Brasil Observer #51 - BR

Page 1

OR TURN AROUND TO READ IN ENGLISH

LONDRES

www.brasilobserver.co.uk

ISSN 2055-4826

JULHO/2017

# 0 0 5 1


2

Julho 2017 | brasilobserver.co.uk

READ EVERY PAST ISSUE OF BRASIL OBSERVER AT

ISSUU.COM/BRASILOBSERVER OU VIRE PARA LER EM PORTUGUÊS

OR TURN AROUND TO READ IN ENGLISH

LONDON EDITION

WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK

ISSN 2055-4826

MAY/2017

# 0 0 4 9

OR TURN AROUND TO READ IN ENGLISH

LONDRES

WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK

ISSN 2055-4826

ABRIL/2017

# 0 0 4 8

FEBRUARY/2017

# 0 0 4 6

OU VIRE PARA LER EM PORTUGUÊS

LONDRES

WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK

ISSN 2055-4826

MARÇO/2017

# 0 0 4 7

LONDON EDITION

WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK

ISSN 2055-4826


brasilobserver.co.uk | Julho 2017

3


4

Julho 2017 | brasilobserver.co.uk

Conteúdo LONDON EDITION É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:

Ana Toledo Diretora de Operações ana@brasilobserver.co.uk Guilherme Reis Diretor Editorial guilherme@brasilobserver.co.uk Roberta Schwambach Diretora Financeira roberta@brasilobserver.co.uk Editor em Inglês Shaun Cumming shaun@investwrite.co.uk Design e Diagramação Jean Peixe ultrapeixe@gmail.com Colaboradores Antonio Veiga, Aquiles Reis, Christian Taylor, Daniela Barone Soares, Franko Figueiredo, Gabriela Lobianco, Heloisa Righetto, Márcio Apolinário, Nathália Braga Bannister , Wagner de Alcântara Aragão IMPRESSÃO St Clements press (1988 ) Ltd, Stratford, London mohammed.faqir@stclementspress.com 10.000 cópias Distribuição Emblem Group Ltd. Para anunciar comercial@brasilobserver.co.uk 020 3015 5043 Para assinar contato@brasiloberver.co.uk Para sugerir pauta e colaborar editor@brasilobserver.co.uk Online 074 4529 4660

Julho/17

# 0 0 5 1

6

OBSERVAÇÕES

A proposta do Reino Unido aos cidadãos europeus

8

COLUNISTA CONVIDADO

Federico Rossi sobre as ondas de inclusão na América do Sul

10

ENTREVISTA

BNegão, um dos rappers mais respeitados do Brasil

12

REPORTAGEM

Atlas da Violência: as vítimas de um país violento

16

CULT

Conheça o coletivo independente Arts for Democracy

18

DICAS CULTURAIS

Invasão brasileira no Womad Festival e mais...

20

COLUNISTAS

Franko Figueiredo sobre teatro e vida Heloisa Righetto sobre feminismo Daniela Barone sobre comportamento

brasilobserver.co.uk issuu.com/brasilobserver facebook.com/brasilobserver twitter.com/brasilobserver O Brasil Observer, publicação mensal da ANAGU UK MARKETING E JORNAIS UN LIMITED (company number 08621487), não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constarem do expediente não tem autorização para falar em nome desta publicação. Os conteúdos publicados neste jornal podem ser reproduzidos desde que creditados ao autor e ao Brasil Observer.

22

GB TRIP

Os belos campos de lavanda da Inglaterra


brasilobserver.co.uk | Julho 2017

ARTE DA CAPA Arquivo pessoal

Alexandre Andrada

Ofertas válidas durante os meses de Junho e Julho 2017

£ 30 £ 40

instagram.com/ lixodejaneiro

BOTOX CAPILAR OCEAN HAIR®

TRATAMENTO QUE DIMINUI O VOLUME DO CABELO, MANTENDO-O LISO POR MAIS TEMPO.

RECUPERAÇÃO DE CABELO LOIRO KEY PLATINUM TRATAMENTO QUE DEVOLVE O LOIRO PLATINO PARA CABELO DESCOLORIDOS.

50% DE DESCONTO NA ESCOVA PROGRESSIVA TRATAMENTO QUE ALISA O CABELO, REDUZINDO O VOLUME POR ATE TRÊS MESES. (DE TERÇA A SEXTA)

Alexandre Andrada (designer e artista gráfico) e Diego Giani (fotógrafo) idealizaram e formaram em 2016 o coletivo multidisciplinar de artes Lixo de Janeiro após o lançamento de seu primeiro projeto intitulado WARSZAWA 13, que consistia em um ensaio fotográfico pela cidade de Varsóvia com inspiração nos escritos do psiquiatra austríaco Viktor Emil Frankl. Desde então o coletivo vem se dedicando a finalizar seu novo projeto, agora com base em fotos produzidas na Índia e também a colaborar com diversas publicações independentes de vários países como Alemanha, Holanda, Austrália, Japão e Estados Unidos. A capa desta edição foi feita por Alexandre Andrada para a Mostra BO, projeto desenvolvido pelo Brasil Observer em parceria com a Pigment e apoio institucional da Embaixada do Brasil em Londres. Cada uma das 11 edições deste jornal em 2017 contará com uma arte em sua capa produzida por artistas brasileiros selecionados em chamada pública. Em fevereiro de 2018, os trabalhos serão expostos na Embaixada.

PARCEIROS

FAÇA UM ESCOVA SIMPLES E GANHE 50% DE DESCONTO EM UM SERVIÇO À SUA ESCOLHA: *UNHA, FACIAL OU DEPILAÇÃO (QUANDO MARCADO NO MESMO DIA).

Marcações

APOIO:

020 8961 1633 • 074 9468 9866

Maiores Informações

wwlondon.co.uk WWLondonNW10 wwlondon 41 Station Road • Willesden Junction • NW10 4UP

5


6

Julho 2017 | brasilobserver.co.uk

OBSERVAÇÕES

O que diz a proposta do Reino Unido aos cidadãos europeus Por Anne Wesemann g

g

Anne Wesemann é professora de Direito na The Open University. Publicado originalmente em www.theconversation.com


brasilobserver.co.uk | Julho 2017

U

Uma boa notícia foi dada pelo governo britânico aos cidadãos da União Europeia (UE) que vivem no Reino Unido e estão inseguros sobre o futuro pós-Brexit: em breve eles poderão se qualificar para um “settled status”, algo como “status permanente”. O que esses cidadãos devem fazer agora, no entanto, é esperar. Basicamente, devem continuar a ser pacientes. Esta é a principal mensagem do plano “justo e generoso” do governo, documentado no dia 26 de junho. Deve-se dizer que o plano fornece muitas coisas que mostram que o governo ouviu as preocupações das pessoas sobre a questão. Em particular, o desejo quase incontestado de que os cidadãos da UE que já moram no Reino Unido possam ser autorizados a permanecer, e que a remoção de imigrantes seria uma tarefa quase impossível. Na prática os cidadãos da UE que vivem no Reino Unido há cinco anos poderiam aplicar para esse status permanente. Isso é legalmente sensível e fornece clareza e certeza – particularmente porque agora sabemos que os membros da família que ainda não chegaram ao Reino Unido serão incluídos. Desta forma, o novo status, em papel, promete ser uma prova futura, mesmo após o Brexit.

BENEFÍCIOS, PENSÕES E SAÚDE

Reprodução

Uma das maiores preocupações dos cidadãos da UE que vivem no Reino Unido é o que acontece com as suas pensões após o Brexit e quais serão seus direitos em termos de acesso a cuidados de saúde e benefícios. O governo agora promete proteger o acesso às pensões do Reino Unido. Também diz que quer proteger o acesso aos cuidados de saúde, chegando a aventar um acordo que seja semelhante ao cartão de seguro de saúde europeu. Isso permitiria aos viajantes entre o Reino Unido e a UE acesso contínuo aos cuidados de saúde no exterior. Nós precisamos ser realistas, no entanto. As negociações apenas começaram e isso faz parte de uma complicada lista de desejos. A primeira-ministra Theresa May também afirma, com este plano, que a legislação da UE deixará de ser aplicada no Reino Unido através do Tribunal de Justiça Europeu. Este é mais um princípio de soberania do que um movimento prático, pois não há necessidade prática. O governo argumenta que novas leis serão aprovadas no Reino Unido para definir os direitos dos cidadãos da UE após o Brexit. Teoricamente, isso é possível, mas será muito difícil deixar completamente a jurisdição europeia, a menos que o Reino Unido consiga se libertar completamente e garantir um acordo muito distinto. Mesmo assim, é provável que o Tribunal Geral (parte do Tribunal de Justiça Europeu) supervisione isso. Mesmo a Noruega e os outros Estados membros da Área Econômica Europeia devem aplicar as regras do tribunal. Talvez May esteja simplesmente tentando manter uma promessa aos eleitores que votaram pelo Brexit: afinal, um dos argumentos mais emotivos da campanha foi que a Grã-Bretanha precisava

7

“libertar-se” do sistema de justiça europeu. Mas este argumento sempre negligenciou o fato de que o tribunal só pode julgar quando é solicitado e onde tem competência. Não pode simplesmente entrar e dizer ao Supremo Tribunal do Reino Unido o que fazer. A jurisprudência do tribunal também está altamente entrelaçada com os princípios e direitos que também se aplicam aos cidadãos da UE. De certa forma, mesmo que o Reino Unido venha a cumprir a legislação nacional correspondente, o tribunal europeu ainda pode continuar a ser influente. Estamos, afinal de contas, falando sobre o status dos cidadãos da UE no Reino Unido. Além disso, o Reino Unido também parece estar negligenciando o fato de que os cidadãos britânicos que vivem no exterior provavelmente permanecerão sujeitos ao tribunal europeu.

