6 minute read

Cláudia Azevedo

Next Article
Randy Schekman

Randy Schekman

Stepping into the Future

Entrevista: Cláudia Azevedo

Advertisement

Maria Inês Teixeira, 4º ano

Stepping into the future dá início ao X In4Med neste ano tão atípico e especial para o mundo. O que a inspira a estar presente nesta edição a falar neste tema? Apesar de ser um ano atípico, há coisas que nós podemos aprender e das quais tirar partido, tirar vantagem e crescer; é sobretudo uma altura essencial para não desmotivarmos. Há muitos estudos e muita tecnologia a serem desenvolvidos. Temos muito valor no nosso país e é sempre uma mais valia usar este tipo de iniciativas para o divulgarmos e mostrar que nós também conseguimos fazer a diferença. Foi com muito prazer e muito gosto que aceitei o convite. Um dos meus objetivos é divulgar ciência, boa ciência. Dedicou os últimos anos à investigação, integrou publicações, escreveu artigos de revisão, recebeu prémios e participou em conferências internacionais. Qual a parte mais desafiante deste percurso? O doutoramento, por si só, é um percurso desafiante, não é? (risos) São 4 anos, com alguns momentos mais frustrantes, quando as coisas não resultam, mas é um caminho. Foi bom para mim para me desenvolver tanto profissional como pessoalmente: trabalhar a resiliência, a paciência, o trabalho em equipa… O que me deu mais prazer foram as colaborações e os desafios mais “outside the box”, tanto com o MIT como, especialmente, com a Agência Espacial. Concorremos a um concurso em que foram só selecionadas duas equipas a nível europeu, a nossa equipa portuguesa e uma equipa italiana. Por isso, eu tinha uma responsabilidade acrescida de representar bem o país neste projeto. Fui líder desta equipa. Naquela altura estava em Boston. Conseguir gerir as coisas, a equipa, os recursos, arranjar financiamento, cuidar de toda a logística, conseguir gerir à distância…; depois, com a pandemia, ter de fazer planos de contingência, prever possíveis problemas, possíveis soluções… Mas no fim tudo se conseguiu e correu linda-

mente! Foi um projeto bastante interessante e gostei imenso. Não há oportunidades ou grandes reconhecimentos sem um grande desafio, sem as partes menos boas. Aliás, é isso que dá mais luz e brilho às conquistas! É verdade! (sorrindo) Onde e quando surgiu o interesse particular pelas nanopartículas? Sempre estive interessada na parte das biomédicas, das ciências ligadas à saúde. Na minha Licenciatura tirei Biociências, no Mestrado fui para Oncologia Molecular e depois tive uma Bolsa de Investigação no ITQB a trabalhar com exossomas. Foi aqui que comecei a conhecer as nanopartículas e o seu potencial, numa altura em que deu este “boom” de “as nanopartículas são o futuro”, “há muito que podemos fazer com elas”! Consegui a Bolsa de Doutoramento, integrei o grupo no I3S, especializado em Nanomedicina. Era uma área completamente nova para mim, que estava a explodir, a crescer muito rapidamente, pelo que foi um grande desafio. Gostei imenso. Quais os objetivos e expectativas para o futuro, em termos pessoais e profissionais? Em termos pessoais, posso dizer que tenho agora 30 anos, quase 31, e já com alguns cabelos brancos (risos); estou numa fase da minha vida em que quero estabilizar, quero formar a minha família, ter as minhas coisinhas. E, portanto, isto acaba um bocado por influenciar a minha vida profissional. Defendi a tese de doutoramento no dia 1 de abril, há uma semana atrás, e estou mais inclinada para a área da indústria, porque acho que a longo prazo é muito mais estável, o que me vai permitir, lá está, a nível pessoal, ter esta independência e estabilidade que procuro neste momento. E, sim, posso dizer que na 2ª feira [dia 12 de abril] vou começar a trabalhar no Centro de Nanotecnologia e Materiais Funcionais em Famalicão, conhecido pelo CENTI. Estou pronta para uma nova aventura! Vamos lá ver como é que corre! A defesa da tese correu bem? Sim! Acho que agora, comparado com aquilo, tudo o resto é finest, como se costuma dizer! Relativamente ao estudo que, com base em nanopartículas biodegradáveis, permite que a insulina seja administrada por via oral em doentes com diabetes tipo 1: Ultimamente tem havido novos avanços? Quais são as expectativas? Que outras doenças crónicas poderiam beneficiar deste sistema? Eu desenvolvi estas nanopartículas com a par-

Stepping into the Future

ticularidade de elas beneficiarem dos mecanismos do FCRM e, como eu disse [na palestra], dentro da nanopartícula nós podemos encapsular o fármaco que nós quisermos. No meu caso utilizei a insulina para aplicar na diabetes, mas podemos utilizar outro para outro tipo de doença, daí a versatilidade do transportador. Podemos “brincar” com estas caraterísticas da nanopartícula para elas terem o efeito que nós queremos e encapsular outro tipo de fármacos: tentar aplicar em patologias que estão relacionadas com a diabetes, mas também testar noutras doenças, porque o FCRM está expresso em vários órgãos do nosso corpo. Relativamente à nanopartícula propriamente dita, tem esta vantagem de ter uma libertação [do fármaco] de maneira controlada e prolongada. Podemos tirar partido disso para doenças mais crónicas. Como é que foi esta experiência de vir cá hoje? Foi engraçada, deu para mudar um bocadinho de ares, em tempo de pandemia. Correu tudo bem. Quero agradecer pelo convite, mais uma vez, e congratular-vos por toda esta organização e profissionalismo. Estou a gostar da experiência!

Keynote

Joaquim Alves da Silva

Rita Nunes, 2º ano

Tal como muitos da sua geração, foi o lendário Jacques Cousteau quem atraiu o Dr. Joaquim Alves da Silva para a investigação. Em vez de se tornar biólogo marinho, Joaquim ingressou na NOVA Medical School, onde se interessou pela Psiquiatria. Fez o internato num hospital em que contactou com investigadores, o que lhe facilitou a entrada na área. Mas nada é de graça... Começou pela base, com tarefas entediantes, para aprender. Investigação só faz nas tardes de sexta-feira!

Vivenciou a sua própria revolução científica num programa de MD/ PhD na Fundação Gulbenkian, onde conheceu o neurocientista Rui Costa, que lhe explicou como as opsinas tornam os organismos unicelulares capazes de detetar e se mover em direção à luz. As ferramentas genéticas e estas proteínas sensíveis à luz revolucionaram o estudo do cérebro e permitiram aos cientistas estimular ou inibir neurónios específicos através da luz.

Já na equipa de investigação do Dr. Rui Costa, na Fundação Champalimaud, abordou o caso de um doente de Parkinson com uma bradicinésia grave, mas que não tinha dificuldades em andar de bicicleta quando empurrado. Aplicaram a revolução optogenética aos neurónios dopaminérgicos da substância nigra, que são destruídos na doença de Parkinson. Quando inibidos pela luz, esses neurónios atrasavam o início do movimento, mas não influenciavam o seu desempenho depois de iniciado. A equipa demorou 7 anos a publicar este trabalho numa revista de grande impacto. Mas valeu a pena: recebeu um prémio Pfizer em 2017!

Nesta altura, o Dr. Joaquim ainda fazia trabalho clínico e de pesquisa em simultâneo, mas a certa altura parou de ver pacientes para se concentrar na investigação, pois sentia que não poderia ser bom nas duas coisas – especialmente porque se dedica a investigação básica, e

This article is from: