77ª Edição Nacional – Jornal Chico da Boleia

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Ano 07 - Edição 77

Mercedes-Benz inaugura Campo de Provas no Brasil Com tecnologia de ponta, 16 pistas para vários tipos de testes e 12 km de extensão, novidade permite que a Empresa simule estradas do Brasil e de qualquer país do mundo. Pág. 04 Intervenção só se for educacional, diz caminhoneiro grevista de São Paulo Moisés Oliveira, um dos líderes do grupo de caminhoneiros que está paralisado na rodovia Régis Bittencourt, diz não concordar com a intervenção militar. Pág. 08 Para economista, nova política de preços da Petrobras afeta o planejamento do TRC Prof. Dr. Eduardo Costa Pinto analisou que a medida da atual gestão da empresa tem alterado constantemente o preço dos combustíveis. Pág. 10


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EDITORIAL não teve uma pauta específica, uma liderança única ou ações de primeiro, segundo ou terceiro grau. Ou seja, quando você pega uma pessoa de “saco cheio”, a primeira coisa que ela vai fazer é aderir ao movimento. Ela não tem frete adequado, ela vive passando por transtornos nas estradas, os pedágios têm um preço absurdo, dentre outros problemas.

A greve que parou o país

C

ompanheiros e companheiras, a greve dos caminhoneiros autônomos está mexendo com o cenário nacional. A primeira questão que se tem colocado sobre o movimento é com relação à legitimidade do direito de greve dessa categoria. Nós do Chico da Boleia apoiamos essa mobilização porque a greve dos caminhoneiros ou de qualquer outra categoria é um direito legítimo da classe trabalhadora. Porém, gostaríamos de frisar alguns pontos sensíveis. No nosso caso, os caminhoneiros autônomos, não temos organização sindical, nem lideranças. Tanto isso é verdade, que chega meia dúzia de pessoas perante o governo, se apregoando líderes da categoria, assinando um acordo como se fosse um papel de pão, e a categoria não aceita. Até agora foram duas tentativas nas quais o governo sentou com essas lideranças para tentar um acordo e a categoria rechaçou. Ao que tudo indica, mais uma vez, a greve

A greve, no entanto, é uma questão séria. É um movimento que deve ser levado à sério e os caminhoneiros tem que ter consciência do que estão demandando. Nesse momento, portanto, temos um impasse. As “pseudo” lideranças se reuniram para assinar um acordo e acabar com a greve. No entanto, os caminhoneiros se recusam a reconhecer e legitimar o documento e não se desmobilizam. Então, eu pergunto: quando essa greve vai acabar? Ao que tudo indica, estamos numa encruzilhada. Porque, de repente, começam a ser juntar aos caminhoneiros autônomos outras categoriais laborais e isso pode tomar um “caminho sem volta”. E um caminho sem volta sem organização é a mesma coisa que uma manada pela rua sem controle! De qualquer forma, a mobilização dos caminhoneiros expressa reivindicações legítimas da categoria, visto que os companheiros e companheiras da estrada não aguentam mais sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis e condições precárias de trabalho.

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CHICO DA BOLEIA Nesta edição, portanto, trazemos discussões que interessem aos grevistas. Realizamos uma importante entrevista com o Prof. Dr. Eduardo Costa Pinto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro que nos alerta sobre o real problema do aumento do preço dos combustíveis: a nova política de preços da Petrobras. Também entrevistamos caminhoneiros e preparamos uma reportagem principal comentando os principais acontecimentos que envolveram a greve da categoria, desde o início da paralisação, em 21 de maio. Além disso, os companheiros do trecho precisam ficar bem informados sobre esses pedidos de intervenção militar. Uma possível medida nesse sentido pode significar a desmobilização do movimento e pode acabar resultando num “tiro pela culatra”. Por isso, apresentamos duas matérias que discutem o tema. Companheiros e companheiras das estradas, agradecemos a todos que nos dão uma audiência maravilhosa seja lendo nossos jornais, acessando nosso site ou nos acompanhando pelas redes sociais. Também agradecemos aos nossos patrocinadores que acreditam que, mais que publicidade, o importante é informar com precisão. Boa leitura, Chico da Boleia Orgulho de ser caminhoneiro

EXPEDIENTE ANO 07 - MAIO - EDIÇÃO 77

TIRAGEM: 50.000 exemplares Nacional DIRETORA-PRESIDENTE: Wanda Jacheta EDITOR-CHEFE: Chico da Boleia chicodaboleia@chicodaboleia.com.br COORDENAÇÃO E REVISÃO: Larissa J. Riberti imprensa@chicodaboleia.com.br DIAGRAMAÇÃO E ARTE: Pamela Souza marketing@chicodaboleia.com.br FOTÓGRAFOS: Matheus Augusto de Moraes Murilo de Abreu PUBLICIDADE: marketing@chicodaboleia.com.br

ATENDIMENTO E CORRESPONDÊNCIA: Av. dos Italianos, 2300 Sala 08 Prados, Itapira – SP – CEP: 13970-080 Fone: (19) 3843-5778 É proibida a reprodução total ou parcial de matérias sem prévia autorização.


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Copa Truck: Roberval supera problemas e vence as duas em Interlagos Piloto da Scania pouco andou nos treinos de sexta e sábado, para enfim comemorar no domingo

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FONTE: Copa Truck | FOTO: Duda Bairros

oberval Andrade tem motivos de sobra para comemorar nesse final de semana. O piloto da Scania enfrentou problemas nos treinos de sexta, praticamente não participou da classificação no sábado mas se recuperou plenamente no domingo (27) e dominou as duas provas da Copa Truck, em Interlagos. André Marques em segundo e Luciano Burti completaram os três primeiros na prova um. Na segunda, Burti terminou em segundo e André em terceiro. Com os resultados, o dono do truck #15 lidera a Copa Sudeste, a segunda copa regional da temporada 2018. “As duas primeiras vitórias do ano justamente em Interlagos e largando do final do grid, o que é bem complicado. Aqui é onde me sinto em casa, com minha família perto, por isso esse resultado de hoje é como um presente. Precisa cair a ficha ainda e vou curtir muito esse momento”, comemorou Roberval. Já classificado para a Grande Final, que acontecerá em Curitiba em dezembro, André Marques confirmou a boa temporada que vem fazendo com dois pódios na Capital Paulista. “O saldo do final de semana foi positivo. Ficamos tristes pela quebra do Cirino, mas vamos para a luta. Vamos continuar a buscar um resultado melhor na próxima corrida, que será a vitória”, vibrou o dono do Mercedes #77, lamentando a quebra do caminhão de seu companheiro de equipe Wellington Cirino. O estreante Luciano Burti driblou as dificuldades da primeira etapa e agora ocupa o terceiro posto na Copa Sudeste. “A pri-

meira corrida foi mais difícil, porque tinha muito óleo na pista. Na segunda não, a pista estava mais limpa, e eu comecei a forçar. Nas vezes em que fui lá fora era tudo controlado, estava sempre tentando carregar a velocidade e foi muito legal”, explicou. “Óbvio (que dá vontade de correr em Curvelo). A gente sempre gosta de disputa mas o caminhão é do Felipe, vou devolver para ele intacto, inteiro, e isso é o que importa”, comemorou o estreante. A categoria dos pesados volta à pista para a etapa de Curvelo (MG), no próximo dia 10 de junho. Veja como terminaram as provas em Interlagos: CLASSIFICAÇÃO DA COPA SUDESTE: 1) Roberval Andrade – 40 2) André Marques – 34 3) Luciano Burti – 34 4) Fábio Fogaça – 27 5) Renato Martins – 27 6) Witold Ramasauskas – 24 7) Rogério Castro – 22 8) Rodrigo Belinati – 17 9) Alex Fabiano GG – 17 10) Adalberto Jardim – 12 11) Débora Rodrigues – 11 12) Alan Chanoski – 0 13) Wellington Cirino – 0 14) Beto Monteiro – 0 15) Djalma Fogaça – 0 16) Danilo Dirani – 0

chicodaboleia@chicodaboleia.com.br FACEBOOK: facebook.com/chicodaboleia

PERGUNTA Hermínio Correia: Afinal, pode ou não usar farol de xênon em caminhão? Chico da Boleia: O farol e xênon é, atualmente, proibido no trânsito brasileiro, mas com duas exceções: - Se o caminhão veio com o farol xênon de fábrica você não terá problemas com a lei; - Ou, se o motorista regularizou o caminhão com farol de xênon antes da lei de proibição entrar em vigor.

