Brasil de Fato RJ - 238

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ESPECIAL PETROBRAS

Futebol feminino precisa de respeito

Saiba mais sobre a história da empresa e o processo de desmonte acelerado nos últimos meses. A sociedade brasileira deve discutir o futuro da estatal, não o mercado. P. 3 A 10

Fran pediu aposentadoria da seleção após demissão da extécnica Emily Lima ESPORTES P. 11

Qual modelo de Petrobras interessa ao Brasil?

3 a 11 de outubro de 2017

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EDIÇÃO 238

ATO EM DEFESA DA SOBERANIA NACIONAL Divulgação

HOJE, 3/10

Manifestação vai iniciar às 11h em frente à Eletrobras, na esquina entre as Avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, no Centro do Rio, e seguirá rumo à Petrobrás, na Av. Chile. Marcelo Aguilar

CRIME AMBIENTAL Atingidos pelo rompimento da barragem de Mariana (MG) protestaram em frente à sede da Vale, no Leblon, nesta segunda-feira (2) Eles participam ao longo da semana do 8º Encontro Nacional do Movimentos dos Atingidos por Barragens (MAB). GERAL 2


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GERAL

OUTUBRO DE 2017

MAB faz escracho em frente à sede da Vale no Rio de Janeiro Militantes denunciam que, após quase dois anos da tragédia em Mariana, atingidos seguem sem qualquer reparação

Marcelo Aguilar

Militantes do MAB caminham pelas ruas do Leblon, no Rio de Janeiro

gligenciados pelas empresas responsáveis pelo desastre. Entre as denúncias, está a inoperância da Fundação Renova, instituição fruto do Termo de Transação de Ajustamento de Conduta (TTAC) acordado entre Samarco, Vale e BHP, o governo federal e os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Camila Brito, militante do MAB no Vale do Aço, em Minas Gerais, explica que os atingidos da bacia, não recebem sequer água potável. "A Fundação Renova não consegue fazer um trabalho de recuperação e viemos denunciar todo esse processo, a falta de produção, o modo de vida tradicional que foi alterado, a água de qualidade. Muitos dos atingidos da bacia ainda não bebem água de qualidade, entre outros fatores. O povo vem hoje denunciar, questionar de que lado está a justiça, já que ela suspendeu todos os processos contra as empresas na justiça".

lama destruiu comunidades inteiras, deixando devastação por onde passou e, até o momento, não há perspectivas de uma revitalização do meio ambiente. O coordenador destaca ainda que a Justiça parece imparcial ao julgar a culpabilidade da Vale no desastre de Mariana. "Estamos aqui pedindo justiça. É um absurdo o papel da Justiça em relação a

ENCONTRO O ato em frente à Vale faz parte da programação do 8º Encontro Nacional do MAB, que acontece entre os dias 1º e 5 de outubro, na cidade do Rio de Janeiro, no Terreirão do Samba, na região central. Estão programadas uma série de atividades, entre elas, um ato em frente à Eletrobras, com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

JOSÉ EDUARDO BERNARDES

RIO DE JANEIRO (RJ)

P

assados exatos um ano e 11 meses desde o trágico rompimento da barragem da empresa Samarco, uma subsidiária das mineradoras Vale e BHP Billiton, na cidade de Mariana, interior de Minas Gerais, os atingidos pela lama de rejeitos e os familiares das 19 vítimas do desastre seguem sem qualquer reparação. Por sua vez, as empresas responsáveis pelo empreendimento seguem sem nenhuma punição. Essa foi a denúncia feita na segunda-feira (2), por militantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que protestaram em frente à sede da Vale no bairro do Leblon, região nobre do Rio de Janeiro. Com gritos de “Eles sabiam que ia romper, Samarco, Vale e BHP”, atingidos, movimentos que compõem a Frente Brasil Popular (FBP), como o Levante Popular da Juventude, entre outros, levaram cruzes simbolizando os mortos da tragédia. Joceli Andreoli, da coordenação nacional do MAB, lembrou que a

esse crime, tanto do ponto de vista cível, como do ponto de vista criminal, a Justiça tem se mostrado lenta e, inclusive, suspeita-se que totalmente vinculada aos interesses da empresa", disse. Durante o ato, atingidos pela lama de rejeitos deram depoimentos sobre a situação da região da Bacia do rio Doce e relataram como os moradores ainda são ne-

