Papo de Montanha - Nov 2014

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A fauna e flora das nossas montanhas pelo olhar dos nossos sócios em mais uma exposição fotográfica.

PAPO DE MONTANHA

Revista do CEL

Montanhas no CEL:

ano 2 | número 5 | novembro 2014

Excursão Interclubes

Cabeça de Peixe Técnica

Rapel com freio alto Papo de Montanha

A história do projeto Montanhas no CEL

Exposição Fauna e Flora Escalando por aí

Invasão carioca no 13° EeNe

Taltos Smith Entrevista

A mais jovem revelação da escalada carioca Novembro 2014

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Novembro 2014


editorial ano 2 | número 5 | nov2014 CEL - Clube Excursionista Light Presidente: Éder Abreu Vice-Presidente: Fernando Araújo Secretaria-Geral: Marcus Barreto Tesouraria: Claudio Van e Norma Bernardo Diretoria de Montanhismo: Filipe Careli e Rafel Vargens Diretoria Social: Gabriela Lima Diretoria de Ecologia: Daniel Arlotta Diretoria de Comunicação: Karla Paiva e Claudney Neves Diretoria Cultural: Miriam Gerber Projeto Gráfico inicial: Paulo Ferreira Organização: Claudney Neves Editoração: Karla Paiva Foto de capa: Taltos Smith escalando a via Rodaviva, Morro do Babilônia, Urca/RJ. Foto: Claudney Neves. Papo de Montanha é uma publicação do CEL - Clube Excursionista Light. As opiniões expressas pelos autores são de inteira responsabilidade dos mesmos e não representam a opinião da revista Papo de Montanha e do CEL.

Fale Conosco: cel@celight.org.br Av. Marechal Floriano, 199/501, Centro, Rio de Janeiro - RJ Tel.: +55 21 2253-5052

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Desde que resolvemos reformular nosso antigo boletim e transformá-lo em revista, pensamos em oferecer conteúdo interessante para todos os montanhistas, sejam sócios de clubes, federados ou sem nenhuma ligação com estas instituições. A Revista Papo de Montanha têm recebido muitos elogios, o que nos motiva a melhorar sempre mais. Hoje, nossa principal dificuldade têm sido a regularidade, um problema antigo, que está intimamente ligado ao trabalho voluntário, mola mestra do CEL, demais clubes, federações e até da nossa confederação. Para compensar o intervalo de tempo entre as edições, estamos caprichando na qualidade das matérias, tanto em conteúdo, quanto em visual. Esperamos que gostem! Neste número trazemos um belo relato sobre a excursão interclubes ao Cabeça de Peixe; o que que a Bahia tem e mostrou durante do 13º Encontro de Escaladores do Nordeste; comemoramos a marca do quadragésimo Papo de Montanha, contando sua história; nossa parte técnica mostra as vantagens do rapel com freio alto; entrevistamos Taltos Smith, a mais jovem revelação da escalada carioca, que é nossa matéria de capa; e encerramos com as belas fotos de mais uma exposição do projeto Montanhas do CEL, dessa vez com o tema Fauna e Flora. Encham os olhos e boa leitura!

/cel_celight

índice Excursão Interclubes

Papo de Montanha

Técnica

Montanhas no CEL

Entrevista

Escalando por aí

Cabeça de Peixe................................ 04

Rapel com freio alto ......................... 09

Taltos Smith ..................................... 12

A história do projeto......................... 22

Exposição Fauna e Flora................... 24

13° Encontro de Escaladores do Nordeste........................................... 32 Novembro 2014

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Novembro 2014


Por Gabriela Lima (CELight) Fotos: Guilherme Costa (CELight)

O dia 17 de maio de 2014 começou cedo, 4:30h marquei com a Norma de encontra-la. Fui de bike até a casa dela e de lá uma carona com o Claudio Van até o ponto de encontro. Já coloquei o meu coração pra acelerar.

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Excursão Interclubes

Cabeça de Peixe


Excursão Interclubes

Excursão CEL/participação CERJ Invasão dos cumes ATM Parnaso No ponto de encontro já estava nosso querido guia, Renatão, e mais algumas pessoas. Outras foram chegando aos poucos e depois de alguns ajustes demos partida para uma trilha até então inédita para a maioria, Cabeça de Peixe, no Parque Nacional da Serra dos Orgãos. Essa excursão era uma mistura boa de CEL e CERJ. Dali, experiente nesse caminho, só o Renatão e a Marineth, que nos brindou com sua disposição aos 76(?) anos. A trilha toda eu pensava: Quando chegar lá quero ser que nem ela, exemplo de calma e disposição, um doce!!! Bem, pelo que ela estava dizendo, depois dos 30 passa muiiiito rápido. Já vou me preparando!! O Cabeça de Peixe fica ao lado do Dedo de Deus, de baixo não é a pedra que chama mais atenção, mas é linda, com uma subida dura e um visual incrível do cume. São 1.680m de altitude, 750m dele em desnível vertical e 2,2Km de trilha aproximadamente a partir da “Santinha” , com um misto de caminhada, escalaminhada e trechos de corda, quase uma escalada. Começamos de verdade as 7:15 com 11 pessoas, e lá em cima mais um se juntou, pois esse um estava atrasado. Fizemos tudo com muita calma, muitos trechos com corda fixa, protegemos outros para dar mais segurança para os participantes. Muitos superaram desafios, outros foram destemidos e subiram direto, e por volta das 14h 6

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chegamos ao cume. O dia estava bonito com um céu azul incrível, mas na metade do caminho uma neblina tomou conta, até que ao chegar ao cume a neblina foi se dissipando e nos brindou com um belo visual da Verruga do Frade de um lado, e o Dedo de Deus, Dedo de Nossa Senhora e Escalavrado do outro. Muitas fotos, comida, risadas e preparação para descer. Na subida pedras rolaram. A Judy em clima de copa matou no peito e chutou pro gol. A Norma com inveja resolveu dar uma manchete com outra,


mas por sorte não se feriram. Vale a pena levar capacete, muitas pedrinhas soltas. Já que na subida foi trepa mato, trepa pedra, uma trepação danada, imagine o contrário disso. Duro, duríssimo, no bom sentido, é claro. Muitos rapéis, muitas raízes, muita pedra úmida. Saímos do cume por volta das 15h e terminamos 21:20. Valeu a pena o esforço, o carinho da galera

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Excursão Interclubes

que ajudava um ao outro, esperava o tempo que fosse só pra ajudar com uma mão amiga, uma indicação de onde pisar, ou somente para iluminar os caminhos. O Cabeça de Peixe foi para mim uma das melhores trilhas que já fiz, um dia eu volto, quem sabe. Agora é menos um cume da minha lista de desejos dessa serra tão linda que temos o privilégio de ter em nosso Estado. E ontem foi a Abertura de Temporada oficial do Parque. Parabéns para os idealizadores e organizadores, parabéns aos participantes, parabéns aos clubes e parabéns a todos os companheiros de trilha. Obrigada por tudo! O conjunto e a união fazem a força!


técnica

Rapel com freio alto Por Hans Rauschmayer Fotos: Karla Paiva

As estatísticas dos acidentes têm ajudado a focar nos procedimentos onde, na bruta realidade, ocorrem mais acidentes. E jogou um holofote no rapel – afinal, é alí que há entre 40 e 50% dos acidentes fatais na escalada. Um resultado visível foi a ampla adoção do nó autoblocante durante o rapel. O que gerou muitas discussões era como fixar freio e nó no baudrier. Parece que a discussão chegou a um fim: observou-se na literatura internacional e nos manuais uma padronização que é abordada em seguida. Vamos começar analisando as funções de freio e nó autoblocante. O primeiro transforma a “energia potencial” acumulada pela nossa altura na parede (lembrem da aula de física) no calor que a gente sente ao desmontá-lo. E ainda permite regular a velocidade da descida. Já o nó autoblocante tem duas funções: Travamento: o nó trava o freio • quando precisamos ter as duas mãos livres para ajeitar a corda, ou quando acontece algo que nos não permite mais controlar o freio (ex. perda de consciência); • Redundância: o nó nos protege contra erros na montagem do freio (fixação no rack, mosquetão aberto, corda passada de forma errada ...). Somos humanos, portanto erramos, e testamos, no rapel, o sistema de segurança. Qualquer erro aparece de forma fatal. 8

