Brasil de Fato PR - Edição 166

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Brasil | p. 6

Saúde Casos de pneumonia indicam subnotificação de coronavírus

Cine Passeio tem programação e aulas on-line

PARANÁ

Giorgia Prates

Cinema em casa

Divulgação

Cultura | p. 8

Ano 4

Edição 166

14 a 20 de maio de 2020

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

Por conta própria

Giorgia Prates

Sujeitos a despejos, ausência de escritura e políticas públicas, além de violência, associações de moradores no Sabará, na Cidade Industrial, organizam-se na crise. Aumentam campanhas de solidariedade Cidades | p. 5 Giorgia Prates

A CRISE ECONÔMICA JÁ CHEGOU Presidente não faz nada para melhorar situação, mas tenta jogar a culpa em governadores e prefeitos por crise que começou antes da pandemia no Brasil | p.7

Cidades | p. 4

Mapa da solidariedade Iniciativa mostra campanhas e populações vulneráveis em Curitiba e Região Metropolitana

Editorial | p. 2

ENEM Bolsonaro e Weintraub querem universidade apenas para elites

Porém.net | p. 3

Paraná Ratinho atropela o isolamento


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Paraná, 14 a 20 de maio de 2020

Bolsonaro despreza a pandemia e a Educação EDITORIAL

A

irresponsabilidade do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia de Covid-19 afeta o acesso do povo brasileiro à Educação. Mesmo com os relatos de milhões de estudantes com aulas presenciais interrompidas, dificuldades ou inexistência de aulas virtuais, acesso limitado à internet, necessidade de ajudar os pais para acesso à renda ou nos trabalhos domésticos, e elevação da fome – mesmo assim,

o ministro da Educação, Abraham Weintraub, decretou que mantém a realização do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. A desigualdade no país se agrava, privilegiando os estudantes mais ricos e com mais chance de acesso às universidades em 2021. Esta é a crítica das entidades estudantis, caso da UNE e UBES, que também propuseram ação pedindo mandado de segurança no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Medidas de correção de desigualdades, caso das cotas nas universidades públicas, ou mesmo FIES e Prouni nas particulares (que também foram diminuídas neste governo), exigem bom desempenho dos candidatos, e isso não será atingindo com metade do ano letivo perdido. Bolsonaro e seu ministro Weintraub querem elitizar ainda mais o acesso à Educação superior no Brasil, ampliando a desinformação e desigualdade.

SEMANA

Brasil de Fato PR EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 166 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Valerio Arcary, Fernando Prioste e Renato Almeida de Freitas ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Andressa Katriny, Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/ bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com

Autocrítica não diminui ninguém, engrandece

OPINIÃO

Valerio Arcary,

militante político brasileiro, participou da revolução dos Cravos em Portugal, em 1974

U

m bom tema de conversa sobre a militância é a relação entre ativismo e felicidade. Através da militância procuramos autoemancipação e plena realização, mas o compromisso não é indolor. Militar é defender ideias. Quem defende ideias e propostas corre o risco de errar. Errar traz sempre algum grau de sofrimento.

A militância se sustenta na esperança da possibilidade de transformar o mundo e diminuir a injustiça, desigualdade, exploração, opressão, tirania. A militância é uma resposta às condições políticas e sociais que perpetuam o sofrimento humano. Essa aposta é difícil, arriscada e incerta, e exige abnegação, desapego e firmeza, senão sacrifício. Tem, também, muitas recompensas: o contentamento emocional de que vencemos as paixões egoístas, o conforto moral de que somos úteis,

a satisfação mental de que entendemos o mundo que nos cerca, o orgulho que desperta da ação para transformá-lo, ou o alívio psíquico de que não somos indiferentes e, portanto, a vida tem um sentido. Mas a maior alegria é pensar que temos razão. Lutar pela causa justa, ser uma pessoa decente, traz felicidade. Mas se é assim, por que tantos militantes sociais desistem? Quais são as dores da própria militância? Há muitas, a lista é longa. Entre as mais comuns, quebram porque os riscos são

grandes, porque o medo pode ser avassalador, pelas pressões de classe, porque a dedicação militante exige muito; quebram porque cansam, porque os anos passam e a luta é longa e difícil. Quebram porque são confrontados com o impacto da realidade que contradiz as suas crenças. Descobrem que acreditavam em, pelo menos, algumas ideias erradas, e perdem a confiança. Ninguém é infalível, nem o Papa. Logo, todos erramos, e as organizações erram também.


