Brasil Observer #52 - BR

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Conteúdo LONDON EDITION É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:

Ana Toledo Diretora de Operações ana@brasilobserver.co.uk Guilherme Reis Diretor Editorial guilherme@brasilobserver.co.uk Roberta Schwambach Diretora Financeira roberta@brasilobserver.co.uk Editor em Inglês Shaun Cumming shaun@investwrite.co.uk Design e Diagramação Jean Peixe ultrapeixe@gmail.com Colaboradores Antonio Veiga, Aquiles Reis, Christian Taylor, Daniela Barone Soares, Franko Figueiredo, Gabriela Lobianco, Heloisa Righetto, Márcio Apolinário, Nathália Braga Bannister , Wagner de Alcântara Aragão IMPRESSÃO St Clements press (1988 ) Ltd, Stratford, London mohammed.faqir@stclementspress.com 10.000 cópias Distribuição Emblem Group Ltd. Para anunciar comercial@brasilobserver.co.uk 020 3015 5043 Para assinar contato@brasiloberver.co.uk Para sugerir pauta e colaborar editor@brasilobserver.co.uk Online 074 4529 4660 brasilobserver.co.uk

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COLUNISTA CONVIDADO Terry L. McCoy sobre a condenação de Lula

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ENTREVISTA

Emicida, um dos principais rappers do Brasil

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REPORTAGEM

As esperanças perdidas da juventude brasileira

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CONECTANDO

A história de duas catadoras de João Pessoa

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CULT

Um relato direto do Womad Festival

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DICAS CULTURAIS

Escola de samba, teatro e música

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COLUNISTAS

Franko Figueiredo sobre teatro e vida Heloisa Righetto sobre feminismo Cilene Tanaka sobre literatura Daniela Barone sobre comportamento

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Vilarejos românticos do Reino Unido

twitter.com/brasilobserver O Brasil Observer, publicação mensal da ANAGU UK MARKETING E JORNAIS UN LIMITED (company number 08621487), não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constarem do expediente não tem autorização para falar em nome desta publicação. Os conteúdos publicados neste jornal podem ser reproduzidos desde que creditados ao autor e ao Brasil Observer.

GB TRIP


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ARTE DA CAPA Arquivo pessoal

André Rebouças www.behance.net/oslo www.facebook.com/osloarte www.instagram.com/oslo.solo

Para saber a história por trás da arte desta edição, visite nossa página no Facebook (facebook.com/ brasiloberver)!

“Sou André Rebouças, nasci no Amazonas e hoje moro em Recife, Pernambuco. Aqui me tornei publicitário, diretor de arte e pai de dois meninos. Com mais de dez anos trabalhando no mercado publicitário, após ter passando pelas maiores agência do estado, resolvi apanhar todo conhecimento desenvolvido nesse período e deixar falar a inspiração que me inquietava (motivava). A pouco menos de dois anos comecei a fazer meu voo solo compondo arte de um jeito particular, utilizando os elementos que mais amo: tipografia, fotografia e colagem. Criei uma marca para essa nova fase de minha vida chamada Oslo, onde comercializo posters e lambelambes. Foi o jeito que encontrei de invadir casas, bares, cafés, estúdios e muros. Meu trabalho se inicia quando saio por aí fotografando, visitando sebos, antiquários, museus e, principalmente, conhecendo muita gente. O que me instiga é quando consigo reunir histórias, casos, imagens, publicações e transformar em arte para alcançar o maior número de pessoas”. A capa desta edição foi feita por André Rebouças para a Mostra BO, projeto desenvolvido pelo Brasil Observer em parceria com a Pigment e apoio institucional da Embaixada do Brasil em Londres. Cada uma das 11 edições deste jornal em 2017 contará com uma arte em sua capa produzida por artistas brasileiros selecionados em chamada pública. Em fevereiro de 2018, os trabalhos serão expostos na Embaixada.

APOIO:

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CONVIDADO

Como Lula passou de principal político do Brasil a seu mais notável condenado Agora que um juiz condenou Luiz Inácio da Silva a quase uma década de prisão, o que vai acontecer com o país que o ama? Por Terry L. McCoy g


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Ricardo Stuckert

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Os brasileiros observaram junto com o resto do mundo um dos principais juízes federais do país determinar, no mês passado, que sua figura política mais popular é um criminoso. Em 12 de julho, Sergio Moro, o juiz federal que lidera a operação Lava Jato, condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos e meio de prisão. Meu envolvimento acadêmico com o Brasil começou no final da década de 1970, bem antes de Lula ganhar a presidência em 2002, após três tentativas frustradas. Durante essas quatro décadas, assisti a sua notável ascensão e agora a sua devastadora queda, e o encontrei três vezes. Dado que Lula é praticamente sinônimo da marca Brasil, acredito que sua condenação confirma a falência total da política brasileira e levanta sérias dúvidas sobre o futuro do maior país da América Latina.

A ASCENSÃO DE LULA O improvável caminho de Lula da pobreza do Nordeste e das favelas de São Paulo para o cargo mais alto do país está bem documentado. Como um jovem cientista político focado na América Latina, conheci Lula como líder sindical e ativista político nos subúrbios industriais de São Paulo durante a dura ditadura militar do país (1964 a 1985). Em três ocasiões, nossos caminhos se cruzaram. O primeiro encontro aconteceu nos salões do Congresso no final da década de 1980, quando Lula serviu como deputado após o retorno do Brasil ao poder civil. Inicialmente, descartei a possibilidade de Lula se tornar um líder nacional, pois ele encontrava-se na extrema esquerda do espectro político. Mas Lula desafiou os céticos como eu e rapidamente subiu à proeminência, onde ele permanece ainda hoje. Em 1989, nas primeiras eleições democráticas do Brasil desde 1960, Lula se candidatou pela primeira vez à presidência. Embora tenha perdido, fez uma exibição muito mais forte do que o previsto. As manifestações que eu acompanhei foram grandes e apaixonadas. Ao longo da década de 1990, Lula e seu Partido dos Trabalhadores (PT) se fortaleceram. O partido aumentou sua representação no Congresso, bem como no nível estadual e municipal. Lula concorreu novamente nas eleições presidenciais de 1994 e 1998, mas perdeu. Lula e a liderança do PT viram então a necessidade de ampliar suas bases para além dos trabalhadores, moradores das favelas urbanas e os pobres do campo, caso quisessem ganhar o poder e governar. Isso significava moderar sua imagem.

MOVIMENTO PARA O CENTRO Testemunhei o início desse esforço na campanha de 1994. Uma figura pública respeitada – que não era militante do PT, mas via o potencial de Lula – organizou uma viagem do candidato e seus conselheiros para Washington e Nova York. O objetivo era garantir aos líderes políticos e empresariais que ele não iria causar turbulências nas relações entre os Estados Unidos e o Brasil se fosse eleito. Fui convidado a participar de uma reunião da delegação com dois membros do Comitê de Relações Exteriores do Senado e a participar de uma recepção onde um dos anfitriões foi Lincoln Gordon, embaixador no Brasil durante o golpe militar de 1964. Na cabeça de muitos brasileiros, Gordon representava o apoio de Washington ao golpe militar, por isso muitos não esperavam que Lula se encontrasse com ele. Em outra ocasião, cinco anos depois, um conselheiro de Lula me abordou durante uma viagem ao Brasil e perguntou se uma delegação de investidores que eu estava acompanhando estaria interessada em conhecer seu chefe, que estava jantando no mesmo restaurante de Brasília. Para mim, foi outra tentativa de tranquilizar investidores estrangeiros que eles poderiam continuar a ganhar dinheiro no Brasil. Estes e muitos outros exemplos de movimento para o centro provaram ser decisivos para a eventual vitória de Lula em 2002. Sua “Carta ao Povo Brasileiro” prometeu que seu governo buscaria políticas econômicas favoráveis ​​ao mercado. Essa promessa neutralizou a oposição e acalmou a classe média. Ele também prometeu erradicar a corrupção da política.

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AS PROMESSAS DE LULA Quando presidente, Lula liderou o Brasil para o futuro, integrando os 40% marginalizados da população enquanto trabalhava com o setor privado para fazer crescer a economia e fortalecer o estado de direito. Em avaliações anuais do ambiente empresarial latino-americano, publicadas de 1999 a 2014, relatei as realizações notáveis ​​de Lula no cumprimento de dois terços de suas promessas: seu governo acoplou programas sociais redistributivos com medidas pró-crescimento e, como resultado, a economia cresceu, a pobreza diminuiu e a vida melhorou para todos os brasileiros. As conquistas domésticas rederam reconhecimento e respeito de Lula e do Brasil no exterior. A recompensa por se tornar um “país sério” se materializou com o direito de sediar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Lula terminou seu segundo mandato como “o político mais popular na Terra”. Seu fracasso em cumprir a última promessa, de limpar a política e fortalecer o estado de direito, parece ter sido sua destruição.