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Quais eram as opções de montagem praticadas? • Freio no loop e nó acima do loop: se, no peso completo do escalador. Para destravar é necessário aliviar o peso, o que nem sempre é fácil. • Freio no loop e nó na perneira: nesta montagem há dois problemas. O primeiro surge com perneiras ajustáveis, onde a fivela pode ser aberta pelo puxar do cordelete. O segundo ocorre quando o nó entra na função da redundância: neste caso, o escalador fica pendurada somente pela perneira, com alto risco de virar com a cabeça para baixo. Na nova e padronizada montagem, o freio é montado em um ponto mais elevado. Vamos explicar o procedimento completo:


técnica

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O escalador que usa uma solteira de fita deve fazer um nó aproximadamente na metade da fita antes de iniciar a escalada. Quem possui loop chain ou similar não precisam se preocupar com isto;

A montagem do rapel começa quando o escalador ainda está preso na ancoragem da parada. O primeiro passo é a colocação do nó autoblocante (que pode ser o Prusik, o Marchard ou o Autobloc), fixando o cordelete no loop com um mosquetão. Em seguida, testa-se se o nó realmente trava a corda (cuidado com o autobloc que pode se acomodar de forma diferente durante o rapel e deixar de travar. Experimente com cuidado);

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Puxa-se meio metro de corda pelo nó com objetivo de obtermos uma alça confortável para montar o freio;

O freio é montado embaixo do nó da solteira ou em uma alça da loop chain e a corda inserida;

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técnica

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Freio e depois nó são empurrados em direção à ancoragem;

É imprescindível verificar a montagem completa (freio, corda, mosquetões, nó, baudrier);

O mosquetão da solteira é retirada e clipado onde não atrapalha a ação do freio (se clipar no rack, a fita precisa ficar relaxada);

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Ao chegar na próxima parada, a solteira é fixada na ancoragem antes de desmontar freio e nó.

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técnica

Este ponto pode ser um nó simples na solteira, uma alça no loop chain ou uma costura. O nó autoblocante é fixado no loop.

Vantagens do sistema:

• O freio fica mais visível – erros caem à vista; • Há distância suficiente para que o nó não encoste no freio; • O nó é fixado em local apropriado; • O peso está no freio, mesmo em caso de travamento do nó. É fácil soltá-lo sem precisar levantar o corpo todo; • É fácil montar freio e nó autoblocante de um participante inexperiente na própria corda antes do guia abrir o rapel, aumentando a segurança nesta situação. Não há vantagens sem desvantagens. São as seguintes: • Certos freios tipo ATC, especialmente aqueles em formato V [foto] mordem a corda mais nesta montagem e podem até travar. O lado que trava mais deve ser virado para cima. Uma costura clipada no arame do freio pode aliviar a mordida. • O/a escalador(a) deve tomar cuidado especial para que nenhum objeto ou cabelo entre no freio (ai que dor!); • Um freio muito elevado pode complicar o manuseio das costuras em rapel diagonal. E a resistência da solteira, ela não sofre com o nó? Com certeza – sabemos que o nó simples reduz a resistência da fita pela metade. Mas esta redução não é relevante enquanto a fita não leve impacto de queda. No uso estático, a força aplicada corresponde ao nosso peso, durante o rapel aplicamos o dobro do nosso peso (devido à elasticidade da corda). Ficamos, portanto, muito abaixo da resistência reduzida. Quem possui loop chain devem consultar o manual para saber a resistência do equipamento! Lembre-se: A responsabilidade das ações são somente do próprio escalador que deve buscar conhecimento de várias fontes e ganhar experiência gradativamente.

Hans Rauschmayer é guia de montanhismo do Clube Excursionista Light.

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Taltos guiando a via Roda-viva no morro da Babil么nia, Urca. 12

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ENTREVISTA

Taltos Smith Fotos: Acervo da família, Marcelo Crux e Claudney Neves.

