Brasil de Fato PR - Edição 305

Page 1

Brasil | p. 5

De caçador de marajá a delator

Cidades | p. 6

Câmara de Curitiba analisa prioridades para 2024

Próximos passos dependem de propostas

Editorial | p. 2

MST, essa luta é para valer

Mesmo com CPI, movimento reforça suas bandeiras

Recursos e oferta de terras são questões do Minha Casa, Minha Vida Cidades | p. 4
Esportes | p. 8 Não para o racismo no futebol Vereadores propõem paralisar partidas em caso de ofensas Cultura | p. 7 Reconstrução da democracia Livro analisa eleições e formação do governo Lula Lucas Figueiredo | CBF Divulgação Ano 7 Edição 305 15 a 21 de junho de 2023 distribuição gratuita www.brasildefatopr.com.br PARANÁ
Construção de casas populares
Pra onde vai Dallagnol?
financeiras
Opinião | p. 2
Pra onde vai o dinheiro
Quem é Tony Garcia, que assombra Moro e outros membros da Lava Jato Reprodução Giorgia Prates

MST é cada vez mais necessário para a democracia, reforma agrária e direitos sociais

Como tentativa de criminalizar as lutas sociais por terra, pão e justiça e dar palco à bancada ruralista da Câmara dos Deputados, a CPI do MST afunda em ódio e fake news no Congresso Nacional. Em vez de focar nos verdadeiros responsáveis pelo desmatamento, grilagem de terras e contaminação ambiental, a CPI direciona suas investigações de forma questionável

e controversa. O relator, Ricardo Salles, foi eleito pelos movimentos ambientalistas como um dos piores ministros do Meio Ambiente no Brasil, por deixar “passar a boiada” para beneficiar desmatadores e grileiros e, durante a CPI, chegou a orientar testemunhas, evidenciando parcialidade e direcionamento nas supostas investigações.

Essa não é a primeira vez que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) enfrenta uma CPI. Pela quinta vez, o movimento continua a mostrar sua legitimidade e organização em prol da democracia e da reforma agrária, buscando a distribuição de terras para a produção de alimentos saudáveis, o que é fundamental para a segurança alimentar e nutricional do povo brasileiro.

Se não houvesse o MST, talvez fosse ainda pior a irrisória parcela de 1% de proprietários a deter mais de 50% das terras agrícolas brasileiras. Esse movimento popular é vital para a soberania, para a democracia e para a efetivação dos direitos sociais e fundamentais no país.

EXPEDIENTE

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná Esta é a edição 305 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORAM NESTA EDIÇÃO Altamiro Borges e Guilherme Uchimura ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Juliana Santos DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail.com

REDES SOCIAIS /bdfpr @brasildefatopr

Agora é sua vez! Entre em contato por e-mail ou pelas redes sociais, comente uma de nossas matérias e apareça aqui no BdF impresso

FALA POVO

Deltan Dallagnol é aconselhado a fugir do Brasil

opinião

Altamiro Borges, Jornalista do Blog do Miro e integrante do Centro de Estudos Barão de Itararé

Cassado por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), abandonado por seus pares na Câmara Federal e rejeitado pelas ruas – com manifestações pífias de solidariedade –, o ex-deputado Deltan Dallagnol agora é aconselhado a fugir do Brasil. Quem sugeriu foi seu amigo “pastor” e parlamentar Marco Feliciano (PL-SP), que ficou comovido após assistir a um vídeo deprimente do procurador do “powerpoint na Lava-Jato”.

No vídeo, Deltan critica a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que, no dia 7, rejeitou seu recurso contra decisão do Tribunal de Contas da União.

O TCU o havia condenado pelo pagamento de diárias, passagens e gratificações à força-tarefa da Lava-Jato no Paraná. O prejuízo foi calculado em R$ 2,8 milhões. O ex -herói da mídia golpista terá agora que devolver essa grana aos cofres públicos.

Apesar do conselho, o deputado cassado ainda não decidiu se vai fugir. Segundo postagem de Juliana Dal Piva no site UOL, “Deltan Dallagnol (Podemos-PR) avalia convites de empresários e ainda duas propostas de partidos políticos. O Podemos ofereceu uma função remunerada no partido. Outro partido também fez uma proposta para troca de legenda que incluiu uma oferta de salário igual ao que ele recebia como deputado e ainda a manutenção de sua equipe... A questão central para a Deltan é financeira e deve ser determinante na escolha pelos próximos passos”.

