Brasil de Fato PR - Edição 181

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Solidariedade aperfeiçoada

Giorgia Prates

Cidades | p. 6

Esportes | p. 8

Bagunça infecta o Brasileirão

Cozinha de associação da periferia faz curso de capacitação

Partidas são adiadas e adiantadas num calendário já caótico

Divulgação

PARANÁ

Ano 4

Edição 181

27 de agosto a 2 de setembro de 2020

distribuição gratuita

Contra corte de direitos e privatização

www.brasildefatopr.com.br Cesar Brustolin | SMCS

RISCO PARA MEU FILHO Mesmo com dificuldades, mães não querem a volta das aulas agora Paraná p. 5

Funcionários dos Correios e do Estado fazem atos em Curitiba Paraná | p. 4 Giorgia Prates

Editorial | p. 2

Bolsonaro se intromete nas universidades Governo intervém e não respeita eleições de reitores

Brasil | p. Opinião | p.62

Abuso de vulneráveis e fundamentalismo Caso de estupro de criança revela ataques contra quem devia ser protegida

Cidades | p. 6

Mais doações para o interior MST destina 8 toneladas de alimentos para populações carentes


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 27 de agosto a 2 de setembro de 2020

Universidades sob intervenção: risco à ciência brasileira EDITORIAL

M

ais de uma dezena de universidades e institutos federais já tiveram interventores nomeados como reitores, mesmo tendo realizado eleições, num evidente autoritarismo da Presidência da República. E nem sequer se passaram dois anos do atual governo. Nesta semana, Bolsonaro nomeou mais um interventor, agora na UFERSA, Rio Grande do Norte. No Paraná, a preocupação é gigante, já que a UFPR

está em período eleitoral. A universidade possui grande importância para o estado, existindo em três cidades do interior, no litoral, na capital e em sua Região Metropolitana. É um dos cinco maiores orçamentos do Paraná. É preciso cuidar da democracia universitária, garantindo às universidades que possam cumprir seu compromisso com nosso povo de modo autônomo a qualquer interesse político e

ideológico, como exige o desenvolvimento científico. Em defesa da democracia e da autonomia universitária, contra a perseguição política de servidores públicos e por um país justo e soberano com desenvolvimento de educação, ciência e cultura é que deve haver respeito às eleições na UFPR e em todas as demais instituições de ensino superior no Brasil!

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 181 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

O abuso de vulneráveis e o fundamentalismo Giorgia Prates

Ativista, integrante do coletivo Muié, fotógrafa e integrante da redação do Brasil de Fato Paraná

T

Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016

EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/ bdfpr CONTATO pautabdfpr@ gmail.com

SEMANA

OPINIÃO

EXPEDIENTE

alvez em nenhum outro momento da História da humanidade se fizeram tão presentes notícias sobre as mais variadas violências e preconceitos nas redes de comunicação. Um presidente que prega o ódio, não sente empatia, não consegue pensar além da bolha e do lucro do capitalismo, pode ser o maior fomentador de tantas desavenças entre os seres. A humanidade cons-

truiu a sua História em bases muito fortes desse mesmo ódio. Um dos assuntos importantes que tem tomado conta das redes sociais é o caso da menina de 10 anos de São Mateus, no Espírito Santo, que foi abusada sexualmente pelo tio de 33 anos, durante 4 anos. A violência só foi descoberta após a menina ter recebido o diagnóstico da gravidez em uma consulta no hospital. O caso trouxe à tona a discussão sobre o aborto. Embora o Artigo 128 do decreto lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, afirme que não se pune o aborto praticado por médico em alguns casos como de gravi-

dez resultante de estupro – decisão que deve ser exclusiva da mulher -, fundamentalistas religiosos contestaram pública e agressivamente o direito da menina de 10 anos de realizar a cirurgia. O estupro de vulneráveis é, infelizmente, mais comum do que se imagina. De acordo com os dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, 73% das crianças e adolescentes sofrem violência sexual dentro de suas próprias casas. Temos 80 anos em que esta lei está ativa no país e uma cultura do estupro, estrutural, naturalizada

pelo patriarcado e alimentado pelas construções fundamentalistas e do capitalismo. A questão é: por que estamos questionando o aborto necessário para uma criança de 10 anos (uma vez que criança não é mãe) e não a violência dos abusadores e o tipo de pena para que isso cesse? A legislação preserva a identidade física e moral da criança. No Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990 o Art. 17 nos diz que: “O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente”.


