Brasil de Fato RJ - 305

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RIO DE JANEIRO Ano 7

edição 305

11 a 17 de abril de 2019

distribuição gratuita

brasildefato.com.br

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@Brasil_de_Fato

RJ

RIO É DEVASTADO PELAS CHUVAS

ABr

Pela segunda vez em dois meses, o Rio de Janeiro registra vítimas fatais e destruição depois das chuvas. No início do mês de fevereiro, um forte temporal resultou na morte de pelo menos seis pessoas. Desta vez, outras 10 vítimas foram confirmadas pelas autoridades. A responsabilidade do poder público diante das enchentes será investigada pela Câmara Municipal por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Na reportagem do Brasil de Fato, conheça as histórias de quem sobreviveu, mas teve a vida devastada pelas águas nesta semana. GERAL, PÁG 5.

Funcionários de restaurante no centro da cidade viviam em alojamento improvisado infestado por ratos e baratas. GERAL, PÁG 4.

QUER SABER O QUE FAZER NO FINAL DE SEMANA? Programação tem peça sobre cantor Belchior, festival de cinema e muito mais. Confira a agenda completa. CULTURA & LAZER, PÁG 11.

CONHEÇA A HISTÓRIA DE LUTA CONTRA O RACISMO DO VASCO

Divulgação

DEZ PESSOAS SÃO RESGATADAS EM SITUAÇÃO DE TRABALHO ESCRAVO NO RIO

Rafael Ribeiro/Vasco.com.br

Também acompanhe os comentários da rodada dos times cariocas. ESPORTES, PÁG 12.

80 TIROS

Especialistas em segurança pública criticam ação do Exército que fuzilou carro de família e matou músico em Guadalupe. GERAL, PÁG 7.


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GERAL

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RIO DE JANEIRO, 11 A 17 DE ABRIL DE 2019

Vacina da febre amarela pode ser eficiente no combate a Zika

CHARGE | Paulo Batista

A pesquisa, desenvolvida pela Fiocruz em parceira com a UFRJ, está em fase de testes e apresenta resultados promissores JAQUELINE DEISTER

RIO DE JANEIRO (RJ)

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ma descoberta de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pode evitar o desenvolvimento da infecção causada pelo vírus da Zika em humanos. O estudo está em fase de testes e apresenta resultados promissores no campo da ciência. Os pesquisadores estão há três anos trabalhando em uma vacina contra a Zika. Nos últimos dois anos, o grupo passou a estudar a eficácia da vacina da febre amarela no combate ao Zika. O professor do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ (IBqM/UFRJ) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biologia Estrutural e Bioimagem (INBEB), Jerson Lima Silva, explica que o resultado é um esforço coletivo para frear o crescimento dos casos da doença no país. Nesta primeira fase, o estudo usou como cobaias camundongos divididos em dois grupos: os que receberam a vacina com o vírus atenuado da febre amarela e os que receberam apenas uma solução salina, sem nenhum efeito imunológico. No

grupo dos imunocompetentes vacinados, observou-se uma significativa redução da carga viral no cérebro e ausência dos sintomas, em comparação aos não vacinados, que apresentavam perda de peso e alterações neurológicas e motoras. O coordenador da pesquisa explica que nesta segunda fase dos estudos os testes precisam ser realizados em animais maiores como os macacos, pois se aproximam dos humanos e o trabalho acaba sendo mais custoso e pode levar entre dois a cinco anos para ser finalizado. Silva ressalta que sem o apoio e financiamento público da pesquisa seria impossível alcançar os resultados obtidos. Dados do último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde apontam para um aumento dos casos da doença entre os períodos de dezembro de 2018 a março de 2019. As análises comprovaram 2.062 casos prováveis de Zika no país, enquanto, em 2018, no mesmo período, foram registrados 1.908 casos prováveis. De acordo com o levantamento, a região Norte apresentou o maior número de casos prováveis (912 casos; 44,2%) em relação ao total do Brasil. www.brasildefato.com.br brasildefatorio@gmail.com /brasildefatorj @Brasil_de_Fato (21) 99373 4327 (21) 4062 7105

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CONSELHO EDITORIAL Alexania Rossato, Antonio Neiva (in memoriam), Carolina Dias, Igor Barcellos, Joaquín Piñero, Mario Augusto Jakobskind (in memoriam), Rodrigo Marcelino, Vito Giannotti (in memoriam) | EDIÇÃO Mariana Pitasse e Vivian Virissimo | ADMINISTRAÇÃO Angela Bernardino e Erivan Silva | DISTRIBUIÇÃO Carolina Dias | REDAÇÃO Clívia Mesquista, Denise Viola, Eduardo Miranda, Filipe Cabral, Flora Castro, Luiz Ferreira e Jaqueline Deister | DIAGRAMAÇÃO Aline Ranna e Juliana Braga.


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Em meio a possível impeachment, Crivella redistribui cargos

YASUYOSHI CHIBA / AFP

EDUARDO MIRANDA

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discurso de austeridade e os cortes em saúde e educação com o argumento de economia nas contas públicas virou água depois que a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro autorizou, na última semana, a abertura de uma comissão para analisar um pedido de impeachment contra o prefeito Marcelo Crivella (PRB). Dois dias depois, o prefeito do Rio recriou as secretarias de Turismo e de Meio Ambiente. Crivella designou o Partido Progressista (PP) para comandar as duas pastas. O loteamento do PP no governo inclui a nomeação de pelo menos 10 cargos de confiança em cada uma das pastas. Na Câmara, o PP tem dois vereadores, Marcelino D’Almeida, que votou a favor da abertura de processo contra o prefeito, e Vera Lins, que votou pelo arquivamento da denúncia. Ao recriar as secretarias para evitar o impea-

FATOS DA SEMANA Mal chegou, já saiu

» Nesta semana, Jair Bolsonaro anun-

ciou sua substituição do ministro da Educação Ricardo Vélez pelo economista Abraham Weintraub. A troca ministerial, a segunda em três meses de governo, foi anunciada através do Twitter. Há 12 dias, a jornalista Eliane Catanhêde anunciou a demissão do ministro e foi desmentida por Bolsonaro pelas redes sociais. Vélez protagonizou polêmicas e foi alvo de críticas em relação à sua capacidade de gestão. Nas redes sociais, a repercussão foi de que o presidente estava trocando seis por meia dúzia.

O desgaste político do prefeito piorou depois da incapacidade diante das enchentes que deixaram 10 mortos na segunda (8)

RIO DE JANEIRO (RJ)

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Bolsonaro em queda

» Apesar de eleito com 57,7 milhões de vo-

chment, Crivella disse que o apoio do PP é “coisa divina”. “Ele faz isso especialmente com quem eventualmente vota contra ele. Nos últimos dois anos, a prefeitura sempre usou a desculpa de falta de caixa para deixar de investir na saúde, na educação e até deixou de pagar os servidores das clínicas da família”, comentou o vereador Tarcísio Motta (Psol). Como alguns grupos na Câmara interpretam o impeachment não apenas como um processo de caráter técnico, mas também resultado de desgaste político, a percepção é que o cenário para Crivella piorou depois da incapacidade diante das enchentes e desabamentos que deixaram 10 mortos na última segunda-feira (8). PARCIALIDADE

O vereador Reimont (PT) é autor de um requerimento para que o vereador Paulo Messina (PRB) deixe a comissão de três parlamentares que vai analisar a denúncia contra Crivella. Além da falta de isenção por ser do mesmo

partido do prefeito, Messina é secretário da Casa Civil na prefeitura e voltou à Câmara apenas para tentar barrar o pedido de impeachment. A comissão que avalia a denúncia terá 90 dias para elaborar um relatório pedindo o prosseguimento ou o arquivamento do processo. O destino de Crivella, então, será votado, por todos os vereadores da Casa. Na admissão da denúncia, no início de abril, 35 parlamentares votaram pelo impeachment e 14 votaram contra. VOCÊ SABIA

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Na denúncia de um fiscal da Secretaria Municipal de Fazenda, Crivella é acusado de crime de responsabilidade por renovar indevidamente e sem licitação contratos de publicidade com duas empresas, em dezembro do ano passado. O prejuízo gerado aos cofres públicos foi de R$ 20 milhões, segundo o pedido de impeachment.

tos, hoje o presidente tem uma aprovação em queda. Segundo pesquisa Datafolha publicada no último domingo (7), Bolsonaro tem a pior avaliação entre presidentes eleitos para um primeiro mandato desde a redemocratização de 1985. Para 30% dos brasileiros, o governo é ruim ou péssimo. Já para 61% dos ouvidos, o político fez menos do que se esperava no exercício do cargo. Na última semana, Bolsonaro disse a jornalistas que não nasceu para ser presidente. Está se comprovando que não mesmo.

Lula livre!

» De Caetés (PE), cidade-natal de Luiz Inácio Lula da Silva, a São Paulo (SP), Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG) e Rio de Janeiro (RJ), passando por ao menos 16 países e 17 capitais brasileiras, as ruas se encheram, neste domingo (7), de gritos e clamores por justiça e liberdade para o ex-presidente, preso há um ano em Curitiba (PR). Divulgação

Em Curitiba, mais de 10 mil pessoas protestaram


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GERAL

JAQUELINE DEISTER

RIO DE JANEIRO (RJ)

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ez trabalhadores de uma rede de restaurantes no município do Rio de Janeiro foram resgatados por uma operação conjunta do Ministério Público do Trabalho (MPT-RJ), da Superintendência Regional do Trabalho no Rio de Janeiro e da Cáritas Brasileira. Os homens, com idade entre 22 e 40 anos, encontravam-se em situação análoga à escravidão e viviam num alojamento em condições subumanas. De acordo com a procuradora do trabalho Viviann Mattos, que acompanha o caso, a denúncia chegou ao Ministério Público do Trabalho na sexta-feira (31) no final do dia e a equipe do projeto de Combate ao Trabalho Escravo fez a fiscalização do estabelecimento, o Restaurante Imperial, localizado no centro do Rio, na segunda-feira (1). Segundo Matos, no andar superior do local funcionava o alojamento onde os trabalhadores dormiam. O dormitório era sujo, sem ventilação e havia a presença de ratos e baratas. “O alojamento não tinha ventilação era um único cômodo dividido com divisórias, sem nenhum tipo de ventilação. Eles tinham dois banheiros pra atender os trabalhadores e apesar de ter a privada, esses banheiros não tinham descarga. As roupas, pra secar, ficavam penduradas no próprio cômodo, o quarto do trabalhador, tinha um forte odor de mofo”, relata a procuradora.

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RIO DE JANEIRO, 11 A 17 DE ABRIL DE 2019

No Rio, 10 trabalhadores cearenses são resgatados em situação análoga à escravidão No andar superior ao Restaurante Imperial, no centro da cidade, funcionava o alojamento onde os trabalhadores dormiam, sem ventilação e com ratos e baratas Divulgação

VOCÊ SABIA

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Os casos de trabalhadores em situação análoga à escravidão no Rio de Janeiro foram muito frequentes no período das Olimpíadas, em 2016 e da Copa do Mundo, em 2014. As denúncias começaram a retornar há pouco tempo. No último dia 3 de abril a lista suja do trabalho escravo no Brasil foi atualizada com a inclusão de 48 novas empresas. Ao todo, desde que foi criada em 2016, 187 companhias fazem parte do cadastro.

