Edição 1451 e 1452 de 29 de dezembro de 2012 a 4 de janeiro de 2013

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– Edições 1451 e 1452

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29 de dezembro de 2012 a 4 de janeiro de 2013

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Eu entendo, porque também sou mãe Eu entendo a sua dor porque também sou mãe. Assim como você, eu sou aquela que esperou com ansiedade a chegada deste filho que encheu a casa de felicidade quando nasceu. Se ele foi o primeiro, se foi o único, pouco importa. Para uma mãe todos os filhos são únicos, todos são o primeiro, todos são iguais no amor que ela sente desde o primeiro momento. Uma mãe começa a amar o filho antes mesmo de sua chegada, no que o guarda dentro da barriga e por ele espera. E eu o guardei e desejei que nada lhe faltasse, que nada (nunca!) lhe doesse, que nada lhe afligisse desde que respirou fora de mim pela primeira vez. E eu o amamentei até que ele não precisasse mais. Estive com ele em suas noites de febre, trocava suas fraldas, saciava fome e sede e o acompanhei enquanto ele crescia. Caía a noite e eu ficava olhando para aquele menino bonito, a face inocente descansando de nadas, e desejando que ele tivesse um sono tranquilo, cheio de sonhos leves. Chegava a implorar para que ventos ligeiros levassem para longe eventuais pesadelos. Vi quando ele deu os primeiros passos e quando perdeu o primeiro dentinho.

Ainda guardo na memória cada pedacinho nosso, a imagem no porta-retratos, o sorriso ingênuo, o olhar de ave, o cabelinho de nuvem. Eu estive sempre com o meu menino. (E gostaria de ter estado mais, mesmo depois que ele cresceu.) Eu quis para ele futuros brilhantes, tão maiores e melhores que o meu. Quis que ele salvasse vidas como um médico, que educasse o mundo como professor, que fosse piloto de avião, artista ou atleta de profissão. Que ele fosse o que escolhesse ser. Acima de tudo, que ele fosse feliz. Portanto, eu sou aquela que não sabe onde errou e que preferia que tudo fosse de outra maneira. Eu sou a mãe daquele menino que se tornou rapaz e se perdeu de mim. E é por isto que entendo a sua dor de mãe que teve a trajetória do seu filho interrompida pelo meu. Aquele meu menino que foi adotado pelo crime e que hoje chama a violência de senhora. Sou a mãe do pivete que lhe assalta fumado de crack e que coloca a sua história de cidadão a um clique de revólver, a sua vida por um triz. Sou a mãe do homem-bomba que entra num mercado e leva dezenas de inocentes com ele, sabe lá Deus para onde.

Sou a mãe do sequestrador que lhe priva dos seus, daquele que pede resgate e que talvez nem devolva o que não lhe pertence, o que nunca lhe pertenceu... Eu sou a mãe de Mark Chapman, aquele jovem que matou John Lennon e roubou do mundo a luminosidade de novas canções de paz. Apareço como genitora na certidão de nascimento de Charles Manson. Osama Bin Laden me chama de mãe. Meu DNA está em Hitler, em Franco, em Gaddafi e Sadam Hussein. Está nos policiais dos grupos de extermínio da Baixada Fluminense e nos estropiados do Talibã. Está nas artérias de George Bush, nos cabelos de Manuel Noriega e na arcada dentária de um outro tirano qualquer. Meu filho é aquele que entra no cinema vestido de Batman e abre fogo contra inocentes, filhos de outras mulheres como você. Eu sou a mãe de todos estes meninos enlouquecidos que se armam até os dentes e promovem carnificinas nos Colombines e Realengos desta vida. Portanto, pode chorar nos meus ombros que eu entendo a sua dor, minha senhora. Entendo, porque também sou mãe. E porque toda vez que um filho meu mata o seu, eu morro um pouquinho junto com os dois.


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