OLHARES DA MEMÓRIA

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Desde então, tudo o que se relacionava a esta escola aguçava o meu interesse e curiosidade, pois era bem diferente do local onde eu estudava: a arquitetura do prédio, que ao invés de escadas tinha rampas; a falta de local adequado para brincar na hora do recreio, pois a escola é situada nos segundo e terceiro andares do prédio; e principalmente as diversas histórias a respeito do comportamento violento de certos estudantes. Algumas vezes cheguei a presenciar brigas entre alunos e, por conta disto, concordava com o imaginário popular da cidade que passou a denominar a escola como “Carandiru”, em alusão à famosa casa de detenção que existia à época em São Paulo; tanto pelas características físicas do prédio como pelos constantes atos violentos cometidos por determinados alunos, muitas vezes necessitando até da intervenção policial. No início do ano de 2006, surgiu um convite para trabalhar na Escola Ivonir Aguiar Dias, só que agora, diferentemente de minha mãe, na área da educação propriamente dita. Aquelas histórias e memórias de um passado ainda recente me fizeram pensar: será que valia a pena deixar de lado a conturbada imagem que tinha desta instituição e me arriscar? Atualmente sei que não é fácil conviver com os diversos problemas relacionados à indisciplina ou mesmo com a constante agressividade de determinados alunos que nesta escola estudam ou que freqüentam as tantas outras escolas públicas de nosso país. Hoje, de uma coisa tenho certeza: existem alunos e professores que fazem com que nós tenhamos vontade de permanecer na escola pública e de lutarmos por uma educação de qualidade para todos, independentemente de cor, raça ou condição social. Acreditando sempre que esse é o único meio de mudarmos a imensa desigualdade que castiga o nosso povo e assim vivermos num Brasil melhor ainda do que ele já é.

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