Nos últimos tempos temos visto escaladores cada vez mais jovens se destacando ao redor do mundo. O Brasil também tem colaborado com essa novíssima geração de talentos. Nomes como Rafael Takahace, Yan Kalapothakis e, o hoje já “coroa”, Felipe Camargo já chamaram atenção por sua pouca idade quando se destacaram no esporte. Mas quando falamos em novíssima geração, Taltos Smith, um carioca de 9 anos de idade, representa bem esse termo. Com auxílio e autorização dos seus pais, o jovem escalador concedeu esta entrevista a Claudney Neves, em maio desse ano. Novembro 2014

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Taltos, antes de iniciarmos, gostaríamos de dizer que é muito bom ver alguém tão jovem com interesse na escalada, e rara essa predileção por vias tradicionais. Parabéns! Quando e como começou esse interesse pelo esporte, seus pais tiveram influência na sua decisão de começar a escalar? Eles também escalam? Eu estava numa festa de família no Parque da Catacumba, aqui no Rio mesmo, quando tinha 6 anos, onde há um muro artificial. Vi e achei legal. Pedi para meu pai me deixar tentar subir. Fui até o topo na primeira tentativa na vertical e toquei o sino, depois na negativa e toquei o sino, e no final o teto, que na época foi bastante difícil para mim, mas toquei o sino. Gostei muito e todos estavam torcendo para mim o tempo todo. Foi muito bacana!

mas me deixou escalar em todos os muros artificiais. Depois disso, eles comentaram que eu tinha habilidade, então me deixaram descer no rapel, mas disseram para meu pai que eu desistiria, como a maioria de pessoas. Ao contrário, adorei! Depois vi no YouTube alguns vídeos de escalada. Quando assisti o vídeo Man or Beast, sobre free solo, sabia na hora que queria escalar nas rochas. Meu pai e eu tínhamos discussões, porque ele não concordava de jeito nenhum que eu solasse. Meus pais não escalam, não temos escaladores na minha família, que é grande e até hoje ninguém na família conheceu um único escalador. Todo mundo achou essa ideia maluca e perigosa, mas meu pai sempre me apóia no que faço, em qualquer esporte. Então, finalmente ele concordou em me deixar escalar. Encontrei Thiago Bonfim e Marcelo Castro, da Crux Ecoaventura e comecei a escalar com eles. Minha mãe tentou escalar um pouco, meu pai também tentou - mas ele tem medo de altura. Ajudei meu pai a adaptar o material de escalada para usar nas árvores. Agora ele está subindo bem alto nelas. Escalando com sua mãe

Parque da Catacumba, onde tudo começou.

Alguns meses depois fui com meu pai em Nova Iguaçu, onde há um rapel vertical, totalmente negativo, com 55m. Falei que gostaria de fazer, mas era proibido para pessoas menores de 12 anos e menos de 25 quilos. Eu estava com 6 anos e 21 quilos. Meu pai falou com a companhia, que disse não ser possível, 14

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Você pratica algum outro esporte ou, nessa área, se dedica exclusivamente à escalada? Já tentei vários esportes, Lacrosse, football americano, baseball, natação, futebol e outros. Mas no final gosto de escalar, esquiar, e praticar jiu-jitsu.

“Quando comecei, meu sonho era escalar o Pão de Açúcar.” Só esquio duas semanas por ano, na França, onde moram meus padrinhos. Passei rápido nos níveis da L’Ecole du Ski Français, pulando dois ou três a cada ano. Ganhei a medalha de ouro em janeiro de 2014, que dá direito a competir e pontuar no ranking oficial. Em 2013 você escalou o Dedo de Deus, montanha símbolo do nosso montanhismo e que exige um bom preparo físico e técnicas que não são muito comuns, como subida por cabo de aço e chaminés. Você gosta desse tipo de escalada? Gosto de tudo, mas tenho preferência por vias longas e sem cabo de aço. Também gosto de variedade, como fissuras, chaminés e negativos. Você já fez a Chaminé Stop, uma escalada de aventura, com 240 m, no Pão de Açúcar. De quem foi a ideia e como foi essa escalada? A ideia foi minha e do Marcelo. Nós sempre conversamos sobre vias diferentes para me dar uma oportunidade de experimentar vários tipos de técnicas. Existem muitas vias que eu não conheço ainda. A subida na Stop foi uma aventura.

No começo havia um monte de maribondos na parede, no meio da via a corda prendeu na chaminé e precisamos liberá-la. Os urubus chatearam a gente, depois Marcelo ficou preso duas vezes no buraco da galinha e no suplício chinês. Há vários lugares onde a chaminé tem uma largura grande para eu subir com a técnica de chaminé mesmo, precisei descobrir minha própria linha da via. Rochas caíram em vários pontos – duas vezes bateram no meu capacete. Começamos tarde, então terminamos a via no escuro. Mas eu e Marcelo achamos soluções com calma. Ficamos tranquilos e assim conseguimos, como sempre. Foi ótimo! Em 2012 você foi o mais jovem a repetir a Italianos, com 7 anos de idade, um clássico da cidade e onde muitos escaladores novatos têm dificuldade. Como se saiu? Você a achou uma via difícil? Quando comecei meu sonho era escalar o Pão de Açúcar. Ouvi falar que a Italianos era uma das vias mais clássicas do Brasil. Fiquei interessado.