O uso deste acessório foi proibido pela Resolução 384, de 2 de junho de 2011, sendo que a partir dela, não tem mais como instalar e legalizar xênon. Quem descumprir a lei receberá uma multa grave, tendo que pagar R$ 195,23 e receberá 5 pontos na CNH, além disso existe ainda a aplicação de uma medida administrativa: a remoção do caminhão até a regularização do farol. Espero que tenha ajudado, Abraço Chico da Boleia Sempre com orgulho de ser caminhoneiro


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FIQUE POR DENTRO

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Mercedes-Benz inaugura Campo de Provas no Brasil Com tecnologia de ponta, 16 pistas para vários tipos de testes e 12 km de extensão, novidade permite que a Empresa simule estradas do Brasil e de qualquer país do mundo FONTE: Mercedes-Benz | FOTO: Divulgação Mercedes-Benz

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Mercedes-Benz inaugurou em Iracemápolis, estado de São Paulo, o maior Campo de Provas do Hemisfério Sul, que é também o mais avançado e tecnológico do Brasil para caminhões e ônibus. Com investimento de cerca de R$ 90 milhões, o local abriga, num terreno de 1,3 milhão de metros quadrados, uma estrutura especializada e 16 pistas de asfalto, concreto e terra, numa extensão total de 12 km para diversos tipos de testes. “Esse moderno e avançado Campo de Provas amplia notavelmente nossa capacidade de simulações e testes, acelerando e otimizando cada vez mais o desenvolvimento tecnológico de veículos comerciais para nossos clientes do Brasil e de outros mercados de exportação”, afirma Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO América Latina. “Com esse novo passo marcante de inovação e evolução, a Mercedes-Benz reforça ainda mais sua presença na plataforma global de desenvolvimento do Grupo Daimler”. Segundo o executivo, a Empresa tem acumulado conquistas significativas, fruto do investimento permanente no Brasil. “Temos hoje a oferecer aos clientes o melhor em veículos comerciais, com os processos de produção diferenciados e, agora, com o melhor Campo de Provas do País”, ressalta Philipp Schiemer. “Campo de Provas, aliás, que já está preparado para crescer e diversificar sua atuação conforme o cliente pedir e o futuro exigir. Sempre com a qualidade e a confiabilidade da marca Mercedes-Benz”. A Mercedes-Benz do Brasil investiu cer-

ca de R$ 90 milhões no Campo de Provas, com a perspectiva de geração de oportunidades de trabalho para a cidade de Iracemápolis e a região. “Estamos inaugurando essa moderna e fantástica estrutura de testes que traz recursos avançados como tecnologia digital e conectividade. Nossos engenheiros estão online com todos os Campos de Provas da Daimler no mundo”, destaca Philipp Schiemer. “Assim, nossa Empresa está preparada para as tendências do transporte e da mobilidade”. “Esse Campo de Provas representa muito bem a nossa maneira de viver o futuro. Aliás, mais do que isso, de antecipar o futuro. É aqui nessas pistas, por exemplo, que poderemos em breve testar os mais tecnológicos e inovadores caminhões e ônibus Mercedes-Benz para o Brasil e outros países”, informa Philipp Schiemer. “Ou seja, estamos sempre preparados para o que vier por aí no transporte de carga e passageiros e atender as demandas dos nossos clientes do Brasil e de qualquer parte do mundo”.

Campo de Provas em Iracemápolis, no interior paulista, é o maior do Hemisfério Sul e o mais avançado e tecnológico do Brasil no segmento de veículos comerciais | Foto: Mercedes-Benz

unidades do Grupo. “É justamente essa capacidade que nos credencia a testar veículos para diversos mercados. Um ótimo exemplo é a pista de testes de durabilidade, que conta com mais de 840 placas de concreto pré-moldado que não se repetem. Elas são idênticas às colocadas na pista da Alemanha e de Madras, nos EUA”, afirma o Dr. Christof Weber, vice-presidente de Desenvolvimento de Caminhões e Agregados da Mercedes-Benz do Brasil e um dos responsáveis pela idealização do Campo de Provas de Wörth e também do Brasil.

REFERÊNCIA DE UM DOS MAIS MODERNOS CAMPOS DE PROVA DO MUNDO.

Construído em 18 meses, o Campo de Provas da Mercedes-Benz do Brasil conta com uma área total de 1.300.000 metros quadrados, reunindo o que há de mais avançado em tecnologia de simulações e testes. Esta área de terreno equivale a 150 campos de futebol. Na terraplanagem, foram movimentados 1.500.000 metros cúbicos de terra, o que daria para encher uma dessas arenas modernas até a cobertura.

Localizado ao lado da fábrica de automóveis em Iracemápolis, o Campo de Provas da Mercedes-Benz do Brasil toma por base um modelo similar ao da Daimler em Wörth, na Alemanha, um dos mais modernos do segmento de veículos comerciais da Companhia e também do setor em todo o mundo. Com isso, serão realizados, aqui no Brasil, testes com o mesmo rigor e padrão técnico e métrico seguidos por outras

O Campo de Provas de Iracemápolis conta com 16 pistas de testes (14 pistas para verificação de durabilidade estrutural, uma de conforto acústico e térmico e uma de terra), numa extensão total de 12 km. Cada placa de concreto das pistas de durabilidade mede 5 metros de comprimento, com várias medidas de largura, e pesam de 15 a 18 toneladas, o que exigiu uma complexa obra de fundação.

A técnica de construção civil e os materiais utilizados asseguram 30 anos de uso sem alteração na consistência da fundação e das placas. Além disso, o projeto exigiu dos construtores uma tolerância máxima de 5 mm na superfície das placas. Este foi um grande desafio encarado e vencido pela engenharia civil brasileira. A manutenção das características das pistas por 30 anos garante um altíssimo grau de repetibilidade dos testes, o que resulta em alta qualidade e confiabilidade no desenvolvimento dos veículos. O Campo de Provas também traz a avançada tecnologia de conectividade do Driver Guidance System. Esta grande novidade no mercado brasileiro se destaca por trazer conceitos da Indústria 4.0 para a área de desenvolvimento da Mercedes-Benz do Brasil. Este sistema utilizado pela Daimler permite conexão global de todas as pistas de testes de durabilidade do Grupo no mundo. Dessa forma, os engenheiros podem acompanhar, em tempo real, todos os veículos que estão sendo testados em qualquer um dos Campos de Provas. Com o sistema de monitoramento de altíssima precisão, é possível verificar todos os dados e informações que estão sendo avaliados num exato momento pelas equipes de desenvolvimento.


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Agreve que parou o país! Movimento dos caminhoneiros não reconheceu acordo entre entidades sindicais e governo federal e quer medidas duradouras para problemas que afetam a categoria. Redação Chico da Boleia | FOTO: Divulgação

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movimento grevista dos caminhoneiros mexeu profundamente com o país nos últimos dias. Muita gente só se deu conta da importância da categoria quando faltaram itens no supermercado ou quando não havia combustível nos postos da cidade. No Brasil dos dias atuais, cerca de 50% de toda a carga disponível no mercado é transportada através das rodovias do país. Segundo dados do Registro Nacional do Transportador Rodoviário de Cargas (RNTRC), divulgados pela Agência Nacional do Transporte Terrestre (ANTT), os caminhoneiros autônomos representam um universo de quase 700 mil trabalhadores atualmente. O transporte rodoviário no Brasil também é feito pelas empresas de transporte de carga que operam, também segundo a ANTT, com uma frota de mais de 1 milhão de veículos dirigidos por caminhoneiros contratados. Nos últimos dias, as mobilizações da categoria demonstraram o esgotamento da paciência dos caminhoneiros com os sucessivos e abusivos aumentos no preço dos combustíveis no país. De maneira geral, a grande insatisfação é com o preço do diesel e os altos custos do transporte, sobretudo para os caminhoneiros autônomos. Na pauta, no entanto, também se inclui o fim da cobrança de pedágios sobre o eixo suspenso em rodovias estaduais pelo país, além da reivindicação por uma tabela de frete mínimo e melhores condições de trabalho. Quando começou, no dia 21 de maio, o

movimento dos caminhoneiros foi taxado por alguns setores da mídia como um locaute. A palavra deriva do termo em inglês, lock out, que é quando os patrões de um setor em específico determinam as condições de mobilização dos trabalhadores, seja impedindo-os de trabalhar, seja criando dificuldades que gerem insatisfações e, consequentemente, um estado de greve. No fundo, porém, o locaute tende a responder as demandas dos patrões e não dos trabalhadores. No Brasil, a prática é impedida pelo artigo 17 da lei 7.783 que regula o direito de greve no país. A priori, a mobilização dos caminhoneiros foi formalmente convocada pela Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) para 21 de maio. Antes disso, no dia 15, a Confederação enviou carta ao governo federal solicitando o atendimento de demandas urgentes antes da instalação de uma mesa de negociação com as lideranças sindicais dos caminhoneiros e das empresas de transporte. A carta consta de duas reivindicações: o congelamento do preço do diesel pelo prazo necessário para a discussão sobre benefício fiscal que reduzisse o custo do combustível para os transportadores (empresas e caminhoneiros); e fim da cobrança dos

pedágios sobre eixos suspensos, que ainda está acontecendo em rodovias de caráter estadual, conforme compromisso assumido pela lei 13.103/2015, conhecida também como Lei do Motorista. Neste documento, encaminhado pela CNTA e datada do dia 15 de maio, se fala na deflagração de uma paralisação em 21 de maio, caso não fossem atendidos os pedidos da Confederação. Também se explicita o apoio de 120 entidades representativas, mas não se esclarece se essas organizações são sindicatos patronais ou de autônomos. Após negativa do governo de atender as duas demandas urgentes encaminhadas pela CNTA, a paralisação dos caminhoneiros aconteceu no dia 21 de maio. A percepção imediata de que a greve dos caminhoneiros era, na verdade, um locaute, foi, em grande medida, fomentada por experiências anteriores nas quais a mobilização da categoria resultou em ganhos para o patronato. Com o passar dos dias e com o aumento da circulação de informações mais precisas sobre a mobilização, no entanto, pudemos observar que o movimento tinha caracterís-

ticas muito mais diversas. Logo no princípio, a mobilização dos caminhoneiros ganhou adesão de algumas transportadoras de cargas cujos donos prometeram não onerar os funcionários nem realizar cortes salariais ou demissões por causa da greve. Afinal de contas, a redução do preço do diesel também se colocava como uma pauta do interesse da classe patronal. Outro aspecto importante que se desenhou com o passar dos dias foi o caráter espontâneo da mobilização dos caminhoneiros. Mesmo com a convocação da paralisação pela CNTA, antes mesmo do dia 21 já podiam ser identificados alguns pontos de bloqueios em rodovias do país e caminhoneiros paralisados. Isso significa que não necessariamente os trabalhadores aderiram à mobilização atendendo ao pedido da Confederação. Nos primeiros dias de paralisação, também houve um rechaço por parte de sindicatos de autônomos em reconhecer a legitimidade do movimento. De um lado, muitas entidades soltaram nota dizendo que não apoiavam a greve e que ela tinha características de loucate justamente porque a pauta tinha sido capitaneada pelos setores empresariais em nome dos seus interesses. Do outro lado, sindicatos de autônomos, como o Sindicam de Santos que, no dia 23, convocou a paralisação dos caminhoneiros que trabalham na região do porto, e a Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros), que recentemente se mobilizou na negociação com o governo federal, reconheceram a legitimidade do movimento. Os primeiros dias de mobilização resulta-


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ram numa crise imediata de abastecimento. Aproveitando-se disso, muitos postos de combustíveis elevaram de maneira criminosa o preço da gasolina e do diesel. Supermercados e comércios também especularam o preço dos alimentos e itens de primeira necessidade, elevando os preços e causando prejuízos para o consumidor.

dade da greve dos caminhoneiros. O governo anunciou redução de R$ 0,46 no preço do litro do diesel por 60 dias, e a isenção de pagamento de pedágio para eixos suspensos de caminhões vazios. Depois desses dois meses, os reajustes no valor do combustível serão feitos a cada 30 dias o que, segundo Temer, dará ao caminhoneiro a possibilidade de organizar melhor suas viagens tendo “previsibilidade” dos seus gastos. O corte de R$0,46 no litro do diesel foi consequência da redução da cobrança dos impostos PIS-Cofins e da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) sobre o produto.

Na noite da quinta-feira, 24 de maio, um acordo foi divulgado pelo governo federal, representado pelos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Eduardo Guardia (Fazenda) e Carlos Marun (Secretaria de Governo). O documento havia sido resultado da negociação entre entidades sindicais e representantes do governo e buscava colocar fim à paralisação dos caminhoneiros. Dentre os pontos do acordo estavam: eliminação da incidência da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico sobre o óleo diesel até o fim do ano; garantia de periodicidade mínima de um mês até eventual reajuste do preço do óleo diesel em refinarias; redução de 10% no valor do diesel em refinarias nos próximos 30 dias, medida já executada pela Petrobras com contrapartida financeira da União; reedição da Tabela de Referência do frete remunerado de cargas, em 1º de junho de 2018, com atualização trimestral; garantir que estados assegurem isenção da tarifa de pedágio sobre eixo suspenso em caminhões sem carga; em até 15 dias, edição de medida provisória para permitir que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) contrate transporte rodoviário de cargas, sem exigência de licitação, em até 30% de sua demanda de frete; manter desoneração da folha de pagamento de empresas de transporte rodoviário de cargas; promover extinção de ações judiciais abertas pela União contra a mobilização dos caminhoneiros, dentre outros. O documento foi assinado pela seguintes entidades: Confederação Nacional dos Transportes, Federação dos Caminhoneiros Autônomos de São Paulo (Fetrabens), Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Federação dos Transportes Autônomos de Cargas de Minas Gerais (Fetramig), Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Distrito Federal (Sindicam-DF), Federação Interestadual dos Transportes Rodoviários Autônomos de Cargas e Bens da Região Nordeste (Fecone), Federação dos Transportadores Autônomos de Cargas do Espírito Santo (Fetac-ES) e Sindicato Nacional dos Cegonheiros (Sinaceg).

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O acordo, no entanto, foi rechaçado pelos caminhoneiros. Dentre as críticas que chegaram ao nosso conhecimento, através de whatspp e redes sociais, os caminhoneiros autônomos se queixaram que sequer foram recebidos pelos Ministros durante a reunião na Casa Civil. Em alguns vídeos, membros da categoria se indignam com o acordo aceito pelos sindicatos e acusam lideranças de peleguismo. Mesmo após essa primeira tentativa de acordo do governo federal, os caminhoneiros mantiveram a greve. A situação se agudizou causando problemas no abastecimento das principais cidades e na maioria dos postos de combustível. Além da paralisação, os caminhoneiros fizeram bloqueios em rodovias importantes como o Rodoanel, que contorna a capital paulista e tem saída para as principais rodovias do estado. Um dia após a divulgação do acordo, o presidente Michel Temer anunciou que utilizaria as Forças Armadas para auxiliar a Polícia Rodoviária Federal e as Polícias Militares a liberarem as rodovias que ainda contassem com a resistência dos caminhoneiros. A decisão prevê o emprego de militares até o dia 4 de junho em situações de perturbação da ordem pública e também ações de desobstrução de vias. Dentre outras medidas, a determinação também autoriza a remoção ou condução de veículos que estiverem obstruindo a via pública; escolta de veículos que prestem serviços essenciais ou transportem produtos considerados essenciais; garantia de acesso a locais de produção ou distribuição desses

produtos; medidas de proteção para infraestruturas consideradas críticas. No sábado, dia 26, o presidente também assinou um decreto que autorizou a “requisição de bens”. O texto publicado determina que "Fica autorizada a requisição, pelas autoridades envolvidas nas ações de desobstrução de vias públicas determinadas pelo Decreto nº 9.382, de 25 de maio de 2018, dos veículos particulares necessários ao transporte rodoviário de cargas consideradas essenciais." Por não dar mostras de que pudesse terminar, a mobilização dos caminhoneiros suscitou a suspensão de serviços de transporte e das atividades parciais do comércio em algumas das principais cidades do país. As informações que circulam através da internet são variadas. Alguns vídeos mostram que os caminhoneiros adotaram a postura de deixar passar cargas perecíveis e itens de primeira necessidade, como medicamentos e alimentos. Outros depoimentos e imagens, no entanto, mostram a perda da produção de leite e de carne por produtores no interior país, devido as dificuldades de distribuição e a falta de transporte. Algumas reportagens também mostraram pessoas se queixando da falta de medicamentos e itens essenciais em hospitais e pronto-socorroro. Depois de nova reunião com entidades sindicais, realizada no domingo, 27 de maio, o presidente Michel Temer foi à público dar pronunciamento sobre a continui-

Após reunião realizada também no domingo com a Casa Civil, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) divulgou nota à imprensa na qual explicita sua aceitação do acordo proposto pelo governo. Segundo a entidade, a categoria “conseguiu ser atendida em diversas reivindicações, dentre delas o subsídio, pelo Governo Federal, do valor referente ao que seria a retirada do PIS, Cofins e Cide sobre o óleo diesel.”. Na nota, a Abcam ainda considera que o acordo assinado com o governo representa uma “vitória”, já que a proposta anterior previa redução do preço do diesel por apenas 30 dias, prazo alterado para dois meses. No documento, o presidente da entidade, José da Fonseca Lopes, se dirigiu aos caminhoneiros dizendo sentir-se “orgulhoso” pelo trabalho realizado pela categoria. “Conseguimos parar este país e sermos reconhecidos pela sociedade brasileira e pelo Governo deste país. Nossa manifestação foi única, como nunca ocorreu na história. Seremos lembrados como aqueles que não cederam diante das negativas do Governo e da pressão dos empresários do setor. Teremos o reconhecimento da nossa profissão, de que nosso trabalho é primordial para o desenvolvimento deste país. Voltem com a sensação de missão cumprida, mas lembrando que a luta não termina aqui.”, afirmou Lopes. Na manhã da segunda-feira, 28 de maio, no entanto, os caminhoneiros autônomos mantiveram sua paralisação. Em conversas telefônicas que pudemos estabelecer com alguns membros da categoria, muitos se recusaram a reconhecer a representatividade e legitimidade dos sindicatos que firmaram o acordo com o governo. Além disso, os caminhoneiros se queixaram de que o acordo é vulnerável e não


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Gumiero também destacou que a luta dos caminhoneiros não é só em prol da redução do preço do diesel, mas também da gasolina. Ele comentou que a categoria continua demandando uma tabela mínima de frete e o fim da cobrança do pedágio sob eixo suspenso. O caminhoneiro, que está na profissão há 35 anos, contou que os grevistas têm receio de uma possível repressão ou de que o governo tome medidas para criminalizar o movimento. “Quando a gente soube que o presidente tinha convocado a Força Nacional, ficamos com receio de que ele baixasse algum decreto para nos multar ou confiscar nossos caminhões”, afirmou. Também conversamos com Moisés Oliveira, um dos líderes do movimento grevista na região da Regis Bittencourt, em São Paulo. Segundo ele, os caminhoneiros não se sentiram contemplados pelo acordo assinado pela Abcam e por outras entidades, e consideram as medidas uma estratégia provisória do governo. “Nós não reconhecemos esse acordo do

Moisés Oliveira | FOTO: Arquivo Pessoal

CHICO DA BOLEIA estiveram entre os paralisados e tentaram se apropriar da luta desses trabalhadores. Mas também é verdade que há grupos que rechaçam esses posicionamentos mais retrógrados e levantam outras bandeiras, como o das Diretas Já.

garante que o governo irá cumprir o prometido. Os grevistas também questionam que as medidas tomadas por Michel Temer têm “prazo de validade”, ou seja, não são permanentes e não asseguram que o preço do combustível não volte a subir. José Maria Gumiero, caminhoneiro da cidade de Itapira, interior de São Paulo, está paralisado desde o primeiro dia de mobilização na cidade de Almirante Tamandaré, interior do Paraná. O caminhoneiro autônomo contou que a maioria dos mobilizados da região se sentiram insatisfeitos com o acordo do governo e não acreditam que ele possa garantir melhorias para a categoria.

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José Maria Gumiero | FOTO: Arquivo Pessoal

Michel Temer porque a gente sabe que de um dia para o outro ele pode mudar os compromissos. Sabemos que nada disso garante que não haverá uma alta novamente no preço dos combustíveis.”, afirmou.

Em função da grande complexidade e fragilidade das lideranças sindicais de autônomos, o movimento carece de uma representatividade que possa assegurar as demandas da classe trabalhadora, bem como que possa evitar o crescimento dos discursos conservadores e das práticas autoritárias.

Oliveira ainda destacou que o movimento não quer redução apenas do preço do diesel, mas da gasolina e do gás de cozinha que tanto tem impactado o orçamento das famílias brasileiras. De maneira geral, o caminhoneiro reiterou que os membros da categoria demandam melhores condições de trabalho e que eles vão continuar parados até que sejam atendidas suas reivindicações.

Também é preciso considerar que os sindicatos patronais acabam por exercer maior influência, podendo determinar, como vimos, os caminhos da negociação e o teor das reivindicações. Isso se faz notar, por exemplo, no tipo de reivindicação expressada por grande parte dos caminhoneiros que é a redução da tributação em cima do preço do combustível. Ora, todos nós sabemos que o cerne do problema dos altíssimos preços dos combustíveis no Brasil é a nova política de preços adotada pelo governo Temer e pela atual gestão da Petrobras, que atualmente é presidida por Pedro Parente.

O movimento grevista dos caminhoneiros segue, ao que tudo indica, de pé! Apesar da assinatura do acordo por parte das entidades representativas, os autônomos se recusaram a deixar as rodovias do país.

Sobre o tema vale frisar que, desde o ano passado, a Petrobras adotou uma nova política determinando que os preços dos derivados de petróleo no país seriam reajustados de acordo com a oscilação internacional do

A realidade complexa e heterogênea do movimento, causou, e tem causado, uma certa dificuldade de compreensão da organização, causa e pautas que envolvem a mobilização dos caminhoneiros. Por um lado, esse movimento começou a partir de uma convocação de sindicatos para uma paralisação que buscava, sobretudo, a redução do preço do óleo diesel. Por outro lado, os caminhoneiros se mobilizaram também de maneira espontânea e levaram para as estradas diversas demandas que refletem o dia a dia da categoria. Dentre os mobilizados, se nota a expressão de opiniões conservadoras e pedidos de intervenção militar. Sabe-se que alguns membros de partidos políticos da direita

dólar. Na época, esse tipo de política foi aplaudida pelo mercado internacional, que viu grande vantagem na venda do combustível refinado para o Brasil. Aqui dentro, no entanto, segundo relatório da Associação de Engenheiros da Petrobras, a nova política de preços revela o entreguismo da atual presidência da empresa e governo Temer, que busca sucatear as refinarias nacionais dando prioridade para a importação do combustível. Tudo isso foi justificado na época com o argumento que era necessário ajustar as contas da Petrobras e passar confiança aos investidores internacionais. Sobre o assunto, publicamos uma entrevista com o Prof. Dr. Eduardo Costa Pinto, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É verdade que o movimento em si tem uma percepção um pouco equivocada da principal razão do aumento dos combustíveis, mas isso não significa que toda classe dos caminhoneiros não faça essa relação clara entre o problema da política de preços da Petrobras e o aumento dos combustíveis. De fato, portanto, o grande problema nesse momento é saber quem serão as pessoas a sentar nas mesas de negociação daqui pra frente. De um lado, existe uma legítima expressão da classe trabalhadora em defesa das suas condições de trabalho e dos seus meios de produção. O aumento do diesel representa um duro golpe entre os caminhoneiros autônomos e a mobilização da categoria é legítima e deve ser comemorada.

Intervenção só se for educacional, diz caminhoneiro grevista de São Paulo Moisés Oliveira, um dos líderes do grupo de caminhoneiros que está paralisado na rodovia Régis Bittencourt, diz não concordar com a intervenção militar.

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Por Larissa Jacheta Riberti

movimento grevista mantido pelos caminhoneiros está longe de ser homogêneo e reivindicar uma pauta única. Dentre as principais bandeiras levantadas por esses trabalhadores está a redução do preço dos combustíveis, o fim do pedágio sobre o eixo suspenso e uma tabela de frete mínimo atualizada. As últimas notícias que nos chegaram sobre o movimento grevista revelam que, mesmo após acordo entre entidades sindicais e governo federal, os caminhoneiros

autônomos continuam mobilizados. Muitos desses trabalhadores, reclamam do caráter provisório das medidas concedidas pelo Michel Temer e acreditam que, mais cedo ou mais, o governo vai voltar a subir o preço dos combustíveis. As demandas dos caminhoneiros, porém, se confundem. Existe uma boa parcela que tem feito pedidos de intervenção militar. A percepção do que seria uma eventual “intervenção” nesse momento tampouco revela-se muito clara. Através dos vídeos que