O ex-chefão da Lava-Jato “gosta muito de dinheiro”, como afirmou recentemente o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre os integrantes daquela midiática operação. A ambição resultou em várias ações custosas para os cofres públicos. Daí a decisão do STJ, por seis votos a cinco, de manter a condenação de Dallagnol no TCU e obrigá-lo a ressarcir os valores gastos indevidamente com diárias e passagens aéreas quando atuava na força-tarefa da Lava-Jato.

Paraná, 15 a 21 de junho de 2023 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
2 Opinião SEMANA editorial
Joka Madruga

QUE DIREITO É ESSE?

Prêmio empodera mulheres de sucesso

Dar visibilidade ao trabalho das mulheres e buscar equidade salarial e de cargos. Estes são alguns dos objetivos do Prêmio Enedina Alves Marques, oferecido pelo CREA-PR. Em 19 de junho, além de apontar pro ssionais de sucesso em seus campos de atuação, o evento destacará a organização das trabalhadoras num ambiente majoritariamente masculino, a engenharia.

Segundo a organização, “as indicações são de mulheres que, assim como Enedina Marques, estão fazendo história em suas pro ssões”. Enedina foi a primeira mulher diplomada em Engenharia Civil no Sul do Brasil, no ano de 1945. Negra, sua formatura foi marcada como uma curiosidade por ter conseguido transpor um espaço hegemonicamente masculino e branco.

Para a premiação, foi indicada uma pro ssional de cada uma das Câmaras Especializadas do Crea-PR (Agronomia; Agrimensura e Engenharia de Segurança do Trabalho; Engenharia Civil; Engenharia Elétrica; Engenharia Mecânica e Metalúrgica; Engenharia Química, Geologia e Minas).

Para a Presidência do CREA-PR, “esse prêmio vem para colaborar no reconhecimento do que há anos as mulheres vêm trilhando. Ainda temos muitos problemas a serem corrigidos, mas, assim como Enedina, que era uma estrela além do tempo e provou que é possível, vocês, também são estrelas além do tempo”, disse Ricardo Rocha.

“O absurdo perde a modéstia”

A deputada federal Erika Kokai (PT) usou a frase do dramaturgo Nelson Rodrigues em pronunciamento na Câmara para denunciar o pedido de cassação de seu mandato e das deputadas do Psol Célia Xakriabá (MG), Fernanda Melchionna (RS), Sâmia Bom m (SP) e Talíria Petrone (RJ), além da petista Juliana Cardoso (SP). O pedido está circulando em tempo recorde, numa tentativa de pressão da bancada bolsonarista contras mulheres atuantes no Congresso.

É a economia...

Nas campanhas, Lula e o PT convivem com o terrorismo de que o mundo vai acabar caso eleitos. Assumem e a economia do País melhora. É o que ocorre nestes primeiros meses. O preço do dólar cai, o custo dos combustíveis melhora, a comida mais barata, o país cresce mais que o esperado. Porém, jornalões da direita já começam movimento para atribuir as melhoras à “sorte”, como se os bons números não dependessem de uma boa administração.

Até elas

Corrida pela Prefeitura

ego|Agência Brasil

Faltando mais de um ano para as eleições, os bastidores da política estão aquecidos na sucessão do atual prefeito de Curitiba. Pelo campo progressista, ainda não há nome de consenso para fazer frente à direita tradicional ou à extrema-direita. Se por um lado Paulo Martins (PL) pelo bolsonarismo, e Eduardo Pimental (PSD) com apoio de Greca e Ratinho, despontam, na esquerda há ainda pulverização.

Disputa

Até mesmo agências de risco, que aparecem para fazer terrorismo sempre em governos populares, são obrigadas a admitir a melhora atual. Na quarta, 14, a agência de classi cação de risco S&P alterou a perspectiva para a nota soberana do Brasil de estável para positiva, principalmente pelas perspectivas de crescimento econômico maior. Para quem gosta de números, no dia 14, o Ibovespa teve alta de 1,5% e o dólar comercial tinha baixa de 0,95%, a R$ 4,81.

A deputada federal Carol Dartora busca indicação pela federação liderada pelo PT, assim como Zeca Dirceu, outro deputado que se movimenta pelo posto. Ainda há possibilidades de acertos, por exemplo, com o PSB, numa frente ampla em torno de Luciano Ducci, possibilidade ainda distante. O deputado Goura também deseja ser candidato numa parceria com Dartora, que colocaria PDT e federação no mesmo palanque, coisa que não ocorreu nas eleições passadas para o governo.

