É, SIM, PADECER NO PARAÍSO Movimento de desconstrução da maternidade romântica propõe quebra de padrões e busca expor a realidade enfrentada por essas mulheres
MAÍRA ALVES
estão dormindo, podemos conversar sossegadas”, disse em tom eufórico, enquanto arrumava o cabelo e as cadeiras da sala, onde a entrevista seria dada. Foi aos 21 anos que Renata se deparou pela primeira vez com o universo desconhecido da maternidade. Foi um choque. “Nos decepcionamos muito quando a criança nasce, pois, antes de nascer existe a idealização de uma maternidade perfeita”, comenta, após checar se as filhas continuavam dormindo. “Principalmente os primeiros meses, são muito puxados. Você quer ser feliz, se sentir bem, mas você não consegue ”, desabafa. “ A criança te traz muita felicidade, mas você não dorme, não vai ao banheiro, não escova os dentes direito”, disse. Renata não é uma exceção de quem ama os filhos e a maternidade, mas descobriu uma realidade diferente da vendida pela mídia. Quase todas as mães relatam uma situação semelhante. Elas se sentem atraídas pelo sonho de serem mães, por meio da idealização da mídia, assim como, a imposição cultural pré-estabelecida desde o nascimento. A historiadora Sabrina Balthazar ressalta que o conceito de maternidade observado atualmente foi constituído lentamente
no início do século 15, ganhando corpo com o passar do tempo. “Ciência, estado e medicina consideravam relevante a atribuição da criação dos filhos às mulheres, já que aos homens era destinado o papel no mercado de trabalho e de provedor da família”, explica. Como a função de criação dos filhos era destinada a elas, a pressão pelo bom comportamento familiar acaba por recair no colo das mulheres, responsáveis por manter a boa imagem da família. “No século 20, jornais e revistas destinavam cer-
redemoinho . ano 08 . número 13
A
maternidade é uma coisa muito solitária. Você se sente em um barco sozinha. Tudo depende de você”. O desabafo é da dona de casa Renata Lopes, 26 anos, casada e mãe de duas filhas de 2 e 5 anos. O relato vai contra uma imagem romântica e idealizada da maternidade. Uma reprodução perpetuada pela ficção dos filmes e telenovelas, que causa sofrimento à maioria das mulheres. Uma corrente denominada maternidade consciente tenta desconstruir tais mitos. A desconstrução da maternidade romântica busca informar a realidade enfrentada por mulheres-mães, com o intuito de garantir o acesso a informações pertinentes sobre a maternidade real, a fim de tomar uma decisão consciente sobre uma vida com ou sem filhos. O assunto é controverso até no movimento feminista. Era uma tarde comum de segunda-feira, casa limpa, louça por lavar e alguns poucos brinquedos espalhados pelo chão da sala. As meninas tiravam o cochilo da tarde, que dura em média uma hora e meia, tempo que Renata reserva para si. “As meninas
39
