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tivemos acesso, os manifestantes pedem a restauração da ordem e da moral no país a partir de uma intervenção do exército. Nesse sentido, muitos desses caminhoneiros acreditam que as forças armadas os isentariam de qualquer tentativa de desmobilização do movimento ou violência repressiva. Não está claro também se esses caminhoneiros querem uma intervenção militar temporária ou se acreditam que o que pode resolver seus problemas é o controle político por parte das forças armadas. Esse tipo de reivindicação, portanto, não esclarece qual tipo de intervenção a ser realizada, nem quais seus limites ou alcances. Em linhas gerais, os pedidos de intervenção militar parecem ser mais fruto de uma confusão de reivindicações do que propriamente a expressão de uma consciência da classe sobre o que seria essa nova política, ou sobre o tipo de nova sociedade que se quer construir com ela. Afinal de contas, sabemos que uma intervenção militar seria realizada justamente com o objetivo de desarticular o movimento e desmobilizar os caminhoneiros. Se fosse utilizado, o exército seria acionado pelo governo Michel Temer para o cumprimento das determinações em nome da “garantia da lei e da ordem”. As devidas providências sobre a utilização das forças armadas já foram, inclusive, tomadas pelo presidente desde a sexta-feira, dia 25 de maio. Na ocasião ele assinou decreto que permite a utilização dessas forças para auxiliar a Polícia Rodoviária Federal e as Policias Militares a liberarem as rodovias que ainda contassem com a resistência dos caminhoneiros. A decisão também prevê o emprego de militares até o dia 4 de junho em situações de perturbação da ordem pública e também ações de desobstrução de vias. Dentre outras medidas, a determinação também autoriza a remoção ou condução de veículos que estiverem obstruindo a via pública; escolta de veículos que prestem serviços essenciais ou transportem produtos considerados essenciais; garantia de acesso a locais de produção ou distribuição desses produtos; medidas de proteção para infraestruturas consideradas críticas. No sábado, dia 26, o presidente também assinou um decreto que autorizou a “requisição de bens”. O texto publicado determina que "fica autorizada a requisição, pelas autoridades envolvidas nas ações de desobstrução de vias públicas determinadas

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sa estabelecer um diálogo uniformizado. Além disso, Oliveira lamentou que muitos setores da política brasileira simplesmente abandonam a categoria e só se preocupam com ela quando há alguma mobilização. Nas últimas horas da segunda-feira, 28 de maio, recebemos um vídeo que circulou por whatsapp e que mostrava a ida de Alexandre Frota até as mediações da Regis Bittencourt. Sobre o caso, Moisés comentou que algumas pessoas estão indo até a mobilização para fazer política. Greve de caminhoneiros na BR-116 | FOTO: Reprodução / Internet

pelo Decreto nº 9.382, de 25 de maio de 2018, dos veículos particulares necessários ao transporte rodoviário de cargas consideradas essenciais." Assim, os grupos que levantam a bandeira da intervenção militar sequer têm feito a reflexão de que essa medida pode desarticular o próprio movimento grevista. Repetem um discurso muitas vezes esvaziado de sentido e vulgarizado pela grande mídia e por “personalidades” que ganharam as redes sociais nos últimos tempos, como membros parlamentares da chamada “bancada da bala”. Seja como for, também não é correto taxar todos os caminhoneiros de intervencionistas, nem generalizar seus posicionamentos político-ideológicos. Em São Paulo, mais precisamente na rodoviária Regis Bittencourt, há um grupo que rechaça integralmente qualquer tentativa de intervenção militar. Moisés Oliveira é uma das lideranças desses caminhoneiros autônomos que estão paralisados na rodovia desde o dia 21. No setor há mais 20 anos, Oliveira destacou em entrevista ao jornal Chico da Boleia que a demanda dos caminhoneiros é por melhores condições de trabalho. “Na verdade a gente está buscando melhorias para a nossa classe. Esse foi o principal fator da nossa mobilização e por isso não aceitamos o acordo do Michel Temer”, destacou.

venção militar. “Infelizmente, alguns da classe aqui ainda estão perdidos na informação. Eles estão achando que a intervenção militar vai dar a mão aqui pra gente e que vamos prender o Temer. Ontem eu estava escutando um comentário de um dos caminhoneiros aqui dizendo que se houver intervenção militar, vão tirar o Temer de lá e o único capitão que poderá ocupar o lugar é o Bolsonaro. Então, está havendo uma informação errada aqui. O pessoal não está sabendo exatamente o que é uma intervenção militar.”, expressou. Oliveira também revelou o temor de uma possível desmobilização violenta do movimento. “Se houver uma intervenção militar, quem vai cair somos nós! A polícia vai vir metendo a borracha na gente e não é isso que queremos.”, afirmou. De acordo com o caminhoneiro, o movimento segue com a convicção de que não é possível aceitar uma medida que abaixe apenas o preço do óleo diesel. Para ele, é necessário um compromisso do governo que reduza também o valor do gás de cozinha, do álcool e da gasolina; que, ultimamente, vem impactando fortemente o orçamento das famílias brasileiras.

Quando questionado sobre o pedido de intervenção militar feito por alguns membros da categoria, Moisés foi enfático: “Se for pra ter uma intervenção, tem que ser uma intervenção educacional. Encher as escolas de professores. Intervenção militar, não!”.

Quando perguntei se havia um diálogo entre os caminhoneiros sobre essas questões mais profundas que tocavam o movimento, Moisés respondeu que todos os dias os caminhoneiros se reúnem para trocar algumas ideias. “A gente chama os caminhoneiros e pede para eles terem cuidado com as informações. Aqui, por exemplo, alguns caminhoneiros já tiraram placas e faixas que pediam por intervenção militar. A gente chegou na “manha”, conversou, e isso deu resultado.”, explicou.

Para o caminhoneiro, há uma percepção equivocada dos companheiros de greve com relação ao que é, de fato, uma inter-

Moisés também reclamou que a classe dos caminhoneiros autônomos não tem uma representação com “voz ativa” que pos-

“Eu não consegui encontrar com ele, mas sei que ele é um aproveitador. A gente foi atrás dele porque o pessoal nos falou que ele estava aqui. Ele não representa caminhoneiro nenhum, não representa nada aqui. Soubemos que ele apareceu com um pessoal do MBL (Movimento Brasil Livre)”, afirmou Oliveira. Sobre o problema da alta dos preços de combustível, Moisés também explicou que os caminhoneiros com os quais tem contato tem discutido e se posicionado contra a atual política de preços da Petrobras. O caminhoneiro afirmou que é inaceitável que o governo brasileiro esteja “dolarizando” os preços derivados do petróleo no Brasil. “Eles querem dar quarenta e seis centavos pra gente agora e daqui a pouco aumentar de novo. A gente sabe que a política de preços da Petrobras tem vendido nossas refinarias, tem dolarizado o nosso petróleo e isso tem encarecido o diesel, a gasolina. E a gente precisa também que pessoas com mais informações sobre isso venham falar aqui para o pessoal da greve”, expressou. Em vídeo que circulou na segunda-feira, Moisés aparece ao lado de outros caminhoneiros grevistas rechaçando os termos do acordo feito por Michel Temer e afirmando que o que a categoria busca é a demissão de Pedro Parente, atual presidente da Petrobras, e o fim da política que tem sido praticada pela empresa. “A gente quer o nosso petróleo sendo refinado aqui dentro do país para que os combustíveis tenham preços acessíveis”, afirma no vídeo. O caminhoneiro autônomo também agradeceu a população da região que, segundo ele, tem apoiado e ajudado os grevistas com alimentos e outros itens que forem necessários. “Aqui temos outras lideranças, e nos dividimos em turnos para ficar de vigília e para ter conversas com os caminhoneiros. Queremos melhores condições de trabalho”, concluiu.


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Para economista, nova política de preços da Petrobras afeta o planejamento do TRC Prof. Dr. Eduardo Costa Pinto analisou que a medida da atual gestão da empresa tem alterado constantemente o preço dos combustíveis. Redação Chico da Boleia | FOTO: Reprodução / Internet