DE SONHO A PESADELO

SEGUNDA VEZ

»Os trabalhadores resgatados eram todos do estado do Ceará e atuavam nos cinco restaurantes dos empresários e irmãos Antônio Pereira de Moura, José Pereira de Moura e Vicente Pereira de Moura de domingo a domingo. Eles tinham apenas meia folga na semana. Além do trabalho sem descanso que funcionava em forma de rodízio, os cearenses tinham os salários descontados para o pagamento do alojamento, uniforme e passagem aérea da sua terra natal para o Rio de Janeiro. “Eles tinham um sistema de fiador. O trabalhador que estava no Rio, virava fiador da passagem daquele que queria vir. O empregador comprava a passagem, mandava pra ele, mas se o trabalhador não quisesse vir, aquele que foi o fiador arcava com o preço da passagem”, detalha.

»Os proprietários do restaurante já haviam sido autuados em 2009. O grupo econômico firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MPT-RJ com o objetivo de melhorar as condições do mesmo espaço em que esses trabalhadores foram encontrados. Devido ao descumprimento da TAC, os irmãos Moura terão que pagar R$ 100 mil que serão destinados a Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro, no âmbito do Projeto Ação Integrada. Com relação aos trabalhadores resgatados, receberam Termos de Rescisão de Contrato do Trabalho e Guias de Seguro-Desemprego de Trabalhador Resgatado foram emitidas. O Fundo de Garantia pelo Tempo de

Serviço (FGTS) foi recolhido em favor dos trabalhadores. Passagens de volta para as cidades de origem foram custeadas pelo empregador. Os restaurantes estão funcionando, porém o alojamento está interditado. O grupo econômico será autuado pelo Ministério da Economia para fazer um novo Termo de Ajustamento de Conduta para adequar o estabelecimento. Além disso, o Ministério Público Federal (MPF) entrará no caso para avaliar se a prática configura o artigo 149 do Código penal que diz respeito ao trabalho análogo à escravidão. O Brasil de Fato contatou o Restaurante Imperial para um posicionamento acerca da denúncia, mas não conseguiu retorno.


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CHUVAS NO RIO:

sobreviventes contam como foram afetados pelo temporal

A Prefeitura do Rio ainda não divulgou um balanço sobre quantas pessoas ficaram desabrigadas após a chuva de segunda (8) Agência Brasil

CLÍVIA MESQUITA

RIO DE JANEIRO (RJ)

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oradora há 36 anos da Favela de Antares, zona oeste do Rio de Janeiro, Isabel Pereira não podia imaginar que o temporal da última segunda-feira (8) fosse inundar e causar tantos estragos em sua casa no bairro de Santa Cruz. “Foi inexplicável, já teve chuvas piores e isso nunca aconteceu. Saí daqui com a água abaixo do meu peito, fiquei nervosa, só consegui tirar algumas peças de roupa das minhas crianças”, descreve Isabel, mãe de três filhos pequenos. Na comunidade vizinha, conhecida como Pedrinhas, onde o irmão da dona de casa mora, o prejuízo também foi grande. Os moradores perderam móveis, eletrodomésticos, roupas. Tiveram que deixar tudo para trás. “A água estava no pescoço do meu irmão de quase 2 metros, foi tudo para o lixo”, disse. Em fevereiro, quando a chuva também castigou a cidade do Rio e deixou ao menos seis mortos, nenhuma casa da região foi alagada. Desta vez, a enchente fez três vítimas fatais na zona oeste, Reginaldo da Silva que morreu afogado em Antares, um homem ainda não identificado no bairro Jardim Maravilha, em Guaratiba, e o vendedor Leandro Pereira Ramos, eletrocutado, também em Santa Cruz.

Legenda da 5: O temporal deixou 10 pessoas mortas e diversos bairros alagados

VÍTIMAS

»A estimativa oficial é de que a chuva de segunda-feira (8) deixou 10 pes-

soas mortas na zona sul e oeste do Rio. Mais de 780 pontos do município ficaram sem energia e diversos bairros completamente alagados. Até o fechamento desta reportagem, a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos da Prefeitura do Rio ainda não tinha um balanço sobre quantas pessoas ficaram desabrigadas após a chuva. Na Favela de Acari, zona norte do Rio, ainda há moradores sem luz. A comunidade se organiza como pode para receber doações de alimentos, produtos de higiene, colchões e cobertores. “Tem pessoas que já estão em estado difícil, muita gente desempregada, sofrendo e ainda perde o pouco que resta. Quase todo ano temos problema com enchente”, ressalta Luciana de Jesus França, moradora e dona de casa que faz parte da rede de solidariedade aos atingidos pela chuva em Acari. Nem os animais escaparam da enchente. A ONG Focinhos de Luz, em Sepetiba, zona oeste, que resgata animais de rua há oito anos, teve que retirar uma parte dos cerca de 100 cães e gatos às pressas. “Só tivemos noção [do alagamento] na terça de manhã. A questão dos animais abandonados é de saúde pública”, declara Cláudia Abreu, membro da ONG.