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Paraná, 14 a 20 de maio de 2020

Geral | 3

QUE DIREITO

FRASE DA SEMANA

Nos bastidores, Ratinho Jr vai furando isolamento social Faça o que eu digo, não faça o que eu decreto. Este parece ser o discurso dúbio do governador Ratinho Junior (PSD) com relação à pandemia de Covid-19. De um lado, ele desautorizou a reabertura de academias, salões de beleza e barbearias após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tornar esses serviços essenciais. De outro, está convocando professores e funcionários de escola para retornar às atividades e ainda está obrigando servidores do grupo de risco a “repor os dias parados”. De acordo com a resolução n.º 1.611/2020, da Secretaria de Educação, o estado do Paraná obriga servidores públicos do grupo de risco a voltarem às atividades em formato de teletrabalho, mesmo que estejam contaminados. O secretário de Educação, Renato Feder, ainda exige que grávidas, portadores de doenças crônicas e respiratórias apresentem laudo comprovado pela perícia do estado. Para o advogado trabalhista, Marcelo Veneri, a resolução é questionável. “Em relação à reposição dos dias parados, não vejo onde esteja enquadrado, até porque se houve suspensão do trabalho não foi por iniciativa do servidor”, destaca.

É ESSE?

“O que nós fizemos para merecer essa tragédia de proporções bíblicas: ter a Covid-19 e Bolsonaro de uma só vez? O vírus e o verme?”

Fernando Prioste

Renda cidadã é direito

Questionou a jornalista Cynara Menezes em seu blog, em texto que fala das expectativas dos leitores póspandemia.

Divulgação

“O prefeito é refém dos empresários de ônibus” ENTREVISTA

Redação Paraná Especialista no transporte coletivo de Curitiba, o economista Lafaiete Santos Neves denuncia os empresários do transporte que, desde os anos 50, definem as políticas da Prefeitura da capital. Brasil de Fato Paraná - Temos neste momento menos ônibus, aglomerações nas ruas, o prefeito Rafael Greca coloca para as pessoas que não têm recursos, mas faz repasse de milhões aos empresários. Como entender esse quadro?

Braga foi prefeito de Curitiba e doou as linhas de ônibus para os empresários, a família Goulin é a mais conhecida. Na época de Lerner (74 e 79, durante a ditadura), não teve licitação. O Ministério Público obrigou a fazer a licitação em 2009. O Beto Richa era o prefeito e enviou um projeto cheio de fraudes. Requião havia assumido em 1985 e atacou os empresários, com aquele panfleto dizendo “Mãos ao alto que a tarifa é um assalto” e ganhou a eleição porque mostrou que Lerner estava atrelado aos empresários Andressa Katriny

Lafaiete Santos Neves - O prefeito é refém dos empresários de ônibus. E já faz muito tempo. Vou destacar dois prefeitos. Um rompeu, que foi o Requião (1986 1989), e o outro tentou romper com esse sistema, que foi o prefeito Gustavo Fruet (2012 – 2016). Em 54, Ney

do transporte desde 1974, quando implantou o Ligeirinho. Requião, por sua vez, criou uma frota pública e tinha como controlar a tarifa. Na volta de Lerner à prefeitura (1988) ele desfez tudo o que Requião havia feito. Fruet também foi muito pressionado pelos empresários, não? O slogan dele era “vou abrir a caixa-preta do transporte”. Nomeou uma comissão, entre os quais eu fui nomeado, preparamos um relatório, ficamos quatro meses na Urbs, mostramos que a licitação foi irresponsável (…) A concessão é pública, mas ninguém sabe quanto eles pagam o diesel, porque não mostram a nota, pneus e todos os insumos. A íntegra da entrevista está na página do Brasil de Fato Paraná no Facebook