AS IMPERFEIÇÕES A promessa está sendo apresentada como um bom negócio para os cidadãos da UE que vivem no Reino Unido, mas muitos estão preocupados. Muitos passaram meses gastando tempo e dinheiro tentando esclarecer seu status apenas para serem informados de que, a menos que pretendam se tornar cidadãos britânicos, o documento de residência não valerá nada. Os cidadãos europeus estão sendo “convidados” para passar por um processo similar, embora potencialmente menos doloroso, novamente. O governo promete custos razoáveis, mas sem brindes. Também promete um processo simplificado, mas não aceita os documentos atuais. Muitas pessoas basicamente jogaram £65 fora. Depois, há perguntas sobre as várias categorias de cidadãos que serão criadas por esse plano. Não só o Reino Unido diferenciará cidadãos da UE e de outros imigrantes, mas também criará subcategorias para este grupo. Haverá o bom (economicamente ativo) e o ruim (inativo). O acesso a benefícios, cuidados de saúde e pensões é prometido para o bom, enquanto os mais vulneráveis ​​permanecem ignorados – ou deliberadamente excluídos. Como o status será evidenciado também é outra questão. Será que um sistema de cartões de identificação será implementado? Será aplicado apenas a um grupo específico dentro da população do Reino Unido? Curiosamente, foi David Davis, o secretário de Estado para a saída da UE, que uma vez se demitiu como secretário em razão da questão dos cartões de identificação, argumentando que eles eram intrusivos. O governo está sugerindo que as pessoas com status estabelecido podem deixar o Reino Unido por dois anos sem perder seus direitos. Isso parece razoável, mas é realista? Os cidadãos europeus estão acostumados à livre circulação. Como isso será monitorado? Será que eles receberão um passaporte único que será usado como um cartão de fidelidade? Quando estiver cheio, eles precisarão ficar? O plano do governo é um bom começo – desde que todas as coisas boas sobrevivam ao processo legislativo. Não é a pior oferta possível, mas está longe de ser o melhor.


8

Julho 2017 | brasilobserver.co.uk

CONVIDADO Mídia NINJA

Ocupação em Carapicuíba, São Paulo

As ondas de inclusão na América do Sul A ideia de uma ‘guinada à esquerda’ diz pouco sobre a ascensão e queda dos partidos de esquerda hoje e ao longo da história na América Latina. Embora os atores e os espaços mudem com o tempo, a chave é entender as sucessivas demandas por inclusão a partir dos seguimentos mais pobres da sociedade, argumenta Federico M. Rossi


brasilobserver.co.uk | Julho 2017

C

Como explicar os eventos experimentados na região nos últimos vinte anos a partir de uma perspectiva histórica de longo prazo? A definição mais comum é de que ocorreu uma “guinada à esquerda” na Argentina, na Bolívia, no Brasil, no Equador e na Venezuela. Mas este conceito apenas destaca uma conexão vaga entre diversos governos de esquerda, deixando sem explicações diversas dinâmicas políticas e econômicas. Para compreender os principais processos transformadores por trás da virada à esquerda sul-americana, precisamos retornar à história de conflitos redistributivos e analisar o que eu chamo de “ondas de inclusão”. As ondas de inclusão são grandes e prolongados processos históricos de luta entre grupos socioeconômicos e políticos que competem ou para manter uma política baseada em uma relação íntima com o poder econômico, ou para pressionar (às vezes de baixo) a expansão desta política para incluir os pobres como cidadãos e trabalhadores. Em todo o período da história da América Latina, houve apenas duas ondas de inclusão dos segmentos mais pobres da sociedade. A primeira onda foi um processo corporativista que combinou mobilização popular de movimentos trabalhistas e/ou camponeses com políticas de institucionalização das reivindicações nas décadas de 1930 a 1950. A primeira inclusão na América Latina foi definida por Ruth Berins Collier e David Collier em ‘Shaping the Political Arena’ como “a primeira tentativa sustentada e parcialmente bem-sucedida do Estado de legitimar e moldar um movimento trabalhista institucionalizado”. Isso foi alcançado com políticas sociais que atenderam às reivindicações de setores populares cada vez mais sindicalizados. No Brasil, a inclusão foi realizada para fins de desmobilização, enquanto na Bolívia, na Venezuela e na Argentina implicou a mobilização do movimento trabalhista. Na Bolívia e na Venezuela, esta primeira onda também incluiu camponeses, enquanto no Equador foi realizada por um regime reformista militar e envolveu um fraco movimento trabalhista. Golpes de estado colocam fim à primeira onda de inclusão na maioria dos países latino-americanos. Na Argentina, por exemplo, a fase de inclusão terminou com o golpe de 1955, levando a um período de tensão entre peronistas e outros atores políticos, bem como vários outros golpes de estado. Em 1976, mais um golpe iniciou um processo sistemático de exclusão ou “desincorporação” dos setores populares por regimes militares autoritários e reformas neoliberais democráticas, que duraram até o início dos anos 2000. Essa fase de golpes e desincorporação neoliberal não foi exclusiva da Argentina. Na maioria dos países, a desincorporação foi combatida por movimentos sociais que mobilizaram setores populares, como camponeses sem terra no Brasil, indígenas na Bolívia e Equador e desempregados na Argentina. Essas interrupções acumuladas constituíram um enorme ciclo continental de protestos contra as consequências de exclusão das reformas neoliberais. A segunda grande redefinição da arena sociopolítica na América Latina começou no final da década de 1990. Esta segunda onda de incorporação é um processo com base territorial que emerge de uma acumulação de transformações projetadas para responder às demandas populares de inclusão. A chegada de partidos de esquerda ou populistas ao governo é um dos subprodutos de duas décadas de luta pela reincorporação. Cada onda de incorporação tem sido associada a diferentes tipos de movimentos populares que lideram os esforços para a mudança social. Durante o período liberal (1870-1930) que precedeu a primeira onda de inclusão (1930-1950), os movimentos trabalhistas e camponeses eram as principais organizações dos setores populares em favor de suas demandas de bem-estar através da reforma ou da revolução. Na segunda incorporação (2000-2010),

o período neoliberal anterior (1970s-1990) viu um novo tipo de movimento se tornar o ator popular central na reversão das consequências de exclusão do autoritarismo e do neoliberalismo: movimentos de reincorporação. Os movimentos de reintegração se basearam em atores trabalhistas, organizando os pobres e marginalizados territorialmente. Há uma dinâmica recorrente à inclusão, e ambas as ondas apresentam pontos comuns em termos de etapas que levam à incorporação. Como consequência do (neo)liberalismo surgiu uma “questão social”, evoluindo em ambas as ondas para uma questão política defendida por um ator controverso gradualmente reconhecido e legitimado. Nas décadas de 1990 e 2000, o surgimento marginalização como uma nova “questão social”, reformas nas técnicas políticas e a criação de programas sociais maciços podem ser vistos como equivalentes à dinâmica pré-incorporação. Entre os anos 1870 e 1950, os movimentos de esquerda, ao colocar a “questão social”, levaram as elites liberais a aumentar a repressão. Isso gradualmente levou a lideranças populistas ou esquerdistas que inicialmente reconheceram demandas por direitos sociais e, depois, também os atores por trás dessas reivindicações, a saber, movimentos trabalhistas e camponeses. Quanto às políticas sociais, a primeira onda viu a criação de Ministérios do Trabalho ou Assuntos Camponeses, reforma agrária (exceto na Argentina), políticas de direitos sociais e reformas constitucionais. A segunda onda também fez surgir novos ministérios, como o Ministério do Desenvolvimento Agrário no Brasil ou o Ministério do Desenvolvimento Social na Argentina; reformas constitucionais na Bolívia, no Equador e na Venezuela; reforma agrária na Bolívia e na Venezuela; e a produção de políticas abrangentes de transferência de renda em todos os cinco países. Embora a primeira onda de inclusão tenha sido caracterizada por sindicalização maciça e acordos estatais corporativos, a segunda incorporação seguiu uma lógica territorial. Esta segunda onda é “territorial” porque a incorporação de setores populares ocorreu predominantemente através de instituições criadas ou reformuladas para a articulação de atores fora do sistema sindical. Em vez disso, uma vez que as reformas neoliberais e os regimes autoritários tinham acordos neo-corporativistas enfraquecidos ou dissolvidos para resolver conflitos sócio-políticos, as ocupações de terras urbanas e rurais, bairros e favelas tornaram-se espaços centrais para a reivindicação dos pobres organizados. Pelo mesmo motivo, as políticas sociais associadas a essa reincorporação foram definidas pela localização física dos pobres em vez de por classe ou ocupação. Em muitos casos, as políticas de reincorporação foram canalizadas através de instituições recém-criadas ou redefinidas. Por exemplo, os “territórios cidadãos” no Brasil, as “missões sociais” na Venezuela e a articulação de movimentos através de conselhos sociais que canalizam múltiplas reivindicações não corporativas na Argentina, na Bolívia e no Brasil. Esta foi uma mudança importante da lógica funcionalista do corporativismo, que articulou as reivindicações dos setores populares tomando os sindicatos como seu único representante e Ministérios do Trabalho como seu departamento de estado dedicado. Para o futuro, os eventos recentes na região podem sinalizar três caminhos críticos para a segunda onda de incorporação. O golpe no Brasil, a eleição de neoliberais na Argentina e as violentas tensões na Venezuela podem indicar o fim da segunda onda. No entanto, a segunda incorporação continua no Equador com a eleição do candidato oficial e na Bolívia devido ao apoio permanente ao governo. É cedo demais para dizer com certeza se alguns países entraram em uma segunda onda de desincorporação ou se a situação atual é apenas uma breve paralisação na longa história latino-americana de conflitos redistributivos.