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MUTIRÕES

»Na

Favela da Rocinha, zona sul, muitos moradores ainda não superaram as perdas causadas pelo temporal de fevereiro que resultou na morte de uma pessoa. Há registro de deslizamentos de terra e lixo acumulado nas vias, o que agravou ainda mais os alagamentos. A comunidade também organizou mutirões para ajudar as famílias a limparem suas casas da lama. As doações estão concentradas na Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem e na Igreja Batista. “As sirenes de emergência tocaram atrasadas, dos pontos de apoio que deviam ser de acolhimento das pessoas que moram em área de risco alguns nem funcionam mais. As famílias não confiam em nenhum lugar para ir”, relata Gabriel Rolemberg, integrante d Brigadas Populares que atua na Rocinha desde fevereiro. Na última quarta-feira (10) aconteceu uma reunião de moradores na Rocinha para recolher reclamações e denúncias sobre as enchentes e depois apresentar à Comissão Parlamentar de Inquérito ( CPI) que vai apurar as circunstâncias e consequências sociais dos temporais no Rio de Janeiro. Divulgação


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GERAL

REDAÇÃO

RIO DE JANEIRO (RJ)

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a última semana, uma reunião da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados tomou os holofotes. Essa era a segunda oportunidade para que o ministro da Economia Paulo Guedes defendesse a reforma da Previdência. Mas, durante as seis horas de audiência, o ministro usou de ironia e sarcasmo para responder as perguntas de parlamentares da oposição. Quando o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) tomou a palavra, cobrou estudos técnicos sobre o projeto e acusou o governista de ser um “tigrão” com os idosos, agricultores e mais pobres, mas “tchutchuca” com os privilegiados do país. Em resposta, o ministro se irritou, afirmou que “tchutchuca é a mãe, é sua avó” e abandonou a audiência pública em meio a gritaria e troca de ofensas entre deputados da situação e oposição. Os ânimos acirrados fizeram com que o presidente da CCJC, Felipe Franscischini (PSL-PR), encerrasse a reunião. O Brasil de Fato destacou alguns dos setores que continuam sendo privilegiados com a proposta de reforma da Previdência de Paulo Guedes. Confira:

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Divulgação

ENTENDA QUEM SÃO OS “TCHUTCHUCOS” DE PAULO GUEDES O Brasil de Fato destacou alguns dos setores que continuam sendo privilegiados com a proposta de reforma da Previdência

Bancos e empresas

»No discurso, Bolsonaro e Guedes afirmam que a reforma acaba com os privilégios e reequilibra as contas do governo. Mas na prática não é assim. O relatório final da CPI da Previdência mostra que empresas privadas devem cerca de R$ 450 bilhões à previdência, dentre elas a JBS, o Bradesco, Lojas Americanas e a Vale. Estima-se que somente R$ 175 bilhões são recuperáveis. Isto é, as empresas devem, dão calote e são os trabalhadores que pagam a conta. Além disso, a proposta acaba com o sistema de repartição solidária com três fontes de arrecadação (governo, empresas e trabalhadores) para o modelo de capitalização individual. A gestão das contribuições fica na mão dos bancos, que vão cobrar taxa de administração. A única fonte de recursos será a contribuição dos trabalhadores.

Militares

»Ao contrário dos outros trabalhadores, que só perdem

com as novas regras, os militares ganham um “aumento” para que sua aposentadoria mude com a reforma da Previdência. Pelas novas regras, teriam uma “reforma” na carreira com aumentos que custariam R$ 86,85 bilhões em 10 anos para o governo. E haveria uma “economia” de R$ 97,3 bilhões, com saldo de cerca de R$ 1 bilhão por ano. Hoje, os militares já são os funcionários públicos mais privilegiados. Por exemplo, não contribuem sobre seus salários para a aposentadoria, apenas para a parte de pensões. Não à toa, representam hoje metade dos gastos da Previdência entre o funcionalismo público, embora sejam apenas 31% do total de funcionários.

Parlamentares »O que existe de privilégio na aposentadoria hoje está di-

retamente relacionado aos privilégios já existentes na ativa: algumas carreiras de servidores federais, no Judiciário, no Legislativo, além dos militares. Esses setores não foram sequer mencionados nas propostas vazadas até agora pelo governo de Jair Bolsonaro para a reforma da Previdência. As médias dos valores de aposentadoria no setor público em 2016 é também exemplo de distorção. Os servidores de prefeituras recebem entre R$ 2.500 e R$ 3.000. Os estaduais, R$ 5.000. Federais civis, em média R$ 10 mil. No Legislativo em torno de R$ 15.000. E no Judiciário, R$ 16.000.

Juízes »A

proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo Jair Bolsonaro (PSL), com a justificativa de salvar o equilíbrio da conta da Previdência Social, sacrificando de um lado a contribuição e do outro a aposentadoria de milhões de trabalhadores, deixa na sombra e água fresca os juízes, os magistrados e os membros do Ministério Público que recebem supersalários. Na prática, a contribuição dos juízes acaba sendo menor que a do comum dos trabalhadores porque o cálculo não leva em conta as bonificações, os “direitos eventuais” e as gratificações. Uma distorção que é mantida na proposta de reforma apresentada pelo governo.


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EDUARDO MIRANDA

RIO DE JANEIRO (RJ)

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ação do Exército em Guadalupe, zona oeste do Rio de Janeiro, no último domingo (7), quando militares atingiram com 80 tiros um carro em que estava uma família não é uma exceção e faz parte de uma política de extermínio do país, segundo o delegado da Polícia Civil e doutor em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Orlando Zaccone. Em conversa com o Brasil de Fato, o especialista em segurança pública disse que a sociedade e a mídia voltarem todas as atenções para a punição dos culpados desvia o foco do problema real e bem mais abrangente que o fato. Zaccone afirma que em nenhuma hipótese esses disparos poderiam ter sido realizados. “Estamos desviando o foco do real problema. Se só falarmos de punição de militares que mataram inocentes, então estamos justificando que essa ação poderia ter sido realizada se o Exército tivesse constatado que havia criminosos no carro. Quem matou em Guadalupe foi um poder jurídico político midiático hegemônico em nosso país”, comentou Zaccone.

