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Entrevista: Alexandre Rebelo-Marques

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Randy Schekman

Randy Schekman

Doctor, Crack My Case!

Entrevista: Alexandre Rebelo Marques

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Maria Inês Teixeira, 4º ano

Onde e quando nasceu a decisão de estudar Medicina? Ui, isso é uma pergunta muito difícil (risos)! A Medicina nem sempre foi a única primeira opção, eu tinha duas grandes opções que eram a Medicina e a parte da informática, novas tecnologias e comunicação… Portanto, diria que a escolha foi no momento do 12º ano, caiu para o lado da Medicina.

Os últimos 15 anos representam um longo percurso de estudo e aprendizagem. Qual o maior desafio vivido ao longo desse tempo? Ora bem, desde que entrei na Faculdade nunca mais saí! Comecei em 2004 e estou, desde então, inscrito na Faculdade: Porto, Coimbra e Lisboa. Os grandes desafios? Estes últimos 15 anos têm sido de grande aprendizagem, confesso que aprendo tanto com professores como com alunos; o facto de estar ligado à Faculdade de Medicina e dar aulas também é muito importante e interessante. O principal desafio é conseguir conciliar, conciliar a parte de estudo e de aprendizagem com a parte do trabalho, que chega a uma fase da vida em que é obrigatório, não é? Temos de viver para ter casa, para ter carro, para ter comida e, portanto, fazer a conciliação é que é desafiante, mas faria tudo igual outra vez.

Uma vez que teve a oportunidade de estudar fora de Portugal, como considera ser o ensino da Medicina no nosso país? Eu acho que a Medicina em Portugal tem um alto nível científico. Tive a oportunidade de estar nos Estados Unidos, no Brasil e na Europa Central e, quando passei em todos os locais, nunca senti que estivesse inferior às pessoas de lá. Cientificamente somos muito competentes. Acho que as Faculdades em Portugal necessitam urgentemente de mudar, e aqui incluo-me a mim, porque faço parte de uma Universidade na qual sou docente. Precisamos de mudar muito a maneira como tentamos fazer chegar a mensagem aos alunos. A Medicina é ensinada da mesma forma há 20 anos, os conteúdos vão mudando, mas há 20 anos que é igual; pelo menos desde que entrei na Faculdade – não foi há 20 anos, mas quase – até

agora, a Medicina é ensinada da mesma maneira e acho que é urgente as Faculdades começarem a adaptar-se, incluir cada vez mais as novas tecnologias, porque elas estão cá para nos ajudar e para atribuir valor, não é para substituir ninguém, é para tentar melhorar o ensino. A nível científico acho que estamos lá em cima, estamos muito bem, temos excelentes profissionais, nem sempre reconhecidos. As Faculdades em si têm de fazer o papel de acompanhar o desenvolvimento e a transformação, aliás, o último ano e meio de pandemia para as Universidades portuguesas… foi uma tragédia a sua adaptação, a qualidade de ensino e o tipo de ensino à distância. Portanto, temos um longo caminho a percorrer, mas não estamos atrás de ninguém.

Na sua opinião, qual a importância do In4Med? Eu confesso que estou maravilhado. Conheci no ano passado o In4Med, já nos meus tempos de estudante do ICBAS nós tínhamos um congresso que organizávamos no 4º ano, que era “As Jornadas de Terapêutica”, mas a dimensão que vocês proporcionam num congresso organizado por estudantes de Medicina é fantástica. Veem-se poucos casos a nível mundial. Conheci melhor, agora que vim cá, a realidade do vosso congresso. Existem, obviamente, no Porto e em Lisboa, algumas iniciativas similares, mas vocês conseguiram trazer vencedores de Prémios Nobel, juntar aqui uma data de profissionais que são excelentes naquilo que fazem no seu dia a dia e, ao mesmo tempo, conciliar as vossas aulas, organizar concursos, conseguir apoios da indústria farmacêutica, que sabemos que são essenciais e andam lado a lado, não só no avanço tecnológico e no avanço da medicina, mas também na formação. Acho que vocês conseguem fazer a diferença! A importância do In4Med é poder fazer a diferença. O meu desejo é que todos os alunos sejam capazes de se envolver e participar de alguma maneira. Obviamente que isto é tudo voluntário, eu percebo, mas que consigam envolver-se. É através de conhecer mais pessoas e partilhar ideias que nós conseguimos

Doctor, Crack My Case!

chegar mais longe. Não vamos sozinhos a lado nenhum, precisamos de ajuda; portanto, quanto mais pessoas conhecermos mais fácil é chegar onde nós quisermos.

Quais os objetivos e projetos para o futuro? Essa é uma pergunta que eu me faço a mim mesmo todos os dias. Só um maluco para estar a fazer o Doutoramento, o MBA, a dar aulas e a trabalhar ao mesmo tempo! Várias vezes em casa me perguntam quantas horas tem o meu dia. Eu costumo dizer que nós temos de ser organizados, fazer as nossas escolhas e, atenção, as escolhas que devem ser sempre prioritárias são a parte familiar, os amigos, o tempo de descanso - ele é essencial para que tudo o resto corra bem. Não existe o Alexandre do trabalho e o Alexandre da família, é o mesmo. O que temos de fazer é criar um balanço próprio. Tento fazer exercício físico três vezes por semana, também tenho tempo para isso! É preciso organização, gerir muito bem o tempo. Se me perguntarem qual foi o último programa de televisão que vi, sou capaz de dizer que não sei! Porque não sei mesmo. Não tenho tempo para ver televisão. Leio as notícias, ouço as notícias, mas ouço e vejo o que quero, aliás, a tendência da tecnologia é exatamente esta: nós acabamos por poder escolher os conteúdos que queremos, nós conseguimos ver tudo na internet. Vou partilhar convosco aquilo que escrevi numa nota há 3 anos atrás: chegar aos 35 anos de idade com duas especialidades médicas e um doutoramento. Se tudo correr bem, não vou chegar com duas, vou chegar com três, porque duas já tenho, vou ter o doutoramento e vou ter o MBA. Tudo porque trabalho muito, esforço-me muito, mantenho o foco. Manter o foco, ser autodeterminado, não parar e rodear-me de pessoas que são tão ambiciosas quanto eu. Quando entras numa sala e és a pessoa que te sentes totalmente diferenciada, estás

na sala errada. Portanto, tens de partilhar ideias, partilhar experiências, estar com pessoas, conhecer novas pessoas que partilhem os mesmos gostos, podem ser gostos musicais… É inacreditável onde vocês vão conhecer os vossos futuros amigos, as pessoas com quem vão partilhar trabalho. Portanto, a ambição continua: aprender todos os dias, tentar ajudar o máximo de pessoas possível. Tenho uma máxima escrita, até está nas minhas redes sociais, que é “connecting hearts”; não consigo ajudar toda a gente, obviamente, mas a ambição continua lá: aprender o mais possível, conhecer o maior número de pessoas possível e não parar.

Sente-se uma pessoa realizada? Sim, sinto-me uma pessoa extremamente realizada em tudo. Tenho uma família que me deu a base - tenho a sorte, nós temos de agradecer essa sorte -, base de valores e possibilidades, a consistência necessária para eu poder desenhar o meu caminho. Depois tive a sorte de encontrar amigos formidáveis, que me acompanharam, acompanham e que querem continuar a acompanhar-me. Tenho a parte familiar completamente realizada, a parte amorosa, os amigos, o trabalho… E as coisas complementam-se! Uns dias melhores, outros piores, somos todos humanos, mas, sim, considero-me [uma pessoa realizada].

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