g

9

Dr. Federico M. Rossi é professor de pesquisa do CONICET na Escola de Política e Governo, Universidade Nacional de San Martín, Argentina, e é PhD pelo Instituto Universitário Europeu. Foi pesquisador visitante da Universidade de Nova York, da Universidade de Brasília e da Universidade de Gerenciamento de Singapura, bem como pósdoutorado na Universidade de Tulane e no Instituto Universitário Europeu. Ele é o co-editor de ‘Social Movement Dynamics: New Perspectives on Theory and Research from Latin America’ (Routledge, 2015) e autor de ‘The Poor’s Struggle for Political Incorporation’ (Cambridge University Press, 2017).


10 Julho 2017 | brasilobserver.co.uk

ENTREVISTA

BNegĂŁo quebrando a hipnose


brasilobserver.co.uk | Julho 2017 11

N

BNEGÃO & SELETORES DE FREQUÊNCIA

Por Guilherme Reis

Nascido Bernardo Santos, consagrado como BNegão, um dos rappers mais respeitados da música brasileira. Do bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, onde o músico foi criado, à cidade de Londres, muito se passou. Do início com a banda Planet Hemp à apresentação na cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de 2012. E agora ele está de volta, para um show gratuito no Walthamstow Garden Party, dia 16 de julho. Confira a seguir a entrevista concedida por e-mail:

Quando Domingo 16 de julho, 8pm Onde Forest Rd, Walthamstow, London E17 Entrada Gratuita Info www.walthamstowgardenparty.com

Felipe Diniz

Nos últimos anos têm rolado diversos shows de artistas brasileiros em Londres com uma pegada mais, digamos, “underground”, bandas e músicos que não necessariamente fazem parte do mainstream do Brasil. Por exemplo, Liniker e Os Caramelows, Bixiga 70, Nômade Orquestra, Meta Meta, O Quadro, Os Nelson, Dona Onete... E também artistas mais conhecidos, mas que guardam certa “autenticidade” diante de um mercado mais ou menos dominado pela música pop estrangeira, sertaneja etc. Por exemplo, Criolo, Emicida, Nação Zumbi, BNegão... Como você enxerga essa cena brasileira? E qual é a importância de se apresentar em palcos europeus? Vivemos um dos melhores momentos musicais das últimas décadas no Brasil. Não tenho dúvida alguma sobre isso. Estamos fazendo uma bela reflexão do nosso tempo (musicalmente falando), que está sendo bem entendida, respeitada e querida também em outros lugares do planeta. E é justamente por esse fato que as bandas circulam pelos palcos de pequenos, médios e grandes festivais europeus, sendo tratados como bandas internacionais (é isso que somos) e de igual pra igual com outras bandas do mundo. Neste show de Londres, por exemplo, vamos tocar no mesmo palco que os nossos heróis Toots and The Maytals vão se apresentar... E isso, pra mim, é uma honra absoluta. Assim como quando tocamos no mesmo palco que o mestre Herbie Hancock (no festival MIMO, em Paraty). São momentos marcantes na nossa caminhada. Agora você está voltando a Londres... O que a cidade traz pra você musical e emocionalmente?

em shows) e uma versão diferente de “Sorriso Aberto” (um som do Guará que eu gravei anos atrás com o DigitalDubs). Preparamos um set diferente de tudo que já fizemos até aqui. Acho que vai ficar classe. O último álbum, TransmutAção, traz uma mistura de ritmos bem característica das influências brasileiras e uma pegada política nas letras, algo marcante em todos os seus trabalhos. É quase redundante falar em “rap com pegada política”, ou “hip-hop com pegada política”, afinal o protesto está na essência do gênero. Mas, pensando nesse último trabalho, lançado num ano de muita turbulência política (2015), qual foi a mensagem que você buscou transmitir? A mensagem é de quebra da hipnose, libertação e cura (física, mental e espiritual). Acho importante... Pra todos nós, no mundo inteiro (e não apenas no Brasil). O meu foco é esse. E acho que a música também tem um papel importante nisso. Ela, apenas, por si só, já é uma declaração política. O Brasil ainda vive um momento maluco. Como você avalia a atual situação do país? Vivemos num golpe bizarro. O Brasil está num momento de absurdos e abusos (de poder, de autoridade e tudo mais). Estamos regredindo a passos largos, como país... A população sendo penalizada, como sempre (não que antes estivesse tudo uma maravilha), e a elite entreguista e vampiresca dando as cartas, como quase sempre. A parte boa é que fizeram esse esquema pra tirar e aniquilar um partido, mas a coisa ficou desgovernada e acabou revelando (finalmente) o podre de todos os outros, o que a população inocente e ignorante dos fatos desconhecia (ou se recusava à acreditar). Alguns bodes expiatórios acusados e presos, aqui e ali... Alguns amigos de juízes saindo de cena, de fininho... Mas o fato é que a coisa saiu do controle. E, nesse ponto, acho ótimo. Só não dá pra prever aonde vamos parar... Você acha que músicos e artistas em geral devem se posicionar durante esse momento de crise?

Musicalmente sempre trouxe muito... Desde o punk rock, a cena jamaicana de Brixton, pós-punk, Portishead e o pessoal do Trip Hop, Prince Fatty. Emocionalmente é classe também, pois muitas referências (entre as gringas) vieram dessa lendária cidade.

Acho que cada um é dono do seu caminho. Eu entrei na música por conta disso, dessa necessidade de expressar minhas opiniões sobre o que se passa no Brasil e no mundo. Nasci dentro de uma ditadura militar. Mas, ao mesmo tempo, não acho que ninguém tem o dever de algo, nesse departamento. Sou à favor da liberdade, sempre.

Pode nos adiantar o que vocês estão preparando para o show em termos de repertório?

Para finalizar, como você explicaria a um gringo o tipo de som que você faz?

Vamos tocar músicas dos três albúns dos Seletores, mais uma nova (inédita

Música vinda do coração, com bastante energia, batuque, alma e groove.


12 Julho 2017 | brasilobserver.co.uk

REPORTAGEM

As vítimas de um país violento

Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro

Dados oficiais mostram crescimento expressivo da taxa de homicídios no Brasil, principalmente entre jovens, negros e mulheres. Cidades do interior lideram a lista Por Wagner de Alcântara Aragão