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ESPECIALISTAS CRITICAM AÇÃO DO EXÉRCITO QUE FUZILOU CARRO DE FAMÍLIA COM 80 TIROS

Apuração deve ir além das prisões e inclui esclarecimentos sobre quem deu a ordem na hierarquia, defendem pesquisadores Tânia Rego/ Agência Brasil

No carro, junto o músico assassinado Evaldo Rosa dos Santos, estava sua família

Responsabilidades

»Também gerou controvérsia a nota emitida pelo Comando Militar do Leste (CML) de

que os militares realizavam patrulhamento regular no perímetro de segurança da Vila Militar, em Deodoro. Para a antropóloga, cientista política e especialista em segurança pública, professora Jacqueline Muniz, há muitas perguntas que não foram respondidas pelo Exército em seu comunicado. “Onde está o mandato autorizativo que permite integrantes do Exército atuarem como polícia? Que alegado perímetro de segurança é esse, de onde até onde? Onde está a doutrina de uso de força usada e sua base normativa? E o procedimento operacional adotado e sua legalidade? E a missão dada e o relatório operacional escritos? Queremos, também, a divulgação da cadeia de comando militar que planejou e executou a ação e sua responsabilidade pública”, enumerou Muniz.

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JUSTIÇA PARCIAL »Coordenadora

do Observatório da Intervenção, a pesquisadora Silvia Ramos também defendeu que a prisão de agentes nesta segunda-feira (8) está longe de ser uma resolução para o caso. Ela lembrou da mudança legislativa assinada em 2017 pelo então ministro Raul Jungmann, na gestão de Michel Temer (MDB), determinando que casos que envolvam militares em serviço serão julgados pela Justiça Militar, e não pela justiça comum. “O agravante é que o caso vai para a Justiça Militar. Sabemos que aqui no Rio de Janeiro esse Tribunal é extremamente corporativo, parcial e tende com muita frequência a defender seus membros e ser injusto com os civis. Vimos isso em agosto, durante a intervenção militar, quando cinco pessoas morreram no Chapadão e três foram torturadas nas dependências do Exército. Há farta documentação sobre isso no Ministério Público, mas a investigação está com a Justiça Militar, que nada fez”, argumentou Ramos. Na ação de domingo, os militares mataram o músico Evaldo Rosa dos Santos, de 51 anos. No carro, junto com ele, estavam sua mulher, o filho de sete anos, uma amiga da família e o sogro. O caso gerou muita revolta nas redes sociais. Durante todo o dia, os termos “Oitenta tiros” e “Exército” apareciam entre os assuntos mais comentados do Twitter em todo o Brasil.


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GERAL Fotos Pablo Vergara

Iniciativa leva alimentos sem veneno a famílias em Maricá (RJ) »No município de Maricá, na

Light e Enel fornecem energia para cerca de 17 milhões de domicílios

CPI VAI INVESTIGAR AUMENTO DE TARIFA DA ENERGIA ELÉTRICA NO RIO

Concessionárias Light e Enel (antiga Ampla) serão alvo de investigação na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) EDUARDO MIRANDA

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RIO DE JANEIRO (RJ)

aumento nas contas de luz e as reclamações da população contra as concessionárias de energia Light e Enel (antiga Ampla) serão alvo de investigação na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da energia elétrica, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Os deputados da comissão vão ouvir o Ministério Público, a Defensoria Pública, as concessionárias, clientes e movimentos populares, como a Federação das Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj). Segundo a presidente da CPI, deputada Rosângela Zeidan (PT), o anúncio sobre o aumento entre 9% e 11% nas contas e o volume de reclama-

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ções relatadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) foram algumas das razões para a abertura da investigação. “Temos reclamações de todas as regiões, elas [as empresas] trabalham com terceirizadas. Em algumas dessas regiões, a cobrança ainda é por estimativa. Já aprovamos na Alerj uma lei que proíbe a cobrança por estimativa. Como usuários, nos sentimos lesados quando não podemos ter a comprovação do gasto da energia que utilizamos”, aponta Zeidan. Morador da comunidade Tavares Bastos, no Catete, na zona sul do Rio, o taxista Davi Trajano reclama de um poste na rua onde mora, a Cruzeiro do Sul, que já está há quase dois anos com risco de queda. Segundo ele, um engenheiro cre-

denciado esteve no local há três meses e disse que o problema seria solucionado, mas a companhia nunca mais retornou. “A Light deixa muito a desejar, temos um poste caindo há dois anos, mas até hoje nada foi feito, não vieram resolver o problema”, disse.

VOCÊ SABIA

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A Light atende a 32 municípios, incluindo a capital fluminense, e fornece energia para cerca de 11 milhões de consumidores. Já a Enel está em 66 municípios, em regiões como a Grande Niterói, a Região dos Lagos e o Norte Fluminense, e tem seis milhões de consumidores.

região metropolitana do Rio de Janeiro, uma parceria entre a prefeitura e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem proporcionado a várias famílias o direito à alimentação saudável. A Cooperar, uma cooperativa de trabalho em assessoria e empresas sociais em assentamentos de reforma agrária, mantém um convênio com a cidade que permite aos moradores de Maricá cultivar os próprios alimentos e até mesmo comercializá-los, gerando assim uma fonte de renda para jovens e adultos. A iniciativa, que ocorre no bairro Manu Manuela, também atua em conjunto com outros programas da prefeitura, como as hortas comunitárias e hortas escolares. "O objetivo desse projeto é

fomentar o desenvolvimento local a partir da agroecologia”, relatou a agrônoma e técnica da Cooperar, Joana Duboc Bastos. Aqueles que quiserem conhecer a experiência podem entrar em contato com o e-mail joanaduboc@gmail.com e agendar uma visita.