Por causa do coronavírus, o Estado brasileiro aprovou um auxílio emergencial. Como é necessário estar em isolamento social para garantir que a disseminação do vírus seja controlada, muitos trabalhadores autônomos e informais estão sem renda. É dever do Estado garantir que toda a população tenha acesso a meios para prover sua subsistência. Assim, esse auxílio é devido a pessoas desempregadas e trabalhadoras autônomas ou informais com renda familiar de até 3 salários ou meio salário mínimo por pessoa, entre outros requisitos. O dinheiro das três parcelas de R$ 600,00 vem do Estado, ou seja, do imposto que pagamos quando compramos feijão no mercado. Mas também vem do imposto que o rico paga quando lucra com o trabalho do povo. O benefício distribui renda para quem não teve o privilégio de nascer em família rica. Mas mesmo antes do coronavírus, e certamente depois, muitas famílias continuarão com dificuldades para conseguir trabalhar de forma a ter uma renda suficiente para sustentar a família dignamente. Esse auxílio poderia ser permanente. Os ricos contribuem com impostos e as famílias pobres, que são obrigadas a trabalhar duro por uma renda pequena, recebem o benefício. O que você acha? Fernando Prioste, integrante da Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares


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Paraná, 14 a 20 de maio de 2020

Mapa virtual mostra populações vulneráveis e solidariedade em Curitiba Iniciativa partiu de movimentos populares e foi criada por alunos e professores da UTFPR Lia Bianchini

A

partir de sugestão de movimentos populares, surgiu a ideia de criar uma plataforma que relacionasse as populações vulneráveis e as ações de solidariedade que estão sendo feitas durante a atual pandemia. A ideia tomou forma com apoio de um núcleo de extensão da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), e assim nasceu o Mapa da Solidariedade. “O mapa, hoje, mostra pra gente que a periferia de Curitiba e Região Metropolitana é grande e está em áreas que já tinham vulnerabilidades. Agora, essas são as comunidades mais vulneráveis porque falta estrutura”, diz Vanda de Assis, assistente social e membro do Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo (Cefuria), uma das entidades participantes. O Mapa da Solidariedade, fei-

to por estudantes e professores do curso de Arquitetura e Urbanismo da UTFPR, integra a plataforma virtual Paraná Contra a Covid-19, tocada por entidades da sociedade civil. Além do Mapa, a plataforma reúne conteúdo técnico, como painel dos casos e mapa de setores de risco. Simone Polli, professora da graduação em Arquitetura e Urbanismo e do programa de mestrado e doutorado em Planejamento e Governança Pública da UTFPR, coordena a ação de extensão universitária que elaborou o Mapa. Para ela, a iniciativa reforça a importância da universidade pública neste período. “A universidade não para. Nós temos muitos projetos de extensão a serviço da sociedade, principalmente das pessoas mais vulneráveis. Com o mapa temos uma visão do conjunto das necessidades, mostrando, além da solidarieda-

de, a necessidade de políticas públicas para enfrentar esse problema”, afirma. Atualmente, o mapa reúne mais de 100 ações de solidariedade. A plataforma é colaborativa e tem atualização permanente, as entidades podem entrar

em contato e se cadastrar. Ao acessar, há informações sobre a entidade que está realizando, qual é o objetivo, o público-alvo, como ajudar e indicações de contato. Para acessar, digite: https://bit. ly/3cspP5H Divulgação

Giorgia Prates

Pressionar o poder público Lia Bianchini

O

s movimentos populares estão em campanha constante de arrecadação e entrega de doações às populações mais vulneráveis em Curitiba e na Região Metropolitana. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por exemplo, doou mais de 90 toneladas de alimentos em todo o Paraná. Desde o final de abril, o MST também se somou à campanha do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR) e do projeto Mãos Invisíveis para produção de marmitas para a população em situação de rua. O Cefuria tem atuado principalmente com trabalhadores da reciclagem. A entidade está em campanha de arrecadação e já contribuiu com a entrega de

mais de 600 cestas básicas. A campanha 1 milhão de 1 real, iniciada no começo de abril, já doou 470 cestas básicas, sendo 170 de produtos agroecológicos. Neste primeiro mês, a campanha já arrecadou R$ 32 mil, que estão sendo transformados em alimentos e produtos de higiene. Atuando nas campanhas do Cefuria desde o início da pandemia, Vanda de Assis conta que a dificuldade de muitas famílias é constante. “Em todas as comunidades que a gente foi, a demanda era real. Não era só questão de uma cesta básica, é mais. Quando chega uma cesta básica, já faltou o gás. Quando chega o gás, já faltou o leite, é uma necessidade grande”, diz. Segundo pesquisa da urba-