A QUEDA DE LULA Enquanto esteve no cargo, Lula conseguiu desviar de acusações de corrupção – embora tenha havido um escândalo de compra de votos no Congresso e os principais membros do governo tenham sido forçados a se demitirem para combater acusações criminais. As investigações da Lava Jato, que se concentraram em casos de corrupção envolvendo a Petrobras, já derrubaram “intocáveis” da política e dos negócios, como o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o magnata da construção Marcelo Odebrecht. E revelam como Lula e os líderes do PT fizeram política como todos os demais. Eles agora se juntam à galeria dos que estão sendo investigados, condenados ou presos. As fileiras incluem o presidente Michele Temer e o senador Aécio Neves. Até agora, mais de 200 figuras foram condenadas por corrupção no âmbito da Lava Jato. Com Lula se juntando ao hall de condenados, vê-se que a atual classe política do Brasil perdeu toda a credibilidade. Dilma Rousseff, por sua vez, foi cassada no ano passado, mas não por corrupção.

BRASIL SEM LULA Lula não vai sair de cena em silêncio. Ele proclama sua inocência, alegando que as acusações têm motivação política. E diz que vai candidatar-se à presidência nas eleições de 2018 – para as quais permanece como favorito nas pesquisas mais recentes –, fazendo campanha enquanto recorre à sua condenação em liberdade. Mesmo que sua condenação seja revertida, porém, acredito que, após três décadas como figura dominante da política brasileira, a era Lula acabou. Ele enfrenta outras acusações criminais e, embora ainda seja popular, sua rejeição está aumentando. Uma pesquisa recente mostra que 46% dos entrevistados votariam contra Lula. Como fica o Brasil? Não se sabe até quando as conquistas positivas da era Lula sobreviverão, nem quem o substituirá para liderar o Brasil para o futuro. Os brasileiros só podem esperar por alguém que compartilhe o compromisso de Lula com a justiça social e a parceria econômica com o setor privado, mas que, ao contrário dele, tenha um compromisso genuíno com o fortalecimento do estado de direito. A única coisa que sabemos com certeza é que esta pessoa não virá da atual classe política. g

Terry L. McCoy é Professor Emérito de Estudos LatinoAmericanos e Ciência Política da Universidade da Flórida. Este artigo foi publicado originalmente em www.theconversation.com


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ENTREVISTA

Emicida F

Faço música com esse caos dentro de mim

Faltava pouco mais de uma hora para Emicida subir ao palco da casa Kamio, em Old Street, na noite de 21 de julho, quando seu irmão, o também cantor Fioti, conduziu a equipe do Brasil Observer ao modesto camarim usado pelo rapper de São Paulo e sua banda. Leandro Roque de Oliveira, o Emicida, portava seus óculos escuros e parecia totalmente em casa, conversando de forma relaxada, embora estivesse no “corre” – chegara de Lisboa no final da tarde e no dia seguinte embarcaria para a Alemanha, na sequência de mais uma turnê pelo continente europeu. Emicida já dispensa maiores apresentações. Trata-se de um dos rappers de maior sucesso atualmente no Brasil. Suas letras afiadas tratam do universo desigual e cascudo da maior cidade brasileira, tocando em temas como racismo, por exemplo, mas também exploram assuntos diversos, como o amor e as raízes africanas, com melodias que vão do rap ao pop. O show do mês passado não foi o melhor que o cantor já fez em Londres. Para este jornalista, que já teve a oportunidade de conferir quatro apresentações do rapper na capital inglesa, a melhor aconteceu em 2015, no Rich Mix, quando ele ainda não tinha lançado o disco atual. De qualquer maneira, valeu muito o ingresso. Emicida traz muita energia ao palco, que pode ser ainda mais sentida em casas pequenas como a Kamio. Carlos Café (percussão), Doni Jr. (violão, guitarra, cavaco e

percussão) e DJ Nyack fecharam a banda mostrando muito entrosamento. O ponto alto se deu na música ‘Mandume’: “Eles querem que alguém / Que vem de onde nóiz vem / Seja mais humilde, baixa a cabeça / Nunca revide, finja que esqueceu a coisa toda / Eu quero é que eles se...”. Confira a seguir a entrevista: Quando tive a oportunidade de te entrevistar em 2012, depois de um show à beira do Tâmisa, no festival Back2Black, você disse que tocar no exterior era como voltar ao início da carreira, pois você se apresentava para públicos menores que não conheciam necessariamente suas músicas. Cinco anos depois, isso mudou? Mudou um pouco porque você passa a se apropriar do lugar onde você está. Quando você vai quatro, cinco vezes para uma determinada cidade você começa a entender um pouco mais como as pessoas se comportam ali, o tipo de música que funciona melhor naquele lugar, então isso faz com que a gente se torne mais local. Por outro lado, a gente não tem um trabalho constante em cada uma dessas cidades da Europa por onde a gente passa, a gente continua sendo um grupo visitante, então a gente entra nesse circuito das músicas do mundo. Eu não estou competindo com os artistas locais que fazem rap aqui. Nesse aspecto, acho que essa energia do começo se perpetua. No ano passado, pela pri-

meira vez, a gente conseguiu lançar um álbum oficialmente na Europa [Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa, pela Sterns Music], e isso solidifica muito a relação, aí você vê que tem um público daqui que não necessariamente entende a língua, mas vai ao concerto. Lançamos com as letras traduzidas, então tem o interesse sobre o que aquela poesia está falando. Além disso, com o passar dos anos, a comunidade brasileira, que num primeiro momento não conhecia a gente, passou a conhecer porque a carreira vai se desenvolvendo no Brasil, então a rapaziada cola no show na intenção de ouvir um som e também matar um pouco a saudade. Tem o lance de ouvir sua língua mãe, o idioma é uma espécie de pátria. Na edição passada publicamos uma entrevista com o BNegão. Ele disse que o Brasil vive musicalmente um dos melhores momentos das últimas décadas, o que tem se refletido na quantidade de artistas brasileiros que se apresenta na Europa. Você concorda? Sim, acho que sim. E tem alguns fatores que reverberam aqui fora que é o seguinte: a internet democratizou muita coisa, transformou tanto a produção quanto o consumo em algo mais horizontal, então os guetos foram se dissipando, hoje você encontra um moleque que mora em Alphaville cantando o rap mais pesado, mais criminal, que às ve-

Rapper de São Paulo conversa com exclusividade com a equipe do Brasil Observer antes de apresentação em Londres Por Guilherme Reis

zes não tem nada a ver com a realidade dele; da mesma maneira, você vai ver um favelado fã de Imagine Dragons, e isso é muito foda porque as pessoas vão se conectando de acordo com as músicas que elas se identificam, e não só pela identificação do grupo. O que acontece também é que o perfil do brasileiro no exterior foi se alterando, e isso criou uma demanda que talvez antes não existisse, tem uma busca por coisas mais alternativas. E tem outra parada muito louca, a minha geração e a geração que veio antes de mim colhem frutos que foram plantados pela rapaziada do samba e da bossa nova nos anos 1960 e 1970. O Brasil tem um respeito muito grande no âmbito musical e eu sinto que fora está todo mundo muito curioso sobre o que a gente está criando, porque o Brasil já contribuiu pra caralho culturalmente com o planeta. Não tem lugar no mundo que não saibam quem é Tom Jobim, João Gilberto, Elis Regina, Jorge Ben... Então a gente colhe o axé desses caras até hoje. E o que você tem ouvido ultimamente? Eu estava curioso pra saber se você gostou do disco novo de samba do Criolo... Cara, eu escutei algumas vezes e gostei porque eu acho o Criolo doido, ele podia manter o “doido” no nome. É um momento muito importante, o que ele fez é simbólico, assumir o samba na linha de frente. O samba está fazendo

O ANÚNCIO CERTO PARA AMPLIAR HORIZONTES EM LONDRES.


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Dei uma procurada no que os sites gringos estavam falando sobre você e o Rhythm Passport dizia o seguinte: “o MC de São Paulo amadureceu, polindo suas músicas e absorvendo influências mais tradicionais, mas sua língua continua afiada”. É isso aí mesmo?

isso não se fala”. Mas eu sinto saudade porque a energia das batalhas é foda. Estamos aqui a poucas horas de seu show... O que normalmente rola nesse momento? Rola um ritual, alguma concentração? O que a gente faz é ficar aqui conversando, tirando uma onda, dando uma risada, uma descansada... Porque daqui a pouco a gente vai ter que subir ali e se esguelhar pra caralho! O bom aqui é essa energia leve. E tem rolado muito “Fora Temer” nos shows? Nos que têm muitos brasileiros sim. E como você está sentindo esse momento do Brasil?

A raposa perde o pelo, mas não perde o faro [risos]. Eu penso que meu texto é muito valioso, dar a minha perspectiva sobre aquele assunto. Eu cresci ouvindo uma rapaziada tipo Belchior, que era um letrista foda. Gil, Caetano... São letristas incríveis, Martinho da Vila, Zé Ketti, Cartola, Adoniram Barbosa... Então isso das referências vai nesse sentido. Existem mil formas de trabalhar o mesmo tema. E o que une essas formas? Assim como no dia a dia das pessoas, um disco passa por vários estados de espírito. Tem dia que você acorda puto, 15 minutos depois você está feliz, 20 minutos depois você está deprimido, três horas depois é o melhor dia da sua vida e você vai dormir em dúvida se está no caminho certo. E eu faço música com esse caos dentro de mim.