www.brasildefato.com.br redacaorj@brasildefato.com.br /brasildefatorj @Brasil_de_Fato (21) 99373 4327 (21) 4062 7105 CONSELHO EDITORIAL Alexania Rossato, Antonio Neiva (in memoriam), Joaquín Piñero, Kleybson Andrade, Mario Augusto Jakobskind, Rodrigo Marcelino, Vito Giannotti (in memoriam) EDIÇÃO Vivian Virissimo SUB-EDIÇÃO Mariana Pitasse ADMINISTRAÇÃO Angela Bernardino e Marcos Araújo | DISTRIBUIÇÃO Kleybson Andrade | COLABORAÇÃO José Eduardo Bernardes, Luiz Ferreira, (texto), Pablo Vergara (foto)


ATO DIA 3 DE OUTUBRO

CUT

O Rio de Janeiro recebe nesta terça-feira atos de petroleiros e movimentos sociais em defesa da Petrobras e dos empregos, contra a agenda de entrega dos bens nacionais promovida pelo governo Temer Outubro de 2017

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EDIÇÃO ESPECIAL

QUAL PETROBRAS

O POVO QUER? Divulgação

A ESTATAL

Fotos: Divulgação

FUP

EMPREGOS PÚBLICOS, MONOPÓLIO, SOBERANIA NACIONAL

O DESMONTE

PRIVATIZAÇÕES, DESEMPREGO, DESNACIONALIZAÇÃO

Qual seria a terceira opção?


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GERAL

OUTUBRO DE 2017

A geopolítica do petróleo Países e empresas disputam o produto; Petrobras teve seu perfil alterado somente após inserir o Brasil nesse mapa

A

quem pertence o petróleo? Às grandes empresas? Aos Estados? À população? Desde que ele começou a ser utilizado em escala industrial, nos meados do século 19, a questão se repete – sempre em benefício de quem tem mais poder. O petróleo é um dos grandes temas geopolíticos do planeta. Motiva guerras e disputas entre grandes grupos econômicos. É um item estratégico. Basta lembrar da Guerra do Golfo, em 1991, para se ter uma ideia do quanto o petróleo move exércitos – e não somente os fardados. O óleo mobiliza muita propaganda e disputas simbólicas. Da invasão do Iraque pelos Estados Unidos, em 2003, à disputa pelo poder na Venezuela, ele desponta como um item decisivo, a pautar o que sai na imprensa nacional e internacional. Por isso qualquer discussão sobre qual modelo de desenvolAgência Brasil

Apenas alguns poucos países compõem o mercado petrolífero mundial: ter ou não ter petróleo significa mais ou menos poder Divulgação

vimento a ser adotado no Brasil passa pela geopolítica. A própria criação da Petrobras, em 1953, ocorreu por uma determinada percepção: a de que o Brasil precisava entrar nesse mapa. A discussão sobre valorização da indústria nacional, papel do Estado e internacionalização sempre esteve presente. E não era uma discussão nova.

Na virada para o século 20, nos Estados Unidos, a Standard Oil Company era retratada em cartoons como um polvo. Ele representava o monopólio de uma empresa privada, a estrangular o estado. No caso brasileiro, a opção se deu por uma estatal. O polvo chegou décadas depois, com tentáculos internacionais.

Iraque invadido: interesse pelo subsolo do Oriente Médio

Grande imprensa tem lado: o do mercado »»Existe

disputa por um modelo de desenvolvimento da Petrobras ou já está tudo dado? No caso da imprensa brasileira, está tudo decidido a favor do mercado. Por isso a cobertura simpática aos leilões, ao

processo de desmonte e de internacionalização da empresa – e dos bens naturais. Por causa disso pouco se fala do desemprego na cadeia produtiva do petróleo. Ou da perspectiva de menos postos de trabalho. Por

EXPEDIENTE: Jornalistas: Alceu Castilho e Luiza Sansão; Infografista: Rodrigo Buchianeri

outro lado, não são destacadas mobilizações de trabalhadores – ou de outros setores da sociedade - em defesa da indústria nacional. Este caderno discute a formação da empresa, sob uma lógica nacionalista, e o pro-

cesso atual de desmonte, iniciado no governo FHC (1995-2012) e acelerado nos últimos meses. Em cima disso a possibilidade de uma terceira via, conforme decida a sociedade brasileira – e não o mercado.