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Paraná, 27 de agosto a 2 de setembro de 2020

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FRASE DA SEMANA

Governos e empresas devem adotar protocolo trabalhista de combate à pandemia O Fórum de Liberdade Sindical, entidade que congrega centrais, sindicatos e o Ministério Público do Trabalho, realizou uma transmissão ao vivo para abordar a situação da classe trabalhadora em meio à pandemia de Covid-19. Participaram da reunião representantes do MPT, das centrais sindicais, do Dieese e dois médicos do trabalho para debater o atual cenário no Paraná e propor medidas de combate. O Brasil tem quase 3,7 milhões de contaminados e 116 mil mortes. No estado, são 119 mil casos e 3 mil óbitos, segundo o governo. Nesse segundo encontro sobre o tema, as entidades apontaram que os governos ignoraram os representantes dos trabalhadores ao tomar decisões com relação ao isolamento social e as medidas socioeconômicas. As organizações querem a instalação de um comitê de crise que o governo do Estado segue adiando a criação. Também exigem que empresas adotem o “Protocolo de combate e contenção da propagação do vírus da Covid-19 no local de trabalho”. As entidades disseram que vão cobrar a quantidade de mortes e contaminações, tendo em vista que os governantes decidiram voltar à “vida normal” a partir de julho, mesmo com a curva subindo no estado.

“É a demência religiosa virando regra cínica, até pra justificar esse tipo de homicídio.”

BDF inicia entrevistas com précandidatos

Disse a cantora Zélia Duncan sobre a acusação feita pela polícia e o Ministério Público do Rio de Janeiro de que a deputada e cantora evangélica Flordelis (PSD-RJ) mandou matar seu marido, o pastor Anderson do Carmo. Divulgação

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Bolsa Família é unanimidade

Milhões de perguntas

Na atual fase, em que o governo Bolsonaro pretende copiar programas dos governos Lula e Dilma, mudando os nomes, não é boa ideia mexer no Bolsa Família. Pesquisa nacional da “Revista Fórum” mostra 81,5% dos brasileiros apoiam a manutenção do programa. A pesquisa foi feita entre os dias 21 e 24 de agosto.

Nesta semana milhões de contas no Twitter fizeram a pergunta que Bolsonaro não quis ou não pôde responder: “Presidente @jairbolsonaro, por que sua esposa Michelle recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?” No domingo (23) Bolsonaro respondeu a um jornalista de “O Globo”: “a vontade que eu tenho é de encher sua boca de porrada”. E as redes bolsonaristas, pela primeira vez, não responderam a essas postagens. Em lugar da agressividade costumeira, ficaram quietas.

Deu ruim pros fundamentalistas Outro dado do estudo é que 78,4% dos entrevistados se disseram favoráveis ao direito de a menina de 10 anos, estuprada por 4 anos pelo tio, interromper a gravidez. Apesar das agressões e manifestações de fundamentalistas na porta do hospital e da polarização nas redes sociais, mesmo num tema delicado, a população reconheceu que a criança foi vítima de violência e sua família tinha direito a interromper a gestação.

Flor venenosa Na próxima semana, líderes da Câmara dos Deputados devem decidir o que fazer com o mandato da deputada Flordelis (PSD-RJ), após a entrega de documentação pelo Ministério Público. A deputada é acusada de ser a mandante do assassinato do marido por seus filhos adotivos. Na segunda-feira, cinco desses filhos e uma neta foram presos em operação do Ministério Público do Rio de Janeiro e da Polícia Civil. A deputada, que faz parte da bancada conservadora do Congresso Nacional e se declara pastora evangélica, não foi presa por conta da imunidade parlamentar. Se perder o mandato, pode também ir para a cadeia.