Você acha que pode haver uma revolta popular? Acho pouco provável. A teia foi muito bem construída. O povo não é organizado, o povo não luta pelo povo. As próprias manifestações de 2013 são uma prova disso. Aquele moleque, o Rafael Braga, foi preso e está na cadeia até hoje, e o país não se mobilizou pra tirar ele de lá. As pessoas protestam como se fosse sem terceira pessoa. Protestam pra mostrar como são legais e engajados, não porque tem um problema sério. Isso é foda porque está todo mundo com a corda no pescoço. Pra finalizar, quando chega o próximo disco? Não sei. Eu tenho um pensamento que a cada disco eu viro um novo artista. Então agora estou mirando numa coisa mais espiritual, nessa coisa do silêncio. É meio contraditório um músico falar que está se inspirando no silêncio, mas eu tenho viajado muito nessa coisa da calmaria. Talvez o próximo disco vá para esse sentido. Eu vou conduzindo várias pesquisas, várias linhas de raciocínio e tentando entender o que eu poderia falar pro Brasil agora. Estou tentando no meio desse caos, aonde a política também entra, ler e falar a língua das pessoas. O último disco me mostrou que a gente tem muito mais semelhanças do que diferenças, um disco sobre a África conectou todo mundo, todo mundo vira um. Eu quero chegar nessa mesma sintonia, só que um tema diferente.

Você sente saudade de fazer umas batalhas de MCs? Sinto. Mas sinto que sai no momento certo. Eu tinha outra expectativa, outro sonho, eu queria cantar as coisas que eu escrevia. Só que eu tinha uma aptidão pras batalhas, eu era muito sem noção também, porque as batalhas eram um concurso de bullying, você sobe lá pra ser xingado, então várias vezes eu desci do palco e pensei “nossa,

PROMOÇÃO DE LANÇAMENTO: RODAPÉ DUPLO A PREÇO DE RODAPÉ SIMPLES.

Eu sinceramente não estou surpreso com nada. Minha expectativa era exatamente isso que está acontecendo. Por isso me posicionei contra [o impeachment de Dilma Rousseff]. Não é uma brincadeira, o impeachment não é um curativo, é quebrar uma coisa muito grande. Abriu um precedente perigoso. Passa a ter esse golpe burocrático, institucional. Todas as reformas não estão sendo propostas, estão sendo impostas. Agora as pessoas estão começando a entender, mas estão apáticas. É como o Chico Buarque falou, é “um pote até aqui de mágoas”, então uma gota pode fazer transbordar. O Temer está brincando com pólvora.

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Divulgação

100 anos e, pela primeira vez, o samba não está entre as 100 músicas mais ouvidas no Brasil. Isso é muito perigoso para um gênero que é a alma do Brasil. Então eu acho que o Criolo foi cirúrgico nessa iniciativa de pegar o público dele, jovem, que não necessariamente está próximo disso, e falar “hoje nós vamos falar sobre samba”. O que eu tenho ouvido de lá: Baiana System, Mahmundi, um moleque novo do rap que chama Coruja BC1... São os que passeiam mais pela minha playlist.

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10 Agosto 2017 | brasilobserver.co.uk

REPORTAGEM

A juventude brasileira e sua esperança ameaçada

Os jovens têm sido as maiores vítimas do desemprego, da queda na renda das famílias e da violência Por Wagner de Alcântara Aragão

A

A crise política, econômica e social está sacrificando a todos no Brasil. A juventude, porém, tem sofrido um castigo mais cruel. Os jovens brasileiros estão sendo os mais atingidos pelo desemprego e pela perda do poder aquisitivo do trabalhador. Estudantes veem o sistema de ensino médio passar por reformas cruciais sem serem consultados. Programas governamentais que no início da década ampliaram as oportunidades de ingresso na faculdade ou deram chances para realizarem intercâmbio estudantil estão ameaçados. E a juventude é a maior vítima da violência que aterroriza o país.

SEM TRABALHO Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a taxa de desemprego na faixa etária de 18 a 24 anos é mais que o dobro da taxa de desemprego média nacional. De acordo com a Pnad, no primeiro trimestre deste ano o desemprego no Brasil alcançou 13,7%. Entre os jovens de 18 a 24 anos, porém, esse índice ficou em 28,8%. Em outras palavras: de cada dez jovens brasileiros economicamente ativos, três não têm um emprego. No Nordeste está em patamar ainda maior: taxa de 32,9%.


brasilobserver.co.uk | Agosto 2017 11

foto: Mídia NINJA | Arte sobre a foto: jean peixe

deslocar até a escola porque não conseguem arcar com despesas básicas como condução e alimentação. No Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba – um dos maiores do Brasil, o maior da rede de ensino paranaense e referência na oferta de cursos técnicos da educação profissional –, tanto a divisão pedagógica como as coordenações e os professores dos cursos têm se esmerado para encontrar saídas que minimizem as desistências ou reprovações por problemas econômicos das famílias. Os cursos são gratuitos e não há custos com materiais. Entretanto, de 2016 para cá em praticamente todas as turmas há casos de jovens faltando às aulas – isso quando não abandonam o curso – porque não têm dinheiro para a passagem.

EDUCAÇÃO

Protesto de estudantes em São Paulo

Com base nos dados da Pnad de 2016, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) elaborou um levantamento (Boletim Mercado de Trabalho, 62ª edição) que confirma que a juventude tem sido uma das maiores vítimas da crise econômica que assola o Brasil desde 2015. De um ano para o outro, houve um “grande salto”, conforme assinala o boletim do Ipea, no desemprego na faixa etária de 14 a 24 anos. Enquanto em 2015 a média de desemprego por trimestre, nessa faixa de jovens, foi de 20%, em 2016 essa taxa média passou para 27,2% (um acréscimo de praticamente 40%, portanto).

SEM DINHEIRO Outro problema atinge a juventude que ainda consegue permanecer empregada: a diminuição do rendimento médio dos trabalhadores da faixa etária de 14 a 24 anos. Esses viram seus rendimentos encolherem 3,6% de 2015 para 2016. O desemprego somado à falta de dinheiro tem impedido os jovens de encontrar meios de aprimorar seus conhecimentos necessários para recolocação no mundo do trabalho. Em cursos técnicos da rede pública de ensino do Estado do Paraná, por exemplo, têm sido frequentes as desistências, ou reprovações por faltas, de estudantes que não podem se

Para a equipe pedagógica, todo o esforço deve ser feito porque, na atual conjuntura de crise econômica, fazer um curso técnico gratuito é alento para uma geração que vê cada vez mais as perspectivas estreitarem. Uma série de medidas e mudanças na área de educação já engendradas pelo atual governo tem gerado mais dúvidas do que certezas de que o Brasil vai oferecer à sua juventude acesso universal ao conhecimento. A começar pela chamada “reforma” do ensino médio – um conjunto de mudanças curriculares realizado por medida provisória, sem um mínimo de discussão com especialistas, gestores, pesquisadores, nem com os mais atingidos pelas alterações, os estudantes e suas famílias. Na avaliação de boa parte dos especialistas em educação, a reforma torna o ensino médio na rede pública tecnicista, ou seja, preocupa-se apenas com a formação de mão de obra, e não em promover a formação humana do estudante. Os jovens mais pobres deverão ser os mais afetados. Se ações como o Financiamento Estudantil (Fies), o Programa Universidade para Todos (ProUni), o Sistema de Seleção Unificado (Sisu) e o Ciências sem Fronteira significaram, no decênio 20052015, um passo largo no caminho para a universalização do ensino superior, reformulações recentes nesses programas e o congelamento dos investimentos públicos (fixado pela Emenda Constitucional 95, proposta pelo atual governo e aprovada pelo Congresso Nacional) sinalizam uma estagnação nesse processo. O congelamento dos investimentos – por 20 anos, de acordo com a emenda – tende a inviabilizar, por exemplo, a abertura de novos cursos e campi da rede pública de ensino superior. O Fies, que viabiliza o ingresso em faculdades e universidades privadas para estudantes de baixa renda, já tem mudanças definidas para 2018. Embora o Ministério da Educação argumente que as alterações venham facilitar o acesso ao programa, algumas das novas regras põem em xeque essas alegações. O fim da carência – até então o financiamento começava a ser pago pelo estudante depois de 18 meses da conclusão do curso – está entre as mudanças que podem inibir a adesão ao programa.

VIOLÊNCIA Reflexo da falta de perspectivas – e ao mesmo tempo fato gerador da falta de perspectivas – é a violência da qual o jovem é vítima no Brasil. De acordo com um estudo do Ipea, o Atlas da Violência (tema de reportagem da edição passada do Brasil Observer), os brasileiros e brasileiras na faixa dos 15 a 29 anos de idade são proporcionalmente as maiores vítimas dos homicídios registrados no país. A taxa desse tipo de morte violenta entre jovens nessa faixa etária é de 60,9 por 100 mil habitantes. É mais que o dobro da taxa de homicídios média nacional, de 28,9 por 100 mil habitantes. Conforme ressaltou, na apresentação do estudo, um dos coordenadores da pesquisa, Daniel Cerqueira, trata-se de uma “verdadeira crise civilizatória vivida no Brasil”. O documento destaca que os jovens homens e negros compõem o grupo que mais estão em risco de morte violenta: “jovens e negros do sexo masculino continuam sendo assassinados todos os anos como se vivessem em situação de guerra”.