As terras indígenas sob ataque

José Francisco Calí Tzay, o relator especial da ONU sobre Direitos dos Povos Indígenas, solicitou nesta semana que o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional rejeitem a tese jurídica do marco temporal das terras indígenas. Os direitos dos povos indígenas sobre as terras que tradicionalmente ocupam são garantidos pelo artigo 231 da Constituição Federal.

Hoje, esses direitos estão sob dois tipos de ataque no Brasil: com o julgamento que ocorre no STF e aguarda voto de 8 dos 11 ministros e com o projeto de lei 490/2007, aprovado pela Câmara dos Deputados e que agora será apreciado pelo Senado.

Ruralistas e outras forças econômicas pressionam para que apenas os povos indígenas que ocupavam suas terras em 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição Federal, tenham garantido o direito a essas terras. É a chamada “tese do marco temporal”.

Agora um dado que talvez você não conheça: de acordo com o Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil de 2021, existem 1.393 terras indígenas no Brasil. Em seu apelo, Tzay, o relator da ONU, chamou a atenção de que todas essas terras estarão em risco caso prevaleça, no Senado ou no Supremo, a descabida tese do marco temporal.

Paraná, 15 a 21 de junho de 2023 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
FRASE DA SEMANA Geral 3
JOGO DO PODER
Guilherme Uchimura Guilherme Uchimura Advogado e membro da Rede de Advogadas e Advogados Populares Reprodução | Câmara dos Deputrados

Movimentos populares e ocupações analisam possibilidades e limites do Minha Casa, Minha Vida

Fortalecimento do módulo Entidades e mediação do poder público são grandes questões

Em 13 de junho, o Senado aprovou a medida provisória que transforma o programa Minha Casa, Minha Vida em lei. Na proposta, 5% dos recursos da política habitacional serão usados para retomar obras paradas. Além disso, pessoas em situação de rua, mulheres chefes de família e famílias com pessoas com deficiência, entre outros segmentos, deverão ter prioridade. Desde 2016, governos neoliberais, congelaram os programas de moradia, e Bolsonaro simplesmente acabou com o programa, substituindo-os por um ineficiente “Casa Verde e Amarela”.

Já em comparação com o Minha Casa, Minha Vida 1 e 2, análises apontam que o programa atual terá maior preocupação com o acesso das construções aos equipamentos e à cidade. Na área urbana, a faixa 1 é destinada a famílias com renda mensal bruta de até R$ 2.640. A 2, até R$ 4,4 mil, e a faixa 3 para até R$ 8 mil. As experiências anteriores não conseguiram alcançar cerca de 6 milhões de famílias com renda de 0 a três salários mínimos.

Mas, segundo especialistas, ainda é necessário ampliar projetos coordenados por organizações populares. “É preciso ampliar a participação do Minha Casa Minha Vida Entidades e do módulo Rural”, afirma Evaniza Rodrigues, arquiteta e integrante da União Nacional por Moradia Popular (UNMP).

Moradia popular

Neste momento, a pergunta-chave é como se dará a construção de moradia popular. Áreas de ocupação recentes e movimentos populares conseguirão acessar o nanciamento, conformar entidades para a construção dos projetos e, principalmente, ter a mediação do poder público para acesso a áreas?

Apenas em Curitiba e região são ao menos 14 áreas de ocupações recentes, articuladas na campanha Despejo Zero, e cerca de 4.500 famílias. O módulo do programa Minha Casa, Minha Vida Entidades permite que cooperativas ou associações inscrevam e coordenem projetos para financiamento, baseado em critérios. Um deles é o da experiência na

área de moradia popular –para construções acima de 100 unidades.

Na opinião de Evaniza, o módulo Entidades é importante, porque “trabalha com a organização comunitária, renda, vida do bairro, além de ser produzida sem lucro. Hoje existe no país uma quantidade de organizações populares que já mostraram possibilidade de vitória nesse processo, com gerenciamento da obra e depois organizar o pós-ocupação”, aponta.

Cogestão ou autogestão? No módulo Entidades, as construções se dividem em cogestão e autogestão. Organizações e especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato

A responsabilidade do poder público na mediação e busca de alternativas para as áreas de ocupação é fundamental. Há grande expectativa entre movimentos populares e novas áreas de ocupação, surgidas na crise social da pandemia. “Há que ter algum mecanismo de Prefeitura, governo estadual e federal para regularizar a situação dessas áreas”, a rma Uemura.