Reprodução

O Brasil de Fato Paraná iniciou, na última semana, série de entrevistas com pré-candidatos a vereador (a) e prefeito (a) do campo progressista no Estado. Na sexta, 21, foram ouvidas no BDF 11h30, ao vivo pelo Facebook e Youtube, as pré-candidatas a vereadora por Curitiba Prof. Josete Dubiaski (PT) e Mariana Kauchakje (Coletivo Ekoa, do PSOL). A cada sexta-feira, no mesmo horário, outros candidatos serão entrevistados.

Querem ser prefeito Na terça, 25, novo programa de entrevistas ao vivo foi feito com pré-candidatos a prefeito (a) de Curitiba em parceria entre Brasil de Fato Paraná, Terra sem Males e outros veículos de comunicação progressistas do Estado. Participaram os pré-candidatos Camila Lanes (PCdoB), Paulo Opuska (PT) e Letícia Lanz (PSOL). O ex-governador Roberto Requião (MDB) também participou da entrevista, embora negando sua candidatura.

Novas entrevistas

Para a quarta, 16, após o fechamento desta edição, estava prevista nova rodada de entrevistas com pré-candidatos progressistas a prefeito da capital paranaense. O Brasil de Fato Paraná continuará com essa série de entrevistas com candidatos a prefeito e vereadores da capital e de cidades da Região Metropolitana e do interior até o começo do período de propaganda eleitoral.


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Paraná, 27 de agosto a 2 de setembro de 2020

Trabalhadores lutam na pandemia Atos ocorrem por greve dos Correios e contra calote do governador no reajuste de salários

Servidores protestam contra Ratinho Ana Carolina Caldas Congelamento de salários, suspensão de promoções e progressões e descumprimento do pagamento da segunda parcela de reposição salarial são alguns dos “presentes” do governador Ratinho Jr. aos servidores em plena pandemia. Por isso, na quarta, 26, ocorreu protesto em frente ao Palácio Iguaçu para reivindicar que o governo retire emenda a projeto de lei sobre as diretrizes orçamentárias de 2021. Caso essa emenda seja aprovada na Assembleia, além dos direitos serem perdidos, também ficará suspensa a segunda parcela da reposição salarial da data-base de 2019, programada para janeiro de 2021. Para a coordenadora do Fórum de Entidades Sindicais, professora Marlei Fernandes, as alegações do governo para tentar justificar o

“calote” não procedem. “Apesar do isolamento social e da interrupção parcial de algumas atividades pela pandemia, o Paraná não enfrenta dificuldades financeiras.” De acordo com o economista do FES, Cid Cordeiro, a arrecadação de ICMS do mês de abril de 2020 ficou acima das projeções do governo.

Giorgia Prates.

Greve dos Correios Pedro Carrano A greve nos Correios chegou ao décimo dia na quarta (26) com a discussão sobre a retirada Giorgia Prates.

de direitos das mulheres ecetistas. Além do risco de privatização de empresa pública lucrativa, as grevistas criticam o fato de que o atual acordo coletivo deveria se estender até 2021. Mas foi rompido unilateralmente pelo governo federal, com a retirada de 11 itens de direitos das trabalhadoras, entre os quais a redução da licença-maternidade de seis meses para três meses; vale-creche de seis anos para seis meses, entre outros ataques. Inês Camargo é trabalhadora balconista há 21 anos e Eliane dos Santos Eliane dos Santos é carteira nas ruas há 17 anos. Ambas concordam que é o pior momento na vida da empresa no trato com os funcionários. “O governo disse que nós éramos essenciais e agora nos retira direitos de muitos anos”, protesta Inês. Eliane completa: “Estamos nos expondo em tempos de pandemia e sujeitas à chuva, ataque de cães e o governo quer nos retirar adicional de

