Os Ieladim e os livros POR Andrea Kulikovsky diretora de Ensino da CIP Somos conhecidos como “o povo do livro”. É famosa e histórica a preocupação dos judeus com a erudição e com a educação formal das crianças. É importante para nós enumerarmos os judeus famosos por suas conquistas: 22% dos ganhadores do prêmio Nobel, 38% dos Oscar, 20% dos Pullitzer, e por aí em diante. Nos dedicamos à leitura de todos os livros da Torá ao longo do ano, o que necessita muita dedicação e estudo. O rabino Abraham I. Heschel, um dos mais importantes pensadores judaicos do século XX, escreveu: “Não podemos nos aproximar do espírito (ruach) sem devolver o respeito às palavras, à santidade das palavras; e o mistério que tem nelas, a essência das palavras, é a essência da tefilá”. A CIP busca desenvolver espaços nos quais as crianças possam expressar seu judaísmo de sua própria maneira, proporcionando, assim, um jeito alegre e divertido deles virem para a sinagoga e participarem dos serviços religiosos. Tudo começou com os serviços infantis de Rosh haShaná e Iom Kipur, cresceu com o Shabat Ieladim, e hoje se estende no curso Ktanim da Escola Lafer, que objetiva a educação judaica de crianças de 4 a 10 anos. Nesse processo de envolver as crianças no ambiente judaico, utilizando sempre uma linguagem específica e adequada para o envolvimento delas no judaísmo, percebemos a carência de uma liturgia específica para sua faixa etária, compatível com o judaísmo liberal adotado pela CIP. Para as crianças, um livro de rezas que fale com elas materializa o espelho de suas almas e permite solidificar os sentimentos plantados em nossos serviços infantis.

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Com carinho, dedicação e muito trabalho, a Escola Lafer iniciou um novo projeto que tornará os serviços religiosos infantis ainda mais convidativos para os pequenos participantes. Começaremos com o sidur de Cabalat Shabat, que, colorido, com linguagem adequada, e rezas em hebraico com transliteração e tradução lúdica, trabalha no sentido de melhorar a compreensão das crianças. As famílias poderão também utilizar os sidurim infantis em casa, envolvendo ainda mais os pequenos em todo o processo de comemoração do Shabat. Os próximos livros serão a Hagadá de Pêssach e o Machzor de Grandes Festas. Temos certeza do extremo valor que este projeto terá para a comunidade judaica.Tanto em termos religiosos como educativos. Acreditamos que investir em uma liturgia específica para este público, que é tão valioso para todos nós, representa apoiar o futuro de nossa comunidade. E entendemos que a prática judaica, baseada no estudo, é o que nos torna pessoas melhores para o mundo, como mencionado no Talmud: “Grande é o estudo que leva à prática” (Kidushim, 40b). Para garantir o sucesso de nossa empreitada, vamos precisar da ajuda e apoio de todos os membros de nossa congregação. Nossa intenção é envolver todas as pessoas e sensibilizá-las sobre o que representa colocar cada um destes novos livros nas estantes de nossos pequenos. Junte-se a nós. Entre em contato com a Escola Lafer e saiba como ajudar: escolalafer@cip.org.br.

Ilustração de Daniel Araujo para o sidur de Cabalat Shabat da Escola Lafer.

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GIRO

Descoberta arqueológica

Foi encontrado recentemente em Jerusalém durante a construção de uma creche um antigo espaço para banho ritual (micvê) com inscrições e imagens. A Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA) informou que a descoberta arqueológica data da época do Segundo Templo e que as inscrições em lama, fuligem e com trechos em aramaico e em hebraico cursivo - são características do período. Entre os símbolos encontrados há um barco, palmeiras, várias espécies de plantas e o que alguns acreditam ser uma menorá. Diretores de escavação disseram que esta é uma descoberta muito significativa, rara e única pelo estado de conservação. Uma vez que as pinturas são tão sensíveis que a simples exposição ao ar provoca sérios danos, foram tomadas complexas medidas de conservação no local até que as ilustrações possam ser transferidas para posterior tratamento de estabilização.

360 GRAUS POR Guita Feldman

Crianças mais saudáveis O programa israelense Efsharibari (Saudável é possível) ajuda crianças da pré-escola a adquirir hábitos mais saudáveis tanto no que diz respeito à alimentação como sobre a prática de exercícios. O objetivo para 2015 é ampliar a atuação para alcançar todas as pré-escolas de Israel. Irit Livne, supervisor de saúde escolar do Ministério da Educação israelense, enfatizou que o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis e da prática de atividade física ajuda as crianças a adotar esses hábitos incorporá-los à sua rotina durante toda a vida. Uma das características do programa é não excluir completamente e de forma drástica o consumo de açúcar do dia a dia das crianças. Segundo 42

ele, deve haver um equilíbrio entre a quantidade de doces e de alimentos mais saudáveis, o que ajuda as crianças a tomarem decisões mais conscientes sobre a escolha diária por alimentos mais benéficos. Atualmente mais de um quarto das crianças em Israel está acima do peso, o que afeta tanto a saúde delas quanto suas interações sociais.