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Brasil tem vivido, nos últimos dias, o fenômeno da greve dos caminhoneiros. O movimento que começou com a paralisação de membros da categoria em 21 de maio afetou a vida de toda população brasileira. Os caminhoneiros se mobilizaram, sobretudo, em torno da pauta da redução do preço do diesel. De acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos), no período de 22 de abril a 22 de maio de 2018, a Petrobras reajustou o preço da gasolina e do diesel nas refinarias 16 vezes. O estudo mostra que o preço da gasolina saiu de R$ 1,74 e chegou a R$ 2,09, alta de 20%. Já o do diesel foi de R$ 2,00 a R$ 2,37, aumento de 18%. Para o consumidor final, os preços médios nas bombas de combustíveis subiram de R$ 3,40 para R$ 5,00, no caso do litro de gasolina (crescimento de 47%), e de R$ 2,89 para R$ 4,00, para o litro do óleo diesel (alta de 38,4%). No último acordo anunciado por Michel Temer, no domingo 27 de maio, e ratificado por entidades sindicais de autônomos e transportadoras de cargas, a redução de R$0,46 no preço do combustível será realizada através do fim da tributação do Pis/ Cofins e da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico). A medida assegura o reajuste para baixo por um período de 60 dias. Nenhuma das negociações, no entanto, foi aceita pelos caminhoneiros. Apesar de que, depois de tais tentativas, entidades sin-

dicais tenham assinado o acordo e sugerido que os caminhoneiros voltassem ao trabalho, muitos resistem em seu movimento. Atualmente, demandam também redução do preço da gasolina e do gás de cozinha. Querem medidas duradouras de congelamento desses preços para que não sejam surpreendidos por uma nova alta. Na visão do Prof. Dr. Eduardo Costa Pinto, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador do o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (INEEP), a redução do tributo que incide sobre os combustíveis não é capaz de garantir que o preço desses produtos não volte a subir. Em entrevista para o jornal Chico da Boleia, ele explicou que a grande causa desse expressivo aumento é a política de preços da atual gestão da Petrobras, presidida por Pedro Parente. Leia na íntegra. Chico da Boleia: Professor, como você enxerga a greve? Eduardo Costa Pinto: Pra mim claramente existe um movimento que é dos autônomos com interesses parecidos das transportadoras. Pra mim existe uma lógica muito clara nesse movimento que é causada pela atual política de preços da Petrobras que tem repassado para o mercado nacional os preços que oscilam em relação ao mercado internacional. Isso tem dois efeitos: um a curto e outro a médio prazo. O primeiro deles é que a gente tem uma economia que tem crescido muito pouco. Logo, a demanda desse tipo de serviço está relativamente baixa. Então, o que a gente vê hoje é um

Prof. Dr. Eduardo Costa Pinto | FOTO: Arquivo Pessoal

aumento do custo do transporte, sem aumento de receita. Com isso, você reduz as margens de receita tanto das grandes transportadoras, como do caminhoneiro autônomo. Só que ainda tem um jogo aí dentro: as grandes transportadoras contratam também os agregados. Nessa contratação, elas tentam empurrar a perda delas para os agregados.

tanto uma compressão da margem de lucro das transportadoras quanto do autônomo. Logo, é um movimento que tem a ver com essa deterioração da margem de lucro. Por isso, os trabalhadores se somaram à mobilização independente de terem sido convocados ou estarem alinhados, porque tem a ver com a perda de receita deles.

Com o preço de diesel reajustado diariamente, o caminhoneiro não consegue mais planejar seus custos. Então, por exemplo, Eduardo Costa Pinto: Porque a receita, o autônomo ou o agregado pega um frete, que é o preço do frete que é codaí ele está transportando a carga e, brado tanto dos agregados de um dia para o outro, o preço quanto das transportadodo diesel sobe. Então, ele vai "Esse movimento tamras vezes a quantidade ter que arcar com um custo bém é causado pela atual pode produto que é transa mais que ele não planeportada, tem crescido lítica de preços da Petrobras que jou, porque não tinha como numa velocidade muito tem repassado para os brasileiros planejar e porque os preços menor que o principal os preços que oscilam conforme alteram todo dia. O autôo mercado internacional" custo do transporte, que nomo, portanto, recebe esse é o diesel. Então isso vai efeito de maneira ainda maior comprimindo a margem de que as transportadoras. A atual receita, tanto da transportadora política de preços da Petrobras gera quanto do agregado. Soma-se a isso a uma compressão da margem dos lucros e, capacidade que uma grande transportadora além de tudo, dificulta a mensuração dos tem de empurrar esse efeito para o cami- custos por parte dos caminhoneiros. nhoneiro, porque o poder do autônomo é muito menor que o da empresa. Então, essa E tem um agravante todo nessa situação! política de preços da Petrobras, tem gerado Dada a capacidade maior do patronato de Chico da Boleia: E porque essa perda?


FIQUE POR DENTRO influenciar a categoria – e um pouco também mesmo dos trabalhadores de referendar essa ideia – constrói-se uma visão de que o aumento de preços do combustível não é causado pela atual política de preços da Petrobras e sim pelos impostos. E não é! Porque? Porque a gente não teve recentemente, nenhum aumento da alíquota dos tributos sobre o diesel e a gasolina. Você também não teve nenhuma mudança de ganhos por parte das distribuidoras ou dos postos de gasolina. Então, o imposto sempre existiu, antes mesmo da nova política de preços da Petrobras, com a mesma alíquota. O imposto é uma alíquota fixa. Então o que eu quero dizer é que a causa desse aumento acelerado do preço dos combustíveis tem a ver com a política de preços. Na verdade, a Petrobras deveria fazer uma política de preços, de reajuste pra cima ou para baixo não diariamente, ela tem que fazer isso no trimestre. Para que os consumidores, os caminhoneiros, possam planejar seus custos. O caminhoneiro não pode sair com um frete e, no meio da viagem, o preço do combustível mudou e fez com que se alterasse completamente a projeção de custos dele. E aqui tem um ponto que é muito importante. A Petrobras tem usado um discurso que é falso. Ela tem defendido que essa atual política de preços garante mais receita. Isso não procede, porque a Petrobras tem reduzido a produção de derivados. Quem tem ganhado dinheiro com essa política de preços são as importadoras estrangeiras. Chico da Boleia: Professor, qual é de fato a estratégia da Petrobras com essa nova política de preços e porque ela impacta no valor dos combustíveis? Eduardo Costa Pinto: Essa política começou tem um pouco mais de um ano, e a ideia dessa política é alinhar os preços dos derivados do petróleo produzidos nas refinarias da Petrobras, ou seja, gasolina, diesel, GLP, a duas variáveis. A primeira são as mudanças dos preços internacionais desses derivados, então ela usa como referência preços desses derivados praticados nos Estados Unidos e na Europa. Se o preço sobe lá fora, automaticamente sobe o preço aqui. A segunda variável é a taxa de câmbio. Se a taxa de câmbio se desvaloriza, ou seja, fica mais caro importar. Se fica mais caro importar, também sobe o preço do diesel ou da gasolina que vão ser importados pelo Brasil. Logo, isso é repassado automaticamente para os preços dos derivados de petróleo comercializados pela Petrobras. Essa é a atual política. É um ali-

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Porque isso tem reduzido as margens de lucro das transportadoras e, mais ainda, dos autônomos. Chico da Boleia: Você disse que há uma redução da capacidade produtiva dessas refinarias, qual o objetivo final disso? Eduardo Costa Pinto: Isso significa que a Petrobras, hoje, está ofertando muito menos derivados no mercado nacional e a gente fica refém das importações. Chico da Boleia: Mas, Eduardo, os custos de refinar hoje no Brasil cresceram? ​Por conta de protestos, postos ficam sem combustíveis | FOTO: Reprodução / Internet

nhamento do preço dos produtos que saem das refinarias da Petrobras com os preços do diesel, da gasolina, do GLP, no mercado internacional. Essa é a estratégia. E isso está associado tanto a operação do preço internacional quanto à variação da taxa de câmbio.

no disso, porque senão você também terá problemas. Mas, definitivamente, não pode deixar com que ele se auto regule pelo livre mercado. E daí você poderia me perguntar assim: “Mas Eduardo, e se você deixar de controlar o preço, qual o efeito disso?”. Aí tem um outro ponto que eu acho que tem que ser ressaltado que é que o aumento, Chico da Boleia: E o que está por trás hoje, nos preços que saem das refinarias da Petrobras, não tem gerado lucros, aumento dessa política? dos lucros para as refinarias da Petrobras. Eduardo Costa Pinto: Nessa política de Isso porque tem reduzido fortemente a propreços a regulação é feita pelo livre mer- dução de derivados nas refinarias da Petrocado, pela suposta livre concorrência. Ou bras. A Petrobras de hoje, com essa política seja, a Petrobras não vai atuar na confor- de preços, que tem como objetivo vender mação dos preços porque, supostamente, seus ativos, ou seja, vender as refinarias, seria melhor, tanto para a empresa, quanto que sinaliza para os investidores estrangeipara os consumidores, o mercado regular ros que não vai mexer na política de preços, esses preços. Esse é o argumentem reduzido o nível de utilização das refinarias. Então as refinato da atual gestão. E a gente vê claramente, agora, que rias da Petrobras, que teriam "A atual gestão da essa regulação não traz capacidade de refinar cerPetrobras defende que essa ca de 2,4 milhões de barbenefícios para os conpolítica de preços garante mais sumidores. Porque se a ris por dia, tem operado, atualmente, com cerca de gente olha essa política receita. Isso não procede, porque a Petrobras tem reduzido a prode preços, ao longo des30% abaixo da sua capadução interna de derivados." se último ano você teve cidade total. O que significa dizer que, hoje, cerca de um aumento do preço dos derivados, do diesel, gasoli23% do mercado de derivados do Brasil é suprido por importana e GLP, numa velocidade muito maior do que a inflação do país, muito ções, mas não da Petrobras, de outros immaior do que os custos de produção da Pe- portadores. Então, quem tem lucrado com trobras. Esse é o fundamento, hoje, dessa o aumento dos preços dos derivados são política de preços. as empresas estrangeiras importadoras e, principalmente, as grandes empresas de Chico da Boleia: E qual é a crítica que petróleo, Total, Shell. A Petrobras não tem o INEEP tem feito com relação à essa po- lucrado com isso! E isso é assustador! Pior ainda, isso não tem gerado nenhum benefílítica? cio para os consumidores. Eduardo Costa Pinto: A partir dos estudos que fazemos, nós identificamos que, Pra mim, o que fica muito claro com relaem primeiro lugar, você não pode deixar ção à mobilização é que os caminhoneiros a lógica de mercado stricto sensu operar não podem embarcar nessa lógica de que o em cima de um produto que é estratégico. problema é o tributo. O problema é a atual Também não dá para fazer o controle ple- política de preços da gestão da Petrobras.