MP ajuíza ação contra afrouxamento do combate à pandemia em Curitiba A medida destaca que a Prefeitura não vem considerando a avaliação de risco correta Ana Carolina Caldas

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a última semana, o prefeito Rafael Greca anunciou a mudança da bandeira laranja para amarela no protocolo sanitário de Curitiba. Com isso, a Prefeitura afrouxou medidas de combate à pandemia, o que foi considerado inadequado pelo Ministério Público do Paraná, MP. Por meio da Promotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública da capital, o MP ajuizou ação civil pública por considerar que a alteração foi feita porque a matriz de risco utilizada pelo município deixa de promover a adequada avaliação de riscos em saúde pública, pois se apresenta qualitativamente inferior e superficial quando comparada com os indicadores do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) e Organização Pan-Americana (OPAS/OMS) O promotor Marcelo Paulo Maggio ressalta que a decisão do município leva em conta dados de apenas sete dias, mas que as autoridades nacionais e internacionais pregam a análise dos últimos 14 dias. A ação ainda destaca que o município desconsidera a “previsão do esgotamento de leitos de UTI”, importante diretriz a ser avaliada. No dia do anúncio do prefeito, existiam apenas 26 leitos de UTIs disponíveis. O MP requereu que seja concedida liminar que determine a incorporação em sua matriz de risco dos indicadores adequados. E, na sequência, que o município adote medidas adequadas a partir do nível de risco corretamente identificado e os que vierem a suceder.


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Paraná, 27 de agosto a 2 de setembro de 2020

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Mesmo com dificuldades, mães não querem volta às aulas neste momento Para entrevistadas, escola não é local seguro para deixar os filhos na pandemia Giorgia Prates

Ana Carolina Caldas

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oyce Rodrigues da Silva é mãe de uma menina de 6 anos. Ela sai todos os dias cedo para trabalhar e reveza entre as casas da mãe e da ex-sogra para deixar a filha neste momento da pandemia. Outras mães, que também moram na periferia de Curitiba, vivem a mesma realidade: ter de arranjar quem fique com seus filhos. Mesmo assim, Joyce e outras mães entrevistadas pelo Brasil de Fato dizem que, agora, não levariam seus filhos para a escola se as aulas voltassem. Para Haillen Evelin da Silva, 39, que mora no Parolin e trabalha o dia inteiro, as crianças em casa são uma proteção para todos. Ela trabalha em um café e é responsável pela renda atual da família, pois o marido está desempregado. “Eu mesma tenho medo de levar o vírus para

Giorgia Prates

casa, pois trabalho com o público. Imagine, as crianças! Como vão manter elas na escola sem contato físico?”, questiona. Essa também é a opinião de Joyce, que trabalha o dia intei-

ro e ainda se preocupa com as filhas e avós, que são do grupo de risco. “Meus dias têm sido de muito medo por não poder cuidar da minha filha e também pela possiblidade de trazer contaminação para ela

e as avós. Por isso mesmo, não mandaria minha filha para escola, pois neste momento seria muito arriscado para toda a família. Criança pega na mão da outra o tempo todo.” Já Naura Adriane de Oliveira, que mora no bairro Cidade Industrial, teve que parar de trabalhar porque não teria como levar o filho de 5 anos junto. Ela vendia churros em frente ao portão da escola. “Eu teria que levar ele, optei por ficar em casa com ele e a filha de 14 anos. Estou dando o meu jeito porque não acho que seja um momento bom para voltarem para a escola. O principal é a saúde deles.” Todas as três contam ter solicitado o auxílio emergencial, mas não conseguiram. Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro vetou projeto de lei que previa a prioridade a mulher chefe de família no pagamento do auxílio emergencial.