Guiando na Hotdog Novembro 2014

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Quando estava escalando há cerca de 6 meses, Marcelo me disse que se eu quisesse, entraríamos nela. Então a gente fez. Teve bastante vento nesse dia. Não é uma via tão longa. Adorei. Em alguns pontos achei difícil na época. Hoje em dia os mesmos pontos são fáceis para mim. Escalando o Pão de Açúcar

Sempre é assim, na escalada e nas outras coisas. Na primeira vez pode parecer difícil, mas depois você se acostuma e fica mais fácil. Depois a SportTV entrou em contato com a gente e pediram uma entrevista. Também perguntou se poderíamos repetir a via. Fiz de novo. Dessa vez fez bastante calor e a rocha estava quente. Mesmo assim não foi um problema. 16

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Em 2013 você escalou o K2, no Corcovado, como se saiu em mais esse clássico carioca? Não achei tão difícil e fizemos muito rápido em uma cordada de três pessoas. A parte mais legal que achei foi o diedro inicial. Tinha muito vento e estava tudo coberto de nuvens, parecendo que a montanha é que se mexia.

Quais outras vias já escalou? Você prefere mesmo as tradicionais? Também gosta de esportivas e boulder? Já escalei bastante na Urca. Comecei nos ‘coloridos’, mas rápido ficaram fáceis demais. Já subi muitas vias na Babilônia, Top rope setor do Coringa, as quatro faces do Pão de Açúcar, Irmão Menor do Leblon (onde abri uma via com o Marcelo), Teresópolis e muitos outros lugares. Fiz minha primeira falésia em 2012, três meses depois de começar a escalar, quando mandei a Urubunda. Adorei. Até

Boulder na Urca com Marcelo Crux


hoje gosto muito da Pedra do Urubu. Tem várias vias de 7c e mais, que não tentei mandar ainda. Vou fazer. Gosto de falésias e esportivas quando não tenho muito tempo. Recentemente comecei a ficar bem interessado em resolver os problemas de boulders. Meus amigos Wanderson Alves, Andrezza Oliveira e Rodrigo Carreira estão me ajudando com técnicas e dicas. Wanderson me convidou pra fazer dois projetos com ele no setor do Gomes, na Urca. É bacana resolver novos problemas que ninguém ainda fez. Estou aprendendo muito. e na pedra doGosto Urubude tudo na escalada e comecei a estudar como usar móveis. Quero aprender tudo para subir em qualquer lugar. Em 2013 comecei a frequentar o Campo Escola 2000, na Floresta da Tijuca, com o Sergio Ricardo. Estou trabalhando a Zona Morta, um oitavo grau.

Top rope na pedra do Urubu

Você já escalou em outros estados ou países? Tem algum desejo em especial por algum lugar ou via? Já escalei no sector Le Cimaï, na França, perto de Toulouse. É um lugar que se tornou famoso porque Patrick Edlinger, o fantástico free solista francês, bateu recordes. As rochas lá são bem diferentes do granito do Rio. Ainda há muitos lugares que quero conhecer. Yosemite, Jacob’s Tree nas Estados Unidos, Monte Blanc na França. Quero aprender escalar no gelo, quero fazer psicobloc. Tenho muitas coisas para fazer e muito prazer a sentir no futuro. Como é sua rotina no dia-a-dia, quando a escalada se encaixa nos seus horários? Você treina em muros? Escala na rocha em todos os finais de semana? Durante a semana tenho pouco tempo para escalar. Fico na escola das 8h às 16h. Tenho bastante dever da casa Novembro 2014