Nisso, o apontamento de que imóveis abandonados, subutilizados ou que têm dívida de IPTU, exigem medidas de desapropriação pelo poder público. “O problema é o poder público se disponibilizar no sentido de adquirir esses imóveis. Há imóveis ocupados que não são de propriedade pública, mas apresentam dívidas”, completa.

Paraná apontam o necessário enfoque na autogestão, para que o programa não se concentre apenas nas grandes construtoras.

Margareth Uemura, coordenadora da articulação BR Cidades e diretora do Instituto Pólis, aponta que a autogestão é necessária em vista dos problemas de parcerias com a iniciativa privada. “Questão importante é destinar áreas públicas federais para atender às famílias mais vulneráveis do déficit, faixa 1, para que não estejam colocadas Parcerias Público-Privadas (PPPs), que de públicas não têm nada. O poder público tem a obrigação de atender as faixas mais necessitadas e as demandas populares”, aponta.

Entre os dias 9 e 10 de junho, aconteceu um encontro, convocado pela UNMP, em Guarapuava (PR), com experiências de construção de habitação popular em Londrina, Curitiba, Cornélio Procópio, Ponta Grossa, entre outras. Foi dado um panorama sobre os critérios para formação de entidades voltadas à obrigatória apresentação de projeto para as construções.

Lideranças comunitárias reconhecem que, ao olhar para períodos anteriores, é preciso participação maior das entidades sociais. “Já tivemos 17 unidades nossas habilitadas, mas apenas três conseguiram concluir a construção”, re ete Maria Xavier, da UNMP no Paraná.

Paraná, 15 a 21 de junho de 2023 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
4 Brasil
Pedro Carrano
Problema do acesso ao terreno Maior participação

De caçador de marajá a delator de Moro: quem é Tony Garcia?

Gabriel Carriconde “informante” da Operação Lava-Jato, com denúncias de grampos ilegais e até referências a uma possível festa em suíte de hotel cinco estrelas em Curitiba entre juízes do TRF-4 (que ana-

De “sujeito alto, bonitão, com cara de super-herói americano”, como disse numa entrevista o publicitário Jamil Snege, a delator do ex-juiz e atual senador Sérgio Moro (União-PR). A vida pública de Tony Garcia, empresário, ex-candidato à Prefeitura de Curitiba e ao Senado, tem mais a trajetória de um verdadeiro anti-herói.

lisa em segunda instância as decisões da Lava Jato) e prostitutas.

De caçador de marajás à prisão Antônio Celso Garcia teve um início de carreira política promissor. Empresário, começou como uma espécie de “caçador de marajás” das Arau-

política pelo PPB, então liderado por Paulo Maluf, como candidato ao Senado, na onda do ex-presidente Fernando Collor. Como ele tinha cara de galã, prometia combater os “marajás” do serviço público contra os “perigosos sapos barbudos vermelhos”, uma alusão aos candidatos da esquerda.

mos físicos”, afirmou em entrevista ao portal “Memória Paranaense”, do jornalista José Willie.

empresário e “playboy”, tado dos holofotes após ter

Amigo de celebridades como Ayrton Senna e Xuxa, no início dos anos 1990, o empresário e “playboy”, depois de alguns anos afastado dos holofotes após ter delatado o “ex-amigo”, exgovernador e atual deputado federal Beto Richa, voltou às manchetes, desta vez por delatar o ex-juiz Sérgio Moro. Em diversas entrevistas, Garcia tem relatado sua experiência como

O delator

Tony Garcia sempre circulou na alta sociedade paranaense. Fez amizade com o ex-governador Beto Richa no início dos anos 1990, graças a uma paixão em comum: o automobilismo. Amigos de kart, Garcia chegou a ajudar na primeira campanha de Richa a vereador de Curitiba, em 1992, numa época que o pai do amigo, o ex-governador José Richa, dizia que o lho não tinha perl para a política. “A gente conversava sobre amenidades. Era um cara muito simples, de um trato maravilhoso, com pessoas boas ao lado. Casou com a Fernanda, a vida dele mudou, mas a gente continuava correndo juntos”, disse Tony sobre Richa em entrevista à “Gazeta do Povo”, em 2018.

É justamente em 2018 que a amizade de longa data chega ao fim. Tony se transforma em pivô de um dos maiores escândalos da política paranaense, que levaria o antigo “compadre” para a cadeia. Conversas gravadas por ele com Richa, e membros do governo do amigo, revelaram um esquema de fraudes em licitação no Programa Patrulha no Campo, foco da Operação Radiopatrulha, desencadeada pelo Gaeco, do MP paranaense.