ESPECIAL PETROBRAS

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O petróleo é nosso OUTUBRO DE 2017

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Campanha bancada por civis, militares, intelectuais e estudantes foi reação a uma tentativa de privatizar o setor e culminou na criação da Petrobras, no dia 3 de outubro de 1953

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primeira iniciativa de regulação do setor petrolífero no Brasil foi a criação do Conselho Nacional do Petróleo (CNP), em 1938, durante o Estado Novo. A legislação previa a imediata nacionalização das atividades em curso e o estrito controle pelo governo. Embora previsse concessões para exploração e refino, ele era estatizante. Crescia o embate entre o grupo nacionalista, que defendia o monopólio da exploração pelo Estado, e o grupo que defendia a participação do setor privado. Em 1948, o presidente Eurico Gaspar Dutra enviou ao Congresso o anteprojeto do Estatuto do Petróleo. Ele considerava impossível a completa nacionalização. “A Petrobras sempre foi alvo de setores

da nossa elite que sempre sonharam um país a reboque de outras nações”, avalia João Antonio de Moraes, dirigente da Federação Única dos Petroleiros (FUP). “Nunca tiveram um projeto de nação que pudéssemos dizer independente, autônomo”. Mas houve reação: civis, militares, intelectuais, estudantes e profissionais liberais se uniram, naquele ano de 1948, no histórico movimento que cunhou o slogan “O Petróleo é Nosso!”. A intensa mobilização popular culminou na criação da Petrobras, no segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954). Em 3 de outubro de 1953 ele sancionou a Lei n.º 2004, que estabeleceu o monopólio estatal de pesquisa, refino e transporte do petróleo, com a Petróleo Brasileiro S/A.

Campanha nacionalista foi reação a uma tentativa de privatização feita pelo governo Dutra Agência Petrobras

»»“Quando

Empresa se expandiu pelo mundo com tecnologia própria... FUP

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Getúlio Vargas entrou para história também com a Petrobras

"E o Brasil conseguiu"

... o que culminou, em 2006, na descoberta do pré-sal

a Petrobras foi criada se dizia que o Brasil não podia produzir petróleo, que era algo muito sofisticado tecnicamente”, conta o economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES. “E, pelo contrário, a eficiência do monopólio permitiu uma tecnologia própria de extração de petróleo em águas profundas”. O processo de privatização começou no governo de FHC. “Ele quebrou os monopólios, vendeu o parque siderúrgico nacional, retirou a Petrobras da indústria petroquímica e só não a privatizou porque a pressão social o impediu”, enumera João Antonio de Moraes, da FUP. O governo tucano criou a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e instituiu a Lei do Petróleo, em 1997, dando início aos leilões de petróleo. Vendeu cerca de 30% das ações da Petrobras, que em boa parte foram parar na Bolsa de Nova York.


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ESPECIAL PETROBRAS

OUTUBRO DE 2017

Desmonte da Petrobras atin Presidente com recorde de impopularidade acelera privatização e promove quebra da indústria nacional; empregos despencam pela metade

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F

ica até difícil acompanhar. O governo Temer não inventou os leilões do petróleo nem a venda de ativos da estatal. Mas a velocidade das ações chama a atenção. Apesar de ter apenas 3% de popularidade, o presidente promove medidas estruturais – que terão consequências por décadas sem nenhum constrangimento. O número de empregos diretos e terceirizados, envolvendo a Petrobras, caiu pela metade entre 2013 e 2016. Esse modelo de destruição da indústria nacional custará, no médio e no longo prazo, menos vagas de trabalho. “O governo está liquidando o Estado brasileiro“, diz o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel. Em 15 meses a Petrobras colocou à venda suas principais subsidiárias, como a Liquigás (a do gás de cozinha), a TAG e a NTS (responsáveis por gasodutos) e prepara a abertura de capital da BR Distribuidora. Ou seja, do botijão de gás à marca conhecida pelos postos de combustível, o capital da empresa se esvai. A Exxon Mobil abocanhou, em parceria com a americana Murphy Oil e a Queiroz Galvão, dois blocos na 14ª Rodada de Licitações, no dia 27. A chinesa CNOOC entrou em cena como operadora na Bacia do Espírito Santo. Foram arrecadados nessa rodada R$ 3,8 bilhões. Parece muito. Mas significa apenas 75 vezes os R$ 51 milhões encontrados, no início de setembro, no apartamento do ex-ministro e ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB), amigo e parceiro de Temer.