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todos às noites. Gosto de tocar piano. Então, durante a semana tenho pouco tempo para escalar. Falei com meu pai e vou tentar me organizar para fazer boulders uma ou duas vezes por semana depois da escola. Escalo em quase todos os finais de semana - sábado e domingo. A escalada em algum momento atrapalha seus estudos? Seus pais já reclamaram disso? Você conhece pessoas da sua idade que também escalam? E o que amigos da sua faixa etária falam sobre sua escolha pela escalada? Eles ficam preocupados com sua segurança? Não atrapalha não. Eu preciso

estudar para fazer as coisas que quero. Eles nunca reclamaram. Não têm nada para reclamar. Raramente escalo durante a semana e vou bem na escola. Não conheço nenhum escalador na minha idade. Todos meus amigos escaladores são adultos. Tenho muitos amigos na comunidade da escalada. Eles são muito legais. Sou sempre bem-vindo e eles me tratam como igual entre eles. Todo mundo fora da comunidade diz que ficam preocupados com minha segurança. Claro que há riscos, mas é importantíssimo que você estude com pessoas que saibam como escalar com segurança.

Guiando a Roda-viva, Babilônia. 18

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Com o pai, Timothy Smith.

Você já guia? Desde quando? Quais vias já guiou? Já sim. Guiei quase desde que comecei a escalar, ainda nas vias fáceis. Mas parei por um tempo, porque Marcelo quis que eu me concentrasse nos outros aspectos da escalada e cada vez mais estávamos subindo vias mais exigentes. Nos últimos meses me concentrei mais em guiar. Agora estou guiando mais frequentemente na Babilônia, várias vias como Roda Viva, Ricardo Prado, Reinaldo Behnken. Normalmente vias de 4º, 5º ou 6º grau. Caí na Roda Viva, quando uma agarra de pé quebrou, ralei um pouco o joelho, mas continuei.

Você já confere sempre seu próprio equipamento e nós ou algum responsável faz isso por você? Sempre confiro meu equipamento antes de subir e faço um check-up no equipamento de quem está comigo. Eles também conferem meu equipamento. Esse é o protocolo que você deve adotar. Você deve ter ouvido falar do acidente com o jovem escalador italiano Tito Traversa, isso abalou de alguma forma seu desejo de escalar ou influenciou em algum procedimento? Ouvi sim. Fiquei triste. Sabe que meu apelido é Tito, desde que eu era pequeno? Fiquei surpreso que ele tem o mesmo nome. É muito triste, pois nunca vou ter a oportunidade de escalar com ele. Ele foi fera demais na escalada. Não afetou de nenhuma maneira meu desejo de escalar. Acho que todo mundo fica agora ainda mais atento com a segurança. Lembro que algumas semanas depois escaladores conferiram as costuras dos outros durante um batepapo.

Uma pergunta que parece boba, mas que muito marmanjo não tem noção da importância. Você sempre escala de capacete? Por que? Sempre nas vias, nunca nos boulders mesmo nos high balls. Agora é regra. Marcelo e todo mundo na comunidade insistiram para que eu sempre escalasse com capacete. Já fui atingido vários vezes por rochas que caíram, como aconteceu na Chaminé Stop. Novembro 2014

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Ouvi várias explicações que não fazem sentido algum. Conheço o tipo de costura envolvida no acidente. Nunca gostei. Uso as costuras da Black Diamond que não têm o mesmo desenho. Qual seu foco na escalada? Escala por diversão ou pretende participar de campeonatos e se dedicar às competições? Hoje escalo por diversão e participo de algumas competições. Faço parte de um time chamado Escalaalpin, que pretende viajar pelo Brasil competindo. Você tem noção de que é um exemplo para muitas crianças, que enxergam como é possível praticar com segurança um esporte que muita gente considera perigoso? Qual mensagem você gostaria de deixar para esses meninos e meninas e seus pais? Acho bacana poder ajudar outras crianças a entenderem que podemos fazer muitas coisas que muita gente acha impossível. Só é preciso acreditar. Também preciso lidar com o medo. Mas

“Sempre detestei o medo desde pequeno, nunca aceitei.” Guiando a Roda-viva, Babilônia.

sempre detestei o medo desde pequeno, nunca aceitei. Às vezes nas vias ele surge, mas você não pode pensar nele. Precisa focar no próximo passo e assim você sempre vai conseguir. Cada vez que fizer isso vai ser mais fácil superar seu medo. Siga seus sonhos e acredite em você e em seus pais e professores. Fale com eles de coisas que você quer fazer. 20

