Brasil de Fato Edicao 213

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RIO DE JANEIRO

27 de outubro 2 de novembro dea 2016 distribuição Rio deaJaneiro, 27 de outubro 2 de novembro de 2016 gratuita

Ano 4 | edição 213

Pablo Vergara

Freixo propõe baixar preço da passagem de ônibus O alto preço das passagens e a falta de integração com outros transportes são as maiores críticas dos usuários ao sistema de ônibus no Rio de Janeiro. É o que mostra levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em seu programa de governo, o candidato Marcelo Freixo (PSOL) destaca que vai reduzir o preço das passagens e garantir linhas com tarifa zero nas regiões mais pobres. O candidato Marcelo Crivella (PRB) nada menciona sobre o preço da passagem em seu programa de governo. Ele defende apenas a ampliação do horário de integração do Bilhete Único Carioca. | Especial, págs. 6 e 7


2 | Opinião

Rio de Janeiro, 27 de outubro a 2 de novembro de 2016

EDITORIAL

Religião não pode se misturar com Prefeitura

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ma das polêmicas mais comentadas nesse segundo turno das eleições cariocas surge do fato de o candidato Marcelo Crivella ter sido Bispo da Igreja Universal. Primeiramente, nenhum problema quanto à opção religiosa de nenhum candidato. Afinal, sabemos que a maioria da população brasileira pratica diversas religiões. Porém, dois problemas importantes despertam nossas preocupações. Está definido na nossa Constituição que devemos ter um “Estado Laico”. O que isso quer dizer? Em primeiro lugar, nenhuma religião pode interferir nos assuntos do Estado, ou do município. Nenhuma religião pode utilizar a estrutura do Estado para realizar cultos religiosos e as leis e projetos aprovados não podem ser incentivados por motivos religiosos, de qualquer que seja a religião. É preocupante o grande investimento que, por exemplo, a Igreja Universal tem feito para projetar lideranças religiosas como dirigentes políticos. Ocorre o risco de uma ocupação de cargos políticos para o favorecimento de projetos que beneficiem especificamente os interesses dessas lideranças. Isso pode fazer com que

EXPEDIENTE

demandas importantes da sociedade sejam deixadas de lado, pelo fato de não estarem diretamente ligadas aos objetivos desse setor religioso. Em segundo lugar, a afirmação do Estado Laico também significa a defesa da liberdade religiosa. Quer dizer que qualquer pessoa tem o direito de praticar sua religião, qualquer que seja, sem sofrer nenhum tipo de ataque ou preconceito. Infelizmente, temos visto muitas lideranças que apoiam o Bispo Crivella se utilizarem de suas posições religiosas para atacar a campanha de Marcelo Freixo e seus eleitores. Para isso, utilizam todo tipo de preconceito, que envolve racismo, machismo, homofobia e preconceito contra a prática de outras religiões que diferem das suas. E é preocupante que esse tipo de prática possa se tornar cotidiana na gestão da prefeitura do Rio. O que deve definir o voto das pessoas não é a sua religião. O que deve ser avaliado são as propostas para a cidade, quem vai enfrentar os problemas do Rio de Janeiro com maior capacidade de garantir uma vida melhor para toda a população, sem submeter a Prefeitura ao interesse de nenhuma religião.

Desde 1º de maio de 2013

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CONSELHO EDITORIAL: Alexania Rossato, Antonio Neiva (in memoriam), Joaquín Piñero, Kleybson Andrade, Mario Augusto Jakobskind, Nicolle Berti, Rodrigo Marcelino, Vito Giannotti (in memoriam) | EDIÇÃO: Vivian Virissimo (MTb 13.344) | CO-EDIÇÃO: Fania Rodrigues | REPORTAGEM: Bruno Porpetta, Mariana Pitasse e Pedro Rafael Vilela | REVISÃO: Sheila Jacob | ADMINISTRAÇÃO: Angela Bernardino e Marcos Araújo | DISTRIBUIÇÃO: Kleybson Andrade | DIAGRAMAÇÃO: Juliana Braga


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Geral l 3

FRASE DA SEMANA

Se você não ficar rico ao lidar com políticos, há algo de errado com você Divulgação

disse o candidato à presidência dos EUA, Donald Trump, durante discurso. Essa é uma das frases mais polêmicas da campanha. Comentários machistas de Trump, revelados recentemente, levaram seus colegas de partido a pedir a renúncia de sua candidatura. Divulgação

Publicação relaciona consumo de carne à pobreza e a mudanças climáticas O Atlas da Carne mostra como a produção em escala industrial e o consumo de carne têm impactado direta ou indiretamente no aumento da pobreza e da fome e nas mudanças climáticas, além de provocar deslocamentos e migrações de populações. “O atlas é para informação, conscientização e debate político. Ele mostra o que é essa cadeia global da carne, por

que ela é uma cadeia insustentável”, disse a organizadora da versão brasileira do Atlas, Maureen Santos. Segundo o Atlas, se o consumo de carne continuar crescendo no atual ritmo, em 2050 os agricultores terão que produzir 150 milhões de toneladas a mais do que atualmente. No Brasil, isso pode significar um problema: a criação de gado é a atividade econômica

que ocupa a maior superfície do território nacional: 172 milhões de hectares. Sua expansão é um dos maiores responsáveis pelo desmatamento em diversos biomas. A publicação foi originalmente publicada na Alemanha pela Fundação Heinrich Böll. O Atlas em português pode ser baixado gratuitamente no site http:// br.boell.org. Divulgação

POBREZA

Cerca de 385 milhões de crianças até os 17 anos de idade viviam em 2013 em situação de pobreza extrema, de acordo com estudo conjunto do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do Grupo do Banco Mundial. O relatório revela que as crianças têm duas vezes mais probabilidade de viver na pobreza extrema do que os adultos.

Assassinatos de mulheres negras tiveram um aumento de 54,2% As organizações Geledés e Criola elaboraram um dossiê sobre a violência sofrida por mulheres negras no Brasil com base em dados oficiais. O documento revela que os assassinatos de mulheres brancas tiveram redução de 9,3% em dez anos (2002 a 2013), enquanto os assassinatos de mulheres negras tiveram um aumento de 54,2% no mesmo período. O documento explicita diversos casos de violência, como vítimas de violência obstétrica, assassinatos de lésbicas, transexuais e travestis, racismo institucional e no sistema de justiça, intolerância religiosa e racismo na inter-

net, além das violações sofridas pelas mães dos jovens negros assassinados. “Quando nos debruçamos sobre a questão, começamos a verificar que não se trata só de violência doméstica e sexual, que nós não poderíamos falar em ‘violência’ contra a mulher, nós teríamos que falar em ‘violências’”, ressaltou Nilza Iraci, do Geledés. Segundo Nilza, a Lei Maria da Penha ajudou a reduzir a violência contra as mulheres. No entanto, as mulheres negras só veem a violência crescer contra elas. O dossiê também aponta que, nas mortes por agressão, as mulheres negras são 64% das mulheres vítimas de assassinatos no Brasil.


4 | Mundo

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México: Desparecimento dos 43 estudantes completa dois anos desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa, no estadodeGuerrero,acabade completar dois anos. No mês passado, familiares realizaram protestos e debates, para exigir justiça ao governo mexicano. As investigações ainda não chegaram aos culpados. Testemunhas afirmam que na noite da tragédia, no dia 26 de setembro de 2014, policiais da cidade de Iguala (estado de Guerrero) atacaram a tiros alunos da Escola Normal Ru-

ral de Ayotzinapa. Alguns estavam fardados e outros em traje civil. Os estudantes estavam em um ônibus e foram encurralados no caminho de volta à escola, que funcionava em regime de internato. A promotoria do caso afirma que traficantes teriam assassinado os jovens para depois queimar seus corpos na comunidade de Cocula e jogá-los em um rio do local. Mas um grupo de especialistas da Comissão Interameri-

cana de Direitos Humanos (CIDH), que participou das pesquisas, questionou essa versão. Agora a procuradoriageral abriu outras linhas de investigação para procurar os jovens em outros pontos da área onde desapareceram. “Se eles estão com nossos filhos, vivos ou mortos, que nos digam onde estão”, disse Margarito Ramírez, pai de Carlos, um dos jovens desaparecidos, durante a marcha dos dois anos.

Milhares de manifestantes pedem justiça no caso dos 43 estudantes

télite, modelos de transporte aéreo e monitores de estação terrestre de mais de 3 mil localidades rurais e urbanas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que 92% da população global vive atualmente em áreas onde os níveis de poluição no ar ultrapassam os limites mínimos estabelecidos pela entidade. Os dados integram o mais completo relatório global já divulgado pela organização, na última semana, sobre zonas de perigo para poluição do ar. As informações foram coletadas com base em medições por sa-

PAÍSES POBRES A estimativa é que cerca de 3 milhões de mortes ao ano estejam ligadas à exposição à poluição externa do ar. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, quase 90% das mortes relacionadas à poluição do ar são registradas em países de baixa e média renda. Dois em cada três óbitos foram contabilizados no sudeste da Ásia e em regiões ocidentais do Pacífico.

Divulgação

92% da população global respira ar poluído, diz OMS

Poluição é a causa da morte de 3 milhões de pessoas no mundo

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CINEMA NA ESCOLA Os estudantes da Argentina agora terão aulas de cinema. Todas as escolas primárias do país terão essa disciplina, onde vão aprender tudo sobre a sétima arte. A iniciativa foi impulsionada pelo Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales da Argentina, em parceria com o instituto École au Cinema, da França.

EM FOCO Cuba terá wi-fi pública Divulgação

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Divulgação

Durante anos o bloqueio comercial e diplomático promovido pelos Estados Unidos impediu Cuba de ter acesso à internet banda larga. No entanto, o país tem avançado e conseguido transpor algumas barreiras. Há poucos dias o presidente Raul Castro anunciou que até o final de 2016 terá instalado sinal de wi-fi no Malecón, a orla localizada no centro comercial de Havana. Este também é o espaço público da capital cubana com a maior circulação de pessoas. O plano, segundo o governo cubano, é cobrir cerca de seis quilômetros ao longo da orla. Os primeiro primeiros sinais de internet wi-fi começaram a ser instalados em julho de 2015.


Brasil l 5

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Agência de Brasil

Eleições representaram desencanto com sistema político, avaliam movimentos Número de abstenções, votos brancos e nulos superou primeiros colocados em diversas cidades Rafael Tatemoto de São Paulo (SP)

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número de pessoas que não votaram em nenhum candidato – abstenções, brancos e nulos – superou a quantidade de votos do primeiro colocado nas eleições municipais em diversas cidades. Para movimentos populares brasileiros, esse fenômeno indica um repúdio de boa parte da população brasileira ao sistema político nacional. Em Belo Horizonte, o número de eleitores que não escolheram qualquer candidato superou a soma dos dois primeiros colocados. João Leite (PSDB) obteve o voto de 395.952 eleitores e Alexandre Kalil (PHS) 314.845. Juntos, portanto, receberam 710.797. As abstenções (417.537) e os votos nulos (215.633) e brancos (108.745) totalizaram 741.915. O eleitorado carioca decidirá a disputa no segundo turno entre Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL). No primeiro turno, entretanto, 42% dos eleitores votaram em branco, nulo ou se abstiveram. Em São Paulo, onde ganhou João Doria Jr. (PSDB), 3.096.186 pessoas não votaram em ninguém, o que representa 38,48% do eleitorado paulistano. O tucano recebeu 3.085.181 votos. Isso significa que ele se elegeu com cerca de 34% - pouco mais que um terço - do total de votos possíveis. A capital paulista vinha registrando um aumento no número de pessoas que não optam por uma candidatura

Segundo integrantes do MAB e do MST, aumento de votos brancos, nulos e abstenções favorece crescimento da direita nas eleições

desde 2008. Em 1996, 24% do eleitorado não escolheu ninguém. Em 2000, o percentual se manteve. Em 2004, o índice baixou para 21,6%. Em 2008, subiu para 22%. Nas últimas eleições municipais (2012), chegou a 31,26%. OFENSIVA Por todo o Brasil, os partidos mais fortalecidos nas eleições locais foram PSDB e PMDB. O PT foi a legenda que mais recuou. Caso consiga eleger todos os candidatos que foram ao segundo turno, perderá ao menos 59% das prefeituras que geriu entre 2012 e este ano. Garantiu Rio Branco (AC), está na disputa de Recife e venceu apenas em quatro municípios com população acima de 200 mil habitantes. Ainda na esquerda, o PSOL

diminuiu o número total de votos recebidos entre as duas eleições, mas ampliou sua base de vereadores e verea-

Se não houver reação popular, haverá medidas de perdas sociais muito grandes Gilmar Mauro, do MST doras e está na disputa de duas capitais: Belém (PA) e Rio de Janeiro (RJ), com Edmilson Rodrigues e Marcelo Freixo, respectivamente.

Quadro é de avanço geral das forças de direita Para integrantes de movimentos populares ouvidos pelo Brasil de Fato, o cenário eleitoral representa uma ofensiva geral das forças de direita. “O bloco dirigente do golpe [parlamentar], a elite política paulista, saiu fortalecido para aplicar o plano de maldades em curso”, afirma Gilberto Cervinski, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Segundo Gilmar Mauro, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Ter-

ra (MST), o resultado negativo para o PT é “fruto de todo um processo de criminalização e estigma produzido nos últimos anos pelos principais meios de comunicação”. De acordo com ele, as eleições reforçam a posição daqueles que “apelam para ajustes fiscais com cortes nos direitos sociais, para retomar as taxas de lucro do grande capital. Se não houver reação popular, virão por aí medidas de perdas sociais muito grandes”.


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Proposta de Crivella para Guarda Municipal é inviável, diz especialista Elielson Rocha /Divulgação

Delegado da Polícia Civil, Vinícius George explica que treinamento da Guarda Municipal com Força Nacional não é possível ser realizado na prática Mariana Pitasse do Rio de Janeiro (RJ)

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Guarda Municipal do Rio trabalha hoje em várias frentes, desde multa no trânsito até o combate ao mercado ambulante Divulgação

segurança pública é um assunto que tira o sono de muitos moradores da cidade do Rio de Janeiro. Em pesquisa realizada pelo Datafolha, no mês anterior ao primeiro turno das eleições municipais, a segurança pública foi apontada como a segunda maior preocupação dos cariocas. Em tempos de alternância de gestão, muitas são as propostas dos candidatos à Prefeitura do Rio para resolver o problema da violência na cidade. Uma delas, sugerida pelo candidato Marcelo Crivella (PRB), diz respeito a uma parceria entre a Guarda Municipal e a Força Nacional para treinamento. Porém, para o delegado da Polícia Civil e especialista em segurança pública, Vinícius George, essa proposta não pode ser concretizada. “A Força Nacional só é acionada em situações excepcionais, quando alguma localidade em emergência no país demanda. É formada por um corpo de policiais de vários estados, então, não tem atuação permanentemente. Mesmo que tivesse, ainda assim

Nós não acreditamos no Eduardo Paes e nem no Crivella. Acho que ele vai ser a continuidade da política do PMDB na cidade Maria dos Camelôs, ambulante Combate a ambulantes é uma das atividades que mais geram conflitos

não daria conta porque não conhece o território”, explica. Além disso, as propostas de Crivella para a Guarda Municipal entram em contradição. Para o candidato do PRB, mesmo sem o porte de armas

de fogo, a Guarda deve ser utilizada também em operações de policiamento comunitário e vigilância da cidade. “É uma tentativa de enquadrar a Guarda no modelo da UPP. Então, ao mesmo tempo

em que ele quer treinamento com a Força Nacional, quer também uma polícia de ação local? Não faz sentido. Só mostra que essas propostas não passam de jogo de cena para as eleições”, acrescenta.

Como esclarece Vinícius George, a segurança pública do Rio de Janeiro é um problema político. O delegado explica que a Guarda serve aos interesses da Prefeitura e não atende a população porque a política não está construída para isso. “É um reflexo de como o prefeito se comporta no município, porque a Guarda só recebe ordens e as executa. Se tivermos uma gestão mais transparente e democrática, teremos também uma Guarda mais cidadã. Não é preciso de mais uma polícia militarizada e, sim, mais humana”. Uma das propostas do candidato Marcelo Freixo (PSOL) compreende justamente esse ponto, ao priorizar a criação de centros de mediação voltados para a resolução dos conflitos urbanos em todas as


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Especial l 7

Divulgação

de violentas represálias nos próximos meses como resposta ao resultado das eleições. “Muitos candidatos do PMDB nos coagiram pedindo votos para o Pedro Paulo. Agora que ele perdeu, estamos esperando a vingança da prefeitura”, explica. Cabe lembrar que a segurança pública é uma atividade permanente que inclui muito mais do que o serviço repressivo de policiamento e combate à vio-

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Falta de um salário digno faz com que atividades ilegais façam parte do cotidiano de alguns guardas nas operações de apreensão de mercadorias. Virou a farra do boi”, explica. CAMELÔS Sem função bem delineada, a Guarda Municipal do Rio trabalha hoje em várias frentes, desde a remoção da população de rua, multa de ilegalidades no trânsito até o combate ao mercado ambulante. Essa última atividade

Guardas municipais reivindicam plano de carreira para a categoria regiões administrativas da cidade. O candidato também propõe valorização do profissional da Guarda Municipal, com a implementação de um plano de carreira, a garantia de acompanhamento psicológico eapromoçãodeumaformação democrática fundamentada na garantia de direitos. De acordo com o ex-guarda municipal, Renato Prata, 43 anos, essa é condição essencial para combater os rou-

bos e a corrupção dentro da instituição. “A falta de um salário digno e de um plano de carreira faz com que as promoções só aconteçam para quem é indicado. Para complementar a renda, a prática comum é arranjar dinheiro através de alguma atividade ilegal, então, é uma correria para conseguir ganhar um dinheiro. Isso ficou ainda mais comum depois que foram dispensados os fiscais

A Força Nacional só é acionada em situações excepcionais, quando alguma localidade em emergência no país demanda Vinicius George, delegado é uma das que mais geram conflito nas ruas da cidade há muitos anos. “Combater o mercado ambulante virou uma questão

pessoal entre guardas e camelôs. A instituição não teve como iniciativa apaziguar essa relação, pelo contrário, sempre estimulou os enfrentamentos. Fomos usados de bucha, sendo jogados uns contra os outros”, afirma o exguarda municipal. REPRESSÃO Para a ambulante Maria de Lourdes do Carmo, 42 anos, conhecida como Maria dos Camelôs, a violência e os roubos continuam nos seus 20 anos de experiência nas ruas. “Ainda há muito roubos. Quando eles apreendem nossas mercadorias e levam para o depósito, são desviadas. É muito difícil que a gente consiga de volta. A violência também é muito grande ainda. O pior é que agora os guardas têm novos instrumentos de repressão, como spray de pimenta e algemas. Imagina se tivessem também armas?”,questiona. Segundo Maria dos Camelôs, durante as Olimpíadas e o período eleitoral as investidas da Guarda Municipal pararam. No entanto, os ambulantes têm receio de que retornem em forma

A falta de um salário digno e de um plano de carreira faz com que as promoções só aconteçam para quem é indicado Renato Prata, exguarda

lência. Também diz respeito às ações preventivas, que vão desde a iluminação das ruas, ocupação da cidade até mobilidade urbana. As propostas de Freixo (PSOL) compreendem o sentido mais completo da segurança pública do que Crivella (PRB). Freixo sugere a ocupação dos espaços públicos com cultura, esporte e lazer, reformas nas calçadas, ruas, praças e parques para garantir a ampliação da iluminação e a ampliação da circulação dos ônibus à noite e de madrugada nas áreas de lazer da cidade. “Nós não acreditamos nem no Eduardo Paes e nem no Crivella. Acho que ele vai ser a continuidade da política do PMDB na cidade. O candidato mais democrático é Freixo. Nós vamos fazer campanha para ele se eleger porque estamos cansados de só apanhar”, conclui Maria dos Camelôs.


8 | Especial

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Freixo propõe baixar p da passagem de ônibu Divulgação

Crivella não menciona essa possibilidade em seu plano de governo, nem fala em reduzir o poder da “máfia dos ônibus” Fania Rodrigues do Rio de Janeiro (RJ)

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Corte de linhas de ônibus piorou qualidade do transporte Divulgação

alto preço das passagens e a falta de integração com outros transportes são as maiores críticas dos usuários ao sistema de ônibus no Rio de Janeiro. É o que mostra levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O problema do transporte superou outros dois temas que também estavam na boca do povo: reforma do ensino médio e insegurança. Isso mostra o tamanho da preocupação dos cariocas com o assunto. Em seu programa de governo, o candidato Marcelo Freixo, do PSOL, destaca que vai reduzir o preço das passagens e garantir linhas com tarifa zero nas regiões mais pobres. Freixo também quer aumentar as linhas de ônibus. “De forma participativa, vamos pensar um sistema que atenda as reais necessidades da população”, destaca Freixo em suas propostas. O candidato Marcelo Crivella (PRB) nada menciona sobre o preço da passagem em seu programa de governo. Ele defende apenas a ampliação do horário de integração. “[Vamos] exigir a ampliação para três horas o prazo de utilização do Bilhete Único

Transporte público está entre as maiores preocupação da população, s

Trabalhadores do Rio de Janeiro sofrem com ônibus lotados

Carioca. Hoje esse prazo é de duas horas e meia”, diz as propostas do candidato apresentas no programa de governo. Uma das maiores queixas da população é o elevado preço da passagem. Inclusive, a própria Justiça já questionou o valor. No ano passado, o Tribunal de Contas do Município (TCM) do Rio de Janeiro recomendou que a Prefeitura do Rio reduzisse o valor da tarifa de ônibus para R$ 3,25. Esse seria o preço

justo a ser pago pela população, de acordo com os cálculos feitos pelos técnicos do TCM. O Ministério Público também considerou o aumento abusivo. No entanto, o prefeito Eduardo Paes decidiu fazer exatamente o oposto e autorizou o aumento de preço para R$ 3,80. MAFIA DOS ÔNIBUS Segundo especialistas, o principal problema do transpor-

te público no Rio está diretamente ligado à relação política entre as empresas de ônibus e alguns setores políticos. “Boa parte da discussão sobre mobilidade é apenas superficial. Poucos candidatos se mostram realmente dispostos a tratar das raízes desses problemas. Como principal exemplo temos a relação estranha entre o poder público e as empresas de ônibus. Quase ninguém arrisca tocar nesse assunto”, destaca o pesquisador Juciano Martins Rodrigues, do Observatório das Metrópoles, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nesse sentido, o candidato Marcelo Freixo (PSOL) foi único a apresentar uma proposta clara e de enfrenta-

mento às empresas de ônibus. Em sua proposta de governo para a Prefeitura, Freixo garante que vai abrir a cai-

Candidato Marcelo Crivella nada menciona sobre o preço da passagem em seu programa de governo xa preta do transporte público. “Vamos verificar os contratos entre a Prefeitura e os consórcios de ônibus”, diz seu programa de governo. Já o candidato Marcelo Cri-


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preço us

Especial l 9

Divulgação

Pablo Vergara

Candidato Marcelo Freixo afirma que, caso seja eleito, vai acabar com a dupla função de motorista e cobrador

segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas

vella (PRB) nada menciona sobre as empresas de ônibus. Ele promete apenas “concluir as obras do BRT da TransBrasil” e garantir a operação até 2017. “[Vamos] exigir das concessionárias do BRT um aumento de 20% da frota até o fim de 2018. Segundo o pesquisador Juciano Rodrigues, as medidas propostas por Crivella teriam pouco impacto na vida da população, nos próximos quatro anos. “Essas propostas são muito ‘tímidas’ frente o tamanho da cidade e complexidade do setor. São propostas quase descartáveis. A impressão que fica é o candidato registrou essas propostas só para cumprir o protocolo da Justiça Eleitoral, mas elas

não têm conteúdo”, observa o urbanista Juciano Rodrigues. “Atualmente o Transoeste se encontra saturado, transportando 17 mil pessoas por dia, ondesócabem15mil.Oqueseria um sonho realizado virou o pesadelo da superlotação, com o BRT. Em algumas regiões essa

De forma participativa, vamos pensar um sistema que atenda as reais necessidades da população Marcelo Freixo, em suas propostas

é única opção de transporte público”, destaca o integrante do Movimento Passe Livre (MPL), José Abrahão Castillero.

Corte de linha piorou a vida dos moradores das zonas norte e oeste Depois dos aumentos abusivos, outra medida que afetou o bolso da população foi o corte de linhas de ônibus. Com a mudança, os moradores da zona norte e oeste da cidade precisaram fazer mais baldeações, aumentando, assim, o custo e o tempo de viagem. Foram três etapas de cortes de linhas. O primeiro foi em 2012, com o corte de 30 linhas na zona oeste. Depois foram anunciados 54 cortes em Jacarepaguá. E, por último, houve os cortes de pelo menos

48 linhas entre a zona norte e a zona sul. Isso afetou o deslocamento pela cidade, promovendo dependência do Bilhete Único. “Os bairros mais prejudicados foram Cascadura, Tanque, Praça Seca, Madureira, Complexo do Alemão e Guaratiba. Os moradores desses locais perderam terminais e o acesso direto a hospitais e locais de trabalho”, afirma José Abrahão Castillero, do MPL. De acordo com a avaliação do MPL, que monitora constantemente a situação do transporte público no

Rio, a mudança nas linhas de ônibus aumentou a exclusão social e a divisão na cidade. “Os cortes de linhas piorou a situação de acesso ao transporte, que promove lotação e exclusão social. Os mais pobres, moradores de favelas e bairros do subúrbio, agora estão tendo que andar mais a pé. Com a crise, muitos deles também perderam o emprego e, com a passagem a esse preço, ficam marginalizados. Essa é a principal consequência do atual modelo de transporte”.


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Vitor Vogel /Rede Brasil Atual

Silvio Tendler prepara filme sobre o capital financeiro

Para cineasta, mundo não aprendeu com a crise de 2008

“Transferimos todas as decisões para um lugar sem controle nem transparência. O mundo não aprendeu com 2008”, diz o cineasta

Divulgação

Tendler: “Estado fraco e domínio do capital podem levar o mundo a uma tragédia”

Vitor Nuzzi Rede Brasil Atual (RBA)

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cineasta Silvio Tendler tem 61 anos de cinema. São décadas de produção contínua e múltipla, já que o diretor costuma se envolver com vários projetos simultaneamente. Em 2016, produz mais séries e projetos de três curtas e três longas. Entre os trabalhos em curso, está um filme sobre a influência do capital na política. Tem o nome provisório de Dedo na Ferida. “É uma crítica à política dominada pelo sistema financeiro. Você não discute mais o dinheiro a serviço da produção”, diz Tendler, lembrando que se trata de um fenômeno mundial. “Acho que é a primeira vez que vamos discutir com profundidade a força do sistema financeiro na economia”. O trabalho deverá estar concluído até o fim do ano, com pelo menos 30 entrevistas. Dedo na Ferida é feito em parceria com o Sindicato dos Engenheiros (Senge) do Estado do Rio de Janeiro e com a Federação Interestadual da categoria (Fisenge). Para Tendler, isso ajuda a “devolver para a sociedade civil o protagonismo das ações transformadoras”. Em julho, ele esteve na França – onde morou durante quatro anos, na década de 1970 –, para conversar com o diretor

Próximo documentário de Tendler, Dedo na Ferida deverá estar concluído até o fim do ano

grego Costa-Gavras, autor de clássicos como Z, Estado de Sítio e Missing, e de obras que também tratam do tema abordado pelo cineasta brasileiro,

do filme, pronunciada pelo protagonista, é: “Os americanos querem que eu demita. Os franceses, que eu fracasse. E minha equipe quer me apunhalar”.

Estão em seus casulos, com seus pontos de vista fechados

AUSTERIDADE Silvio Tendler também já conversou sobre a situação da Grécia com a espanhola María José Fariñas Dulce, professora de Filosofia do Direito na Universidade Carlos III, de Madri. “Não é nenhuma radical”, observa. Ela foi uma das integrantes de um tribunal internacional organizado no Brasil em julho, para “julgar” – e condenar – o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. E considerou a situação política brasileira parte de uma “contrarrevolução neoliberal” também vivida na Euro-

como O Corte (2005) e O Capital (2012). No primeiro, um engenheiro perde o emprego e, desesperado, se torna um assassino. No longa mais recente, Gavras conta a história de um jovem executivo que chega à direção de um banco europeu com a missão de levar adiante um plano de demissões em massa. Uma frase

pa. “Ela falou, por exemplo, que a Grécia está empenhada aos bancos”, diz o cineasta. A lista de entrevistados inclui ainda Yanis Varoufakis. Trata-se do economista e ex-ministro de Finanças da Grécia, contestador dos regimes de austeridade e crítico da chamada Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). Em entrevista ao El País em fevereiro, ele defendeu uma Constituição europeia “redigida pelos cidadãos e não pelas corporações”, pedindo transparência. “A intenção (da União Europeia) é democrática, mas transferimos todas as decisões para um lugar sobre o qual não existe nenhum tipo de controle nem transparência”, disse o cineasta.

O cineasta brasileiro acredita que o mundo não “aprendeu” com a crise financeira deflagrada em 2008, que chegou a pôr os mercados financeiros em xeque. “Olha a situação do Brasil hoje e me diz se alguma coisa mudou. Só tiraram o bode da sala”, diz. Conforme o que ele ouve dos entrevistados, a globalização é irreversível. Também está em curso um processo de diminuição do papel do Estado, que muitos veem ainda como uma força reguladora na economia. “É uma posição que eu também defendo, mas que está bastante fragilizada. A economia está muito mais dominada pelas empresas. Os Estados são reféns”. Para Tendler, o enfraquecimento do Estado e o domínio do capital podem levar o mundo a uma tragédia. Seu filme “serve como alerta a situações que têm de mudar”, diz. “Acredito muito na força do cinema para a transformação da sociedade”, acrescenta o autor do documentário O Veneno está na Mesa, sobre a presença de agrotóxicos na alimentação. Otimista, mas preocupado. Por isso, considera seu filme um “grito universal” à sociedade. “Temos de mudar o nosso projeto de desenvolvimento”, afirma. Para Tendler, as pessoas mostram incapacidade de discutir questões cotidianas. “Estão em seus casulos, com seus pontos de vista fechados”.


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Opinião l 11

ARTIGO | Alan Tygel

O povo sabe que tem veneno nos alimentos Divulgação

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maré do agronegócio não está mesmo pra peixe. Ainda em meio à crise, os grande produtores rurais amargam não só prejuízos financeiros, mas também uma crise na sua imagem. Prova disso são os diversos investimentos feitos pelos ruralistas em propaganda para melhorar sua imagem. Exemplos vão desde a campanha “Sou Agro”, que contratou figuras como Pelé, até a novela “Velho Chico”, que buscou associar o agronegócio às práticas agrícolas sustentáveis. Mesmo assim, pesquisas de opinião demonstram que a população não se deixa enganar facilmente. Recentemente, a organização não governamental, o Greenpeace divulgou uma pesquisa realizada pelo Ibope que revela que a população brasileira se preocupa com os riscos de se comer comida envenenada.

Brasil é o país que mais consome agrotóxico no mundo

Utilizando uma metodologia semelhante à das pesquisas eleitorais, 2002 entrevistas foram feitas em 142 municípios do Brasil. 81% das pessoas consideram que a quan-

tidade de agrotóxicos aplicados nas lavouras é “alta” ou “muito alta”. Isso demonstra que não existe um “preconceito contra os agroquímicos”, como dizem os

ruralistas, mas sim uma consciência elevada sobre a forma como acontece a grande produção agrícola no Brasil. A pesquisa aproveitou o período eleitoral para perguntar sobre a importância das políticas de incentivo à produção sem venenos. Nesse caso, 82% da população brasileira considera “muito importante” que um político apresente propostas para a introdução de alimentos sem agrotóxicos na merenda escolar da rede pública. PRIORIDADE Além disso, quase 60% dos entrevistados afirmam que um político ter como prioridade a introdução de alimentos sem agrotóxicos nas escolas gera uma imagem pública mais positiva dele. Há muitos anos, organizações da sociedade alertam para os perigos dos agrotóxi-

cos e transgênicos no Brasil. Esta pesquisa demonstra que o resultado das denúncias está surtindo efeito, bem como os rápidos avanços da agroecologia como forma de produção de alimentos saudáveis.

81% da população brasileira considera alta a quantidade de agrotóxico nos alimentos Por isso, é fundamental cobrar dos políticos de sua cidade uma posição clara em favor da agroecologia como estratégia de justiça social, saúde e educação. Alan Tygel é da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

Divulgação

ARTIGO | Pedro Silva

Mudança no Ensino Médio é golpe contra a educação O governo Temer sancionou uma lei, através de decreto, ou seja, sem discutir com a sociedade, que vai mudar a formação dos alunos do Ensino Médio. A Medida Provisória (MP) 746 vai impactar todas as escolas públicas do Brasil. Dentre as inúmeras polêmicas presentes na proposta do MEC, destacase o fim da obrigatoriedade das disciplinas de artes, educação física, sociologia e filosofia durante os três anos do Ensino Médio. Na

prática, isso é acabar com disciplinas que ajudam os

Caso essa medida seja aprovada, vai aumentar a diferença entre escolas pobres e ricas alunos a refletir sobre os problemas sociais. Além disso, a contratação de professores por “notório saber” para determinadas matérias, inde-

pendente de sua formação, abre espaço para contratação de professores sem formação adequada. Esse apelo para a criação de um Ensino Médio “mais atrativo” e menos engessado e a defesa de uma “formação integral” vinculada aos anseios e projetos de vida dos alunos, na verdade, não passam de uma mentira. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) já permite o planejamento flexível e criativo do ensino. E o próprio Plano Nacional de Educação

Escolas públicas podem ficar com menos quatro matérias

(PNE) já aponta para metas e caminhos para o tempo integral nas escolas. JOGO SUJO O que vemos é um jogo sujo do governo Temer em querer precarizar o trabalho docente, a intensificação da mercantilização do ensino, tornando a educação cada vez

mais técnica e profissionalizante, o empobrecimento da formação de nossos jovens. Caso essa Medida Provisória seja aprovada, vai aumentar a diferença entre escolas pobres e ricas. Pedro Silva é professor e militante da Consulta Popular


12 | Cultura

Rio de Janeiro, 27 de outubro a 2 de novembro de 2016

Fotos: Divulgação

Novo livro-agenda do NPC é sobre mulheres de luta Brasileiras e estrangeiras que se destacaram em diversas mobilizações são lembradas dia a dia

O

Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) foi criado há mais de vinte anos com o intuito de colaborar para a formação dos trabalhadores. Para cumprir esse objetivo, todos os anos a entidade produz um livro-agenda especial, recheado de informações e notícias de lutas variadas que ocorreram no Brasil e no mundo. Para 2017, o NPC preparou uma edição sobre Mulheres de luta. A cada página, são apresentadas lutadoras que sonharam com a construção de uma sociedade justa e solidária e batalharam por isso nos mais variados espaços: no campo, nas fábricas, nas manifestações de rua, na guerrilha, nos sindicatos, nas salas de aula, na ciência, na produção intelectual e muitas outras formas mobilização. MEMÓRIA E INSPIRAÇÃO O rico material foi todo revisto e atualizado até meados de 2016. Além de servir para a recuperação da memória de tantas lutadoras brasileiras e estrangeiras, a agenda deve servir de inspiração para os desafios que se apresentam no tempo presente. Flora Tristan, Frida Kahlo, Mercedes Sosa, Ana Montenegro, Clara Zetkin, Patrícia Galvão (Pagu), Laura Brandão, Dona Penha, Violeta Parra, Clarice Lispector, Letícia Sabatela, Dandara dos Palmares são alguns nomes recuperados. Também são lembradas as tantas mulhe-

A argentina Mercedes Sosa é um dos destaques da agenda

res que resistiram à ditadura brasileira, muitas chegando a participar diretamente da guerrilha do Araguaia. Para a abertura dos meses, foram convidadas escritoras e militantes de diversas áreas para apresentar uma forma de luta específica. Dessa forma, assinam textos a defensora dos direitos humanos Amelinha Teles; a professora de história Virgínia Fontes; a mili-

A cada página são apresentadas mulheres que lutaram de diversas formas por uma sociedade justa

História de Frida é recuperada

tante do MST Marina dos Santos; as feministas da Marcha Mundial de Mulheres; entre outras. A revolucionária Rosa Luxemburgo, polonesa de

Material conta trajetória da escritora brasileira Pagu

nascimento e internacionalista convicta, estampa a capa do material. Os cem anos da Revolução Russa também são lembrados na publicação, pelo marco desse acontecimento na conquista e na defesa dos direitos das mulheres. O Livro-Agenda do NPC de 2017 permite conhecer operárias, comunistas, escravizadas, camponesas, estudantes, feministas, anarquistas, professoras e tantas outras mulheres de luta. O material custa R$ 25,00. Está à venda na Livraria Antonio Gramsci: Rua Alcindo Guanabara, 17, térreo, Cinelândia – perto da Câmara dos Vereadores. Mais informações e encomendas pelo e-mail livraria@piratininga.org.br

Livro-agenda NPC 2017 – Mulheres de Luta R$ 25,00 (cada) À venda na Rua Alcindo Guanabara, 17, térreo, Cinelândia Informações: (21) 2220-4623 / livraria@ piratininga.org.br


Rio de Janeiro, 27 de outubro a 2 de novembro de 2016

‘Humano – Uma Viagem Pela Vida’, de Yann ArthusBertrand, entrevista mais de 2 mil pessoas em 60 países para entender o que nos une e nos separa

Fotos: Divulgação

Documentário investiga a essência humana e seus paradoxos

Cena do filme apresenta um momento de união: necessidade natural de cada um

tro te aproxima mais. Cada história é única. Ao explorar as experiências do outro, eu estava à procura de respostas”, afirma o diretor. Uma das poucas caras conhecidas no filme é o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, em uma crítica ao sistema

Xandra Stefanel Rede Brasil Atual

“V

ocê se sente livre? Qual o significado da vida? Qual a experiência mais difícil que você teve de enfrentar? E o que você aprendeu com ela? Qual é a sua mensagem para os habitantes do planeta?” Com essas perguntas, o fotógrafo, cineasta e ativista ambiental francês Yann Arthus-Bertrand e sua equipe entrevistaram 2.020 pessoas em 63 línguas e 60 países diferentes para tentar entender a essência humana e refletir sobre o que somos e o que queremos não apenas como indivíduos, mas também como sociedade. Esta aventura durou três anos e o resultado é o filme “Humano – Uma Viagem Pela Vida”, que estreia nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Santos neste mês. Amor, liberdade, morte, ódio, discriminação, fome, desigualdade, esperança, sexo, consumismo… As entrevistas trazem temas e histórias de vida de pessoas comuns. São trabalhadores, camponeses, aborígenes, refugiados, soldados, rebeldes, prisioneiros sentenciados à pena de morte, mães, pais, maridos e mulheres que di-

Mulher tailandesa conta sua visão de mundo no filme

videm com a câmera suas trajetórias e a maneira como vivem e veem o mundo. Durante 191 minutos, o que se vê são retratos que, juntos, formam um mosaico da natureza humana, em toda a sua complexidade e simplicidade, misturados com imagens aéreas que dão a dimensão dos impactos (e das belezas) causados pelos humanos no planeta. Yann traduz em imagem e estampa na tela as cores do amor e da guerra, da compaixão e do egoísmo, da solidão e do pertencimento, da construção e da destruição, da esperança e do desespero. O que se vê em profundidade é a essência da natureza humana com todas as suas contradições. “Eu sou um homem entre outros sete bilhões. Durante os últimos 40 anos fotografei nosso planeta e a diversidade

Cultura l 13

Mujica: ‘Tudo se compra, menos a vida. A vida se gasta’

humana, e tenho o sentimento de que a humanidade não está fazendo nenhum progresso. Nós não conseguimos viver juntos sempre. Por que isso? Eu não procurei uma resposta em estatísticas ou análises, mas no próprio homem. E foi em rostos, olhares e palavras onde encontrei uma poderosa forma de alcançar as profundezas da alma humana. Cada encon-

Amor, morte, ódio, fome, sexo... As entrevistas trazem histórias de vida de pessoas comuns capitalista: “Passei mais de dez anos na solitária. Tive tempo. Sete anos sem ler um livro. Tive muito tempo para pensar e descobri o seguinte: ou você é feliz com pouco, com pouca bagagem, porque a felicidade está em você, ou não consegue nada. Isso não é uma apologia da pobreza, mas da sobriedade. Só que inventamos uma sociedade de consumo, consumista, e a economia tem de crescer porque se não cresce acontece uma tragédia. Inventamos uma montanha de consumos supérfluos. Compra-se e descarta-se. Mas o que se gasta é tempo de vida porque quando eu compro algo ou você, não pagamos com dinheiro,

compramos com tempo de vida que tivemos de gastar para ter este dinheiro. Mas tem um detalhe: tudo se compra, menos a vida. A vida se gasta. E é lamentável gastar a vida para perder a liberdade.” O QUE NOS FAZ HUMANOS? O ponto de partida de Yann Arthus-Bertrand foi trazer à tona o que nos une como seres humanos. “Todos nós temos a mesma sede por amor, liberdade e reconhecimento? Em um mundo dividido entre tradição e modernidade, nossas necessidades fundamentais permanecem as mesmas? No fundo, o que significa ser humano hoje? Qual o significado da vida? Será que as nossas diferenças são tão grandes? Será que, de fato, compartilhamos mais valores do que poderíamos ter imaginado? E se assim for, por que não conseguimos compreender um ao outro? Eu queria colocar estas questões e discussões sobre a humanidade num projeto que parecia ser utópico e irreal à primeira vista”, acrescenta. Mais que uma declaração de amor ao próximo, o filme é uma espécie de grito pela paz e pela justiça no mundo. Um emocionante apelo que dá esperança de que dias melhores podem vir por aí.


14 | Variedades

Rio de Janeiro, 27 de outubro a 2 de novembro de 2016

FASES DA LUA

HORÓSCOPO Áries (21/3 a 20/4) Suas chances de brilhar estão muito boas, desde que você consiga ser mais objetivo e propositivo.

Touro (21/4 a 20/5) Mostre suas melhores qualidades, buscando seus ideais e concretizando seus planos. Acredite em si mesmo.

Gêmeos (21/5 a 20/6) Você não pode deixar passar qualquer chance de conhecer pessoas que possam ajudá-lo. Tenha persistência.

Câncer (21/6 a 22/7) Não deixe o concreto em troca de fantasias. Será necessário alimentar as relações afetivas com carinho e presença.

Leão (23/7 a 22/8)

Você poderá provocar muitas mudanças em sua vida e na das pessoas que estão à sua volta. Não tenha medo de sonhar.

Virgem (23/8 a 22/9)

Você está muito inclinado a valorizar bastante a sua independência financeira. Procure alcançar uma posição de liderança.

Libra (23/9 a 22/10) Escolha melhor as pessoas com quem convive e com quem faz confidências. Tenha mais cuidado.

Escorpião (23/10 a 21/11) Aproveite para fazer exercícios, uma dieta equilibrada e cuidar de seus relacionamentos. Cuide de seu lado emocional.

Sagitário (22/11 a 21/12) Dê uma oportunidade para que as pessoas que estão à sua volta e te amam possam demonstrar isso.

Capricórnio (22/12 a 20/1) Cada um tem uma forma diferente de pensar e agir. Procure ser observador e respeite as opiniões diferentes.

Aquário (21/1 a 19/2) Não deixe de lutar por aquilo que considera importante para sua felicidade pessoal. Seja persistente.

Peixes (20/2 a 20/3) Paz e sossego serão necessários para fazer um balanço dos últimos acontecimentos de sua vida.

Minguante 27/10

Nova 30/10

Crescente 7/11

Cheia 14/11

PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS | www.coquetel.com.br


Rio de Janeiro, 27 de outubro a 2 de novembro de 2016

ANDRÉ DAHMER | malvados.com.br

Variedades l 15

DICAS MASTIGADAS | Alan Tygel por Joba Alves, de Santa Maria da Boa Vista (sertão de PE)

Conserva de Pimenta

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AMIGA DA SAÚDE Oi amiga! Noto minha boca seca com muita frequência. E costumo tomar uns 2 litros de água por dia. O que pode estar acontecendo? Regina Célia, 36 anos, costureira Querida Regina, a sensação de boca seca é um sinal que pode ser devido a vários fatores. Um deles é o clima, que pode fazer você suar mais e perder líquido, necessitando aumentar a quantidade de água habitual. Outro fator é a alimentação: quando você inge-

re alimentos mais ricos em fibra, as fezes retêm mais água (o que melhora o trânsito intestinal), fazendo com que sobre menos água para o restante do corpo. A atividade física mais pesada que o de costume pode ser a causa. Alguns medicamentos podem também interferir na produção de sali-

Dúvidas? amigadasaude@brasildefato.com.br

va. Outros fatores são doenças como o diabetes, as alterações nas glândulas salivares, etc. No caso de diabete, esse ressecamento da boca está associado a um aumento do volume urinário. Respirar pela boca e falar muito também ajudam a deixar a boca seca.

Sofia Barbosa | Coren MG 159621-Enf

No Brasil, o termo pimenta se refere tanto a pimentas da espécie Capsicum (como a Malagueta) como às Piper, (pimenta do reino). A receita de hoje é para se fazer conserva de pimenta do primeiro tipo, que possui inúmeras variedades. Além das pimentas em si, os ingredientes são:

Ingredientes • Azeite, como base • Temperos opcionais: Cominho, Pimenta do Reino, Manjericão, Alecrim, Louro, Alho • Limão e Vinagre, para conservar Atenção: utilize sempre luvas para manusear as pimentas, pois elas provocam queimaduras

Modo de preparo Antes de começar, higienize as pimentas, tirando os cabos e lavando. Os potes de vidro que vão receber a conserva devem ser fervidos, e devem esfriar naturalmente. Para fazer o molho, bata os temperos no liquidificador com um pouco de azeite. Encha o pote com as pimentas, e acrescente o azeite temperado. Encha metade do pote com mais azeite frio, e complete a outra metade com azeite aquecido. É importante colocar um pouco de limão e vinagre pra evitar mofar. Para conservar, deixe pelo menos um mês escondida no escuro. A cada semana, vire a posição, ora com a tampa para baixo, ora pra cima. Se desejar o molho mais forte, corte as pimentas em rodelas. Nesse caso, é importante fazer a assepsia: coloque as rodelas durante 25 segundos em água fervendo, e assim que tirar jogue imediatamente em água com gelo, por um minuto. Escorra bem a água e monte o molho.

Capsaicina O componente que faz o fruto da pimenta arder se chama capsaicina. Seu consumo em excesso pode provocar problemas de digestão, mas seu consumo moderado traz diversos benefícios para o coração, tem ação anti-inflamatória, aumenta a imunidade, ajuda a controlar o nível de açúcar no sangue e melhora o crescimento do cabelo. Envie sua receita para: receita@brasildefato.com.br


Fotos: Pablo Vergara

UMA VISÃO POPULAR DO BRASIL E DO MUNDO


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