FHC E A PETROBRAS E a Petrobras se fazia Petrobrax. Corria o governo Fernando Henrique Cardoso, e a mudança de nome – para agradar o mercado internacional - pegou o país de surpresa. Não colou. Mas foi durante sua gestão que a empresa perdeu o monopólio de exploração do petróleo.

LULA E O PRÉ-SAL A marca do governo de L descoberta do pré-sal, e é consensual entre defe mas representa uma inf A empresa cresceu expr

Agência Petrobras

DILMA E A LAVA-JATO Dilma Rousseff teve na Lava-Jato uma das marcas de seu governo. As investigações atingiram diretamente a Petrobras, obrigada a se endividar. Como resposta ao mercado, nas cordas, ela referendou o modelo de redução de custos e a agenda privatizante.

TEMER E A ENTREGA Nada ocorrido nos gover da gestão Temer. A corr branca para um aument da venda de ativos. O re indústria, em benefício


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ESPECIAL PETROBRAS

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nge ápice no governo Temer Agência Petrobras

O gestor da implosão »»Ex-ministro

Luiz Inácio Lula da Silva foi a em 2006. O modelo de partilha não ensores de uma matriz estatal, flexão em relação às concessões. ressivamente no período. Divulgação

rnos anteriores tem o ritmo rupção foi tomada como cartato do ritmo das privatizações e esultado é a desnacionalização da das multinacionais.

do governo Fernando Henrique Cardoso, Pedro Parente comanda a Petrobras desde junho de 2016. Ele carrega em seu currículo ações controversas, como a mudança de nome da empresa para Petrobrax, no período em que ocupou o Conselho de Administração da estatal. É criticado pelos trabalhadores por privatizar a toque de caixa a companhia. Parente também responde a uma denúncia feita pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) à Procuradoria Geral da República (PGR), acusando-o de conflito de interesses. É que ele acumulou a Presidência do Conselho de Administração da BM&F Bovespa com a condição de sócio fundador da Prada Administradora de Recursos Ltda, grupo de gestão financeira e empresarial presidido por sua esposa, Lucia Hauptman. Dados apresentados pela FUP à PGR revelam que a empresa aumentou em 78% sua carteira de clientes nos últimos dois anos, performance impactada após o ingresso do empresário na Petrobras. Ainda segundo a FUP, o volume de compras de ações feitas pela Prada saltou de R$ 403 mil, em dezembro de 2015, para R$ 3,2 milhões, em dezembro de 2016. Bem acima da média do mercado financeiro. Os petroleiros também acusam Parente de beneficiar as concorrentes da Petrobras ao acelerar a privatização da empresa e depreciar o valor de diversos ativos.


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ESPECIAL PETROBRAS

OUTUBRO DE 2017

Outra Petrobras é possível? Divulgação

Alternativa à lógica de mercado é a de pensar a empresa como vetor do desenvolvimento industrial do país

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rofessor de Relações Internacionais e Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC), Giorgio Romano Schutte vê duas concepções possíveis para a Petrobras. Uma delas, a de funcionar como uma empresa, submetendo-se aos mesmos parâmetros de uma corporação privada. De outro, “a ideia da Petrobras como um instrumento de desenvolvimento industrial tecnológico do país”. Essa segunda vertente não significa apenas o retorno à matriz antiga, dos anos 50 ou 60. Ela valoriza

a inovação, a tecnologia e a cadeia produtiva da indústria nacional. “Ela é um dos poucos setores no Brasil que pode resistir a tendência de desindustrialização”, aponta o pesquisador, membro do Núcleo Estratégico de Estudos sobre Desenvolvimento, Democracia e Sustentabilidade. Schutte lembra que, até

2014, quando começou a crise múltipla no setor, com a Lava Jato e com a queda mundial do preço do petróleo, o investimento da Petrobras representava mais de um terço de todos os investimentos industriais no Brasil. “Só investimentos diretos na Petrobras”, ressalta. “É gigantesco”.