E

Em um intervalo de dez anos, o número de homicídios no Brasil cresceu 23%, e esse tipo crime no país representa 10% do total de homicídios em todo o mundo. Estas e outras trágicas constatações estão no Atlas da Violência 2017, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicado no início de junho último e que traz dados referentes ao período de 2005 a 2015. Elaborado em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Atlas da Violência aponta que os jovens, as mulheres, a população negra e os pobres em geral são as principais vítimas de assassinatos. O estudo mostra ainda que estados das regiões Norte e Nordeste foram os que mais registraram aumento em homicídios. Na lista das cidades mais

violentas, há um predomínio de municípios do interior, além de periféricos a grandes metrópoles. Segundo o levantamento, em 2015 foram oficialmente registrados no Brasil um total de 59.080 homicídios. Isso representa uma taxa de 28,9 mortes para cada 100 mil habitantes. Dez anos antes, ou seja, em 2005, tinham sido 48.136 homicídios no total, um acréscimo de quase um quarto. A taxa de homicídios, àquela altura, estava em torno de 25 para cada 100 mil habitantes. De acordo com um dos coordenadores da pesquisa, Daniel Cerqueira, o agravamento da violência verificada no decênio analisado “representa a continuidade de uma tragédia que vem


brasilobserver.co.uk | Julho 2017 13

José Cruz/Agência Brasil

agravamento da segurança pública intriga: por que a melhora nas condições de vida não se refletiu em uma sociedade menos perigosa e ameaçadora? Na avaliação de Daniel Cerqueira, a persistente desigualdade social, histórica no Brasil, explica o cenário de violência. E a esse se soma outro componente, o preconceito – decorrente do racismo e da discriminação dos mais pobres. “Ainda vivemos numa sociedade muito desigual e com histórico de racismo. As pessoas que morrem [vítimas da violência] são [em maioria] jovens, são negras, são de baixa escolaridade, moradores das periferias onde existe uma verdadeira ‘licença para matar’”, argumentou o pesquisador do Ipea. A adoção de políticas públicas que perpassem várias gestões governamentais é defendida por Daniel Cerqueira como iniciativa que combate a violência, mesmo com a desigualdade e o racismo ainda impregnados na sociedade brasileira. O pesquisador ressalta os casos de Pernambuco e Espírito Santo, “que lograram êxito ao diminuir suas taxas de homicídio”. Só entre 2007 e 2013 Pernambuco, por exemplo, viu se reduzir em 36% a taxa de homicídios. “Espírito Santo, desde 1980, estava na lista dos cinco estados mais violentos. Em 2015 caiu para 13º”. O pesquisador do Ipea advertiu, porém, que nos últimos anos tais políticas foram descontinuadas. “Neste ano tivemos inclusive greve da Polícia Militar do Espírito Santo”, ilustrou.

JOVENS E NEGROS

de décadas anteriores”. Entretanto, atingindo patamares “insuportáveis”, conforme assinalou o pesquisador na entrevista coletiva de apresentação dos dados. “Chegamos a uma média de 59 mil a 60 mil homicídios por ano, mais de 10% dos homicídios em todo o mundo”, comparou.

POR QUÊ? O aumento expressivo da violência no decênio analisado coincide com o recente período de crescimento econômico, incremento da renda das famílias, redução da miséria e da pobreza, ampliação dos serviços básicos (saúde, educação, saneamento, moradia). Por isso, o

O Atlas da Violência identificou que de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras – o que corrobora a avaliação de Daniel Cerqueira sobre o racismo como um dos causadores de mortes na sociedade brasileira. Conforme apurou o estudo, os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras etnias, já descontados nesse cálculo efeitos como idade, escolaridade, sexo, estado civil e bairro de residência. Outra vítima da calamidade na segurança pública, como observou o pesquisador do Ipea, são os jovens – de um modo geral, mas jovens negros, principalmente. A taxa de homicídios da população jovem (15 a 29 anos) é de 60,9 por 100 mil habitantes, mais que o dobro da taxa de homicídios média da população brasileira no total (28,9 por 100 mil habitantes). “É uma verdadeira crise civilizatória que vivemos no Brasil”, salienta Daniel Cerqueira. A diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, observa que a violência contra os jovens vem em franca ascensão desde 1980. “Nos anos 2000 se tinha uma pontinha de esperança de que esse processo seria interrompido, mas não foi o que aconteceu”, declarou na coletiva de apresentação dos dados. Para ela, falta maior sensibilidade da sociedade em torno desse problema. “Com as 59 mil mortes por homicídio em 2015, temos uma média de 161 mortes [nessas condições] por

dia. É o equivalente [à lotação de] um Boeing 737. É como se um avião caísse por dia – é esse o comparativo de mortes de jovens diárias no Brasil. É uma juventude perdida”, alerta a especialista.

NORTE, NORDESTE E INTERIOR O coordenador da pesquisa assinala que, territorialmente, a violência no Brasil “se espalhou pelas regiões Norte e Nordeste nos últimos dez, 15 anos”, a ponto de a taxa de homicídios em boa parte dessas unidades da federação ter mais que dobrado entre 2005 e 2015. O destaque negativo é o Rio Grande do Norte, cuja taxa de homicídios disparou 232% no período, passando de 13,5 para cada 100 mil habitantes em 2005 para 44,9 em 2015. Na sequência vêm Sergipe (salto de 134,7%) e Maranhão (aumento de 130,5%). A violência também se dissipou pelo interior do país, detecta o Atlas. Para elaborar a lista dos municípios (com população superior a 100 mil habitantes) mais inseguros do Brasil, o Ipea analisou dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, referentes ao intervalo de 2005 a 2015, e averiguou informações dos registros policiais publicadas no 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Para listar os 30 municípios potencialmente mais violentos e menos violentos do Brasil em 2015, o estudo considerou as mortes por agressão (homicídio) e as mortes violentas por causa indeterminada (MVCI)”, explica o Ipea, em nota. O nada honroso primeiro lugar da lista de mais violentos ficou com Altamira, no Pará, com taxa de homicídio somada a MVCI de 107. Na sequência, aparecem Lauro de Freitas, na Bahia (97,7); Nossa Senhora do Socorro, em Sergipe (96,4); São José de Ribamar, no Maranhão (96,4); e Simões Filho, também na Bahia (92,3). “As regiões Norte e Nordeste somam 22 municípios no ranking dos 30 mais violentos em 2015”, acrescenta Daniel Cerqueira.

CRESCIMENTO DESORDENADO Segundo o pesquisador, o que explica a ocorrência de mortes violentas em maior proporção nesses municípios interioranos é, por parodoxal que possa parecer, o crescimento econômico recente experimentado pelo interior do Brasil e pelas regiões Norte e Nordeste. Acontece que, com o progresso econômico, vieram sequelas. “O crescimento econômico atrai também coisas ruins, como o mercado ilícito”, diz Daniel Cerqueira. O coordenador da pesquisa explica: “Houve crescimento acentuado da renda no interior do Brasil. Com isso, o negócio do narcotráfico se tornou viável nessas cidades. Esses mercados ilícitos passam a ocasionar muitas mortes, afinal os conflitos, como são originados em negócios ilícitos, não podem ser decididos na Justiça, mas sim na bala”. Cerqueira

pondera que, por ora, isso é uma hipótese, porém “bastante plausível” – o Ipea vem justamente desenvolvendo um estudo sobre essa questão, a ser finalizado em breve, e o levantamento até o momento aponta para uma confirmação dessa hipótese levantada. Efeitos colaterias como esse apontado pelo pesquisador decorrem também da falta ou ineficácia de políticas públicas que assegurem um crescimento econômico mais ordenado dos municípios. O Atlas do Ipea exemplifica o caso de Altamira, cidade líder da lista das mais violentas. O município foi, do ponto de vista econômico, beneficiado com a construção da Usina de Belo Monte, o que gerou empregos e renda; a expansão, todavia, foi desordenada, e não acompanhada de investimentos em políticas que garantissem que tal expansão se desse de forma igualitária. De um lado, uma pequena parcela beneficiada plenamente do desenvolvimento econômico; de outro, uma maioria que ficou às margens desse processo.

VIOLÊNCIA POLICIAL O Altas da Violência averiguou também as mortes causadas por ação policial. O documento faz críticas à lógica do sistema policial brasileiro, baseado na truculência e na repressão. É o que a diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, chama de “violência estatal”. É uma lógica, conforme argumenta a especialista, que se reflete não só nas vítimas da ação policial, como também no número de mortes de policiais. “O que acontece é que geralmente o policial mata em serviço, e morre fora de serviço [na folga, em bicos, ou em emboscadas]”, avalia Samira Bueno. Os dados do Atlas sobre mortes decorrentes de intervenção policial apresentam duas variações: as analisadas por números do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, na categoria “intervenções legais e operações de guerra” (que foram de 942 em 2015) e os números reunidos pelo Fórum (3.320), em todo o país. Os estados que mais registraram homicídios desse tipo pelo SIM em 2015 foram Rio de Janeiro (281), São Paulo (277) e Bahia (225). Pelos dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foram registradas em São Paulo 848 mortes decorrentes de intervenção policial, 645 no Rio de Janeiro e 299 na Bahia. A equipe que elaborou o Altas critica a escassez de fontes de dados mais consistentes sobre a violência estatal (praticada pelas forças policiais) e defende reformulação no modus operandi das polícias brasileiras. “Para além da necessidade de rever os protocolos de registro para esses casos pela área da saúde, devemos insistir na mudança de um modelo de segurança pública que, se não promove, é conivente com o uso abusivo da força letal e execuções sumárias, ao mesmo tempo em que expõe e vitimiza cada vez mais os seus agentes”, denuncia o estudo.