As conversas gravadas acabariam por levar Richa à prisão à véspera da eleição para o Senado que Richa perderia. Passados mais cinco anos, em 2023, Tony ressurge, desta vez dedurando o “mocinho”.

Em depoimento sigiloso à Justiça

cárias. Em 1990, resolveu se lançar na vermelhos”, uma alusão aos rias campanhas de Garcia, alto, bonitão, com daria para

Jamil Snege, conhecido publicitário paranaense, e um dos marqueteiros de várias campanhas de Garcia, conta: “Quando ele falou em sair para senador, achei uma coisa um pouco pretensiosa. Mas, em função da bela imagem que tinha na época e ainda conserva – sujeito alto, bonitão, com cara de super-herói americano – achei que daria para trabalhar a imagem em ter-

Federal, afirmou que teria gravado Beto de maneira irregular a mando da Lava-Jato.

Em seu perfil no Twitter, disparou: “Me usaram como agente infiltrado. Essa é parte da sentença onde Moro faz elogios eloquentes a mim em deslindes de casos complexos de interesse da justiça. Deixa claro que, para ele e o MPF, eu era “o cara. O que mudou?”, afirmou. Garcia ainda publicou um trecho de sentença assinada por Moro em que é elogiado como empresário que “participou de diligências destinadas a colher provas”. As acusações vêm causando pesadelos em Moro e seu grupo político, como causaram antes a outros “amigos”. É ver os próximos capítulos.

Garcia perdeu a eleição em 1990 e outras duas, em 1998 e em 2002, além de uma candidatura à Prefeitura de Curitiba. Era próximo do grupo político do ex-prefeito e ex-governador Jaime Lerner, que reunia de empresários, como Joel Malucelli, a figuras como seu então amigo de “kart” Beto Richa. Tony circulava pela Assembleia Legislativa nos anos 1990 como deputado estadual, em negociatas suspeitas e acordos com o governo Lerner. Chegou a se engajar na oposição a Lerner durante o processo de tentativa de venda da Copel, antes de selar as pazes com o Palácio Iguaçu num jantar retratado pelo jornal “Folha de Londrina”, em 2002, como tendo sido regado a “salmão e vitela”.

IMAGEM DESMORONA

A imagem criada por Snege, de jovem combatente da corrupção, começa a desmoronar em 2004, dois anos depois de sua última disputa eleitoral. Acusado por fraude pelo Ministério Público do Paraná na administração do extinto Consórcio Nacional Garibaldi, liquidado pelo Banco Central em 1994, Garcia teria sido responsável por prejuízo a clientes de mais de R$ 40 milhões. Dez anos depois, seria preso e, um ano após, seu advogado, o ex-conselheiro de Itaipu Roberto Bertholdo seguiria o mesmo destino. Um dos procuradores que atuaram nessa investigação foi Carlos Fernando dos Santos Lima, que se tornaria um dos principais nomes da Lava-Jato.

Paraná, 15 a 21 de junho de 2023 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
Empresário surgiu na campanha de 1990 ao Senado, foi preso por fraude e chegou a delatar o “amigo” Beto Richa
Brasil 5
divulgação | Web

Prefeitura de Curitiba prevê orçamento maior e investimento menor em 2024

Obras públicas aparecem como prioridade para população, em consulta da Prefeitura

Demandas da população

Tanto a Prefeitura quanto a Câmara realizaram consultas públicas para levantar as prioridades indicadas pela população para investimentos em 2024. Por meio do “Fala Curitiba” foram elencadas 30.464 sugestões. As obras públicas são a prioridade, com 4.785 sugestões, seguidas por Segurança (4.510), Saúde (3.362) e Educação (3.007).

Já a consulta realizada pela Câmara, de forma separada, resultou em 1.384 indicações para a cidade.

Neste mês de junho, a Câmara de Curitiba está se debruçando sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2024. A Comissão de Economia, Finanças e Fiscalização deve se reunir no dia 21 para analisar as emendas dos vereadores ao projeto da Prefeitura. E a votação para aprovar ou não a LDO 2024 deve acontecer até o dia 30.

A proposta de orçamento da Prefeitura para 2024 é de R$ 12,4 bilhões, aumento de 4,29% em relação a 2023. Além do histórico de receitas e despesas, a projeção de aumento no orçamento se deve também à análise de indicadores nacionais:

a expectativa de crescimento de 1,4% do PIB do Brasil, da inflação oficial (IPCA) encerrar o ano em torno de 4,64% e da Taxa Selic recuar para 9% nos próximos meses.