Projeto incentiva produção de alimentos agroecológicos

HISTÓRIA

Conheça Manoel Bomfim, intelectual rebelde do início do século XX »Você já ouviu falar de Manoel

Bonfim? A importância da vida e obra deste pensador para o entendimento das bases da sociedade brasileira e a compreensão da relação do país com a América Latina é grande, porém pouco conhecida. Considerado um dos intelectuais mais importantes para a constituição do pensamento social brasileiro, o autor ainda é desconhecido por grande parte do país. Foi com esse espírito que o cineasta, escritor e poeta argentino-brasileiro Carlos Pronzato idealizou o documentário “Por que não se fala em Manoel Bomfim?” Manoel Bomfim nasceu

em 1868 na capital de Sergipe, Aracaju, e além de médico, psicólogo, professor, sociólogo e pedagogo, ele é autor da obra “América Latina: Males de Origem”, livro que mais tarde é resgatado por figuras como Darcy Ribeiro nos anos de 1980. “Bomfim é pioneiro de uma visão que está presente em livros que vieram depois, como Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda e os livros de Gilberto Freire", disse Pronzato. O documentário será lançado em Aracaju, terra natal de Bomfim, e tem sua primeira exibição marcada para o dia 16 de abril.


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MUNDO

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AMÉRICA CALIENTE

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JOAQUÍN PIÑERO

Haiti à beira de um colapso humanitário

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poder de influência dos grandes meios de comunicação empresariais faz o mundo crer que é na Venezuela que existe o mais grave problema humanitário da região. Só não dizem que o foco é para desestabilizar a Venezuela por conta dos interesses dos Estados Unidos (EUA) no petróleo do país. Mas não muito distante da Venezuela existe um país que sangra diariamente diante de um problema que se arrasta durante séculos. O drama da fome, da pobreza, das doenças epidêmicas, da falta de recursos energéticos, das catástrofes naturais e da imposição estadunidense nos destinos políticos fazem do Haiti um país à beira de um colapso humanitário. Com uma população de 10 milhões de habitantes e um território pouco menor que o estado de Alagoas, o Haiti é hoje a nação mais pobre do continente americano. Cerca de 56% da população está abaixo da linha da pobreza absoluta; uma expectativa de vida de 58,1 anos; 39% de analfabetismo; 49% de crianças

Hector Retamal/AFP

Revoltas populares já derrubaram o primeiro ministro no Haiti

sem escolarização; 75% da população sem acesso à água potável. Mas não foi sempre assim. No século XVIII, o Haiti, então chamado de Saint-Domingue, era a mais próspera colônia da França nas Américas. Em 1804, triunfou a primeira revolução de escravos da história derrotando o exército de Napoleão, se transformando na segunda república depois dos EUA e pondo fim ao regime de escravidão, quase um século antes do Brasil. As potências imperiais da época AFP

CARIBE

Cuba proclama nova Constituição do país »A Assembleia Nacional de Cuba proclamou nesta quarta-feira (10), em Havana, a nova Constituição do país. O texto reconhece a propriedade privada em um papel "complementar na economia", o enriquecimento individual, a liberdade de imprensa e o Estado laico. Além disso, o documento garante a presunção de inocência em processos, proíbe a discriminação de pessoas LGBT e cria o cargo de primeiro-ministro como chefe de governo, o presidente permanecerá como chefe de Estado.

não perdoaram a ousadia revolucionária haitiana. Impuseram um cerco marítimo à ilha, isolando-a do resto do mundo. A França obrigou o Haiti a pagar uma indenização de 150 milhões de francos. Essa “dívida” equivalente a dez vezes a renda anual do Haiti, foi sendo paga a partir de empréstimos a juros exorbitantes de bancos franceses e é a base da chamada dívida da independência. Desde então, o país jamais se recuperou. Os Estados Unidos invadiram a ilha com 20 mil marines

em 1925 e lá permaneceram até 1934. Os 21 anos de ocupação estadunidense criaram um Estado totalmente dependente e um Exército que obedecia às ordens que vinham diretamente do Departamento de Estado em Washington. Os EUA ainda apoiaram a ditadura de François Duvalier que durou 29 anos e deixou o país destruído. Atualmente o Haiti arde outra vez em chamas. As revoltas populares contra a corrupção, o aumento da inflação, a fome e o desemprego já derrubaram o primeiro ministro e colocaram na mira o atual presidente Jovenel Moïse. Os movimentos sociais envolvidos nesse levante acreditam que é preciso desenvolver laços de trabalho e aproximação com outros setores da sociedade para se chegar a um projeto nacional viável, crível e mobilizador, que apresente uma alternativa real para o povo. Um projeto anti-imperialista, de liberação nacional, de afirmação da identidade caribenha e nacional contra todo tipo de dominação, exploração e manipulação. AFP

ARGENTINA

Avós da Praça de Maio anunciam identificação da neta 129 »As Avós da Praça de Maio, grupo ar-

Nova Constituição de Cuba não muda a regra de partido único

A nova Constituição não muda a regra de partido único e mantém o monopólio do Estado na posse de terras.

gentino que luta para encontrar parentes que desapareceram nas mãos dos militares durante a ditadura do país (19761983), anunciaram nesta terça-feira (9) a localização da neta de número 129. A neta foi encontrada na Espanha e exames de DNA confirmaram o parentesco com o pai e o irmão, que a procuravam “intensamente”, segundo as avós. De acordo com estimativas da ONG, durante o regime militar, as autoridades se apro-

Ditadura militar na Argentina se apropriou de 500 bebês

priaram de pelo menos 500 bebês, muitos deles nascidos em centros de torturas, hospitais militares e delegacias.