14 Julho 2017 | brasilobserver.co.uk

ANUNCIE AQUI

QUEM PROCURA, ENCONTRA NO BRASIL OBSERVER 074 92 65 31 32


brasilobserver.co.uk | Julho 2017 15

advertorial Divulgação

Made in Brasil & Made in Brasil Boteco

O melhor da música brasileira em Londres Música brasileira é sempre uma boa pedida, ainda mais quando Londres está na estação mais agitada do ano, o verão. Em meio a festivais e shows espalhados pela cidade, você pode encontrar um lugar aconchegante para curtir diversos estilos de música brasileira e latina. No bairro de Camden Town você vai se sentir em casa ao som de DJs e música ao vivo nos famosos Made in Brasil e Made in Brasil Boteco. Confira abaixo as atrações do mês de julho:

DJ Siclano

Made in Brasil

- Sexta-feiras, 7, 14, 21 e 28 de julho: André Luz & Ton com muito samba, bossa nova e MPB. Na sequência, a partir das 11pm, os DJs D-Vysor (7-14) e Siclano (21-28) finalizam a noite! - Sábados, 8, 15, 22 e 29 de julho: Saturday Night Fever, até 4am! Dia 8, com DJ D.Vysor & DJ Heart; dia 15 DJ D.Vyzor & DJ Shut Da Funk Up; dia 22 com DJ Sampa & DJ Heart; dia 29 com DJ Sampa & DJ Midnight Cookie. - Domingo, 9 e 23 de julho: Endless Summer com Ruta Di Trio & Little Boat Band. Muito samba, baião, funk, jazz e sons originais. - Quinta-feira, 13 de julho: Ruta & Little Boat Band apresentando sons do Brasil, México e Cuba. - Domingo, 16 e 30 de julho: Tropical Groove, com o guitarrista Fábio Monteiro e o baixista Carlos Cleison apresentando uma variedade de estilos: música brasileira, latina, reggae, blues, funk e rock. - Quinta, 20 de julho: Cantora internacional de jazz e bossa nova, Caru Lins. - Quinta-feira, 27 de julho: Tree House Band, com Luis no vocal e Mario no cajon, com groove rock agitando a noite.

Made in Brasil Boteco

- Sexta-feiras, 7, 14, 21 e 28 de julho: Brazilian Friday until 2am: dia 7 e 21 com Bandoo Roots & DJ Siclano, dia 14 com Fabricio Azevedo & DJ Selector Pedro, dia 28 com Andre Luz & DJ Selector Pedro. - Sábados, 8, 15, 22 e 29 de julho: Saturday Night Fever until 2am: dia 8 e 22 com Samaba do Chapéu & DJ Selector Pedro, dia 15 e 29 com Samba do Chapeu & DJ Siclano. Para ficar por dentro da programação, fique ligado: @MadeInBrasil1 – @madeinbrasilboteco


16 Julho 2017 | brasilobserver.co.uk

Divulgação

Arte pela democracia Grupo criado na esteira do caos político brasileiro reúne artistas engajados na promoção da consciência democrática

Links e contatos www.facebook.com/Arts-for-Democracy a4democracy@yahoo.com www.facebook.com/accuratorialprojects +44 7941 684853 (Ana Cockerill)

A

Arts for Democracy (A4D) é uma plataforma de arte independente, sem fins lucrativos. Aproveita o potencial expressivo e emotivo da criatividade para compartilhar a riqueza do pensamento livre entre os cidadãos. A energia natural da arte incorpora um autêntico protesto individual: a proteção incendiária da sociedade contra o pântano do pensamento de manada que deixa populações impotentes diante de ditaduras de governos ilícitos que corroem direitos humanos consagrados. O A4D surgiu espontaneamente em 2016, em antecipação contrária ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. O objetivo principal do projeto é promover a conscientização sobre direitos humanos e democracia através de atividades artísticas e educacionais, incluindo performances, exposições, filmes, cursos e oficinas. O projeto conta com uma fusão de artistas internacionais e um núcleo de talento brasileiro, compartilhando – através da lente iluminada de Londres – o valor global da democracia expressada em sua prática diversificada e multimídia. A curadoria é feita por Ana Cockerill, artista brasileira, psicoterapeuta e curadora independente. O grupo trouxe sua causa para as ruas de Londres – tanto em colaboração com outros coletivos anti-golpe quanto de forma independente. Performances de “guerrilha” foram realizadas pelos

membros do projeto, incluindo as artistas brasileiras Luciana Duailibe e Marcia Mar e o poeta, pintor e artista britânico Jonathan Graham. Espacio Gallery (Shoreditch), Tia Maria Restaurant (Vauxhall), Studios Kew Dance & Arts Studio (Richmond) e, no ano passado, o jornal Brasil Observer – através de seu programa mensal no Made in Brasil Boteco (Camden) – já receberam performances artísticas criadas pelo A4D. Enquanto isso, no epicentro do golpe, os últimos eventos do ano passado catalisaram protestos criativos em toda a cena artística, da música ao teatro. Os artistas brasileiros, tanto no Brasil quanto no exterior, não têm medo de lutar contra o ilegítimo Michel Temer, em apoio incondicional ao retorno do país ao caminho democrático. Arts for Democracy é um coletivo flutuante, à medida que as carreiras dos membros os levam a diferentes locais. Todos os artistas, de pintores a atores, de poetas a cineastas, cuja honestidade expressiva respira liberdade, são bem-vindos neste movimento, que compartilha arte global com paixão tropical. O próximo show, intitulado “Spark of Freedom”, chega ao Made in Brasil Boteco, Chalk Farm Road, no dia 11 de julho. O Brasil Observer irá acolher este evento, que desencadeia a liberdade consciente do Brasil para o mundo, com a eterna poesia da crença.


brasilobserver.co.uk | Julho 2017 17

Os membros participantes do Arts for Democracy são: Ana Cockerill

A artista brasileira Ana Cockerill foi trazida para Londres pelo casamento, de Salvador, sua cidade natal, em 1987. Nos primeiros anos trabalhou como conservadora de arte no Hampton Court Palace, e depois realizou um MA em Art Psychotherapy na Goldsmiths University. Os interesses de Ana estão nas áreas culturais; sua experiência de trabalho inclui a execução de projetos para grupos minoritários e a organização de eventos internacionais. Ao mesmo tempo, ela realiza psicoterapia de arte e desenvolve sua prática artística. Ana é fundadora da Espacio Gallery, Shoreditch, tendo exibido suas instalações, pinturas e filmes experimentais no Reino Unido e no exterior. www.espaciogallery.com

Lawrence Mathias

Lawrence Mathias é um artista visual baseado no norte de Londres que trabalha em diversos meios de comunicação. Seu trabalho de arte geralmente combina mídias diversas, som, música, imagens e filmes 2D e 3D, e muitas vezes é desenvolvido em conjunto com outros artistas e grupos. Os temas podem surgir através de qualquer mídia usada – um poema ou uma imagem ou uma música – e podem então ser explorados amplamente através de várias formas de arte. Seu trabalho geralmente tem uma pegada social ou política em seu conteúdo, conectando-se diretamente às questões do dia. www.lawrencemathias.com www.youtube.com/lawrencemathias

Marcia Mar

Nascida em Porto Alegre em 1966, Marcia Mar mora em Londres desde 1989. Ela é uma artista multimídia que combina as habilidades de contadora de histórias, poeta, artista, cantora, música experimental, compositora, pintora, cineasta e escritora (autora do livro de poesia ‘Stella Maris’ e coautora dos livros ‘Multicultural Manifesto Movement Mundi’ e ‘Acorde’). Sua performance intitulada “I am another, similarly unique you” traz à mente pensamentos sobre inclusão democrática, com a qual Mar deseja falar todas as línguas humanas atuais como um espelho; para compartilhar conteúdos importantes “para a preservação das vidas na revelação de seus mistérios”. www.marciamar.com

Jones Tensini

Jones é um artista brasileiro de Santa Catarina que vive e trabalha em Bruton e Londres. Ele se formou na Sir John Cass College of Art e seus meios são arte performática e pintura. Jones foi vocalista da banda The Readers, que muitas vezes colaborou com Bob and Roberta Smith, entre outros. O seu CV inclui Royal Academy, Barbican e Whitstable Biennale. Jones também esteve envolvido com a Espacio Gallery, onde também exibiu seu trabalho. Jones expressa sua arte revisitando suas memórias de infância e crescimento.

Fabiana Righi

Fabiana Right é uma artista italiana baseada em Londres. Seu trabalho, que inclui fotografia, arte performática e instalações de vídeo, tem transformado espaços através de hiper-realismo e humanidade; é uma busca verdadeiramente interativa e instintiva pela perfeição social utópica que ela percebe realizável, e que ela exala através de sua vida diária. Fabiana se formou em 2005, em Fine Art, Sir John Cass College of Art, onde seu tutor – e inspiração – foi o renomado artista político Bob and Roberta Smith. Ela exibiu em Londres, na Espacio Gallery; na Bienal de Liverpool; no TAA de Londres, e em um espaço aberto em Hackney Marshes, East London. www.fabianarighi.com

Jonathan Graham

Jonathan Graham nasceu em Aberdeen, na Escócia, em 1976. O silêncio de uma infância rural induziu tanto a sua conexão com a misteriosa sensualidade da natureza quanto sua distância do glamour urbano. Este fetichismo instintivo, que se criou no ambiente da sua infância, agora compartilha a pintura rítmica, cartesiana, a poesia e a performance, com a intuição “transmitida pela energia” da realidade. Este renascimento quântico da mente impulsiona a riqueza individual da visão criativa e a democracia. www.wavesexcite.com

Luciana Duailibe

Luciana Duailibe é uma artista performática, ativista e educadora de arte do Maranhão, baseada em Londres. Ela obteve um mestrado em Artist Teachers & Contemporary Practices, na Goldsmiths College, e trabalhou com instituições de caridade, escolas e centros comunitários, tanto em Londres quanto em outros países. Luciana atuou em vários protestos de rua do A4D, no Made in Brasil e no Tia Maria; e de forma independente, no Notting Hill Carnival e no The Albany. Ela também atuou na Espacio Gallery na exposição com curadoria de Ana Cockerill, Duality (2014). Seus vários projetos incluem Green Toys, Creativity in Scene, WE women e The Return of the Goddess. www.facebook.com/luciana.duailibe

Thiago Alexandre Tonussi

Tradutor, filosofo e poeta, Thiago Alexandre Tonussi tem 36 anos de idade e há dez anos mudou-se do Rio Grande do Sul para Londres. Thiago começou a apresentar seus poemas em bares e galerias de Londres aproximadamente cinco anos atrás. Mais recentemente, ele começou a levar sua poesia também aos protestos de rua organizados por coletivos brasileiros contra o golpe. Seus poemas, de caráter filosófico, dissertam sobre os mais variados temas, principalmente aqueles relacionados ao processo de construção de conceitos linguísticos, que geram, e são gerados, pelos sistemas e relações de poder. Thiago considera-se um “naive realista”. Suas outras paixões são jardinagem, sua gata Bella e sua adorada esposa Juliana M Tonussi. www.emprosaandopoetando.blogspot.co.uk


18 Julho 2017 | brasilobserver.co.uk

DICAS

MÚSICA Womad Festival com sotaque brasileiro Divulgação

Metá Metá

Dona Onete

Realizado em Charlton Park, no interior da Inglaterra, a poucas horas de Londres, o Womad Festival reúne todo ano expressões musicais de todos os cantos do mundo, sempre com presença significativa de artistas brasileiros. Por lá já tocaram Gilberto Gil, Criolo e Dona Onete, entre outros. Este ano, de 27 a 30 de julho, a programação conta com Bixiga 70, Metá Metá, Nomade Orquestra, DJ Marky e Seu Jorge. Seu Jorge, provavelmente o mais conhecido, volta à Inglaterra após apresentação no Royal Albert Hall, onde fez um tributo a David Bowie. O repertório no Womad será o mesmo. Ele toca no sábado. Bixiga 70, uma banda de São Paulo que mistura sons caribenhos, africanos e brasileiros, fará uma das primeiras apresentações do festival, logo na quinta-feira, o que deve esquentar o público presente. O trio Metá Metá, com influências do Candomblé, cantos ancestrais, punk rock e jazz, se apresenta na sexta-feira, enquanto a Nomade Orquestra, com seu som que vai do soul ao afrobeat, toca no sábado. Já o DJ Marky, que fez seu nome na cena de Londres há duas décadas, toca no domingo ao lado do MC GQ, um dos pioneiros do drum and bass. O Womad Festival traz ainda na programação nomes como Seun Kuti & Egypt 80, Chico Trujillo, Toots & the Maytals e Oumu Sangaré. Quando: 27 a 30 de julho Onde: Charlton Park Entrada: £210 para os quatro dias Info: www.womad.co.uk

DONA ONETE

Dona Onete gravou seu álbum de estreia (Feitiço Caboclo) aos 73 anos de idade. Ela tinha estado muito ocupada exercendo a profissão de professora de História em sua cidade natal na Amazônia. Considerada a diva do carimbó chamegado, a paraense Dona Onete reúne em sua música todo o folclore da região Norte do Brasil, misturando carimbó, boi bumba, salsa caribenha, samba e brega. Quando: 14 de julho, 7pm Onde: Nells Jazz and Blues, West Kensington, London W14 8TG Entrada: £22 Info: www.nellsjazzandblues.com

CABRUÊRA

A banda Cabruêra foi formada em 1998 por quatro músicos da cidade de Campina Grande, Paraíba, e combina influências e citações da música popular do Nordeste com tendências musicais urbanas contemporâneas. Eles tocam uma música tradicional nordestina com raízes africanas e uma pegada de rock, funk e reggae. Quando: 16 de julho, 7pm Onde: Nells Jazz and Blues, West Kensington, London W14 8TG Entrada: £11 Info: www.nellsjazzandblues.com


brasilobserver.co.uk | Julho 2017 19

COMIDA BNEGÃO & OS SELETORES DE FREQUÊNCIA

O ícone do Hip Hop BNegão retorna a East London depois que ele se apresentou na cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres 2012. O MC olha para o futuro da música brasileira, misturando rap com a essência do samba tradicional e o funk carioca, atuando com os Seletores de Frequência. Quando: 16 de julho Onde: Walthamstow Garden Party Entrada: Free Info: www.walthamstowgardenparty.com

NAÇÃO ZUMBI

O grupo Nação Zumbi está preparado para fazer uma rara aparição em Londres (primeira desde 2006) e tocar suas trilhas clássicas que remontam ao início dos anos noventa. O movimento Manguebeat foi um ponto fundamental na música brasileira e a Nação Zumbi esteve na vanguarda deste legado cultural gerado em Recife. Quando: 22 de julho, 7pm – 10pm Onde: The Garage, 20-22 Highbury Corner, London N5 1RD Entrada: £30 Info: www.thegarage.london

IVETE SANGALO

Ivete Sangalo é uma das cantoras brasileiras mais populares da atualidade e com maior número de discos vendidos, com seis álbuns lançados pela Banda Eva e mais sete álbuns solo. Ivete é conhecida por sua poderosa voz e apresentações cheias de energia. Quando: 30 de julho, 6pm Onde: Eventim Apollo, 45 Queen Caroline Street, London W6 9QH Entrada: A partir de £52 Info: www.eventim.co.uk

JARDS MACALÉ

Jards Macalé foi uma figura central da Tropicália, trabalhando com Gilberto Gil e Caetano Veloso e muitos dos gigantes da música brasileira. Nesta rara apresentação no Reino Unido ele irá tocar com uma banda de quatro integrantes e fará um retorno emocional para a cidade onde se apresentou em 1971, na época do exílio. Quando: 30 de julho, 7pm Onde: Nells Jazz and Blues, West Kensington, London W14 8TG Entrada: £27,50 Info: www.nellsjazzandblues.com

MARCOS VALLE

Quando se trata de música brasileira, não há muitos nomes maiores do que Marcos Valle. Uma lenda incontestável da música sul-americana, sua fusão de samba, bossa nova, rock e jazz resultou em inúmeros registros clássicos, do Samba 68 e seu autointitulado álbum Marcos Valle para Previsão Do Tempo e o mais recente Contrastes. Quando: 7 de agosto, 7pm – 11pm Onde: Jazz Caffe, 5 Parkway, London NW1 7PG Entrada: £20-30 Info: www.thejazzcafelondon.com

ED MOTTA

O pianista brasileiro Ed Motta é um virtuoso do jazz. Sobrinho de Tim Maia, Motta já tocou com Marcos Valle, João Donato e Roy Ayers ao longo de sua carreira, e surpreendeu o público do Jazz Cafe no ano passado com uma apresentação elétrica, com músicas de seu último lançamento, AOR, além de clássicos do soul e da bossa nova. Quando: 22 de agosto, 7pm – 11pm Onde: Jazz Caffe, 5 Parkway, London NW1 7PG Entrada: £20-30 Info: www.thejazzcafelondon.com

Comida Fest: o festival latino-americano de comida de rua está de volta para 2017 O Comida Fest deste ano levará os visitantes para uma jornada através da culinária latino-americana ao longo do Tâmisa, com festivais gratuitos em Greenwich, Tower Bridge e Putney. A edição de Greenwich começa no dia 8 de julho, comemorando o 110º aniversário de Frida Kahlo, com apresentações musicais lembrando a pintora mexicana. Comece o dia comendo tacos na Cidade do México, uma bandeja paisa em Bogotá e uma tigela de açaí no Rio de Janeiro: tudo sem sair de Londres. Depois de um lançamento muito bem sucedido em 2016, o Comida Fest está de volta oferecendo aos visitantes uma jornada pela culinária latino-americana em três locais privilegiados ao longo do rio Tâmisa: o Cutty Sark Gardens de Greenwich (8 e 9 de julho), Potter Fields em Tower Bridge (12 e 13 de agosto ) e o Bishop Park de Putney Bridge (16 e 17 de setembro). O Comida Fest recria a agitação de um mercado de rua latino-americano, com sua vibrante emoção e um programa cultural completo com música e atividades divertidas para adultos e crianças. Inspirado no sucesso do sorteio do ano passado de uma viagem para o Rio de Janeiro, este ano o Comida Fest juntou-se à Avianca para oferecer duas passagens a Bogotá. Mais em www.comidafest.com/competition. Os curadores reuniram o melhor dos comerciantes de rua latino-americanos em Londres, apresentando os iniciantes: Tico’s, especialista em hot dog estilo brasileiro; Portena, que vende empanadas argentinas no Borough Market; e Tayrona Colombian Street Food, para citar alguns. Populares comerciantes do ano passado, como Guasacaca e suas deliciosas arepas venezuelanas, Smokoloko e seus famosos sanduiches de carne defumada e o restaurante mexicano mais antigo de Londres, o Café Pacifico, estão retornando nesta temporada. O evento de julho comemora o 110º aniversário da artista mais emblemática do México, Frida Kahlo, no dia 8, e o Dia da Independência da Argentina, no dia 9. A pintora, conhecida tanto por seus autorretratos enigmáticos como por sua incrível vida pessoal, será lembrada em apresentações de música mexicana, cocktails e pratos projetados para homenagear sua visão única do mundo. A independência da Argentina será celebrada ao verdadeiro estilo “porteño” – os convidados serão convidados a dançar tango e música argentina. Para mais informações, visite www.comidafest.com/events.


20 Julho 2017 | brasilobserver.co.uk

COLUNISTAS FRANKO FIGUEIREDO

Uma janela para o teatro latino-americano

O

O Cervantes Theatre recebe neste mês de julho o Contemporary Latin American Writers Festival, que promete “mostrar ao público de Londres o talentoso teatro da América Latina: uma janela para um estilo fascinante e completamente diferente”. Há algo ousado e inovador no teatro latino-americano, além de surreal e absurdo. Os artistas da América Latina, ao contrário de seus colegas europeus, não carregam enorme peso histórico sobre seus ombros. Embora muitos sejam influenciados pelos praticantes europeus, há certa inclinação para a irreverência e o não conformismo que, quando bem trabalhados, podem ser extremamente gratificantes. Talvez isso venha das lutas sociais e culturais que temos de superar como artistas de países em desenvolvimento, onde o teatro e as artes em geral ainda precisam ganhar o reconhecimento econômico e sociopolítico que merecem. Compreensivelmente, as prioridades mudam quando uma grande parte da população luta para sobreviver. Diante desta realidade, a produção teatral tem forma e função diferentes na vida das pessoas. Muitas vezes, as produções mais bem sucedidas são comédias leves ou histórias com pouca motivação sociopolítica, enquanto os artistas que geralmente correm riscos e tentam abrir fronteiras são recompensados ​​com teatros vazios. No entanto, devo reconhecer que há uma mudança cultural em curso, e o teatro tem, embora lentamente, se valorizado, com a esperança de que com a geração do milênio surjam novas mudanças, uma nova revolução cultural. A dramaturgia contemporânea brasileira, por exemplo, tende a oferecer trabalhos políticos, envolventes e absurdamente cômicos. Como um criador de teatro latino-americano que vive no Reino Unido, lembro-me constantemente como é difícil construir uma carreira nas artes. A falta de acessibilidade social, cultural e financeira é muitas vezes o maior obstáculo para os artistas latino-americanos que trabalhamos com teatro. Se você não pode se financiar por conta própria, você encontrará pouco ou nenhum apoio para embarcar nessa profissão, muito menos sobreviver nessa área. É preciso superar todos os obstáculos sociais, econômicos e artísticos. Tendo crescido no Brasil em uma família da classe trabalhadora, meus pais fizeram todo o possível para me oferecer a educação que eles não receberam. Com a promessa de uma boa educação, a expectativa deles de que nossos estudos nos tornassem médicos, dentistas, advogados, contadores ou qualquer g

outra carreira normalmente considerada estável e financeiramente gratificante; o teatro não era uma delas. Tenho certeza de que muitas famílias de imigrantes e da classe trabalhadora no Reino Unido passam por uma experiência muito similar, embora eu sinta que os asiáticos, os africanos e os latino-americanos tendem a ver a cultura como um privilégio e não como uma necessidade, muitas vezes reservada para os bem-afortunados. Dessa forma, o Contemporary Latin American Writers Festival é muito necessário, pois nos abre uma pequena janela para um mundo completamente diferente. As oportunidades de ver, apoiar e compartilhar o trabalho dos escritores latino-americanos no Reino Unido são poucas e distantes, ainda mais o trabalho de artistas imigrantes latino-americanos que vivem no Reino Unido. O festival mostra o trabalho do brasileiro Jô Bilac e do escritor venezuelano Montague Kobbé, e de Rogerio Corrêa, um brasileiro baseado no Reino Unido que gradualmente ganha reconhecimento. Os próprios artistas latino-americanos do Reino Unido dirigem as produções: o mexicano Álvaro Flores, o brasileiro André Pink e o libanês-brasileiro Victor Esses. O festival contemporâneo de escritores latino-americanos começa na segunda-feira, dia 3 de julho, com os “Tales of Bed Sheets and Departure Lounges”, de Montague Kobbé, dirigido por Álvaro Flores, uma peça pouco ortodoxa que abre uma janela de paixões secretas que todos compartilhamos – embora escondidos – em nossa vida diária. Em seguida há a estreia mundial de “Mona and I”, de Corrêa, dirigida por Victor Esses; a peça acontece durante a Belle Époque e explora o roubo da Mona Lisa por um artista aspirante, e o que acontece quando a pintura ganha vida e desafia seu sequestrador. Por último, mas não menos importante, a deliciosa farsa surreal de Bilac, “Turmoil”, dirigida por André Pink, com música ao vivo, Flamenco e uma cabra dançante! O festival se estende por uma semana em um formato onde todas as peças podem ser vistas ao longo da semana em diferentes horários. Você pode experimentar os três shows em qualquer noite entre 3 e 9 de julho. O Cervantes Theatre está fazendo um excelente trabalho na apresentação do teatro espanhol e latino-americano, que continue a fazê-lo durante muitos anos. Os detalhes completos em www.clawfestival.com.

Franko Figueiredo é diretor artístico da Companhia de Teatro StoneCrabs e associado artístico do New Theatre Royal Portsmouth


brasilobserver.co.uk | Julho 2017 21

HELOISA RIGHETTO

Feminismo e os homens

g

Heloisa Righetto é jornalista e escreve sobre feminismo (@helorighetto – facebook.com/conexãofeminista)

“Homem pode ser feminista?”. Essa é uma das perguntas que mais recebo, tanto de homens quanto de mulheres. Há quem responda que não, que é impossível um homem ser feminista, já que não tem a experiência de opressão de gênero e portanto é incapaz de sentir empatia pelo movimento. Eu discordo. Para mim, homem pode ser feminista, sim. Mas essa é a resposta curta. A justificativa da falta de empatia por não experienciar opressão (atenção, ninguém aqui falou que homem não sofre abuso ou violência, mas não há de fato uma intenção em objetificá-los, controlar seus direitos reprodutivos ou limitar sua participação na sociedade apenas por serem homens) não é forte o suficiente para excluí-los do movimento. Afinal, se esperamos que mulheres privilegiadas compreendam as diversas camadas de opressão para que possam lutar junto com aquelas que, além do machismo, enfrentam também racismo, homofobia ou xenofobia, não há porque não exigir uma compreensão similar por parte dos homens. Ser uma pessoa feminista não resulta – infelizmente – em desconstrução imediata. O machismo é algo enraizado (e em muitos casos legislado!), e precisamos colocar as lentes feministas em ação o tempo todo. Esse exercício é muito mais com-

plicado para os homens, já que eles não sofrem as micro agressões diárias (como assédio na rua ou no trabalho, controle do corpo e disparidade de salário) com as quais as mulheres estão tão acostumadas. Mas é importante deixar claro – e em destaque – que o papel do homem no feminismo não deve ser de fala, mas de ação. Ou seja, eles precisam estar dispostos a ouvir e compreender, e então usarem sua voz e seu amplo espaço para realmente fazer diferença no movimento. Parece simples, mas é um exercício desafiador para quem está acostumado a protagonizar toda e qualquer situação. Uma boa maneira de dar o pontapé inicial na sua saga feminista é reconhecer seus privilégios apenas por ter nascido homem (e se é homem branco, cis, héterossexual e de classe média, parabéns, você está no topo da pirâmide dos privilegiados!) e aceitar os seus machismos quando eles são apontados, em vez de revisar a acusação. É um exercício dolorido, e você pode até não ser machista per se (acredite, há quem tenha orgulho em sê-lo), mas certamente tem atitudes ou falas machistas sem sequer perceber. Também não vale questionar a genuinidade da mulher que sentiu-se ofendida e oprimida por algum comentário ou ação. “Mas eu sou feminista!” não é uma

resposta boa o suficiente quando você é acusado de ter uma atitude machista. Mais uma vez: escute, reflita e aja. Para as mulheres héterossexuais, há o desafio de lidar com o machismo na relação. A lente feminista pode sim trazer a tona toda uma camada machista do parceiro, que antes estava disfarçada como rotina ou era até mesmo esperada, afinal “homem é assim mesmo”. Assim como na esfera pública, a luta na esfera privada também não vai obter resultados de um dia para o outro. Mas é uma batalha que precisa ser travada. Não baixe suas expectativas (nem use justificativas que você não perdoaria em atitudes de outros homens), pois a sociedade tem feito isso com os homens há muito tempo. Já reparou como eles são idolatrados por cumprirem funções básicas como lavar a louça (maridão!) ou trocar uma fralda (paizão!)? O feminismo é um movimento inclusivo, e os homens também sofrem consequências negativas do machismo. A masculinidade tóxica gerada pela sociedade patriarcal faz com que a gente crie meninos violentos e incapazes de demonstrar sentimentos, apenas perpetuando um comportamento opressor. Há lugar sim para os homens no feminismo, e eles podem ajudar as mulheres a conseguirem ocupar o lugar que elas quiserem.