SAÍDAS Embora o cenário traçado até aqui seja de terra arrasada, há diversas demonstrações de que a juventude brasileira tem lutado para resgatar seu direito de sonhar e esperar por um futuro melhor. As mobilizações estudantis que resultaram em ocupação de escolas e universidades públicas, em defesa de melhores condições de ensino, contra cortes de verbas e o sucateamento das instalações e em resistência à chamada “reforma do ensino médio” estão entre as atitudes de maior impacto nos últimos dois anos. Mas, diariamente, a resistência se dá em gestos cotidianos. A própria equipe pedagógica do Colégio Estadual do Paraná identifica, entre os jovens estudantes dos cursos da educação profissional da instituição, a busca de saídas da crise que a conjuntura lhes impõe. É o casal que se reveza na frequência às aulas – para economizar com a condução, mas garantir o aprendizado; é a criatividade demonstrada nos trabalhos e projetos desenvolvidos nas disciplinas; e é, principalmente, a colaboração entre os colegas. Em artigo publicado na Mídia Ninja, a ativista Nataly Neri – youtuber, estudante de Ciências Sociais e militante de causas feministas e da população negra – rechaça o senso comum que tacha o jovem de apático, incapaz de reagir às adversidades impostas pelas condições conjunturais e estruturais da sociedade brasileira. Diz ela: “Por onde eu ando as juventudes trabalham muito, estudam demais, quebram barreiras diariamente pra acessar conhecimento, fortalecer o entorno e ainda dar conta da própria saúde mental. Por onde eu ando meninas das periferias falam sobre os limites de seus relacionamentos, sobre o direito a seus corpos, sobre como a falta de oportunidade as afastam de muitos lugares. Por onde eu ando a molecada desinteressada ocupou mais de mil escolas”.


12 Agosto 2017 | brasilobserver.co.uk

CONECTANDO

JoÃO PESSIA, PARAÍba

Catadores de

sobrevivência Grupo de catadores da Associação Catajampa. Da esquerda para direita, Egrinalda é a segunda; Joel, o terceiro; Maria de Jesus, a sexta; Edgley está ao centro, de camisa azul e boné

instabilidade política e de crise ética e moral, trajetórias inspiradoras servem de ponto de equilíbrio e de sinal concreto de esperança no povo brasileiro Por Tiago Eloy Zaidan de João Pessoa, Paraíba g

g

Tiago Eloy Zaidan é professor do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) e Coordenador de Articulação Pesquisa, Extensão e Sociedade do campus João Pessoa do IFPB

Associação Catajampa

No atual contexto de


brasilobserver.co.uk | Agosto 2017 13

Laura Reis Andrade

Resíduos sólidos: fonte de renda para catadores como Egrinalda e Maria de Jesus

Egrinalda à esquerda e Maria de Jesus à direita: presidente e vice da associação Catajampa

Turistas, pessoas bem vestidas, sol e praia. Em meio a essa balburdia glamorosa, Egrinalda dos Santos Silva, 45 anos, e Maria de Jesus Leite, 45 anos, realizam os seus trabalhos de forma discreta, quase anônima. Ziguezagueando pelas ruas dos bairros da orla de João Pessoa (PB), estas duas senhoras encostam de lixeira em lixeira, nas portas das casas e prédios, empreendendo uma caçada arqueológica por resíduos recicláveis em meio a todo tipo de lixo, descartado indistintamente pela maioria dos residentes da abastarda região. A jornada de Egrinalda e Maria começa longe da praia. Por volta das 13h30, elas deixam o galpão da Associação de Catadores Catajampa, no subúrbio da capital paraibana. De lá, elas partem a pé, com um carrinho puxado à mão, em direção aos bairros da orla, onde se concentram os resíduos recicláveis mais valiosos e em maior quantidade. Depois de percorrerem as ruas de Manaíra, Tambaú e Cabo Branco, as duas fazem todo o caminho de volta. Retornam ao galpão, às 4h da manhã, quando partem, então, para a etapa seguinte do processo: a separação dos resíduos coletados. Maria de Jesus possui dois filhos, um rapaz de 22 e uma menina de 15. Eram três. Perdeu Joabson, então com um ano e seis meses, há oito anos. A casa em que morava estava com a eletricidade cortada por falta de pagamento. Então, usavam-se velas. Em certa ocasião, uma vela tombou. A casa foi tomada pelo fogo e a criança morreu asfixiada. Egrinalda possui três filhos. Um rapaz de 23 anos, uma menina de 16 e um menino de 8. Nenhuma das duas catadoras contou com a ajuda de companheiros na criação dos rebentos. São mães solteiras. Na verdade, uma ajudou a outra. Por volta de 1997, durante uma amarga recessão social no país, as duas começaram juntas a trabalhar na catação de resíduos sólidos no lixão da capital paraibana. Recolhiam não apenas os

resíduos sólidos. Disputavam alimentos com os urubus. Aproveitavam, sobretudo, os descartes dos supermercados, que chegavam aos caminhões, com produtos vencidos e estragados. Depois que o lixão de João Pessoa foi desativado, Egrinalda e Maria de Jesus passaram a fazer a catação nas ruas. “Esquecemos a vergonha e metemos a cara. Faz uma faixa de dez anos que começamos a catar porta a porta”, calcula Egrinalda. Hoje, as duas são vizinhas e moram próximas ao galpão utilizado pela Catajampa, na comunidade de Mandacaru. Os filhos mais velhos de cada uma, Edgley, 23 anos, e Joel de 22, também trabalham como catadores na associação. O professor e coordenador do curso de Gestão Ambiental do campus João Pessoa do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Arilde Franco Alves, explica que o Brasil tem evoluído no tocante à reciclagem. Muito em função da atuação dos catadores, como Egrinalda e Maria de Jesus. “Houve, de maneira não intencional, mas em decorrência da situação econômica e, sobretudo, da situação social do país, o desenvolvimento de uma verdadeira legião de pessoas informais, envolvidas nessa questão da catação, que envolve a coleta desses materiais”, explica Alves. O professor enfatiza a importância do trabalho realizado pelos catadores, inclusive no bojo da discussão socioambiental. “Pode-se dizer que eles são verdadeiros ecologistas, de maneira informal, indireta e até inconsciente. Eles são verdadeiros heróis, embora, às vezes, sejam pouco reconhecidos”, afirma. A falta de reconhecimento é sentida pelos catadores. Maria de Jesus, por exemplo, diz ter orgulho do que faz e reconhece a importância do trabalho para o meio ambiente. No entanto, admite: espera que a filha de 15 anos, a qual está cursando o ensino médio, siga outro caminho. “Sinceramente, eu não quero isso para os meus filhos”, desabafa.

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14 Agosto 2017 | brasilobserver.co.uk

Womad Festival

Divulgação

Womad Festival: um mundo de música, Por Priscilla Castro

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Antes de chegar a Londres para trabalhar como colaboradora do Brasil Observer, já me preparava para cobrir o Womad Festival (World of Music, Arts and Dance), um evento histórico da Inglaterra que reúne arte e música há 35 anos. Realizado desde 2007 no Charlton Park em Malmesbury, Wiltshire, o Womad é uma mistura de sons, atividades e culturas dos quatro cantos do mundo, envolvidos em sorrisos espontâneos, brincadeiras e diferentes cores. Arrumei as malas e fui. Assim que coloquei os pés no lugar, senti uma energia diferente. Não teve chuva, lama ou frio que me tirassem o sentimento de estar em um dos melhores festivais de música do mundo. Preciso dizer que o que mais me surpreendeu foi a diversidade de etnias, idades e desejos que eu vi ali. De recém-nascidos a idosos, latinos a asiáticos, roqueiros a amantes de blues, fantasiados, descalços, deitados ou pulando, de tudo tinha. Na primeira parada que fiz, já encontrei uma figura icônica. A inglesa Vicky Osborne, de 59 anos, estava trabalhando no bar servindo cerveja e outras bebidas aos clientes. “É a primeira vez que venho ao festival e, mesmo trabalhando, estou adorando. Pretendo continuar com essa missão nas próximas edições”, contou. Já a médica Melita Cambridge e seu marido John frequentam o festival há 10 anos. Os dois filhos do casal também

acompanham quando podem. Esse ano, toda a família decidiu participar da festa. “Eu não faltei nenhum ano desde que comecei a vir e sempre chego no primeiro dia. A música é fantástica e meu marido também curte. Esse ano, meus filhos e meu genro puderam se juntar a nós e estamos adorando”, disse Melita. O evento recebe atualmente cerca de 80 mil pessoas a cada ano e traz artistas de diferentes estilos e línguas. Este ano, 95 atrações, dentre shows e workshops, foram distribuídas nos três dias de festa (27 a 30 de julho). Nomes como os regueiros Toots and the Maytals (Jamaica), Chico Trujillo (Chile) e Seun Kuti & Egypt 80 (Nigeria) fizeram parte da lista de artistas. Este ano, me deparei com uma seleção de artistas brasileiros na programação dos shows e fiquei ainda mais animada para a cobertura. Um dos pontos altos da noite foi, sem dúvida, o show de Seu Jorge, uma das atrações mais esperadas da noite de sábado – e não só pelo público brasileiro. Já estava chovendo e, mesmo antes de o cantor subir ao palco, a tenda estava lotada. Alex Mbow, inglês, 35, era um dos que esperava ansioso pelo início do show. “Um amigo me falou sobre esse cantor e eu vim ver como é. É a minha primeira vez no festival e estou adorando, com certeza vou vir mais vezes”, garantiu Mbow.