Deveriam pensar em quem mora na periferia”,diz moradora do Parolin sobre falta de água Chuvas da última semana não melhoram nível dos reservatórios em Curitiba e Região Lia Bianchini

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á dois meses, a rotina de Eleandra de Oliveira da Silva tem que se adaptar ao sistema de rodízio de água proposto pela Sanepar. Todas as semanas, sem exceção, sua casa fica pelo menos dois dias inteiros sem água. Eleandra é moradora do Parolin, está grávida e mora com o marido e três filhos pequenos, de 13, 9 e 3 anos. Sua casa não tem caixa d’água, depende exclusivamente do fornecimento da Sanepar. “Tem que ficar esperto, porque tem vezes que anunciam que vai faltar água e tem vezes que não anunciam”, conta Eleandra.

Os dias sem água são dias sem banho. O mínimo que ainda é possível economizar tem prioridade para ser bebida ou ser utilizada no preparo das refeições. A campanha “Meta20”, da Sanepar, que estimula que a população, individualmente, reduz em 20% o consumo de água em suas casas, é impossível de ser aplicada na realidade de Eleandra. “Não tem como. Nós usamos a água pra beber e fazer comida. Mas tem louça para lavar, roupa de três crianças para lavar, mais as do meu marido e minhas. Não tem como. Não tem lógica pedir isso aqui”, diz. Nos dias em que há fornecimento, Eleandra diz no-

tar uma qualidade ruim na água. “Vem barrenta, com cheiro ruim, com muito cloro. Está bem diferente. Não é como era antes. Tem um gosto ruim. Parece água de esgoto”, afirma. Para Eleandra, junto ao sistema de rodízio, deveria haver um cuidado maior com a população mais impactada pela falta de água. “Deveriam pensar em quem mora na periferia”, diz. Ela conta que, desde que começou a faltar água em sua região, nem Sanepar nem Prefeitura tentaram propor soluções para amenizar os impactos. “Não chegou ninguém aqui. A única coisa que chega é a conta de água”, diz Eleandra.

Giorgia Prates


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Paraná, 27 de agosto a 2 de setembro de 2020

Arquivo MST

União de moradores e trabalhadores organiza capacitação em cozinha comunitária No espaço, Manoela Lorenzi ressaltou a importância da saúde pública e preventiva Pedro Carrano

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a noite gélida de 21 de agosto, a União de Moradores e Trabalhadores (UMT) do Bolsão Formosa, no bairro Novo Mundo, em Curitiba, organizou a primeira de uma série de capacitações com integrantes de cinco associações de moradores locais. O espaço formativo aconteceu na associação de moradores Vila Leão e contou com a presença de Manoela Lorenzi, nutricionista e integrante da vigilância sanitária da cidade de Campo Largo. A partir de doação solidária do (MST) e do Sindipetro, a UMT já organizou por três semanas cozinha comunitária voltada para moradores, trabalhadores carrinheiros e moradores em situação de rua da PUBLICIDADE

região. E a ideia é continuar e seguir em frente. As marmitas são gratuitas, entregues às quintas-feiras, e alcançam em média 200 pessoas nesse local marcado pela luta por regularização fundiária. Ao lado da União de Moradores, criada em junho, organizações como Levante Popular da Juventude, Movimento das Trabalhadoras e dos Trabalhadores por Direitos (MTD), organização Consulta Popular atuam no apoio à região, em articulação e no marco da campanha Periferia Viva. No espaço, Manoela Lorenzi ressaltou a importância da saúde pública e preventiva. Baseada na obra da médica Asa Cristina Laurell, disse que as diferentes enfermidades impactam as classes sociais de

formas diferentes. “Tirei muitas dúvidas sobre o que devemos ou não fazer. Às vezes estamos tentando fazer da melhor maneira possível, mas não tínhamos esse conhecimento. Sempre é bom aprender cada vez mais, tendo alguém que te instrua para fazer o certo, é o melhor porque estamos trabalhando com várias pessoas, servindo comida não só para a gente, então temos que ter o máximo cuidado”, afirma Eliane Rodrigues Steinhaus, moradora da região da Formosa e integrante da UMT. A perspectiva é continuar com os cursos, que devem abranger também os Agentes Populares em Saúde, bem como um Curso de Comunicação Popular para capacitar a comunidade a produzir sua própria comunicação.