Porém, o valor previsto para investimentos é da ordem de R$ 447,5 milhões, inferior aos R$ 658,2 milhões de 2023. “No ano de 2023 temos o grande aporte dos nossos financiamentos. As execuções das grandes obras estão planejadas para o exercício de 2023. Por isso fica menor no exercício seguinte, embora as obras, às vezes, transpassem de um ano para o outro”, explicou Daniele dos Santos, superintendente da Secretaria Municipal de Orçamento, Planejamento e Finanças.

Metas e prioridades

A LDO não é o orçamento. Este é estipulado pela Lei Orçamentária Anual (LOA), votada no segundo semestre do ano. A LDO é importante, no entanto, porque fixa a relação de metas e prioridades da Prefeitura para o ano que vem.

Estão entre as metas para a Saúde, por exemplo, a construção de um novo equipamento e reforma de dois; na Educação, estão previstas a construção de uma nova escola municipal e de quatro novos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI); para a área de Habitação, há a meta de contratação de três obras/projetos para regularização fundiária ligada à Cohab, além da aquisição de 100 de áreas para projetos habitacionais.

Na prática, a LDO fixa limites à LOA, antecipando à população onde o Executivo planeja gastar os recursos do ano seguinte. O documento prevê que as áreas com mais demanda em 2024 serão Previdência (23,49% do orçamento), Saúde (20,95%), Educação (18,41%), Urbanismo (7,42%) e Administração (7,41%).

A área da Saúde liderou o ranking (17,3%), com demandas de aumento do número de profissionais, implantação de equipamentos, oferta de mais consultas, reforma de unidades da rede municipal e ampliação do atendimento odontológico pelo SUS.

Em seguida vem a área de Segurança (16,3%), com sugestões de aumentar as rondas da Guarda Municipal (GM), contratar mais guardas municipais, ampliar o sistema de videomonitoramento, promover ações

de prevenção ao consumo de drogas e implantar módulos da GM. As obras públicas ficaram em terceiro lugar (14,6%), com pedido para manutenção e implantação de pavimentação, construção e recuperação de calçadas, iluminação pública e obras de drenagem. A Educação ficou em 4º lugar, com sugestões de melhoria dos serviços à população, contratação de mais servidores, reforma de escolas, ampliação das vagas nos CMEIs e oferta de atividades no contraturno.

Paraná, 15 a 21 de junho de 2023 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
PUBLICIDADE
Lei de Diretrizes Orçamentárias, que desenha prioridades para o próximo ano, será votada
6 Cidades
Divulgação | SMCS Pedro Ribas | SMCS

Festival Sanno Matsuri Programação Poesia na Biblioteca

O Mercado Municipal de Curitiba realizará, a partir do próximo dia 15 de junho, o Sanno Matsuri, uma homenagem a um dos mais populares festivais japoneses. O mercado é onde está concentrado o maior número de lojas que comercializam produtos japoneses. Nas dez lojas , é possível encontrar produtos e comidas típicas do país asiático.

O festival terá apresentações de danças típicas e exposição de Ikebana, além de uma oficina de Origami para crianças. Confira a programação: de 15 a 18 de junho - Exposição de Ikebana - Praça de Convivência dos Orgânicos, dia 17 - Evento oficial, 11h30 - Dança Odori - Espaço Arena, 12h30 - Shamissen - Espaço Arena, das 10h às 16h - Oficina Kids de Origami.

A Biblioteca Pública do Paraná recebe uma série de eventos do projeto Vox Urbe — tradicional encontro de poesia realizado em Curitiba desde 2011. São sempre dois poetas convidados, que participam de leituras e bate-papos, em um formato que também abre espaço para intervenções do público. Entrada gratuita. Confira a programação completa no site da biblioteca.

Livro que analisa as eleições de 2022 e a governabilidade de Lula será lançado dia 16

Obra reúne análises de pesquisadores do Observatório das Eleições

Ana Carolina Caldas de brasileira, resultando nesse livro. As análises de pesquisadores das mais diversas áreas debruçam-se sobre temas que vão do meio ambiente à configuração do Legislativo, passando por questões de raça e gênero, redes e desinformação, justiça e opinião pública, governos estaduais e atores coletivos.