Com um repertório mais lento e romântico, Seu Jorge faz uma turnê na Europa em tributo ao cantor David Bowie, misturando músicas em inglês e português. Ao ouvir a música ‘Astronauta de Mármore’ (versão brasileira da música ‘Starman’ de David Bowie, feita pelo grupo Nenhum de Nós), os brasileiros cantaram em coro nos versos “Sempre estar lá, e ver ele voltar, não era mais o mesmo, mas estava em seu lugar”. Ao fim do show, o cantor conversou em inglês e foi ovacionado pelo público. Para quem curte, o Womad oferece também exposições, fóruns e workshops dos mais variados tipos, entre samba, hip hop, dança jamaicana, percussão afro -brasileira e outros. Uma variada seleção de barracas de comidas e roupas também estava disponível no local para quem quisesse comprar diferentes produtos. Pelo que eu pude perceber, a criançada não fica para trás e até se diverte mais do que os adultos. Crianças correndo, cantando, fazendo acrobacias e bebês amarrados em cangurus no corpo dos pais foram as cenas mais comuns da festa. Afinal, eles têm um espetáculo próprio dentro do festival.

BRASILEIROS EM CENA Nos últimos anos de festival, a produção do Womad tem trazido cada vez mais artistas brasileiros para compor a programação do evento. O investimento na


brasilobserver.co.uk | Agosto 2017 15

advertorial Divulgação

Vicky Osborne trabalhando no festival

Alex Mbow espera pelo show de Seu Jorge

Cristiano e Clau: talentos nativos para fazer o que brasileiro gosta

Matar saudades do Brasil:

no Boteco ou no Restaurante? Saiba o que esperar das mãos cheias dos chefs do Made in Brasil Priscilla Castro

artes e dança música brasileira também segue a linha do aumento de brasileiros em Londres no verão. Entre os nossos artistas que já passaram pelos palcos do Womad estão Gilberto Gil, Criolo, Dona Onete e Cabruêra. Este ano, dentre as 95 atrações, cinco eram artistas ou grupos brasileiros: Bixiga 70, Metá Metá, Seu Jorge, DJ Marky e Nomade Orquestra. A Nomade Orquestra está na segunda turnê internacional, dessa vez lançando o segundo disco da banda, chamado “Entre Mundos”, na Inglaterra e na França. “Está sendo uma experiência gratificante podermos amplificar e trazer nosso som e nossa forma de pensar”, disse Ruy Rascassi, integrante da Orquestra. Formada por dez músicos de diferentes backgrounds musicais e que fazem parte de diferentes projetos no Brasil, o grupo, que existe desde 2012, se vê como representante de uma cena industrial da região do ABC Paulista, onde foi criado. “A Orquesta é um apunhalado dessa banca toda e, por isso, temos um som peculiar, com um pouco de soul, jazz, rock. Não é uma música totalmente brasileira, apesar de termos a pitada tropical, nossa música é global”, acrescentou Ruy. Para Victor Fão, trombonista, a oportunidade de estar pela segunda vez na Europa divulgando o som da Orquestra é a realização de um sonho. “É muito gratificante poder estar aqui, porque é muito difícil sair do Brasil para tocar.

Investimos, passamos por roubadas, mas conseguimos consolidar nosso trabalho e conquistar um espaço. Vivemos da música, então fazer ela ecoar e chegar aqui é a concretização de um sonho”.

HISTÓRIA O primeiro Womad aconteceu em 1982 em Shepton Mallet, na Inglaterra. Desde então, o evento viajou por todo o mundo, trazendo artistas para vários locais e entretendo mais de um milhão de pessoas. O principal evento do Reino Unido foi realizado em Rivermead, em Reading, Berkshire, de 1990 até 2006, quando então passou a acontecer no Charlton Park. O Womad organiza festivais por mais de 27 países e ilhas, dentre Austrália, Nova Zelândia, Japão, Reino Unido, Estados Unidos e a maioria dos países europeus. O evento impulsionou o crescimento da música dos países desenvolvidos na parte Ocidental do mundo. Hoje em dia, o festival compete em mesmo nível com outros festivais ocidentais. Além disso, o Womad foi uma importante peça na divulgação e lançamento de artistas e grupos que hoje são nomes consagrados no cenário internacional da música, como Master Drummers of Burundi, Afro Celt Sound System, Dhol Foundation, Ozomatli e o falecido Nusrat Fateh Ali Khan.

Não é tão fácil encontrar semelhanças entre os cardápios do Made in Brasil Boteco e do Made in Brasil Restaurante. Mas quando a chef Clau Souza assumiu a cozinha do Boteco, a situação era outra: “Estou aqui desde quando abriu o Boteco. Mudamos quase todo o cardápio, para deixar bem diferente do Restaurante”. Hoje cada cozinha é adaptada ao espaço oferecido aos clientes. Como o Boteco é palco de celebrações, tem um cardápio com mais porções, para compor o clima festivo. Já o Restaurante, com capacidade para 60 pessoas sentadas, serve pratos brasileiros clássicos e alguns petiscos. No Restaurante a maioria dos pratos é individual, mas o chef Cristiano Moreno dá a dica: “Para duas ou mesmo três pessoas, peça picanha aperitivo com acompanhamentos em separado, como arroz, salada etc.”. Clau e Cristiano são chefs com trajetórias parecidas. Brasileiros e vivendo o universo culinário desde pequenos, se tornaram cidadãos portugueses depois de muitos anos vivendo em Portugal. Chegaram a Londres há cinco anos e agora são chefs do Made in Brasil – Clau desde 2013, Cristiano desde 2015. Eles preferem seguir as tradições da cozinha brasileira, sem fugir nem descaracterizar. Mas às vezes os pratos podem ser adaptados para algum cliente europeu, explica Cristiano. No Boteco, por exemplo, Clau faz caldo de feijão sem carne e também a chamada feijoada light, com menos gordura, sem orelha e outras partes do porco. Para acompanhar a picanha, Cristiano indica vinho se o cliente for europeu, e caipirinha para os brasileiros. Nesse caso, Clau tem uma alternativa: “Eu acho que picanha é com cervejinha mesmo, pra todo mundo”. A versão com mandioca da picanha do Boteco ou Restaurante

Os chefs fizeram um resumo dos cardápios para facilitar suas próximas visitas. RESTAURANTE (mais pratos) Bobó de camarão, moqueca, aperitivos, picanha na chapa (com mandioca ou sem), bobó de palmito. NO BOTECO (mais porções) Picanha na chapa, salgados caseiros, bolinhos de carne seca, de feijoada e de arroz, casquinha de siri, camarão na moranga, acarajé e quibe. NOS DOIS Moqueca, feijoada e picanha aperitivo. Fique ligado: @MadeInBrasil1 – @madeinbrasilboteco


16 Agosto 2017 | brasilobserver.co.uk

DICAS

DANÇA Divulgação

Paraíso School of Samba: ‘simplesmente estamos trazendo a arte de nosso povo’ “Nós não criamos nada, simplesmente estamos trazendo a arte do nosso povo para cá e ensinando para eles o que foi ensinado para nós”. É assim que o idealizador da Paraíso School of Samba, Henrique da Silva, descreve o trabalho que a instituição desenvolve em Londres desde 2002. São 16 anos desfilando no carnaval de Notting Hill, transferindo a tradição carnavalesca do sambódromo brasileiro para a Inglaterra e ensinando dança e percussão para adultos e crianças. Criados no Rio de Janeiro e vivenciando a cultura do sambódromo desde pequenos, Henrique e o irmão Esteve da Silva, antigo mestre da escola de samba carioca Estácio de Sá, criaram a escola em 23 de abril de 2002, data do Padroeiro de Londres, São Jorge. Henrique explica que as cores vermelha e branca simbolizam as cores de Lon-

dres, enquanto a Fênix, usada como mascote do grupo, é o mesmo símbolo do antigo grupo de pagode em que Esteve tocava na cidade. A escola se orgulha de seguir à risca a cultura do samba brasileiro, trazendo a tradição das escolas do Rio de Janeiro, não só na dança, como também na música. “Quando chegamos aqui, percebemos que havia muitas escolas de samba que, na verdade, eram grupos de percussão, com um estilo mais ligado ao axé, ao Olodum e até ao chorinho, com instrumentos de sopro. Por isso, decidimos criar a escola para que os outros se espelhassem no nosso trabalho”, explicou Henrique. Com o decorrer dos anos, a escola investiu em geradores, na criação de carros alegóricos, nos galpões de criação, confecção de roupas. A Paraíso também ofe-

rece aulas de samba em diferentes níveis para quem quer aprender a dança, desfilar no carnaval ou simplesmente melhorar o corpo. Mais de 5 mil pessoas estão registradas no website da escola, dentre brasileiros e ingleses.