Você Rapidez A cidade de Jersey City, em Nova Jérsei, começará a treinar voluntários para a formação do primeiro programa para diminuir o tempo de resposta em emergências médicas. O prefeito, Steve Fulop, anunciou parceria do município com o Jersey City Medical Center, que utiliza tecnologia baseada na United Hatzalah, um programa israelense de cuidados de emergência que já está em funcionamento em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil. O software reduz o tempo de espera para atendimento da ambulância de seis minutos para três, tempo que pode ser essencial para melhorar os resultados do paciente.

Air France Passageiros de voos da Air France entraram em contato com a organização pró-Israel StandWithUs para reclamar que o roteiro de rastreamento de vôo em aviões da companhia aérea não definem Israel como “Israel” nem como “Tel Aviv”, apesar de Tel Aviv ser um de seus destinos oficiais. Logo após a organização lançar uma campanha convidando os passageiros a escrever para a Air France sobre a situação, a companhia se pronunciou dizendo que “lamenta profundamente”, pedindo desculpas pelo incidente que diz ser devido a um problema de escala do mapa e informando que a exibição seria resolvida. O Simon Wiesenthal Center, organização internacional de direitos humanos com sede em Los Angeles e cujo principal enfoque temático é a questão do Holocausto, rejeitou, por sua vez, o pedido de desculpas, classificando-o como “fraco e totalmente inadequado.”

?

sabia ... POR Theo Hotz coordenador do Depto. de Culto e baal corê

Você sabia que Sheminí Atséret faz e não faz parte de Sucót? Sobre Pêssach, a Torá diz que o chag durará 7 dias, sendo proibido trabalhar no 1º e no 7º dia; sobre Shavuót, ela explica que a duração será de 1 dia em que não se pode trabalhar; já Sucót é uma festa de 7 dias, sendo apenas o 1º um dia solene, sem trabalho (Nm 29:12). Em seguida, lemos: “O 8º dia (iom haSheminí) será atséret (parada) para vocês, e não trabalharão” (Nm 29:35). O 8º dia é contado a partir de Sucót, embora Sucót devesse ter apenas 7 dias. Assim, Sheminí Atséret não faz parte de Sucót, porém, como durante o chag não se pode desmontar a sucá, ela continua em pé durante este 8º dia, fazendo com que este chag pareça parte da festa das cabanas. Segundo nossos sábios, esta data deve ser comemorada como um dia adicional de Sucót, como se o próprio Deus, após a intensidade das Grandes Festas, pedisse para que ficássemos mais um dia em Sua presença. No século X, Simchát Torá passou a ser festejada em Sheminí Atséret (na terra de Israel), resignificando a data. Como na diáspora o iom tov é duplicado, Simchát Torá é o dia seguinte a Sheminí Atséret, e esta festa passou a ser lembrada como “dia de izcór”, mas é também nesta data que começamos a pedir chuva para a terra de Israel em nossa liturgia.

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CULTO

SERVIÇOS RELIGIOSOS DA CIP MANHÃ de segunda a sexta-feira, às 8h aos sábados às 9h30 aos domingos e feriados, às 8h30 NOITE de domingo a sexta-feira, às 18h45 aos sábados às 17h30 nos dias 19 e 26/set e 3, 10 e 17/out; e às 18h45 nos dias 24 e 31/out SHABAT ÀS SEXTAS: Cabalat Shabat e Arvit com prédica, às 18h45, na Sinagoga Etz Chaim Shabat Ieladim, às 18h45, para crianças Cabalat Shabat com prédica, às 18h45, na sede do Lar das Crianças da CIP nos dias 18/set e 2 e 16/out AOS SÁBADOS: Shacharit, às 9h30, com leitura da Torá e prédica na sinagoga Etz Chaim Shacharit Neshamá, às 9h30, participativo e igualitário na Sinagoga Pequena com leitura e estudo da Torá

SETEMBRO

LEITURA DA TORÁ 5 Ki Tavô (Selichót para os ashkenazim) 12 Nitsavím 19 Vaiêlech (Shabat Shuvá) 26 Haazínu

OUTUBRO

3 Leitura de Sucót (Chol haMoêd IV) 10 Bereshit (Shabat Mevarchím) 17 Nôach 24 Lech Lechá 31 Vaierá

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Chevra Kadisha A CIP está pronta para ajudar as famílias neste momento tão doloroso da perda de um ente querido, cuidando de todas as providências e detalhes burocráticos e religiosos. Plantão permanente: entre em contato com Sérgio Cernea pelo tel/fax 3083.0005, cel. 99204.2668, ou email: chevra@cip.org.br.