Organizada pelo cientista político Leonardo Avritzer e pelas pesquisadoras Eliara Santana e Rachel Bragatto, a obra “Eleições 2022 e a Reconstrução da Democracia no Brasil” faz conexões entre as eleições de 2022, seu resultado e os desafios no atual mandato do presidente Lula. O lançamento será em Curitiba, na sexta, 16, na Livraria Arte e Letra. Nas eleições de 2022, pesquisadores do Observatório das Eleições dedicaram-se a compreender as questões que emergiram e produzir artigos para que essas reflexões fos-

sem compartilhadas com a socieda-

Rachel Bragatto destaca a contribuição da pesquisa em rede num momento tão crítico para o país. “O processo de elaboração do livro demonstra a capacidade de análise, produção, impacto e articulação em rede de pesquisadores num momento de intenso risco à democracia e à produção científica brasileira. As

análises demonstram que democracia e ciência/pensamento crítico estão profundamente relacionados. Para a ciência acontecer é fundamental um ambiente democrático, livre e que possibilite autonomia, assegurando liberdade acadêmica, liberdade de expressão e liberdade de pesquisa. E que propicie condições materiais de produção científica por meio de recursos públicos para financiar pesquisas. Um conjunto que esteve fortemente ameaçado no governo anterior,” destaca.

Dividido em quatro partes, o livro apresenta ao leitor uma visão ampla e multifacetada do processo eleitoral e dos próximos desafios.

AUTORES

Alexandre Arns Amanda Mota Ana Luísa

Machado de Castro Beatriz Rey Bia Calza Carla

Rosário Carlos Machado Carlos Ranulfo Melo

Danusa Marques Eduardo Barbabela Eliara

Santana Fabiano Santos Fábio Kerche Felipe

Nunes Flávia Biroli Francisco Kerche Gustavo

Paravizo Helena Dolabela Helena Martins

João Feres Júnior Leonardo Barros Leonardo

Avritzer Luciana Santana Maria Alice Silveira

Ferreira Marisa von Büllow Marjorie Marona

Marta Mendes Pedro Paulo de Assis Priscila

Delgado de Carvalho Priscila Zanandrez

Rachel Callai Bragatto Thomas Traumann

Viviane Gonçalves Freitas

DICAS MASTIGADAS

Bolinho de chuva com banana

Ingredientes

1 ovo orgânico batido

1 banana orgânica amassada

3 colheres (sopa) de açúcar

meia xícara (chá) de leite Terra Viva

1 xícara (chá) de farinha de trigo

1 colher (chá) de fermento em pó

Açúcar e canela em pó para polvilhar

Modo de preparo

Em um recipiente, misture bem o ovo, a banana, o açúcar, o leite e a farinha de trigo. Acrescente o fermento e misture. Em uma panela pequena aqueça o óleo. Com o auxílio de 2 colheres, porcione pequenas quantidades de massa e despeje-as no óleo quente. Deixe fritar até que os bolinhos estejam ligeiramente dourados. Escorra-os em papel absorvente e passe-os no açúcar e canela em pó. Sirva a seguir.

A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br

Paraná, 15 a 21 de junho de 2023 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
Cultura 7
Reprodução
Reprodução

Partidas de futebol poderão ser interrompidas em Curitiba em caso de racismo

Com os casos de racismo nos estádios espanhóis envolvendo Vini Jr. e a recusa da organizadora do campeonato, La Liga, em punir os clubes que tiveram torcedores envolvidos em manifestações de intolerância racial, vêm pipocando no Brasil propostas de leis para punir clubes e torcedores que se envolverem em casos semelhantes. No Rio de Janeiro foi votada lei que paralisa jogos que tiverem casos de racismo no estado. Agora, em Curitiba, projeto de lei semelhante foi apresentado na Câmara pela vereadora Giorgia Prates (PT), em conjunto com os vereadores

Herivelton Oliveira (Cidadania) e Professor Euler (PSD).

O projeto, apresentado no último dia 12, cria mecanismos de prevenção e combate ao racismo em estádios, ginásios e arenas esportivas, sejam públicos ou privados. É proposta ainda a criação de uma política municipal de enfrentamento ao racismo no esporte, que prevê, por exemplo, a interrupção de um evento esportivo em que haja denúncia ou manifestação de conduta racista por qualquer presente. A interrupção poderá ser feita pela organização da partida ou pelo juiz.

Para Giorgia Prates, “A palavra é basta. Não queremos racismo em

Como perder uma chance em 10 dias

“Por que eu daria em cima de outras mulheres? Você tem personalidades su cientes para me manter ocupado.” É o que diz o personagem Ben (Matthew McConaughey) à namorada Andie (Kate Hudson) na comédia romântica “Como Perder um Homem em 10 Dias”, de 20 anos atrás – o último em que o Coritiba alcançou uma vaga da Libertadores da América. Descontada a folga de praxe de 24 horas e a concentração de véspera, o técnico Antônio Carlos Zago tem 10 dias para dar personalidade (umazinha que seja) ao time que, em tese, comanda. É o intervalo entre o recente empate com o Santos e o confronto contra o Internacional no próximo 22/6. Será inaceitável o acúmulo de 10 jogos como treinador sem ganhar nenhuma partida. Nos ombros do G5 e da diretoria de futebol pesa a (ir)responsabilidade de trazer um treinador que estava há três anos e meio afastado do futebol brasileiro.

nenhum esporte nem em nenhum outro espaço. Por isso protocolei o PL ao lado dos vereadores Herivelton Oliveira e Professor Euler. É uma resposta e também uma forma de seguir relembrando a resistência do Vini Jr”, destaca.

Já o Professor Euler (PSD) destaca que a ideia do PL é criar espaços e ambientes saudáveis e acolhedores. “Queremos que as arenas esportivas se tornem locais educativos e propagadores de uma consciência antirracista. Uma das medidas deste projeto de lei é estabelecer que antes da realização dos eventos, e também dos intervalos, os telões e autofalantes locais divulguem campanhas contra o racismo’’, diz.

Tudo certo, nada resolvido!

Por Marcio Mittelbach

Foi aceita na última segunda-feira (12) a proposta do Paraná Clube para pagamento dos 428 credores, a chamada Recuperação Judicial - RJ. Com isso, a dívida total com esse povo, que era de R$ 119 milhões, caiu para R$ 60 milhões. E quem vai pagar esse montante? A diretoria jura que existe um grupo interessado na compra do Paraná e na instituição da chamada SAF - Sociedade Anônima do Futebol.

Além do acerto da dívida citada, esse grupo investiria outros R$ 50 milhões: R$ 18 milhões de imediato e o restante em 10 anos. A garantia dos compradores seria o patrimônio do Clube. É aí que mora o perigo. O patrimônio que restou ao tricolor são as sedes construídas em terrenos doados pelo poder público e que, em tese, não podem ser vendidas.

ELAS POR

Fernanda Haag O caminho ainda é muito longo

Esta coluna recorrentemente aborda os avanços do futebol de mulheres brasileiros nos últimos anos. Maior visibilidade, melhores condições, mais patrocínios, melhor estrutura etc. Contudo, o caminho ainda é muito longo e nada é linear e nem automaticamente garantido. É preciso sempre pressionar e lutar. Um exemplo: as transmissões dos jogos do Brasileirão A1 em 2023. Comparativamente com o ano passado, os torcedores tiveram menos acesso às transmissões. O per l do Twitter @ondepassafutfem fez um levantamento e apontou que 9 jogos caram sem transmissão este ano. Em 2022, apenas 1. O calendário também apresenta problemas: a rodada decisiva da primeira fase com os jogos às 15h de uma segunda-feira. A mesma rodada foi marcada pelo protesto das jogadoras do Real Ariquemes contra os dois meses de salário atrasados e as condições precárias de trabalho. Elas não entraram em campo contra o Santos. A atleta Gabi Lira falou em entrevista: “O futebol feminino tem direitos e não se pode mais brincar com isso. A nossa luta é, acima de tudo, pela modalidade”. Seguimos na luta, futebol de mulheres não é bagunça!

Rebaixamento no feminino

Por Douglas Gasparin Arruda

Quadros opostos: se a situação do futebol masculino do Furacão anda numa fase boa, no feminino o rebaixamento chegou com uma rodada de antecedência, e tomando uma goleada da equipe do Avai (10° colocada no m do torneio). A última rodada sacramentou a fase difícil: derrota em casa para o Palmeiras. A organização do futebol feminino passa por situações especí cas, e é realmente muito difícil para as equipes que subiram de divisão permanecerem na elite do Brasileirão. Para ter uma ideia: todos os times que subiram no último ano (Athletico, Bahia, Ceará e Real Ariquemes) foram rebaixados. O Ceará, exemplo de péssima gestão do ano, fez apenas 1 ponto. Para o Athletico, ca o recado: não houve comprometimento. Existe público querendo assistir. Lotamos a Arena. A direção ngiu não ver.

Paraná, 15 a 21 de junho de 2023 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR 8 Esportes
ELA
Geraldo Bubniak | Gazeta Press A proposta é de autoria da vereadora Georgia Prates (PT) e outros parlamentares
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.