Cerca de 600 famílias de Telêmaco Borba, Ortigueira e Imbaú recebem alimentos do MST Redação As baixas temperaturas no Paraná não atrapalharam a mobilização de centenas de famílias assentadas e acampadas, que doaram 8 toneladas de alimentos, no sábado (22). A ação ocorreu nas cidades de Imbaú, Ortigueira e Telêmaco Borba, onde os termômetros marcaram cerca 3 graus no início do dia. As sacolas distribuídas carregaram feijão, mandioca, beterraba, batata doce, repolho, couve-flor, banana, laranja, poncã e uma variedade de alimentos cultivados pelos agricultores e agricultoras. Além dos frutos da terra, 600 pães e bolachas caseiras, também produzidos pelas famílias, incrementaram as doações. Cerca de 600 famílias em situação de vulnerabilidade receberam os alimentos, a partir da distribuição em três bairros e na igreja matriz de Orti-

gueira; em quatro bairros e na igreja matriz de Imbaú; e no Centro Promoção Humana de Telêmaco Borba. Sirlene Morais, integrante da direção estadual do MST e produtora agroecológica do assentamento Guanabara, acompanhou a mobilização e relata o que viu: “Foi uma semana bastante fria e chuvosa na nossa região, mas mesmo assim a gente sentia o calor humano e a alegria das pessoas em fazer parte deste ato de solidariedade”. Participaram da ação o assentamento Guanabara, localizado em Imbaú, os assentamentos Iraci Salete, Padre Josimo, Imbauzinho, Libertação Camponesa, Índio Galdino, e os acampamentos Gonzaga 1 e Gonzaga 2, todos de Ortigueira. A iniciativa faz parte da campanha nacional do MST em solidariedade a quem enfrenta o desemprego e a fome neste período de pandemia.


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Paraná, 27 de agosto a 2 de setembro de 2020

Alfaiataria oferece curso com certificação sobre cinema lésbico As aulas acontecem por meio virtual nos dias 1 e 2 de setembro

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Espaço Cultural curitibano Alfaiataria está oferecendo vários cursos desde o mês de agosto. Nos próximos dias 1 e 2 de setembro é a vez de refletir sobre o Cinema Lésbico. A partir da investigação ao redor da presença de personagens lésbicas no cinema e das políticas de representação que tais imagens e narrativas articulam em seus diferentes contextos históricos de realização, o curso discutirá a emergência das lesbianidades no cinema nacional contemporâneo. As ministrantes são Camila Macedo e Debora Zanatta. Camila é doutoranda e mestra em Educação pela Universidade Federal do Paraná (PPGE-UFPR) e bacharel em Cinema e Vídeo pela Universidade Estadual do Paraná (FAP-Unespar). Atuou como

diretora artística e curadora do festival COLORS: Cinema + Diversidade (Curitiba, 2017) e, atualmente, compõe pelo terceiro ano consecutivo a equipe de seleção e programação de filmes do Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba (2018-2020). Débora Zanatta é mestranda em Cinema e Artes do Vídeo e Bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Estadual do Paraná (FAP-Unespar). Dirigiu os curtas-metragens Lovedoll (2015), Ocorridos do dia 13 (2016), Primavera de Fernanda (2018) e Aonde vão os pés (2020). Desde 2015 é Produtora Executiva do FIDÉ Brasil - Festival do Documentário Estudantil. Em parceria com Camila, é curadora e cineclubista do Sesi Cineclube Solax e coordenou o Núcleo Audiovisual Sesi/PR (2019).