nista Madianita Silva, na metrópole de Curitiba, no final da década de 2010, existiam 984 assentamentos e 98.444 domicílios em espaços informais de moradia, sendo 72% desses espaços formados por favelas. Na análise de Vanda, é preciso que as prefeituras cumpram seu papel e garantam os direitos básicos dessas milhares de pessoas. Para ela, as campanhas dos movimentos populares servem também para tornar visíveis as demandas que o poder público tem ignorado. “Agora é hora de unir essa experiência nossa [dos movimentos populares] de conhecer a demanda da população com a pressão e a exigência para que os governos cumpram programas que atendam a demanda gerada a partir da pandemia”, afirma.


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Paraná, 14 a 20 de maio de 2020 Giorgia Prates

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Comunidade Dona Cida: organização antes e depois Pedro Carrano,

com fotos de Giorgia Prates

Há vinte anos sem escritura da casa, sob ameaças de despejo e violência policial, comunidades da CIC tocam a vida sem apoio do poder público Pedro Carrano,

com fotos de Giorgia Prates

A

Associação comunitária dos moradores das vilas Esperança e Nova Conquista, fundada em 2008 e localizada na região do Sabará (Cidade Industrial de Curitiba), mantinha até pouco tempo a rotina de reuniões mensais, na sede onde já aconteceu de tudo: confecção de jornal de bairro, padaria comunitária etc. Organizava também rodas de conversa, com temas de interesse geral da população. Neste momento de combate à Covid-19 e isolamento social, a associação de moradores mudou suas ações. Seu Sebastião, José do Carmo, Olga de Souza e integrantes da direção buscam apoiar as fa-

mílias necessitadas – embora arrecadem pouco ou nenhum recurso enquanto entidade. Num cadastramento de 50 pessoas, ainda possuem dificuldade para apoiar todos os moradores com donativos. Encaminhamentos para os Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) da região também são feitos, além de apoio para ligação de luz e água. Ação de usucapião coletivo Revoltante é também o fato de muitas dessas famílias já terem quitado as prestações com a Cohab, mas ainda não possuírem a escritura da casa. Na década de 80, após a ocupação, moradores assinaram contrato com a Cohab para a compra dos terrenos. São cerca de 37 mil famílias em

doze áreas da região sul da capital nesta condição, no chamado episódio da fraude da Cohab, quando se revelou, em 2010, que os terrenos pertenciam à empresa Curitiba SA. “Eu mesmo quitei no ano 2000, tenho o papel de quitação, carnê pago, tudo guardado”, lamenta Seu Sebastião.

LONGA ESPERA Em 2008, a Associação de Moradores das Vila Esperança e Vila Conquista, com apoio da Terra de Direitos, entrou com ação de usucapião coletivo contra a Cohab de Curitiba, devido à empresa ter feito um contrato de Concessão de Uso do Solo como se fosse um contrato de venda.

Violência policial é uma marca constante Segue marcado na memória o brutal episódio do dia 8 de dezembro de 2018, quando casas foram incendiadas na área 29 de Março, o que foi denunciado como retaliação policial. Nesses dias, um jovem foi agredido pela polícia. “Estávamos trocando a fiação de luz e disseram que era roubo. Brigamos e denunciamos e agora está mais tranquilo”, afirma um dos moradores da região. *Mantemos nossa política editorial de preservar o nome de lideranças

Giorgia Prates

Associações de Moradores na Cidade Industrial: por conta própria

Lideranças se formam neste momento de resistência às crises econômicas, políticas e sanitária atuais. No complexo de quatro ocupações, ocorridas entre 2012 e 2016, em permanente ameaça de despejo forçado, Juliana* é uma das lideranças da comunidade Dona Cida. Ela é atenta à necessidade de apoio às famílias, em tempo de políticas sociais limitadas e várias demandas da comunidade. Para ter uma ideia, o Instituto Democracia Popular informa que “30% das pessoas dessas ocupações que solicitaram o auxílio de R$ 600 aprovado pelo Congresso, foram recusadas por problemas burocráticos”. As distribuições a partir de doações solidárias, organizadas por entidades, são feitas na tenda principal da área e abrangem moradores das cinco áreas. Até antes da pandemia, a organização popular vinha acontecendo via Movimento Popular por Moradia (MPM) e grupos de lideranças organizados em cada comunidade. A comunidade Dona Cida possui registro como associação. Para Juliana, ainda é cedo para dizer

se a jovem associação contribui para a organização local: “As pessoas têm confiança nas lideranças, já têm o conhecimento, é essencial, estou esperando passar a pandemia para iniciar projetos”, afirma.