10 CULTURA & LAZER CLÍVIA MESQUITA

RIO DE JANEIRO (RJ)

O

primeiro contato com a obra da escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977) no mestrado em Literatura Brasileira na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) foi o pontapé para Miriane Peregrino, 38, iniciar um projeto de incentivo à leitura no Museu da Maré em 2013, o “Literatura Comunica!”. Desde então, jovens de diversas comunidades do Conjunto de Favelas na zona norte do Rio de Janeiro passaram a conhecer a figura de uma mulher negra, pobre, favelada, com três filhos pequenos e catadora de papel que ficou famosa por seus escritos sobre a dura rotina marcada pela fome na favela do Canindé, em São Paulo, nos anos 1950. “Desde o primeiro momento me encantei pela história da Carolina. Pela força que ela sempre teve e porque eu via muitas mulheres da favela nela. Cada relato era um aprendizado e um choque de realidade”, conta

RJ

RIO DE JANEIRO, 11 A 17 DE ABRIL DE 2019

OFICINA DE LEITURA SOBRE CAROLINA DE JESUS APROXIMA MARÉ (RJ), MOÇAMBIQUE E ANGOLA Fotos Arquivos

Carolina Maria de Jesus ficou famosa por seus escritos sobre a dura rotina marcada pela fome na favela do Canindé

a estudante de jornalismo e bolsista do projeto Raíza Barros, 22, moradora da Maré. A exposição “Da Maré ao Canindé, inspiração para as periferias”, lança-

da em comemoração ao centenário da autora em 2014, é resultado da leitura em roda de obras como “Quarto de Despejo: diário de uma favelada (1960)” e “Casa de Alve-

naria: diário de uma ex-favelada (1961)”. A montagem relaciona passagens dos livros sobre direito à moradia, fome, racismo, educação, abastecimento de água, política

e reforma agrária com fotografias atuais da Maré. CONEXÃO Por conta de uma oportunidade de intercâmbio no doutorado, a coordenadora do projeto “Literatura Comunica!” viajou para Angola em 2018 e repetiu a dinâmica das rodas de leitura na capital Luanda e depois em Maputo, Moçambique. Nos países africanos de língua portuguesa, ela se deparou com a atualidade da literatura de Carolina Maria de Jesus. “A desigualdade social, infraestrutura, saneamento básico, abastecimento de água, luz, são aspectos que a Carolina traz no livro de uma favela no Brasil nos anos 50 que em Luanda ainda é atual. Em Moçambique foi a mesma relação, as pessoas se identificaram muito”, declara Miriane. Divulgação

ALIMENTO É SAÚDE

ORA-PRO-NÓBIS: CONHEÇA A CARNE DOS POBRES »A ora-pro-nóbis é considerada

uma planta alimentícia não convencional (PANC). E apesar de ser um vegetal tão rico para a saúde, poucas pessoas conhecem e consomem. Ele faz parte da refeição de muitos mineiros, mas na maioria do Brasil, é apenas usado para decoração de muros, deixando de ser aproveitada em saladas, sucos ou refogados. A

flor e os frutos da ora-pro-nóbis também são comestíveis e bem fáceis de plantar. Antigamente ela era usada para substituir a carne e, por isso, foi apelidada de carne dos pobres. “Ela é riquíssima em termos nutricionais, tem bastante proteína, lipídio, cálcio, fósforo, ferro, vitamina C, fibra. A ora-pro-nóbis é usada em várias receitas,

o pessoal usa em refogados, sopas, mexidos, omelete e pode ser consumida crua, em salada”, explica o biólogo Rafael Sposito. Uma publicação do Ministério da Saúde de 2005, intitulada Alimentos Regionais Brasileiros mostra a tabela de valor nutricional com opções de receitas utilizando a ora-pro-nóbis. A publicação está disponível online, gratuitamente.

Além de ornamental, a planta é rica em proteína e muito nutritiva


HORÓSCOPO

TOURO

20/04 a 20/05

GÊMEOS

21/05 a 21/06

CÂNCER

22/06 a 22/07

LEÃO

23/07 a 22/08

VIRGEM

23/08 a 22/09

LIBRA

23/09 a 22/10

ESCORPIÃO

23/10 a 21/11

SAGITÁRIO

22/11 a 21/12

Coloque seu foco nos elementos práticos e nas interações com as pessoas.

PEIXES

19/02 a 20/03

“Ariano o Cavalheiro Sertanejo”, do grupo Os Ciclomáticos, terá últimas apresentações nesta semana. O espetáculo homenageia o autor Ariano Suassuna. Onde? Teatro Dulcina, Rua Alcindo Guanabara, 17 – Centro. (21) 2240 4879. Quando? Quinta (11), sábado (13) e domingo (14), às 19h. Quanto? R$30 e R$ 15

Você sabe que é preciso mudar e fomentar as ações, portanto tenha agilidade.

Reveja quem são as pessoas com quem convive para evitar quem lhe prejudica. Para você ficar mais produtivo no trabalho é preciso estar em contato com os colegas. Pratique o que aprendeu, já que a maturidade lhe ajudou a resolver problemas. Mova-se da zona de conforto, convide o novo, expanda sua mente.

Use sua forte energia sexual para beneficiar o romance. Revigore a intimidade.

Coloque a rotina em primeiro lugar, bem como as relações, o que exige harmonia.

devem servir às carências dos assuntos da rotina.

20/01 a 18/02

»O quê? A peça

Preze pela colaboração e pela alegria. Se empenhe na resolução de problemas.

