Primeiro de abril
201
Sofia Viero Sorgetzt
P
arecia até deboche; uma tarde ensolarada que não podia ser aproveitada. Era o começo do isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19. Dulce andava chateada, de baixo astral,
sensação de coração partido, as cicatrizes emocionais que teimavam em seguir doendo... Mas eis que, já na madrugada, uma surpresa chegou a fazê-la rir: à tarde encomendara pão, queijo, água com gás e guaraná do mercadinho ao lado de casa. Precisava tomar um “refri” gelado porque, acompanhando os maus sentimentos, a azia era outro incômodo e o estoque das bebidas com gás estava zerado. O pão também havia acabado. Dulce telefonou e perguntou à dona do mercadinho o que havia de pão “novinho”: - Cacetinho, cervejinha, massinha…(sic) Hesitando um pouco, Dulce pediu três de cada. O entregador levou as compras em poucos minutos e ela correu para se servir do guaraná gelado. Enquanto tomava uns goles para aliviar o desconforto no estômago, tratou de preparar uma torrada de “cacetinho” com queijo. Os pães, cada qual em uma sacolinha, ainda estavam quentes e, ao ver que tinham vindo aparentemente de acordo com seu pedido, nem lhe passou pela cabeça observar os pormenores dos pães. Por volta de 1h da manhã do primeiro de abril, Dulce deparou-se com a piada pronta: pensou em comer um pão massinha, que, dependendo do lugar, também chamam de fofinho ou sovadinho, e,