SOLIDARIEDADE A campanha “Resistindo com Solidariedade” é uma iniciativa de arrecadação financeira e de alimentos do Instituto Democracia Popular, da Casa da Resistência, do Sindicato dos Bancários de Curitiba, entre várias entidades. Outras iniciativas de solidariedade são as campanhas Periferia Viva e campanha 1 milhão de 1 real. SERVIÇO Caixa Econômica | Ag 0891 | Op 003 | Conta corrente 431-6 CNPJ 20.999.012/0001-89 Instituto Democracia Popular


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Paraná, 14 a 20 de maio de 2020

Mortes por pneumonia superam números do ano passado

Dados levantam suspeita de subnotificação de casos de coronavírus no Paraná Giorgia Prates

Ana Carolina Caldas

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ados do Portal Transparência - Registro Civil revelam que o número de óbitos por doenças respiratórias, em todo o Brasil, já é superior a 2019. E o Paraná segue a mesma tendência. Os números baseiam-se nas Declarações de Óbito registradas nos cartórios relacionadas à Covid-19 e causas respiratórias. No Brasil, de janeiro a 12 de maio de 2020, são 70.437 óbitos por pneumonia. Número já superior a 2019, que, no mesmo período, registrou 66.170 casos. No Paraná, foram, em 2020, considerando apenas 12 dias deste mês, 3.651 casos de morte por pneumonia. Contra 3.323 de janeiro a todo o mês de maio de 2019. Como há 113 mortes por coronavírus confirmadas no Estado, esses números trazem dúvidas sobre subnotificação por falta de

resultados de testes, já que uma das principais decorrências do novo vírus é exatamente pneumonia e insuficiência respiratória. Se for analisado, por exemplo, um período mais curto, entre 30 de abril e 12 de maio, há registro em 2019 de 62 mortes por pneumonia. Enquanto que, no mesmo período, em 2020, o número quase quadruplica, chegan-

do a 215 óbitos. Os números de óbitos por pneumonia vêm crescendo no Paraná e são superiores às mortes registradas como Covid-19. É possível que esses casos sejam agravamento do coronavírus, porém não estão sendo registrados como tal. Ao analisar esses dados, a especialista em saúde da família do trabalhador e técnica da Vigilância em Saú-

de da Secretaria Municipal de Campo Largo, Manoela Lorenzi, além de confirmar que os casos de internamento por pneumonia aumentaram, diz que a falta de testagem dificulta identificar se são relacionados à Covid19. “Parece lógico que, em meio à pandemia de uma doença viral, que traz consequências para o sistema respiratório, haja como consequência o aumento de casos de pneumonia. Porém, se não forem realizados testes, entrarão como casos suspeitos sem coleta.” Atualmente, no Paraná, segundo dados da Sesa, site institucional da Secretaria de Saúde do Estado, são 582 casos suspeitos de infecção por coronavírus. A possibilidade de subnotificação é compartilhada por Irene Rodrigues, que integra a Secretaria de Saúde do Trabalhador da Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público (Confetam).

“Tem grande probabilidade que os números de casos do coronavírus estejam subnotificados, pois, sem a testagem, os dados ficam suscetíveis a erros. Para além dos dados de pneumonia, já há um elevado número de óbitos sem causa específica”, diz Irene. O Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde, mas até o fechamento desta edição não houve resposta. Divulgação

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Paraná tem menos casos confirmados, mas mais mortes por coronavírus Outro indicativo de que os casos de coronavírus estejam subnotificados no Paraná por conta da falta de testes é que, comparando os três estados da Região Sul, o Paraná tem o menor número de casos confirmados, mas a maior incidência de mortes. Pelos dados oficiais, no Paraná, até 12 de maio, são 1.906 casos de infecção por Covid-19, com 113 mortes. O Rio Grande do Sul tem quase o mesmo número de mortes, mas com cerca de mil infectados a mais. São 11 mortes e 2.917 casos confirmados. Já Santa Catarina tem 73 mortos para quase o dobro de casos confirmados que o Paraná, 3.767. Em suas últimas entrevistas, o governador Ratinho Jr. e seus assessores têm dito que vão aumentar o número de testes no Estado. A promessa é de entregar 178 mil testes rápidos aos 399 municípios. Em abril, foram anunciados 52,4 mil para as regionais de saúde.