CARNAVAL A Escola de Samba Paraíso está nos preparativos finais para mais um carnaval em Notting Hill (27 e 28 de agosto). Sob o tema ‘Caribe’, a escola vai apresentar cerca de 300 desfilantes distribuídos entre os cinco carros alegóricos montados especialmente para essa edição. Ao todo, 400 pessoas devem participar do evento, contando com a produção e a cabeça diretora. A escola já coleciona dois títulos de campeã e tenta agora o tricampeonato.

Para este ano, a cientista Liani Devito, 38, foi escolhida rainha da bateria e vai puxar o samba ao lado do mestre da escola. “A expectativa é de brilhar muito na frente da bateria, mas não estou nervosa, estou ansiosa. Estou me preparando fisicamente com muita aula de pilates, samba e musculação e não vejo a hora de entrar na avenida e mostrar meu charme de brasileira”, confessou Liani. Para Henrique, a ansiedade só aumenta. “Como sempre, essa é a época em que estamos no auge da ansiedade, começa aquela excitação, o pânico, a gritaria (risos). A gente sai do Brasil, mas o Brasil não sai da gente”, finalizou. Para mais informações sobre aulas e eventos, acesse o site da escola www. paraisosamba.co.uk/events ou ligue 0300 302 0220.


brasilobserver.co.uk | Agosto 2017 17

TEATRO Para seu décimo aniversário, o CASA Festival agrega forças com dois dos principais teatros do off-West End, Southwark Playhouse e Arcola Theatre, para oferecer ao público londrino oito semanas de um fantástico festival de teatro e cultura latino-americana. O festival começa no Arcola com o retorno do espetáculo Thebes Land, do aclamado escritor Sergio Blanco, para uma temporada de cinco semanas que antecipará outras cinco semanas no Southwark, apresentando quatro aclamados espetáculos internacionais e mais três contagiantes e novas produções criadas por artistas latino-americanos estabelecidos do Reino Unido. Completando o programa estão: uma nova peça-verbatim sobre violência contra mulheres e garotas brasileiras vivendo no Reino Unido; um novo espetáculo teatral sobre o Peru e sua cultura alimentícia; e oito semanas de um festival de leituras dramáticas que trará as mais interessantes vozes latino-americanas contemporâneas. Daniel Goldman, Diretor Artístico do CASA, comenta: “eu fundei o CASA em 2007 para construir conexões entre duas culturas teatrais incríveis. A necessidade de festivais internacionais que expandem nossas fronteiras culturais nunca foi tão grande… Estamos entusiasmados em celebrar nosso décimo aniversário CASA 2017 em dois dos mais refinados teatros Off-West End e ansiosos em compartilhar este programa especial com nosso público regular e com novas caras”.

Alex Brenner

CASA celebra aniversário de 10 anos com oito semanas de teatro latino-americano

Thebes Land

MÚSICA Quando se trata de música brasileira, não há muitos nomes maiores do que Marcos Valle. Uma lenda incontestável da música sul-americana, sua fusão de samba, bossa nova, rock e jazz resultou em inúmeros registros clássicos, do Samba 68 e seu autointitulado álbum Marcos Valle para Previsão Do Tempo e o mais recente Contrastes. Quando: 7 de agosto, 7pm – 11pm Onde: Jazz Caffe, 5 Parkway, London NW1 7PG Entrada: £20-30 Info: www.thejazzcafelondon.com

GABRIEL O PENSADOR Um pioneiro do movimento hip hop no Brasil, a estrela do rap Gabriel o Pensador chega a Londres com seu show atual Sem Crise, mostrando sua versatilidade não apenas como rapper, mas como grande compositor e músico contador de histórias. Em sua lista de sucessos ao longo de uma carreira de 25 anos estão Retrato de um Playboy (1993), 2345meia78 e Cachimbo da Paz (1997), Astronauta (1999) e Até Quando (2001); assim como as músicas de seu último álbum, Sem Crise, como Surfista Solitário, sua versão do sucesso de Jorge Ben Jor e Linhas Tortas, uma música que conta sua história – da sala de aula até se tornar O Pensador, como é conhecido. Quando: 19 de agosto, 7pm – 10pm Onde: The Garage, 20-22 Highbury Corner, London N5 1RD Entrada: £30 Info: www.thegarage.london

ED MOTTA O pianista brasileiro Ed Motta é um virtuoso do jazz. Sobrinho de Tim Maia, Motta já tocou com Marcos Valle, João Donato e Roy Ayers ao longo de sua carreira, e surpreendeu o público do Jazz Cafe no ano passado com uma apresentação elétrica, com músicas de seu último lançamento, AOR, além de clássicos do soul e da bossa nova. Quando: 22 de agosto, 7pm – 11pm Onde: Jazz Caffe, 5 Parkway, London NW1 7PG Entrada: £20-30 Info: www.thejazzcafelondon.com

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MARCOS VALLE


18 Agosto 2017 | brasilobserver.co.uk

COLUNISTAS FRANKO FIGUEIREDO

Desafiando o público fora do Japão com uma versão subversiva de Yukio Mishima

Y

g Franko Figueiredo é diretor artístico da

Companhia de Teatro StoneCrabs e associado artístico do New Theatre Royal Portsmouth

Yukio Mishima é provavelmente uma das personalidades literárias mais complexas e contraditórias do século 20. Embora seja mais conhecido, fora do Japão, como o escritor gay que ficou famoso com romances como Forbidden Colors e Confessions of a Mask, em seu país de origem ele provavelmente é mais lembrado por sua obsessão com a política e estética da direita, muitas vezes tida como fascista. No entanto, foi a publicação de suas obras literárias em inglês, particularmente suas novelas e histórias curtas, que catapultou Yukio Mishima para a fama internacional. Dito isso, pouco se sabe sobre as conquistas de Mishima no teatro, provavelmente porque poucas peças foram traduzidas e aqueles que escrevem suas biografias parecem ter pouco interesse em seu trabalho dramatúrgico. Por mais de duas décadas, o trabalho de Mishima como dramaturgo e diretor de teatro lhe rendeu enorme popularidade no Japão. Ele havia escrito peças para kabuki, roteiros, ópera, rádio, música e shingeki, que se traduz como nova versão japonesa de teatro moderno, drama realista psicológico. A maioria de seus trabalhos foi produzida profissionalmente, e ele foi tão prolífico que atraiu enorme atenção da mídia. As convicções de Mishima sobre teatro e dramaturgia vieram não apenas de sua extensa leitura de literatura e dramas internacionais, mas também de uma extensa observação de teatro. Mishima absorveu o máximo de noh, kabuki e shingeki. Noh é o japonês clássico que remonta a 1300 e funde música, dança e cântico de scripts intensamente poéticos e alusivos. Kabuki também é teatro clássico, porém um pouco mais animado e muito menos austero do que noh. No início da década de 1950, com o movimento dramático de vanguarda, os diretores e dramaturgos japoneses começaram a experimentar mais, assumindo riscos com a forma de fazer teatro, usando formas noh, kabuki e shingeki em produções híbridas. O próprio Mishima tirou personagens clássicos de teatro noh e deu-lhes a forma psicológica contemporânea em suas versões modernas. Ele também trouxe as obras de Jean Racine e semelhantes para a forma kabuki; com Lady Fuyo Mishima imagina Phaedre como uma peça kabuki. Em 1955, Mishima ganha o prestigiado Prêmio Kishida por The Termites’ Nest, uma peça de três atos que se passa em uma comunidade de imigrantes japoneses no Brasil. Mas, ao contrário da maioria de seus colegas de dramaturgia, Mishima claramente estava dividido entre as experiências teatrais que aludissem à

esquerda, à direita e ao centro e os requisitos formais do drama. Ele muitas vezes expressou que o último reforçou sua escrita para o palco. No entanto, havia um novo mundo se formando no Japão pós-guerra: a enorme influência dos Estados Unidos sobre a cultura pop deixa os artistas japoneses divididos: se render às influências do oeste ou ficar preso no tempo? Os escritos de Mishima nos mostram como ele estava entre um e outro; os temas de seus romances, histórias curtas e peças de teatro enxergam a morte, a homossexualidade e o vazio espiritual como pontos centrais. Uma fusão de pensamentos, visões e expressões emerge num campo de batalha entre realidade e ficção. Ele acreditava firmemente que, se você “[der à humanidade um palco e] uma máscara e ela vai te dizer a verdade” [citação de Confessions of a Mask]. E isso é o que suas peças fazem: aprofundar a psique humana, provocando-nos a enfrentar nossas próprias verdades. A atração de Mishima pelos assuntos das peças noh o leva a imaginá-las como peças modernas acessíveis a seus fãs e público em constante expansão. Os críticos compararam as peças modernas de Mishima às obras de Cocteau, O’Neill e até Brecht, pois usam temas clássicos e trabalham a narrativa para um público contemporâneo. É nesse sentido que o produtor da Busu Theatre Company, Ecco Shirasaka, e eu estamos abordando Busu & The Damask Drum. Busu é uma farsa clássica comissionada para um par de produtores americanos após a publicação de traduções de peças noh mordenas por Donald Keene. The Damask Drum é uma trágica história de fantasmas, originalmente dirigida por Takechi Tetsuji, um dos inovadores de teatro mais importantes do período pós-guerra, com atores de shingeki, além de teatros tradicionais noh e kyogen. Takechi dirigiu peças de teatro radicalmente experimentais que reuniam artistas que, antes da guerra, jamais poderiam ter imaginado trabalhar juntos, nas mesmas produções. Esses experimentos trouxeram público novo e mais jovem ao teatro tradicional. Esta nova versão, uma colaboração especial entre StoneCrabs e Busu Theatre para celebrar 70 anos do Edinburgh Festival Fringe, pretende ser tão experimental e subversiva quanto as produções originais. Isso deve entreter e desafiar o público fora do Japão, como as peças de Mishima fizeram em sua terra natal nos últimos cinquenta anos.