DICAS MASTIGADAS

Molho de berinjela A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 2 dentes de alho orgânico picados. 4 tomates orgânicos cozidos e batidos no liquidificador ou 6 colheres de sopa de polpa de tomate. 1 colher de chá de orégano fresco orgânico. Reprodução 3 colheres de sopa de óleo. 2 copos de berinjelas cortadas em tiras. 1 ½ copo de água. Sal e pimenta a gosto. Modo de Preparo Doure o alho no óleo. Junte a berinjela e refogue por 5 minutos. Acrescente a água, o sal, a pimenta, o orégano e os tomates. Cozinhe por cerca de 5 minutos até engrossar ligeiramente. Dica: se for usar para macarrão, essa receita é suficiente para 500g da massa.

Serviço Quando 1/9 e 2/9, das 19h às 21h30 Onde Online (Via Google Meet) Quanto R$ 100,00 Mais informações: https://www.alfaiataria.art/cursos

Gibran Mendes

Ana Carolina Caldas

Divulgação

Por Venâncio de Oliveira

Ele é sujo e extraordinário A inércia condena. Ele é sujo e extraordinário. Estou atado a uma estrada que não escolhi. Mas como a caminhei, temo voltar. Tudo que vivi construiu um afeto ante esse boçal. Um mago me enfeitiçou pela ‘pira’, foi sua expressão... Eu sou incrível. Todos queriam minha companhia e minha sabedoria. Porém, ele conseguiu esconder, naquele jeito altivo mágico, sua estupidez. Mas não era óbvio desde o começo? Olha que gracinha ele chegando com seu motor aquático, enquanto todos temem a febre venenosa. O bru-

to e absurdo me negou. Me apaixonei por uma flecha que feriu meu ego? Ele realmente falou coisas que pareciam bonitas? Não lembro, apenas me vem a mente sua tenacidade em destruir a todos. Assim lutei para ser-lhe fiel que ele ficou comigo por dó e obrigação. Eu paguei e fui jogado nessa estrada sombria. Logo que se findou o feitiço que o impedia de me desejar, ele começou a me admirar. E isso me mobilizou um sentimento de aversão: vi sua totalidade de sujeira e brutalidade. Mas agora a inércia me escravizou e só tenho a teimosia para me defender: Ele é sujo e extraordinário.


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Tabela contaminada pelo vírus da bagunça

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Brasileirão para no meio de semana, mas tem jogo atrasado e adiantado no mesmo dia Frédi Vasconcelos

O

último final de semana marcou o que seria, em tese, a quinta rodada do Brasileirão. Para o meio da semana estava prevista rodada da Copa do Brasil, com paralisação da disputa por pontos corridos. Seria assim não fosse a bagunça que está contaminando o campeonato e o calendário. O Corinthians terminou o final

de semana com apenas três jogos e enfrenta o Fortaleza depois do fechamento desta edição, na quarta, 26. Ok, teve um jogo adiado na primeira rodada por conta das finais do Paulistão. Mas é mais difícil entender por que São Paulo e Athletico tiveram sua partida da 11ª rodada adiantada também para a quarta. Interesses da TV? Nas finais dos estaduais já havia sido adotado um critério estraDivulgação

nho. Quem tinha um jogo acabaria o campeonato e teria partida adiada no Brasileirão. Finais com ida e volta ficariam para depois, para esta quarta e o próximo final de semana, em que os outros times estarão jogando a sexta rodada. A tabela então ficará com times com 5, 6, 7 ou sabe-se lá quantas partidas disputadas. A pandemia, realmente, contaminou o calendário, que já não era dos mais organizados. No campo, disputa quente Apesar da bagunça na tabela, o campeonato deste ano promete ter disputa árdua pelo título. O Flamengo, que era favorito antes de a bola rolar, teve apenas uma vitória e dois empates em cinco rodadas. Terá de melhorar muito para se recuperar e escapar da vizinhança com o Corinthians, que começou a rodada com 4 pontos em três jogos. Do outro lado, o Inter está na liderança, com 12 pontos, depois de ter vencido o duelo com o ponteiro anterior, o Atlético-MG.