CAPRICÓRNIO As interações com as pessoas 22/12 a 19/01

AQUÁRIO

#ARIANO SUASSUNA

Cultive sua capacidade de equalizar as necessidades do lar com as sociais.

Use o conhecimento que chega até você para aprimorar seu dia a dia.

#EDUARDO COUTINHO

Divulgação

21/03 a 19/04

AGENDA

»O quê? Exibição do

documentário “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho. Filme que narra a vida de João Pedro Teixeira, líder das Ligas Camponeses, será comentado pela professora Leonilde Medeiros (CPDA - UFRJ). Onde? Raízes do Brasil, Rua Áurea, 80 – Santa Teresa. Quando? Quinta-feira (11), às 18h. Quanto? Grátis

#FESTIVAL

»O quê? Em sua 24ª edição, o Festival É Tudo Verdade exibe

Fotos Reprodução

ÁRIES

11

CULTURA & LAZER

RIO DE JANEIRO, 11 A 17 DE ABRIL DE 2019

Zayra Lisboa

RJ

gratuitamente 66 filmes premiados. Esse é o principal evento dedicado a documentários no país. Um dos destaques é o filme “Dorival Caymmi: Um Homem de Afetos”. Onde? Estação Net Botafogo, Rua Voluntários da Pátria, 88 – Botafogo, e no Instituto Moreira Salles, R. Marquês de São Vicente, 476 - Gávea. Quando? Até 14 de abril. Quanto? Grátis

#BELCHIOR

»O quê? Um dos mais notáveis

compositores da história da MPB, Belchior terá sua história e filosofia exaltadas nos palcos na peça “Belchior: Ano Passado eu Morri, mas este Ano eu Não Morro – O Musical”. Onde? Teatro João Caetano, Praça Tiradentes, s/n°. Quando? Sextas e sábados, às 19h, domingos, às 18h. Até 28/4. Quanto? R$40 e R$20.


12 ESPORTES PAPO ESPORTIVO

LUIZ FERREIRA

OS 95 ANOS DA “RESPOSTA HISTÓRICA” DO VASCO

Rafael Ribeiro / Vasco

VASCO

»O que impor-

ta é a classificação na Copa do Brasil. Mas o Vasco fez mais uma partida horrorosa. Chegou a doer nos olhos.

T

Lucas Merçon / Fluminense

FLUMINENSE

Alexandre Vidal / Flamengo

»O Fluminense fez o suficiente. Fez dois gols no segundo tempo e não deu chances ao Luverdense. Mas o time pode jogar mais que isso.

FLAMENGO

»O Flamengo precisa vencer o San José. Sem meio termo e sem desculpas. É isso ou praticamente jogar a Libertadores no lixo. Reprodução

odo mundo sabe que o Club de Regatas Vasco da Gama é um dos gigantes do futebol brasileiro. Mesmo tendo passado por dificuldades nos últimos anos (incluindo três rebaixamentos para a Série B), o Trem Bala da Colina já conquistou quase tudo que disputou ao longo desses mais de 120 anos de vida. Poderíamos ficar uma semana falando dos grandes títulos do Vasco. Mas nenhum título é tão simbólico e tão importante como a chamada “Resposta Histórica”. Essa história começa no início dos anos 1920, num tempo em que o velho e rude esporte bretão era dominado pelas elites e pelos “rapazes bem-nascidos”. Sem a mesma tradição dos times da Zona Sul no então nascente Campeonato Carioca, o Vasco adotou a estratégia de montar elencos com jogadores das classes sociais menos favorecidas. Foi assim que o Vasco foi campeão da Segunda Divisão em 1922 e assegurou o direito de disputar a primeira divisão no ano seguinte. Mantendo a base da temporada anterior, o Vasco conquistou 11 vitórias em 14 partidas e levou o título do campeonato organizado pela Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (a LMDT). Os outros clubes, no entanto, incomodados pela ascensão do clube da Colina Histórica, decidiram criar uma nova liga, a Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (a AMEA). Esses mesmos clubes exigiram a exclusão de 12 jogadores do plantel vascaíno que, segundo eles, não apresentavam “condições sociais apropriadas para o convívio esportivo”. Pois é… Vocês tão pensando que o Vasco abaixou a cabeça? Nada! No dia 7 de abril de 1924, a diretoria cruzmaltina desistiu de integrar a recém-criada AMEA e endereçou carta à liga esclarecendo que rechaçava a ordem de abrir mão de jogadores negros e pobres. Um dos trechos da carta assinada pelo então presidente José Augusto Prestes diz o seguinte: “O ato público que pode maculá-los nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias”. O Vasco via sua popularidade aumentar junto às camadas mais pobres, lotava estádios e voltou a se sagrar campeão do torneio regido pela LMDT em 1924. Não por acaso, a AMEA resolveu admitir o Vasco em 1925 depois de tanto sucesso junto ao povo. O clube da Colina Histórica não foi o primeiro a contar com negros no seu elenco, mas foi o responsável por quebrar barreiras no futebol brasileiro. Teve o primeiro presidente negro (Cândido José de Araújo, que ficou no cargo entre os anos de 1904 e 1906) e abriu as portas do velho e rude esporte bretão para os menos favorecidos sem se preocupar com classe social ou a etnia dos seus atletas. Num tempo em que temos que defender o óbvio, o exemplo do Vasco deve ser exaltado e disseminado. Ainda mais quando o racismo descarado vem disfarçado de “incidente”.

(21) 993734327

RJ

RIO DE JANEIRO, 11 A 17 DE ABRIL DE 2019

BOTAFOGO

»O mesmo deve que

ser dito do Botafogo. Uma eliminação na Copa do Brasil diante do Juventude pode ser terrível.

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