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Economia sofrerá o maior baque deste século, com ou sem fechamento de cidades Presidente tenta jogar culpa em governadores e prefeitos porque desastre é iminente Giorgia Prates

Frédi Vasconcelos

ESTRATÉGIA DE TRUMP

Q

ualquer previsão feita no começo de 2020 para a economia não vale mais nada por conta da pandemia. Mas até antes do primeiro caso oficial registrado no Brasil de coronavírus, em 26 de fevereiro, os sinais eram ruins. O PIB de 2019, primeiro ano de Bolsonaro, foi de verdadeira estagnação, de 1,1%, deixando a economia do Brasil do tamanho que tinha em 2013. Pra quem não se lembra, o dólar já estava em R$ 4,43 quando apareceu o primeiro caso. Além do que, nos números fechados recentemente, o desemprego formal já estava subindo. Tinha chegado a 11,6% no trimestre encerrado em fevereiro, segundo dados do IBGE, com 12,3 milhões de desempregados. Cerca de meio ponto percentual a mais que no trimestre anterior, ou 60 mil pessoas a mais na rua. Sem contar queda de renda e os recordes de trabalhadores infor-

mais gerados pelas reformas trabalhistas, com cerca de 36 milhões de pessoas nessa situação no fim de fevereiro. Com a crise do coronavírus, tudo piorou. No fechamento desta edição, o dólar estava próximo dos R$ 6. A arrecadação do governo federal teve queda real de 3,32% em março em comparação com o mesmo mês do ano anterior, com os primeiros impactos do coronavírus na economia. E a previsão do secretário do Tesouro, Mansue-

to Almeida, em meados de abril, é que o déficit primário do governo federal em 2020 pode chegar a 600 bilhões de reais ou 8% do PIB. A previsão no final de 2019 era de déficit inferior a R$ 100 bilhões. Agora, há quem fale até em R$ 1 trilhão, dez vezes mais. Outro sinal da tempestade econômica que vem por aí é que os pedidos de seguro-desemprego de quem tinha carteira assinada subiram 22,1% em abril, chegando a 748 mil benefícios requeridos.

Tal como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Bolsonaro aposta num discurso contra o isolamento social para “salvar a economia” e para tentar se desvincular da grave crise econômica. Jogando para governadores e prefeitos a responsabilidade do que já estamos enfrentando em todo o mundo e que depende pouco de as cidades ficarem fechadas em maior ou menor proporção. Em entrevista ao jornal “El País”, o economista e professor em Harvard, Kenneth Rogoff, afirma: “Parece que nos dirigimos a uma profunda recessão global, com um tamanho nunca visto desde a Grande Depressão”, diz. “Esperemos que seja muito mais curta. Ainda que a rapidez da saída dependa de como o vírus se desenvolva e a resposta do sistema de saúde. Mas, até mesmo no melhor dos casos, a situação é terrível aos mercados emergentes.”

Cerca de 72 mil militares recebem indevidamente auxílio de R$ 600 Redação

E

nquanto milhões de autônomos ou desempregados ainda esperam nas filas da Caixa ou em suas casas para ter acesso ao benefício de R$ 600 aprovado no Congresso Nacional, 72,3 mil militares receberam o auxílio emergencial indevidamente. O Ministério da Defesa reconheceu que foi identificada a possibilidade de recebimento indevido, “por integrantes da folha de pagamentos deste ministério”, diz em nota. E que “Já estão sendo adotadas todas as medidas necessárias à rigorosa apu-

ração do ocorrido, visando a identificar se houve valores recebidos indevidamente, de modo a permitir a restituição ao erário e as demais considerações de ordem administrativo-disciplinar, como necessário”, afirma em outro trecho. Segundo informações do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, cerca de 50 milhões de pessoas receberam a primeira parcela do auxílio emergencial. E outros 17 milhões aguardavam resposta para esta semana. E cerca de 30 milhões foram considerados inelegíveis por não preencherem os requisitos exigidos pelo governo.