O retorno chegou No Brasil, as competições de futebol retomaram as atividades em junho com o campeonato carioca masculino. Após 164 dias, é a vez das mulheres entrarem em campo novamente pelo Campeonato Brasileiro A1. Na quarta-feira, 26, para completar a quinta rodada, entraram em campo Corinthians x Ferroviária, repetindo as finais do Brasileirão e da Libertadores de 2019, Santos x Audax e Flamengo x Internacional. A sexta rodada será no final de semana. A retomada dos jogos sem o controle da pandemia de Covid-19 implica na utilização de protocolos sanitários estabelecidos pela CBF, como exames, aferição de temperatura, máscaras, álcool em gel e a ausência dos torcedores nas arquibancadas. Poucos clubes retomam a temporada sem mudanças, como Santos e São Paulo. O Palmeiras trouxe Camilinha e Janaína, o Corinthians repatriou Yasmin, a Ferroviária fechou com Daiane, o Flamengo e o Internacional contrataram Cida e Rafa Travalão, respectivamente. O caso mais duro é do Iranduba com grave crise financeira e ainda sem time completo.

Agosto/2020 em outubro/2019

Via Sacra

Momento-chave para Dorival

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Por Douglas Gasparin Arruda

Domingo, às 16 horas, a administração coritibana presidida por Samir Namur estará concluindo o terceiro e grosseiro erro consecutivo de planejamento anual. No jogo em casa contra o Sport, o técnico Jorginho inicia novo trabalho em situação sensível: após as primeiras e más jornadas da Série A. Em quatro oportunidades alertei, critiquei e lamentei o equívoco, perante mais de 100 testemunhas. Propus sempre: superintendente e treinador de ponta hão de ser definidos no desenlace da temporada anterior. Devem escolher os atletas da base que ascenderão ao profissional. Estes serão testados no Paranaense, juntando-se aos prospectados na Copinha SP e no mercado (poucos e bons jogadores), para elenco terrivelmente enxuto. Dado o alto custo da aposta em dupla de profissionais tão qualificada, seria essencial que fosse mantida por 12 meses.

Passada a emoção de mais um histórico Paraná Clube e Botafogo, é hora de virar a chave e voltar a pensar no Brasileirão. E a tabela nos coloca grandes desafios para os próximos dias. Em menos de uma semana, enfrentaremos três equipes que, em tese, são postulantes à briga pelo acesso. No sábado, dia 29, o desafio é o Vitória, em Salvador. Depois de ficar de fora das semifinais no baianão, o rubro-negro ainda não perdeu na Série B. No entanto, até agora conquistou apenas uma vitória. Na terça, dia 1º, em Curitiba, o tricolor enfrenta a Ponte Preta. A Macaca ocupa atualmente a quinta posição. Três dias depois, na sexta, dia 4, o Paraná encara o Figueirense, em Florianópolis. Embora faça uma temporada irregular, o alvinegro é sempre um osso duro de roer. A certeza é de mais uma semana com fortes emoções para a torcida paranista.

Depois da terceira derrota seguida e com uma apresentação abaixo do esperado, o diretor de futebol Paulo André concedeu importante entrevista coletiva. Tentando proteger ao mesmo tempo o técnico e o elenco, o diretor esclareceu alguns pontos delicados do atual momento do time, e um deles se refere ao modelo de jogo adotado pelo atual técnico. Segundo Paulo André, há uma diferença entre a metodologia da equipe técnica comandada por Dorival Jr., o já famoso Jogo de Posição, e a proposta do Athletico, chamada internamente de Jogo-CAP. Casar os dois métodos é, sim, possível, mas será necessário a Dorival Jr. e sua equipe aliar a ideia de posse de bola com uma das essências do Jogo-CAP: fi nalizar muito, justamente o que faltou para o rubro-negro nas 3 derrotas – foram apenas 7 nos 270 minutos.


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