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Platô da Lagoa


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PAPO DE

MONTANHA

A história do projeto Por Guilherme Silva | Fotos: Acervo CELight

Quando eu comecei a escalar, a lista da FEMERJ no yahoogrupos era um canal bastante utilizado entre os escaladores cariocas para troca de conhecimentos e discussões. Muitas dessas trocas de mensagens eram sobre conteúdo técnico, outras eram buscas de informações sobre vias e locais, outras eram farpas trocadas entre pessoas com opiniões diferentes. Os anos 2008 e 2009 foram quando essa lista teve o maior número de mensagens. Em 2009 foram 5928, de acordo com o histórico disponível no Yahoogrupos. Em 2013 foram 2270 mensagens. Acredito que essa redução foi causada pelo aumento de grupos sobre montanhismo no Facebook. As discussões técnicas me interessavam. Gostava de ler postagens sobre assuntos do montanhismo que muitas vezes esclareciam muitas dúvidas. Acompanhando a lista comecei a identificar pessoas que dominavam determinados assuntos. Em 2010 participei da diretoria técnica do CEL e passou a ser da minha competência fomentar a capacitação técnica dos membros do clube. Inicialmente isso se daria através da revisão dos cursos

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existentes e da criação de novos. Eu queria, além de oferecer ensino formal, propiciar mais condições de troca informal de conhecimento. Queria ver pessoas batendo papo, frente a frente, sobre montanhismo, em discussões saudáveis. E vi que isso ocorria às vezes em reuniões do clube, mas num universo restrito aos sócios do clube, quando o Rio de Janeiro tinha muitas pessoas que poderiam enriquecer a conversa e não eram do CEL. Nessa época sugeri então ao CEL a criação do Papo de Montanha, já com este nome, que me era o mais óbvio possível para o que seria sua proposta: difundir conhecimento entre os montanhistas, através de um ciclo de palestras e debates. Conversei então com o Bernardo Collares sobre


a intenção e ele, que sempre teve essa preocupação de unir os montanhistas em seus interesses comuns, abraçou a idéia e topou ser o primeiro convidado do Papo de Montanha. Na primeira vez, tudo é novidade. Elaboramos e executamos um plano de divulgação, cuidamos de garantir itens importantes para o local (cadeiras, microfone, datashow, banheiros limpos, extintores de incêndio e, claro, cerveja), marcamos a data, registramos o domínio papodemontanha.com.br e na noite do evento, apareceram mais de quarenta pessoas, o que achamos ótimo. A partir daí tentamos manter um ritmo regular de reuniões. Em janeiro e fevereiro não agendamos por ser muito fora de temporada por aqui. Nos outros meses damos preferência à terceira terça-feira do mês, quando não tem jogo do Brasil na Copa do Mundo ou algo parecido. Nossa divulgação acontece através das listas de discussão, das redes sociais e da gentileza de blogs que retransmitem nossos cartazes e mensagens, e com isso conseguimos alcançar pessoas interessadas no assunto aqui no Rio e em outros Estados do Brasil. Isso nos trouxe outras demandas. Pessoas interessadas na conversa e fisicamente distantes

começaram a pedir transmissão dos Papos. Nossa internet não suporta streaming e optamos por, desde agosto de 2011, filmar os Papos de Montanha que os palestrantes autorizassem e, dentro das nossas possibilidades, editar e publicar. Atualmente temos diversos papos já com os filmes disponíveis em www.papodemontanha.com.br. Vários assuntos já foram discutidos nesse espaço. Todos os palestrantes são voluntários. Os assuntos e palestrantes são selecionados em função da percepção do interesse momentâneo da comunidade sobre o assunto, de sugestões de pessoas sobre assuntos ou palestrantes, das disponibilidades dos palestrantes nas datas. Hoje temos um pouco mais de quatro anos de existência e nossa intenção é continuar abrindo espaço para muitos Papos de Montanha. Guilherme Silva conheceu a escalada aos 42 anos no CEL, clube que é sócio desde 2007. Atualmente é guia do CEL e frequenta mais a escalada tradicional que outros estilos. Gosta das conversas de último grampo e talvez por isso esteja tão envolvido no Papo de Montanha.