Eduardo Costa Pinto: Não! Eles até caíram, porque as refinarias brasileiras utilizam 94% do petróleo produzido no Pré-sal, cujo custo de produção é muito mais baixo. Então, o principal custo de produção dos derivados é o petróleo, ou seja, é dele que saem o diesel, a gasolina, os derivados. Então, o principal custo de produção da Petrobras é o próprio petróleo que ela produz no Pré-sal. Os custos de produção estão ficando cada vez menores, só que isso não está sendo repassado principalmente para o consumidor. Porque existe essa política de preços atrelada ao preço internacional do Petróleo. Aí você vai dizer: quem ganha com isso? A Petrobras ganha relativamente pouco. Porque o que ela está fazendo com a estratégia? Ao invés de refinar petróleo aqui, nas refinarias da própria empresa, ela está exportando petróleo cru e deixando com que os importadores aqui e outras empresas, importem derivados principalmente das refinarias dos Estados Unidos. E isso com a desculpa de que se está deixando o mercado regular os preços, o que supostamente seria bom tanto para a Petrobras, quanto para os consumidores. A questão é que isso não existe! O mercado de produção e exploração do Petróleo, o mercado de derivados e o de distribuição, é um mercado oligopolizado. Isso significa dizer que ele não registra a lógica de oferta e demanda simplesmente, porque você tem uma quantidade muito pequena de ofertadores e uma quantidade enorme de demandadores, que são os consumidores. Então, a capacidade de mercado é muito baixa. E achar que, do nada, o preço cai...o que acontece é o contrário. O que estamos vivendo hoje? Uma política que deixa o preço flutuar a partir do câmbio e do preço do petróleo internacional. Isso é um risco enorme! E daí as pessoas falam: “ah, mas nos Estados Unidos isso é feito”. Mas os Estados Unidos têm uma política que não faz isso no automático. Além de tudo, os


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EUA têm um grande estoque de derivados que regula, que dá uma certa estabilidade nesse processo. A gente não! Então, em nenhum lugar do mundo você deixar isso acontecer. Porque o preço do petróleo não depende só de oferta e demanda, ele também é influenciado por fatores geopolíticos. Às vezes o preço subiu porque o Trump resolveu quebrar um acordo com o Irã. Aí depois esse preço pode baixar, de novo. Se eu fico numa política de sobe e desce o tempo inteiro, isso gera uma dificuldade para os agentes econômicos que, no caso, é o setor do transporte, e que na ponta é o caminhoneiro autônomo, que fica sem nenhuma perspectiva de planejar suas despesas. Então ele recebe, chutando aí, um frete de R$2 mil, o preço do combustível subiu de repente, e ele vai ter um prejuízo nesse processo.

preço pra cima, porque ele só teria a ver com os custos de produção. Então, existe uma estratégia privatizante para a Petrobras, para a venda de ativos. E muita gente está usando a questão dos tributos sem saber o que está acontecendo com a política de preços. E essa política não tem só a ver com o preço dos derivados, tem a ver com a forma como a Petrobras vê hoje a estratégia do refino no Brasil.

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Então eu acho que o movimento dos caminhoneiros tem que entender essa dinâmica, porque a questão toda é a nova política de preços da atual gestão da Petrobras. E mais! Se essa política continua, se o Pedro Parente consegue vender as refinarias, e supostamente isso aumentar a concorrência e cair preços, isso é uma falácia! Porque você vai ter setores oligopolizados, um setor privado forte, que vai priorizar o preço

Chico da Boleia: Prof., a questão dos tributos vai além do fato de que não houve um reajuste. Tem a ver também com a própria característica desse tributo que é o Pis/ Cofins que é repassado para áreas da seguridade social...

Eduardo: O que acontece é o seguinte. Criou-se uma questão no Brasil, e daí eu acho que tem que colocar a questão da lava jato e de corrupção nesse E tem mais! Como a gen"Reduzindo apenas o tributo, meio, porque por conta te tem uma economia vulvocê não ataca o problema disso, criou-se a ideia nerável, que é de um sobe de que a Petrobras está e desce impressionante, que, hoje, gerou essa escalada de preço do diesel, do GLP e quebrada. Isso é uma quando eu uso isso para reda gasolina". completa falácia. A Pegular o preço, isso vira um trobras enfrentou problecaos que a gente está vendo mas, mas não tinha nada a hoje. ver com a corrupção. É claro que a corrupção, 6 bilhões como foi registraChico da Boleia: E qual a relação do predo no balanço da Petrobras – e daí qualquer ço dos combustíveis com os tributos? pessoa vai dizer que é muito dinheiro. Mas Eduardo Costa Pinto: Eu acredito que 6 bilhões na receita da Petrobras, que foi o atacar, hoje, a questão dos tributos, é uma balanço de 2014, não é nem 10% da receita estratégia equivocada. O crescimento dos da empresa naquele ano. Ah, mas a dívipreços não é causado pelo imposto, por- da aumentou muito? Aumentou! Mas em que você não teve mudança de alíquota. É parte isso aconteceu porque você teve uma preciso refazer a política de preços da Pe- desvalorização cambial. Só que, inclusive, trobras. Ela não pode descolar totalmente o Parente e uma parte do setor empresarial do internacional, mas ela também não pode brasileiro divulgou e reforçou o argumento subir e descer a cada dia. Isso cria instabili- de que o problema era a corrupção, era a dade econômica, dos agentes econômicos. política do Estado. E que era preciso fazer Essa política também não beneficia a Pe- o que? Reduzir os impostos e reduzir o patrobras em termos de receita. Por isso que o pel do Estado na regulação dos preços. Parente falou que não ia mudar a política de A Petrobras sendo uma empresa estatal, preços, porque ele estabeleceu que tem que vender parte do refino. E os investidores ela tem que levar em conta o quanto ela vai estrangeiros já disseram, principalmente os lucrar, mas também o quanto ela vai gerar chineses, que não vão comprar refino se a de custos para a sociedade. A questão toda política de preços não for de acordo com aí é que, dado o cenário de crise que a gena internacional. E isso é assustador! Por- te vive, o argumento é sempre o mesmo: que no meio de uma crise dessas, com os resolve-se tudo reduzindo os tributos. O preços subindo, a Petrobras tem refinarias, que me impressiona é que, nesse caso especomo essas que foram colocadas à venda, cifico, você ainda quer reduzir um tributo a refinaria da Bahia e a de Pernambuco, que é destinado à seguridade social. Ele é que estão com capacidade ociosa de 50%. destinado à população mais pobre. Ou seja, Ou seja, você tem um investimento, uma você não ataca qual é o problema hoje que estrutura produtiva, e ela só refina 50% gerou essa escalada de preço do diesel, do dos derivados que ela poderia produzir. Se GLP e da gasolina. Você arruma um paliaa Petrobras fizesse uma produção interna, tivo, uma desculpa de que o problema é o eu não precisaria jogar o tempo inteiro esse tributo.

FONTE: Nota técnica do DIEESE

internacional. Essa atual redução do preço do diesel que foi anunciada pelo governo é temporária, porque você tem uma tendência ao aumento do preço do Petróleo internacional e você tem uma tendência de desvalorização da nossa moeda em função da taxa de juros. Logo, se essa política for mantida, daqui 60 dias o preço do diesel vai disparar de novo, mesmo você reduzindo tributo!



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Volvo amplia capacidades para operações severas

Detran permite que motoristas profissionais zerem pontos da CNH

Puxado pela retomada da economia, mercado de caminhões fora de estrada representou 16,5% do mercado total de caminhões no primeiro trimestre.