Brasil se desindustrializa e setor pode ser uma resistência

Quanto custará seu botijão?

Democracia está ameaçada

»»O

»»O presidente do Clube de En-

economista Carlos Lessa acredita que o cidadão comum só irá se mobilizar de fato contra o desmonte da Petrobras quando sentir de forma direta, no próprio bolso, as consequências do que ele chama de “amputação” da empresa. “Nesse caso, eu só vejo uma coisa: o gás de cozinha. Quando o gás de petróleo subir de preço, a população vai ficar incomodada”. Ele defende que a empresa seja mantida exatamente como se encontra hoje, dada a dificuldade de cancelar o que já foi cedido, e que nada mais o seja. “Reduzir a presen-

ça do Estado só tem desvantagem”, diz. “É uma irresponsabilidade levar o Brasil nessa direção. É inacreditável”.

Divulgação

Lessa: “Quando o gás subir povo vai ficar incomodado”

genharia, Pedro Celestino, defende a mobilização dos brasileiros no combate ao desmonte. “A democracia está ameaçada, a soberania está sendo destruída e a engenharia já foi destruída”, afirma. “Eles não têm coragem de privatizá-la, então tiram artigos essenciais à sua sobrevivência”. Ele pensa em um suco de laranja com canudinho. “As empresas buscam mais óleo para manter o nível do copo cheio. Sem isso as jazidas diminuem e ela deixará de ser relevante. E o Brasil voltará a ser um gran-

de importador de derivados, tal como os países do Oriente Médio, Equador, Nigéria, e não será um país desenvolvido”.

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“Sem buscar óleo Petrobras deixará de ser relevante”


OUTUBRO DE 2017

ESPECIAL PETROBRAS

Muito além da corrupção: a Lava-Jato como carta branca

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Operação identificou esquema gigantesco de desvio na Petrobras; limpeza necessária se tornou pretexto para se entregar ainda mais o patrimônio nacional

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existência de políticos e empresários corruptos justifica a entrega do patrimônio nacional? Iniciada em março de 2014, a Operação Lava Jato se tornou onipresente na mídia e segue tendo seus desdobramentos. O esquema de corrupção teve na Petrobras um de seus vetores centrais, envolvendo políticos de vários partidos e algumas das maiores empresas públicas e privadas do país, entre elas as empreiteiras. Mas as consequências têm sido especialmente graves para a empresa. Para o professor Giorgio Romano Schutte, especialista em Relações Internacionais da UFABC, a Lava Jato “ajudou fortemente a criar um ambiente político propício para provocar a diminuição da Petrobras, o desmonte da política em torno do pré-sal e a legislação que dá maior possibilidade de as empresas internacionais explorarem o pré-sal”. Schutte aponta dois elementos fundamentais na maneira como a operação afetou a empresa. Um deles é mais político: a Lava-Jato reforça a ideia – do senso

Ações da Polícia Federal tornaram-se rotina e repercutiram na mídia a partir de 2014, afetando a imagem da empresa como um todo

Houve uma paralisação de toda a cadeia produtiva em torno da Petrobras comum - de que as estatais são o berço da corrupção. Logo, diminuir o peso das estatais e privatizá-las seria uma forma de combater a corrupção. “E aí esquecendo que a Petrobras foi vítima de roubo”, explica. O segundo ponto, segundo o pesquisador, é a forma como a Lava Jato começou a operar a partir de outubro de 2014, período que coincidiu com a reeleição da ex-presi-

dente Dilma Rousseff. “Houve uma paralisação de toda a cadeia produtiva em torno da Petrobras, estaleiros, refinarias, com a ideia de que as empresas envolvidas em corrupção não deveriam mais

ter a possibilidade de fazer contato com a Petrobras”. Schutte argumenta que isso causou um estrago enorme, não só para a Petrobras, mas para os trabalhadores e a economia bra-

sileira como um todo. “Eu sempre faço com meus alunos o seguinte paralelo: imagina que a gente descubra que há corrupção na reitoria, a resposta seria fechar a universidade?”