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Montanhas no CEL

2ツェ MOSTRA FOTOGRテ:ICA

FAUNA E FLORA

Por Karla Paiva

Marco Alves

Adailton Ribeiro

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Montanhas no CEL Norma Bernardo

O projeto Montanhas no CEL presenteou a sede do clube com a 2ª edição da Mostra Fotográfica, sempre com imagens retratadas pelos sócios que deixaram o clube mais colorido e literalemnte florido com o tema Fauna e Flora. Animais e plantas foram clicados durante nossas atividades de final de semana no Rio de Janeiro, em viagens nacionais e internacionais. O objetivo do projeto é mostrar através do olhar do montanhista o que cada um capta pra si nas caminhadas, escaladas e outras atividades. Sob a curadoria de Renato Índio do Brasil, que recebeu e selecionou as 14 fotos expostas aqui, apresentamos os trabalhos de nossos sócios, que enfeitaram a sede do CEL até julho deste ano. Venha nos visitar! O projeto é permanente e, além das fotos dos sócios, expomos trabalhos de montanhistas fotógrafos, que generosamente cedem suas fotos para que possamos apreciar e aprender um pouquinho mais sobre o universo desta caixinha mágica a qual chamamos câmera fotográfica. Novembro 2014

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Montanhas no CEL Alexandre Luchesi

Hans Rauschmayer

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Montanhas no CEL Marcus Carrasqueira

Helena Becho

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Karla Paiva

Guilherme Silva

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Montanhas no CEL Felipe Careli

Claudney Neves

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Judith Vieira

O projeto MONTANHAS NO CEL, é uma iniciativa da diretoria de comunicação social do Clube Excursionista Light e tem como proposta, apresentar periodicamente exposições sobre um tema reunindo fotógrafos amadores e profissionais. Sempre com foco no montanhismo e todas as suas vertentes. 30

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Montanhas no CEL Alexandre Luchesi

Fernando AraĂşjo

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Escalando por aí

Invasão carioca no 13° Encontro de Esca

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aladores do Nordeste Texto e fotos: Filipe Careli

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No meio do sertão da Bahia há um lugar no qual as casas e as ruas são feitas de pedra, porém não os corações das pessoas. Neste lugar, alguns homens e mulheres procuram um tipo de jóia especial entre rochas e rios. Perdem horas buscando-as, preparandoas e trabalhando-as para que estas fiquem limpas, funcionais e atrativas. Caminham quilômetros entre os leitos e formações carregando pesadas ferramentas de trabalho e segurança para garimpar as tão desejadas Vias de Escalada!

Escalando no Setor Favela

Rafael escalando no Setor Califórnia Estamos falando de Igatú, situada na Chapada da Diamantina, Bahia. Cidade pequena e acolhedora que recebeu de braços abertos o 13º Encontro de Escaladores do Nordeste em 2014. A caravana do Rio de Janeiro, como de costume, foi a maior entre os estados não nordestinos e entre os cariocas estavam presentes alguns sócios do CEL: Guilherme Silva, Anne, Gabi Lima, Rafael Vargens e eu. Além da Bruna, namorada do Rafael e minha esposa Gabriela. 34

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O clima do Encontro é o melhor possível: De dia você escala, escala, escala, cansa, toma uma um banho de cachoeira e volta a escalar. De noite todos se reuniam para assistir as palestras, bater um papo, tomar uma cerveja. Em poucas horas conhecemos pessoas de vários estados e colegas de outros países, em um clima festivo de amizade e cooperação. O bom clima entre os escaladores, tanto na pedra como fora dela, foi o que mais me chamou atenção. A interação entre os escaladores e os locais foi tão boa que até participamos de um chá de bebê na pracinha principal. Aproveitamos para visitar algumas atrações no entorno de Igatú, com destaque para a Cachoeira do Buracão, mas o diamante da viagem são os setores de escalada. Temos setores “dentro” da cidade, como o Labirinto e sua infinidade de vias; Setores ao

lado da cachoeira como o Califórnia e o Favela e setores diferente de tudo que já conheci, como o Rosinha, cujo o tipo de rocha muda no meio da via e até o 3º grau tem saída negativa! Com certeza foi um dos melhores encontros que já fui e mal posso esperar o ano que vem! Vejo vocês em setembro de 2015 em Quixadá!

Entenda por que o setor chama favela!

Cachoeira do Setor Favela Novembro 2014

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Programação permanente na sede do CEL - Todas às terças e quintas: Muro de escalada e reunião social; - Terceira semana do mês: Palestra/debate no Papo de Montanha; acesse:

www.celight.org.br e fique sabendo da programação do clube e as vantagens de se associar.

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