DANIELA BARONE SOARES

O poder do perdão

Daniela Barone Soares é parte da equipe do Inner Space. Para mais informações, palestras gratuitas em português, cursos, meditações e artigos acesse www.innerspace.org.uk g

Todos temos algo que perdoar. Há algum tempo, fiquei seriamente doente e tive que me afastar do trabalho. Quando voltei, a pessoa que estava interina na minha ausência tentou colocar o resto do meu time contra mim, e tomar a minha posição. Eu estava bem fragilizada e não conseguia entender por que isso estava acontecendo. Fiquei revoltada com essa injustiça e comportamento. Geralmente temos dificuldade em perdoar o que julgamos ser injusto. Nesse caso, pior ainda, percebi que não havia nem me perdoado: como meu próprio time poderia fazer isso comigo na minha hora mais frágil? Depois de tanta dedicação? Devo ter errado em alguma coisa. Senti-me culpada. Isso traz muito peso para a alma – a mente fica pesada, triste. O coração se fecha para as coisas boas que estão acontecendo a todo o momento, no agora. Eu vivi essa negatividade, até decidir que bastava. Afinal, estava sofrendo todos os dias por algo que já tinha passado. Eu estava revivendo esse passado, essa dor. Eram os meus próprios pensamentos e sentimentos que traziam essa dor para o presente.

A supressão não funciona – precisamos admitir, entender e neutralizar os sentimentos negativos de raiva, tristeza ou vingança que destroem nossas mentes e corações quando nos apegamos a situações que causaram dano. A primeira coisa que percebi que deveria fazer foi parar de me sentir culpada pelo que aconteceu: “eu fiz o melhor que podia com os recursos de que eu dispunha naquela hora”. Depois foi estabelecer um diálogo positivo comigo mesma, de que deixar para trás o que passou seria me libertar para o novo, para o que o mundo e a vida tinham a me oferecer. Finalmente, pratiquei cultivar uma natureza positiva: meditação, gratidão, atenção com a qualidade dos pensamentos. E a prática do perdão, o ‘treino’ do perdão: perdoar pequenos erros (ex. alguém que pisa no seu pé no metro) ajudou-me a praticar a generosidade, o entendimento... e o perdão. O médico e pesquisador de Harvard George Vaillant descreve o perdão como uma das oito emoções positivas que nos mantêm conectados com o nosso “eu” mais profundo e com os outros. Ele considera essas emoções positivas como ingredientes-chave que nos unem em nossa humanidade e incluem amor, esperança, alegria,

compaixão, fé, reverência e gratidão. Percebi isso de verdade: perdoar foi um ato de compaixão comigo mesma, a liberação do sofrimento e a leveza de estar aberta ao novo. Então, pude perdoar os outros. Muitas vezes nos deparamos com coisas que parecem imperdoáveis. Perdoar as pessoas que as fizeram e mudar a nossa visão por elas é entender que eu sou parte da família da humanidade e que, de alguma forma, toda a energia que eu ‘emito’ contribui para a melhora ou piora dessa família humana. Se minha energia é negativa, o imperdoável que já aconteceu não vai mudar – e eu aumento a negatividade como um todo. Só posso mudar negatividade com uma injeção de positividade. Perdão significa permitir que todas as almas progridam. Eu não ‘congelo’ os erros dos outros na minha visão ou no meu coração. Eu interajo com cada pessoa, a cada vez, com a possibilidade de tudo ser diferente. Nutro essa visão de esperança, benevolência e bons votos no meu coração. Isso ajuda os outros a mudar – e me ajuda também a estar feliz, aberta ao novo e ao belo, e atenta aos “milagres” que podem acontecer quando estamos com a consciência leve.


22 Julho 2017 | brasilobserver.co.uk

GB TRIP Divulgação

Somerset Lavender

Os adoráveis campos de lavanda da Inglaterra Deixe-se encantar pelas vistas e pelo perfume dos belos campos de lavanda do interior britânico. Com o auge da floração entre junho e agosto, selecionamos algumas das nossas fazendas favoritas. Aproveite para levar um óleo essencial ou cosmético natural artesanal como lembrança Por Visit Britain | www.visitbritain.com


brasilobserver.co.uk | Julho 2017 23

Sudoeste da Inglaterra

Kentish Lavender

Cotswold Lavender – Cotswold Hills

Onde: Hill Barn Farm, Snow Hill, Broadway, Worcestershire WR12 7JY. Quando: junho a agosto, diariamente das 9h às 17h. Entrada: £3,50 para adultos; gratuito para crianças de até 5 anos. Como chegar: De trem (estação mais próxima: Moreton-in-Marsh + 9.6km de taxi); ou de carro (2h50 de Londres). Info: www.cotswoldlavender.co.uk

Somerset Lavender – próximo a Bath

Onde: Somerset Lavender, Horsepond Farm, Faulkland, Somerset BA3 5WA. Quando: maio a setembro, quartas à domingo, das 10h às 17h. Entrada: Gratuita. Como chegar: 1 hora de ônibus ou 20 minutos de carro a partir de Bath. Info: www.somersetlavender.com

SUDESTE da Inglaterra Mayfield Lavender – North Surrey Hills

Onde: Hartley Park Farm, Selborne Road, Alton, Hampshire GU34 3HP. Quando: junho a setembro, diariamente das 9h às 18h. Entrada: £1 por adulto, gratuito para menores de 16 anos. Como chegar: De trem a partir da estação Victoria em Londres até East Croydon, depois pegar o ônibus 166 até a parada Oaks Park na Carshalton Road (trajeto inteiro leva cerca de 1 hora). Info: www.mayfieldlavender.com

Hitchin Lavender – Hertfordshire

Onde: Cadwell Farm, Ickleford, Hitchin, Hertfordshire SG5 3UA. Quando: maio a setembro, diariamente das 10h às 17h. Entrada: £5. Como chegar: De trem a partir da estação King’s Cross em Londres até Hitchin (aproximadamente 1 hora), depois pegue um táxi até a fazenda (aproximadamente £8 o trecho). Info: www.hitchinlavender.com

Norfolk Lavender – Norfolk, East Anglia

Onde: Caley Mill, Norfolk Lavender, Lynn Rd, Heacham PE31 7JE. Quando: aberto o ano inteiro, mas melhores épocas de visitação são de maio a agosto. Entrada: Gratuita. Como chegar: De trem a partir da estação King’s Cross em Londres até King’s Lynn, depois pegue um táxi até a fazenda (45km). Info: www.norfolk-lavender.co.uk

Kentish Lavender – Kent

Onde: Castle Farm, Redmans Lane, Shoreham, Sevenoaks, Kent TN14 7UB. Quando: aberto o ano inteiro, mas melhores épocas de visitação são de metade de junho ao fim de julho. De segunda a sábado das 9h às 17h, domingos das 10h às 17h. Entrada: Gratuita. Tour pelos campos: £5/6 por pessoa. Como chegar: De carro, 50 minutos a partir de Londres. Info: www.hopshop.co.uk

Norte da inglaterra Yorkshire Lavender – York

Onde: Yorkshire Lavender, Terrington, York, North Yorkshire, YO60 6PB. Quando: Todos os meses exceto no inverno (dezembro a março), diariamente das 10h às 17h. Entrada: Gratuita. Como chegar: Cerca de 30 minutoes de carro a partir de York ou 1 hora de ônibus na rota 180 em direção ao Castelo Howard. Info: www.yorkshirelavender.com

Yorkshire Lavander


24 Julho 2017 | brasilobserver.co.uk

Subscribe now and get it in your doorstep!

12 editions

More information: contato@brasilobserver.co.uk

Payment forms: Bank Deposit or Paypal

6 editions


brasilobserver.co.uk | Julho 2017 25

OU VIRE PA RA LER EM PO RTUGUÊS

LONDON

EDITION

WWW.BR

ASILOBSE

RVER.CO.U

K

ISSN 2055

-4826

DECEMBE

R/2016

# 0 0 4 5


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.