10 ESPECIAL PETROBRAS

OUTUBRO DE 2017 UNE

O PAÍS SE MOBILIZA

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agenda está aberta. Enquanto a Agência Nacional do Petróleo promove seus leilões, a sociedade brasileira se organiza contra a entrega dos bens a investidores estrangeiros. E não são só petroleiros que resistem. Trabalhadores sem-teto e camponeses avisam: o jogo não acabou. Os atos nesta terça-feira em defesa das empresas públicas e do emprego reúnem bancários e eletricitários, moedeiros e comerciários, a CUT, a Frente Brasil Popular, a Plataforma Operária e Camponesa da Energia e o Movimento

dos Atingidos por Barragens. “Se cada cidadão soubesse o que representa o pré-sal e a Petrobras para o país, todos estariam nas ruas. Precisamos criar uma grande corrente que una amplos setores sociais para lutar pela nossa soberania em relação ao petróleo”, afirma o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel. "O que devemos fazer é conscientizar toda a população do tamanho da riqueza e desmontar essa narrativa da corrupção. A maioria da popuação é contra a privatização", completa.

FUP CONVOCA ATO

No dia em que a Petrobras completa 64 anos, organizações sociais e sindicais realizam manifestações no Rio e em outras capitais, em defesa da soberania nacional e contra as privatizações

Onde se informar: Federação Única dos Petroleiros www.fup.org.br | facebook @ fupetroleiros | instagram @fupbrasil

03/10

LOCAL: CENTRO DO RIO DE JANEIRO

11h – Concentração em frente da sede da Eletrobras, na esquina das Avenidas Rio Branco e Presidente Vargas 14h – Caminhada em direção à Avenida Chile e ato em frente do prédio da Petrobras

FUP


ESPORTES

OUTUBRO DE 2017

PAPO ESPORTIVO LUIZ FERREIRA

Cadê o respeito com o futebol feminino? »»Acredito que todos tenham acompanhado o que acon-

teceu com a Seleção Brasileira de Futebol Feminino nesses últimos dias. Emily Lima foi demitida do comando técnico da equipe depois de apenas treze partidas (sete vitórias, um empate e cinco derrotas), apesar de todos os protestos das jogadoras. O escolhido pela CBF (pasmem) foi Oswaldo Alvarez, o Vadão, técnico da Seleção nos Jogos Olímpicos, e demitido logo depois das competições no Rio de Janeiro. Diante desse cenário que beira o surrealismo, Emily Lima se posicionou e acusou o Coordenador de Futebol Feminino da CBF, Marco Aurélio Cunha, de nunca ter apoiado seu trabalho e de ter tramado a sua demissão quando voltava para o país depois de amistosos contra a Austrália. Ao mesmo tempo, Cristiane, Fran e Rosane usaram as redes sociais para comunicar a sua insatisfação e a aposentadoria da Seleção Brasileira. MACHISMO Todo esse processo se arrasta há muito tempo. É preciso falar a verdade e aceitar que o futebol feminino nunca foi bem aceito por aqui. Seja por machismo, preconceito ou má vontade, a modalidade ainda encontra dificuldades enormes para se firmar por aqui. E não é por falta de adeptos. As meninas que sonham em se tornar a nova Marta, a nova Sissi ou a nova Formiga aparecem aos montes nos campinhos de terra espalhados pelo Brasil. A CBF tenta impor um modelo completamente ultrapassado depois de demitir uma treinadora que organizou todo o calendário de 2017 da Seleção Feminina enquanto o seu coordenador (que deveria ser o responsável por isso) fazia Deus sabe o quê nos bastidores. Mais do que nunca, é preciso ter respeito com as nossas meninas e com quem trabalha dia e noite para colocá-las em campo apesar de todas as dificuldades.

Divulgação

Jogadoras da seleção protestaram após demissão de Emily

FRASE DA SEMANA

É preciso ter essa confiança do técnico e também do torcedor para voltar a jogar um bom futebol Robinho, jogador do Atlético Mineiro, após marcar dois gols no mesmo jogo, o que não fazia desde julho do ano passado.

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3 DE OUTUBRO

DIA DE LUTA PELA SOBERANIA NACIONAL

11H

CONCENTRAÇÃO EM FRENTE À ELETROBRÁS CAMINHADA PARA A SEDE DA PETROBRÁS ÀS 13H


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