Giorgia Prates


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Cine Passeio disponibiliza filmes e aulas gratuitos sobre cinema Programação pode ser vista enquanto salas de cinema permanecem fechadas Divulgação

Redação Fechado desde o início da pandemia do coronavírus, o Cine Passeio, em Curitiba, resolveu levar fi lmes para dentro da casa dos curitibanos. Em uma iniciativa do Instituto Curitiba de Arte e Cultura (Icac) e a Fundação Cultural de Curitiba (FCC), enquanto vigorarem as medidas de prevenção contra a pandemia, os fi lmes serão disponibilizados via internet e de graça. A programação começou na semana passada, com a abertura dos ambientes virtuais para acesso a sessões de cinema, aulas chamadas de masterclasses e podcasts. No próximo dia 16, haverá a masterclasse “Conversas sobre o cinema: Mario Bava, o maestro do macabro.” O ciclo de masterclasses é também online e gratuito, ministrado pelos pesquisadores Fernando Brito e Raphael Cubakowic. As aulas acontecem todos os sábados, das 15h às 17h, e é necessária inscrição prévia.

DICAS MASTIGADAS

Berinjela recheada por Rose Pollis A cada semana, publicamos aqui receitas enviadas por consumidores de produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 1 berinjela orgânica. 1 cebola orgânica. 2 dentes de alho orgânicos. 2 tomates orgânicos. 2 colheres (sopa) de azeite ou óleo. Sal e temperos a gosto. Queijo mussarela a gosto ou requeijão.

A programação dos filmes e aulas está no site http://www.cinepasseio.org/ acontecendo

Reprodução

Como preparar Lave a berinjela em água corrente. Depois, corte-a ao meio no sentido do comprimento e retire a polpa de cada metade, deixando a berinjela em formato de canoa. Corte a polpa até virar quase uma pasta e reserve. Pique cebola e alho e leve ao fogo médio, em uma frigideira com azeite ou óleo. Refogue bem, depois acrescente a polpa da berinjela picada e misture. Deixe cozinhar até ficar macia. Acrescente o tomate, temperos a gosto e deixe cozinhar por alguns minutos. Com uma colher, preencha cada metade de berinjela com o refogado e cubra com o queijo ralado ou com o requeijão. Coloque a berinjela em uma assadeira e leve ao forno para assar até dourar.

Gibran Mendes

Por Renato Almeida de Freitas

“Cinema, caçadores e leões” Na curva mais recente do destino esbarrei numa paixão tão antiga quanto distante, o cinema. Amigo que tinha sido preso soube que estavam selecionando elenco para a série “Irmandade”. Cadeia, crime, violência e pobreza. Infelizmente vivenciei intensamente cada um desses ‘temas’ durante a caminhada. Fiz o teste para papel de árvore e saí como integrante do elenco para atuar ao lado de Seu Jorge. Logo depois chamaram-me

para outro teste. O teste era feito em dupla. O papel era simples, na verdade menos que simples, era simplificado. Ou melhor, estereotipado. A cena descrevia um assalto a um rapaz branco de classe média por dois jovens negros e pobres. A dupla de malfeitores deveria se aproximar, pedir o dinheiro, celular etc., enquanto o mocinho branco tentava contornar angelicalmente se oferecendo para comprar comida para os desumanos famélicos. Porém estes – no caso nós

– não aceitavam e partiam pra cima, porém o herói salvador era ainda por cima lutador; quebrou o nariz do meu amigo, que ensanguentado correu como se não houvesse amanhã, e um soco no meu pescoço, que caí sem ar como se não houvesse esperança. Na minha curta vida como ator fui bandido, presidiário e fiz teste para usuário de crack assaltante de pedestre. O cinema brasileiro para nós negros é isso; Zé Pequeno na Cida-

de de Deus, sem família, sem humanidade e movido apenas pelo desejo bestial de matar e controlar pontos de droga. Se era virgem, se jogava futebol, se gostava de música, não sei, é tarde para saber. O que nos mostraram é que era uma besta-fera e foi assassinado por outras bestas-feras que pouco conheceremos. Como diz o provérbio africano “se os leões não contarem sua própria história, o caçador o fará”.


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