brasilobserver.co.uk | Agosto 2017 19

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A louça precisa ser lavada Não é por acaso que muitos dos ataques a feministas ativistas incluem a tão famosa expressão “isso é falta de louça pra lavar”. Talvez seja mesmo. Talvez o movimento feminista esteja pouco a pouco alcançando seu objetivo de desfazer a estrutura da sociedade para que as funções do ser humano não sejam baseadas em gênero. Menos mulheres presas a afazeres domésticos resultam em mais mulheres refletindo sobre estereótipos, sobre a politização da condição feminina. Ou seja, quanto mais ativismo, mais louça vai ficar esperando na pia! Machistas tremem! Conclusões pessoais à parte, fato é que as tarefas domésticas continuam atreladas a mulher. Mas será que essa é uma batalha que requer nossa atenção agora? Afinal, há milhares de mulheres estupradas, abusadas e assassinadas por parceiros e sofrendo os mais cruéis tipos de opressão de gênero, diariamente, no mundo todo. Mas, como tudo relacionado com a opressão feminina, há uma ligação direta entre todos esses problemas. A busca pela representatividade feminina na esfera pública – em cargos de liderança nos setores público e privado, em competições esportivas, em profissões historicamente dominadas por homens – não anda a passos lentos por acaso. Poucas têm a disposição de encarar uma jornada dupla, e a sociedade não está nem um pouco preocupada em lidar com esse problema. Enquanto continuarmos aceitando essa “herança” das tarefas domésticas como norma, a vida além do cuidado com a casa (e aí incluímos o parceiro ou parceira, os filhos, a limpeza, as compras, a preparação das refeições e tudo mais que tenha conexão com o lar) será quase nada atrativa. E isso gera um ciclo: sub-representação gera opressão, que gera violência, que mantém as mulheres dentro de casa… “Mas eu ajudo a minha parceira!”, proclama o “homem moderno”. Esse posicionamento de “ajudante” sugere que, realmente, a responsável pela manutenção

e administração da casa e da família é a mulher. A suposta ajuda nada mais faz do que limpar a consciência do parceiro, que geralmente é enaltecido por amigos e familiares por fazer as coisas pelas quais a mulher nunca ganhou aplauso. Você já percebeu como as nossas expectativas são baixas em relação aos homens? Tarefas rotineiras, que não deveriam ter uma etiqueta de gênero, viram troféu se executadas por eles, mas são ignoradas quando executadas por elas. Se um marido cozinha, vira maridão. Se um pai troca fraldas, vira paizão. Se um homem cria os filhos sozinho, vira assunto de reportagem. E as milhares de mulheres abandonadas pelos pais de seus filhos que são execradas pela sociedade e precisam encarar uma interminável jornada? Deveriam ter “tomado mais cuidado” para não engravidar, não é mesmo? Até mesmo mulheres no topo da pirâmide de privilégios sofrem com esse problema. Mesmo com o benefício de um pequeno exército (babás e faxineiras) que lida com afazeres domésticos, elas que geralmente assumem o controle da administração do lar, participam de reuniões com professores na escola dos filhos e faltam no trabalho caso aconteça algo que requer atenção dentro de casa. Consegue imaginar então como fica a situação das mulheres pobres? Que sequer tem acesso a atendimento médico de qualidade ou orçamento extra para imprevistos? É por isso que precisamos problematizar tudo. Começando por brinquedos que imitam utensílios domésticos e são direcionados para meninas, pois a doutrinação começa cedo. O problema não está no trabalho doméstico, que precisa ser feito. O problema é transformá-lo em “coisa de mulher”. Por isso, nada de “ajuda”, nada de aplausos. E eu vou continuar respondendo “e daí?” toda vez que alguém me falar, com expressão de surpresa: “nossa, é seu marido que cozinha na sua casa?”. Afinal, ninguém se surpreende quando eu falo que limpo a privada.

g Heloisa Righetto é jornalista e escreve sobre feminismo

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20 Agosto 2017 | brasilobserver.co.uk

CILENE TANAKA

Quero ser John Malkovich ou Você está disposto a virar um Matthew McConoughey sem resistir nem um pouquinho? Se o Harold Bloom estiver correto e Shakespeare for realmente o inventor do “humano”, então quem está inventando o “novo humano”? Será que o novo Shakespeare é um hipster de barba e, mais importante, será que o novo humano tem um man bun? Não, não. Diferente dos tempos do Shakespeare, hoje em dia há uma pluralidade de inventores do “novo humano”. Vamos encontrá-los e vamos matá-los com o nosso conjunto de habilidades muito especiais que adquirimos ao longo de toda uma carreira. Nossa primeira coluna vai discutir o quanto narrativas tipicamente Hollywoodianas exercem um peso sobre literaturas contemporâneas como “Atonement” (“Expiação”, no Brasil) de Ian McEwan. Como certas estórias encurtam os limites da linguagem quando deveriam na verdade fazer o oposto. Como a cultura de massa ajuda a nos construir, e o que ela diz sobre quem a gente é? Dica: a resposta para todas estas questões é 42. Shakespeare inventou, sim, o humano, só não do jeito que o Bloom gostaria. O título do livro do Bloom é uma versão mais literal de clickbait. Quando você lê na internet que “Fulano mudou o mundo!”, normalmente isto só quer dizer que Fulano separa o lixo na casa dele. Mas o Bloom é mais literal. Ele realmente acha que Shakespeare criou o homem. Tipo Deus. Bem, se você considerar que colonizar meio mundo impondo a ele a cultura ocidental é “invenção do humano” então, sim, definitivamente Shakespeare inventou a personalidade universal. Ele inventou o Brasil também. Inventou até os brasileiros que não conhecem o Hamlet porque, bem, falam português. “E traduções?” – você pode me perguntar. Inventar o humano através de tradução é definitivamente uma possibilidade. Só garanta o dinheiro pros direitos. A internet não era tão popular quando Bloom escreveu aquele livro, então, mais uma hipótese que a gente vai explorar aqui é a de que o Bloom inventou o clickbait. Não, brincadeira. Agora, exceto pela falta de remédio pra dormir, o que Shakespeare, Bloom e o livro do McEwan têm em comum? Para os três, literatura é mais importante do que, por exemplo, TV. Eu acho (na verdade, eu estou só repetindo o que Terry Eagleton acha) que cada período histórico tem pelo menos um elemento central de cultura. Este elemento seria, hoje, provavelmente: TV (e quando eu digo “TV”, eu quero mesmo é dizer Hollywood) e internet. No século 19, literatura. No século 15, pintura. Em outras palavras, a única razão porque

Shakespeare teve tempo de inventar o humano foi porque ele não tinha Netflix. O enredo de “Expiação” envolve uma “mentira”, contada por Briony, que teve consequências horríveis pra alguém que era inocente. A “mentira” acaba salvando da prisão a pessoa culpada. Eu digo “mentira” em vez de mentira porque a Briony na verdade não sabe muito bem o que tá fazendo – talvez ela saiba, a gente não tem certeza. É bem provável que ela só queira um pouco de atenção (badum tshhh). Bem, a “mentira” da Briony não te faz lembrar o nosso comportamento nas mídias sociais? Eu considero “Expiação” um grande texto, especialmente porque há algo de mundano no enredo. Em certa medida, o enredo de “Expiação” acontece todo dia. Cada notícia falsa que a gente compartilha nas mídias sociais, cada comentário raivoso que a gente faz condenando alguém à morte no tribunal do Facebook; cada clickbait em que a gente dá like, compartilha, escreve ou até mesmo acredita. Nós todos nos tornamos Briony ao menos em algum ponto de nossa vida online. Alguns de nós até já, distraidamente, mandamos inocentes pra prisão; e o pior, tudo isso sem nenhum contratão pra publicar livro. Esta novela do McEwan é bem Hollywood e isto me atrai. As personagens principais são feitas pra isto, atrair pessoas. Elas seguem a fórmula: são gostáveis, passam por uma jornada na qual aprendem grandes lições de vida, normalmente encontrando o amor a certa altura. O enredo é inesperado, mas familiar; tem um twist, mas nada muito irreal. Sem problemas até aí, exceto que se você só consome este tipo de narrativa você nunca vai praticar outro tipo de existência e, portanto, você vai ser uma espécie de novo humano bem limitado. Shakespeare não ia ficar muito orgulhoso de você. Na cultura Hollywood, as pessoas mais desinteressantes são absorvidas por estas estórias incríveis. É como se nós estivéssemos dando às Kim Kardashians da vida o holofote antes mesmo de elas soltarem uma sex tape. Heróis de Hollywood geralmente recebem o protagonismo antes de terem feito qualquer coisa de interessante. Meio tipo o Trump. “Keeping up with the Kardashians” e Shakespeare têm ao menos uma coisa em comum, e esta coisa é a intriga. Ambos prosperam no conflito dramático, na traição, na mentira. De novo, bem parecido com as mídias sociais, certo? Entretanto, a complexidade do conflito é que é a parte importante. Em Shakespeare,