FALECIMENTOS Eva Klinger em 27/jun aos 86 anos Eva Manuel Bartenstein Gelman em 28/jun aos 63 anos Sullamita Gorenzvaig em 29/jun aos 80 anos Isa Kauffmann Schneider em 17/jul aos 84 anos Leije Kripka em 19/jul aos 93 anos Daniela Joana Katzenstein em 20/jul aos 68 anos Miriam Nelly Mezan em 25/jul aos 91 anos Rosely Faiguenboim Lembo em 26/jul aos 66 anos Bella Leichter em 27/jul aos 95 anos Ester Malke K. Rozenfeld em 2/ago aos 61 anos Trude Hahn em 6/ago aos 102 anos Gert Mandel 9/ago aos 85 anos David Duek em 24/ago aos 84 anos


MAZAL TOV SIMCHÁT BAT Celina Chapper Levy Bruna Leão Ruth e Juliana Tichauer Gabriela Schilis Viotti Júlia Hamaoui Zausner BAT-MITSVÁ Gabriela e Mariana Boscoli Rosset Luiza Gotlieb

BAR-MITSVÁ Pedro Gontow Nicolas Levi Dutra Daniel Zwirn Bruno Rosenblit Ariel e Michel Sadetsky David Nusbaum

CASAMENTO Stephanie Habib e Fernando Ring Juliana Bondarczuk e Jairo Mandelbaum Adalgisa M. de Oliveira Gontard e Didier Gontard BODAS DE OURO Sonia e Jayme Marmelsztejn

ANIVERSÁRIO BAR-MITSVÁ Guilherme Sandri de Oliveira Polmon Bruno Barbosa Bogochvol Eduardo Adamski Thomas Rothschild Michel Delfim Franco Weinschenker Ernesto Mifano Hönigsberg Yacov Kilsztajn Alexandre Krausz

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JUDAÍSMO

Pergunte ao

RABINO PELO Depto. de Culto da Congregação

PERGUNTA • Qual a diferença entre Arvít e Maarív? E entre parashá e sidrá? RESPOSTA • Arvít e Maarív são dois nomes diferentes para o mesmo serviço religioso: arvít significa “(reza) noturna” e seu nome é usado em paralelo ao serviço da manhã, chamado shacharít, a “(reza) matutina”. Já o nome maarív vem da primeira bênção que abre o serviço religioso: barúch Atá... haMaarív aravím (bendito é Você que faz cair a noite). Em geral, sefaradím dizem maarív, enquanto ashkenazím dizem arvít. Ashkenazím do centro da Europa, no entanto, costumavam dizer maarív, daí os vários sidurím da CIP se referirem ao serviço noturno desta maneira. Entre os termos parashá e sidrá há uma diferença: o primeiro é um termo genérico que se refere a qualquer trecho retirado da Torá, independentemente de seu tamanho; já sidrá se refere ao trecho determinado lido semanalmente nas sinagogas e que seguem a ordem (sêder) do texto (desde Bereshít até VeZót haBrachá). Como nem toda parashá é uma sidrá, mas toda sidrá é uma parashá, ashkenazím passaram a utilizar o termo parashá também para designar o trecho semanal da Torá, enquanto sefaradím geralmente utilizam o termo sidrá. (pergunta enviada originalmente em 18 de junho de 2015)

Tire suas dúvidas. Entre em contato através do site da CIP (www.cip.org.br/pergunteaorabino) ou do email judaismo@cip.org.br. 46

Produtos

judaicos

Visite a CIP e confira as ótimas sugestões de presente para as mais variadas ocasiões: Brit Milá, Simchát Bat, Bar e Bat-mitsvá, casamento, feriados judaicos e muito mais. Para informações sobre os horários de atendimento e os produtos oferecidos, entre em contato: produtosjudaicos@cip.org.br.

Shofar


Escola Lafer Matrículas abertas para jovens que farão Bar e Bat-mitsvá em 2017 Preparação para Bar e Bat-mitsvá: • Hebraico, Tefilá, Tanach, Ciclo da Vida Judaica TOLERÂNCIA

• Festas, História, vivências práticas das tradições • Aulas abertas para pais e filhos com os rabinos da CIP

M IZ ND RE

TSEDACÁ

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EIT

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dinâmicas e relevantes para

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Vivência comunitária, aulas

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com os pais

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os nossos dias, desenvolvidas por uma equipe multidisciplinar.

Duração: • alunos de escolas judaicas: 1 ano • alunos de escolas não judaicas: 2 anos

Informações e matrículas: escolalafer@cip.org.br • 2808.6219

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