Condutor que tenha entre 14 e 19 pontos na carteira de habilitação poderá fazer curso de reciclagem e retirar pontuação acumulada em infrações de trânsito

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FONTE: Estradão | FOTO: Volvo Trucks

demanda pelos chamados caminhões vocacionais tem crescido com os sinais de reaquecimento da economia do País. Impulsionadas principalmente por atividades como a canavieira, de mineração, madeireira e da construção, as vendas no primeiro trimestre para atender as aplicações fora de estrada representaram 16,5% do mercado total de caminhões, de 20.697 unidades, crescimento de participação perto de 2 pontos percentuais em relação ano passado. A Volvo não pretende ficar de fora do movimento ascendente e preparou um arsenal de soluções com foco em produtividade e rentabilidade operacional. Dentre os destaques, a linha F, representados pelos modelos FH e FMX, ganharam no trem de força a sexta geração do câmbio automatizado I-Shift. Em versões de 13 e 14 marchas – a primeira com uma marcha reduzida, e a segunda, com duas -, o equipamento proporciona mais “inteligência” às operações. Isso porque a caixa permite programação para cada tipo de aplicação do off-road. “O software se adequa à dinâmica da operação e passou a entender as características do solo”, conta Joseniel Valério, gerente comercial de caminhões vocacionais Volvo. “Operações nas minas exigem mais viagens e trocas de marchas mais rápidas do que o segmento florestal, por exemplo, que muitas vezes, tem rodovias para percorrer pela frente.”

Especialmente para as aplicações canavieira e florestal, a Volvo entende que os atores do segmento esperam contar com veículos leves, que privilegiam a carga líquida, robustez, além de disponibilidade do caminhão. Para eles, a linha F entrega modelos 6×4 com motores de até 540 cv dotados de injeção de combustível que se ajustam conforme a carga e a topografia, freio motor que gera potência de 510 cv e capacidade máxima de tração (CMT) de até 250.000 kg. Para mineração e construção, segmentos nos quais resistência, disponibilidade do caminhão, potência e capacidade de carga falam mais alto, a Volvo atende com a gama F veículos configurados como 4×4, 6×4, 6×6 e 8×4. Redução nos cubos de três ou quatro planetárias, além de bloqueio no diferencial entre os eixos e entre as rodas também faz parte do pacote. A fabricante ainda oferece a linha VM, na versão 32 toneladas para atuar nos segmentos off-road. Em configurações 6×2, 6×4 e 8×4 e motor de 330 cv, os caminhões saem de fábrica com kits de reforço, CMT de 63.000 kg e câmbio I-Shift de 10 marchas da geração anterior. “Sobra desempenho da caixa no VM. Não justificaria aumentar o custo do caminhão”, diz Valério para esclarecer a ausência da nova caixa na gama dos semipesados. No portfólio dos VM ainda, a Volvo destaca a versão autônoma do modelo, desenvolvida especialmente para o transbordo da cana-de-açúcar. “Estamos em fase final do projeto para iniciar oferta ao mercado canavieiro”, garante o engenheiro.

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FONTE: Veja | FOTO: Reprodução / Internet

Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) anunciou que os motoristas que exercem atividade remunerada nas categorias C, D e E e tiverem entre 14 e 19 pontos podem fazer um curso do órgão e zerar a pontuação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A chamada reciclagem preventiva para motoristas profissionais está prevista na resolução 723 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) e é opcional. O curso pode ser feito por condutor que tenha a inscrição “exerce atividade remunerada” no verso da CNH; seja habilitado exclusivamente nas categorias C (veículos de carga, como caminhões), D (veículos de transporte de passageiros, como ônibus e vans) ou E (veículo conjugado, como carreta com reboque ou trailer). De acordo com o Detran-SP, é possível pedir para fazer a reciclagem apenas uma vez a cada 12 meses. Ele dá ao motorista profissional a oportunidade de retirar de seu prontuário a pontuação acumulada na CNH por infrações de trânsito. Desta forma, apenas se somar outros 20 pontos nos 12 meses seguintes terá a CNH suspensa. “O motorista profissional passa muitas horas ao volante. A reciclagem preventiva permite que ele reavalie sua conduta no trânsito quando ele está com grande risco de ter a CNH suspensa, o que o impediria de trabalhar. É uma chance de ele reaprender e repensar suas atitudes, pois todos devem respeitar as normas de trânsito, colaborar para a segurança viária e, principal-

mente, preservar vidas”, ressalta Maxwell Vieira, diretor-presidente do Detran-SP. Para solicitar o benefício, o interessado deve ir até a uma unidade do Detran-SP. Se os requisitos forem preenchidos, ele receberá uma autorização a ser entregue a uma autoescola, onde contratará o curso. Após a emissão da permissão, o condutor terá 15 dias para iniciar as aulas e, a partir daí, 40 dias para terminá-las. O curso de reciclagem preventiva é o mesmo que já existente para condutores infratores com a CNH suspensa e é oferecido pelas autoescolas. Como estabelece o CTB, todo condutor que atinge 20 ou mais pontos em 12 meses tem o direito de dirigir suspenso por no mínimo 6 meses e precisa passar pela reciclagem. Também tem a CNH suspensa quem comete uma única infração gravíssima que tem como penalidade prevista no CTB a suspensão.


ENTRETENIMENTO

15

O JORNAL DO AMIGO CAMINHONEIRO

CHICO DA BOLEIA

PALAVRAS CRUZADAS PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br Tradição da Suíça no posicionamento em conflitos internacionais Nuvem formada por matéria interestelar (Astron.)

© Revistas COQUETEL

Local em que competem os (?) de cores, item do Photoshop (Inform.) cavaleiros, nas Olimpíadas Bruno Astuto, Roubo (?)-Carneiro, jornalista carioca total (gír.) poeta português

“O Silêncio dos (?)”, filme de suspense

Regula planos de saúde no Brasil (sigla)

• 1 colher (chá) de açúcar • 1 colher (sobremesa) de sal

Interjeição de dor Item da CLT

Ato de máfé para enganar alguém Actínio (símbolo) Aquele homem

• 1 x (chá) de leite • 1/4 x (chá) de óleo de milho

Utensílio para aquecer água

• 500 gramas de farinha de trigo • 2 x (chá) de molho de tomate

Rio suíço

parmesão ralado • azeite de oliva

Principal, em inglês Peça esvoaçante do uniforme da Tempestade (HQ) Presidente destituída em 31 de Forma de agosto de “muito”, 2016 comum Formato no RS do sacarolha Peças de lavatórios

BANCO

Capital da salsa na Colômbia Barco do Dilúvio (Bíblia)

Função trigonométrica Conversa (gíria) “Estatuto”, em ECA

29

Solução

C

• orégano fresco

Recanto das (?), região do DF Abrigo

B A

• 4 colheres (sopa) de queijo

Museu da Imagem e do Som (sigla)

C

meio • 150 g de queijo mussarela

Rato, em inglês O (?): o bamba

P S A A L E E F R T E A I LE T I C O H S M A S I L O S E NO I R E R O R A S

• 24 filés de anchova cortados ao

O ingrediente que tem de ser indicado no rótulo do alimento Frase espirituosa

L O I M IN P O A C E E N A T E A S A R CA L E I

• 12 tomate cereja em rodelas

B U A A A NS R A LO R G R T O A L M A U I R N

Em um recipiente, desmanche o fermento no açúcar. Junte o sal, o leite e o óleo. Adicione aos poucos a farinha de trigo. Sove a massa até ficar bem macia. Divida em 12 partes iguais. Faça bolas com cada parte e deixe descansar até dobrar de volume. Abra a massa bem fina no diâmetro da frigideira. Na frigideira bem quente, preasse todas as porções. Para montar a pizza, coloque a massa na frigideira e, em fogo baixo, distribua o molho, a mussarela, as rodelas de tomate, os filés de anchova e o queijo ralado. Salpique com o orégano e coloque um fio de azeite. Tampe a frigideira e deixe no fogo até derreter a mussarela, aproximadamente 5 minutos.

• 30 g de fermento biológico

C N E E N U T T R R O A D L E I H D I A P D I E S M T O

MODO DE PREPARO

ingredientes

(?) Oliveira, comentarista esportivo

Ângela (?), política Lavrar (a terra)

3/rat. 4/main. 10/alergênico. 14/efeitos sonoros. 15/centro de hipismo.

Pizza de frigideira

Cada lance de uma novela (TV) VLT ou metrô Multidão (pop.) Peça metálica pendente no sino

Emissões como “reverb”, “chorus” e “delay”, produzidas por pedais de guitarra


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