nós temos camada após camada, enquanto que em “Keeping up with the Kardashians”, é... Todavia, os reality shows são assim tão simples mesmo? Shakespeare é mesmo tão complicado? Uma pessoa inteligente discutindo as Kardashians poderia produzir um livro de 400 páginas tão interessante quanto o de Bloom. O problema é que intelectuais como Bloom geralmente rejeitam cultura pop, o que eu acho uma pena se você me perguntar. Eu pessoalmente leria um trabalho intelectual sobre “Keeping up with the Kardashians: a invenção do humano”. Quanto mais variada a dieta cultural de alguém, eu lhe asseguro, mais complexo este alguém se torna. Você não quer ser o novo pós -Shakespeare-humano? Você está disposto a virar um Matthew McConaughey sem resistir nem um pouquinho? Digamos que a tua dieta cultural inteira é composta por gifs, por exemplo. Eu sei, ninguém consome somente gifs, sempre tem as listinhas e os incríveis memes também. Eu sei. Eu também amo tudo isso aí. Mas só pelo argumento, digamos que você consuma só gifs tua vida inteira. Gif no café da manhã. No chuveiro. Gif, gif, gif. Você vai começar a falar como um gif; andar como um gif; você é um pato, digo, um gif. E se eu apontasse uma arma pra tua cabeça e perguntasse: você preferiria ser um gif ou o Hamlet? Se você fosse um gif, a tua foto do perfil poderia ter mais sucesso nos primeiros dias, mas os teus posts iam ser um pouco repetitivos, eu acho. Shakespeare tem mais palavras do que um gif e é por isto que é melhor. We are the words. We are also the World, a música, mas eu quero dizer “word” mesmo. Humanos são feitos de palavras e quanto mais você as tiver, melhores as tuas chances de não se tornar um Matthew McConaughey. De resistir um pouquinho. No mínimo, no mínimo, palavras são mais baratas do que uma bolsa nova. O negócio não é extinguir completamente os gifs ou os McConaugheys da face do planeta Terra. O negócio é ler o máximo possível de gifs e ser o mais McConaughey só que enquanto também se aproveitam outras coisas um pouco mais difíceis. E o que o John Malkovich tem a ver com tudo isso? Esta, minha amigx, é a minha versão de “Cliffhanger”. Batizá-la-ei de Cliffhanger filosófico. Se você quiser descobrir o final desta estória, mande pra mim os teus comentários sobre a coluna desta edição. Estou no cilenetanaka@gmail.com. g Cilene Tanaka é uma escritora de ficção e não-ficção


brasilobserver.co.uk | Agosto 2017 21

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DANIELA BARONE SOARES

O superpoder silencioso reprodução

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Em um mundo cheio de incertezas, mudanças e altos e baixos, onde podemos encontrar uma base firme? O que pode nos manter equilibrados quando nos encontramos no meio da tempestade? Quando tudo parece estar caindo aos pedaços, nossa habilidade de mantermo-nos firmes e estáveis reside na nossa resiliência interna. A boa notícia é que podemos construir nossa resistência interna com antecedência, usando o superpoder da introversão. A resiliência tem quatro aspectos essenciais: força, flexibilidade, leveza e tranquilidade. Essas qualidades estão dentro de nós, e é por isso que precisamos da introversão para aflorá-las. A introversão é a chave para reencontrar essas qualidades dentro de nós e trazê -las à vida. É por isso que é considerada uma superpotência. Primeiro é força. A força interna relaciona-se com a nossa capacidade de permanecermos pacíficos, amorosos e positivos, não importa o que está acontecendo. É o oposto de rigidez e de ser controladora. Sabemos que são as árvores que dançam com o vento que sobrevivem às tempestades. Então, essa força precisa ser temperada pela segunda qualidade, flexibilidade. Esta é a capacidade de se adaptar a mudanças inesperadas e tornar-se mais forte no processo. Em resumo, somos flexíveis, mas nunca comprometemos nossa paz, amor ou positividade. A leveza é a capacidade de ser suave, ver o lado engraçado, manter a fé, ter esperança e permanecer sereno em meio a

desafios. Por fim, a tranquilidade é necessária, porque quando as coisas movemse rapidamente, precisamos também tomar decisões rápidas. A tranquilidade permite atenção sem tensão, tornando a nossa capacidade de discernir, decidir e agir mais precisa. A introversão é o superpoder que nos permite manifestar essas qualidades dentro de nós mesmos. Ser introvertido significa mergulhar no cerne da nossa consciência. Pode-se dizer que temos quatro níveis de consciência: física, mental, emocional e espiritual. A introversão é estarmos localizados em nossa consciência espiritual. É aqui que a nossa resiliência interna está ancorada. A consciência espiritual é o processo com o qual nos reconectamos e experimentamos nossa paz interior, amor, alegria, sabedoria e poder. Trata-se de estar no mundo, conectado e participando ativamente dele - contribuindo com o melhor que temos para oferecer. Podemos então trazer essas qualidades para nossas ações e interações cotidianas. Quanto mais fizermos isso, mais encontraremos o que naturalmente nos torna mais fortes, mais flexíveis, mais leves e tranquilos. Mais felizes e muito menos afetados pelo estresse cotidiano da vida. Por fim, a introversão nos permite viver uma vida mais gratificante e de conteúdo. Ela nos capacita a viver no presente, a não pensar demais, a permanecer calmo em uma crise, a responder positivamente às situações e a escolher agir de acordo com nossos próprios valores internos.

g Daniela Barone Soares é parte da equipe do Inner Space. Para mais informações, palestras

gratuitas em português, cursos, meditações e artigos acesse www.innerspace.org.uk


22 Agosto 2017 | brasilobserver.co.uk

GB TRIP Inspiração para escritores e poetas, os vilarejos da Grã-Bretanha são românticos por natureza – floridos, pitorescos e cheios de charme. Conheça os lugares perfeitos para uma viagem a dois, ou para despertar o lado romântico em você. Por Priscila Moraes, do Visit Britain www.visitbritain.com

The Cotswolds, Inglaterra As Cotswolds são uma unanimidade para quem busca vilarejos charmosos e um clima de romance. Esta região que fica a menos de 2 horas de Londres e concentra não um, mas vários vilarejos românticos, com destaque para Bibury e Castle Combe, que se alternam no título de vilarejos mais bonitos da Inglaterra. É o lugar perfeito para passear de mãos dadas por cenários de corredeiras cristalinas, colinas e chalés de pedra floridos.


brasilobserver.co.uk | Agosto 2017 23

Inverness, Escócia Considerada a capital das Terras Altas da Escócia, Inverness é o destino central da premiada série The Outlander, que começa com um casal inglês em lua-de-mel e se desenrola em uma trama romântica surpreendente. A escolha de Inverness não foi à toa – é um lugar envolto em mitos e lendas, cercado por paisagens deslumbrantes e que oferece uma oportunidade única: passear de barco pelo lago Ness.

Divulgação

Beddgelert, País de Gales Localizado dentro do Parque Nacional de Snowdonia, na região norte do País de Gales, o vilarejo de Beddgelert é um destino já conhecido entre os casais que buscam o aconchego das montanhas e o acolhedor povo galês. O nome vem de uma lenda local sobre o príncipe galês e sua perseguição a um cão mítico, Gelert. Beddgelert é o ponto de encontro entre dois rios; suas pontes, ruas e cottages de pedra formam o cenário romântico perfeito.

Anglesey, País de Gales Um pequeno vilarejo bucólico, um famoso castelo medieval e faróis à beira-mar já definem a ilha de Anglesey como destino romântico. Mas este cantinho adorável do norte de Gales é mais do que isso: é a morada de Santes Dwynwen, patrona do amor e dos amantes galeses. Quer lugar melhor para selar a união do que uma caminhada na praia do amor? E para quem quer deixar de ser solteiro, eis aqui o lugar perfeito para fazer o seu pedido.

Dartmouth, Inglaterra A região de Devon é repleta de vilarejos românticos, e Dartmouth é um deles. Tudo aqui favorece os momentos a dois – a caminhada pela baía, os restaurantes com delícias locais, a baixa luz nos finais de tarde, castelos e jardins esplendorosos. Para fechar com chave de ouro, um passeio pela costa inglesa na locomotiva a vapor e um chá da tarde com scones mergulhados no autêntico creme de Devon.

Marazion, Inglaterra Cornwall é mais uma das regiões românticas por natureza da Grã-Bretanha. Suas praias estão entre as mais belas do país. Em uma delas, Marazion, fica o deslumbrante St Michael’s Mount, um castelo construído sobre um monte, onde só se chega de barco na maré alta. Com tudo isso, não é de se estranhar que St Michael’s Mount é um dos lugares favoritos dos britânicos para pedir alguém em casamento.


24 Agosto 2017 | brasilobserver.co.uk

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brasilobserver.co.uk | Agosto 2017 25

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