Brasil de Fato PR - Edição 292

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Paraná | p. 4

Carreiras em risco

Prefeitura de Araucária quer retirar direitos de professores

Editorial | p. 2

Revoga Já!

15 de março é marcado por atos contra Novo Ensino Médio

Tarifa zero

Movimentos de Curitiba propõem mudanças para ônibus mais caros do Brasil

Perseguição permanente

Deputado Renato Freitas entra na mira da PM por falar de mortes e suicídios Paraná | p. 5

Esportes | p. 8

Vitória épica

Time do Haiti, sem metade dos jogadores, se classifica contra equipe dos EUA

Cultura | p. 7

O cantor de contrabando

“El Chamo” escreve canções das lutas do povo equatoriano

Divulgação | CMC
Ano 5 Edição 292 16 a 22 de março de 2023 www.brasildefatopr.com.br PARANÁ
Reprodução | Redes Renato Freitas
Divulgação

editorial

O jogo virou na luta pela revogação do novo ensino médio

Aausência de argumentos em favor do novo modelo de Ensino Médio já era evidente desde que se iniciaram especulações sobre a linha que seria adotada pelo novo Ministério da Educação (MEC) no começo de 2023.

Agora, com a mobilização de estudantes e educadores em mais de 100 cidades do Brasil, fica nítido o equívoco se for seguida essa política, ainda que se procurem usar estratégias enganosas de “reestruturação” ou “reforma da reforma”.

O 15 de março fica marcado como dia de forte mobilização social em defesa da escola pública e do direito dos trabalhadores a aprender conhecimentos científicos.

cas governamentais adotadas após o golpe de 2016. Agora, o recado de estudantes e educadores está vinculado à expectativa que se criou a partir da eleição de um governo progressista, capaz de enfrentar o neofascismo representado por Bolsonaro.

O 15 de março fica marcado como dia de forte mobilização social em defesa da escola pública

Portanto, é preciso revogar as leis antidemocráticas e antipopulares aprovadas no período anterior. Porém, no campo da educação, o atual Ministério compôs um grupo de trabalho que não contempla as entidades educacionais, não convocou o Fórum Nacional de Educação e ainda publicou uma portaria com calendário de implementação do Novo Ensino Médio.

A palavra de ordem Revoga Já! ecoou então como um resumo das lutas recentes contra o obscurantismo e o neoliberalismo presentes nas políti-

A partir das atuais lutas, temos a tarefa de elaborar uma proposta unitária, alternativa e popular. Que o governo ouça essas vozes.

Juventude do Paraná organiza seu primeiro curso estadual para o movimento estudantil

opinião

Nesse sentido, o Levante Popular da Juventude do Paraná, para avançar em uma de suas frentes, a estudantil, convoca o Primeiro Curso

Vivemos nos últimos anos um período complexo para os movimentos sociais e a luta popular. Desde o golpe de 2016 até a eleição de Bolsonaro e uma pandemia que afetou a vida dos brasileiros e brasileiras, em especial da juventude. Mas com muita luta, passamos por um processo eleitoral vitorioso, derrubamos o neofacista da Presidência e elegemos as forças populares, na figura de Lula. Agora grandes desafios se avizinham na conjuntura política do próximo período.

Estadual do Movimento Estudantil - Turma Enedina

Alves -, que acontecerá entre os dias 17 e 19 de março, na Escola Latino Americana de Agroecologia, na cidade da Lapa, no Assentamento Contestado.

Com o intuito de municiar a estudantada diante da nova realidade e preparar a tropa para os desafios que se avizinham no ano de 2023, pretendemos compreender o nosso papel enquanto universidade na luta de classes.

Parafraseando Florestan

Fernandes “ou os estudantes se identificam com o destino do seu povo, com ele sofrendo a mesma luta, ou se dissociam do seu povo e, nesse caso, serão aliados daqueles que exploram o povo.”

Portanto, convidamos estudantes de todas as universidades do estado a participarem e firmarem esse compromisso histórico enquanto classe, ao lado dos nossos e das nossas! O QR code abaixo indica o formulário de inscrição. Para dúvidas, entre em contato com o Levante pelo Instagram @levantepr.

Se preferir acesse o formulário de inscrição pelo link Inscrição https://forms. gle/Zpi4jKJoxTa93EPaA

EXPEDIENTE

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná . Esta é a edição 292 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA

EDIÇÃO Ana Keil e Javier Guerrero ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires

REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes

CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail.com

REDES SOCIAIS /bdfpr @brasildefatopr

Paraná, 16 a 22 de março de 2023 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
Ana Keil, Militante do Levante Popular da Juventude, fonoaudióloga e pesquisadora pela FioCruz
SEMANA
2 Opinião
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016

Lula pode derrubar decreto e travar venda da Copel

O deputado estadual Arilson Chiorato (PT) recebeu o presidente do Senge-PR e membro do Movimento “A Copel é Nossa”, Leandro Grassmann, em seu gabinete para tratar das movimentações contra a privatização da maior companhia do Paraná.

O parlamentar informou sobre as agendas que tem realizado em Brasília com visitas ao TCU, AGU, STF, ANEEL, Ministério de Minas e Energias para denunciar o processo que pode prejudicar o povo paranaense. A expectativa é de que o governo federal e o BNDESPar possam barrar a venda. “Nós vamos para Brasília nos próximos dias fazer uma agenda pela revogação do decreto que autorizou a venda das usinas hidrelétricas. Mais do que isso, esclarecer sobre todo esse contexto que vai desembocar na nossa luta para não deixar a Copel ser vendida”, sintetiza o presidente do PT-PR.

Na semana que vem, o presidente Lula recebe um pedido especial dos parlamentares paranaenses. A intenção é de que o governo federal, com apoio da bancada estadual de oposição e dos deputados federais do PT, revogue o decreto publicado pelo ex-presidente Bolsonaro, que permite incluir a venda das hidrelétricas Foz do Areia, Segredo e Salto Caxias.

As joias que Bolsonaro levou

NOTAS BDF

Ditadura financeira

Continua o escândalo das joias dadas de presente pela Arábia Saudita e que Bolsonaro quis pegar para ele e sua esposa. Além do pacote de R$ 16 milhões, que um ministro de Bolsonaro disse que era de Michelle ao tentar entrar no país com o contrabando na mala, sem pagar imposto, há um segundo pacote que entrou sem fiscalização e foi incorporado indevidamente ao patrimônio do ex-presidente.

Pesquisa da Quaest Consultoria, com 82 executivos de grandes fundos de investimentos do país, mostra a ditadura do pensamento único que existe nesse setor. Para 98% deles, a política econômica do governo Lula está na direção errada. Foi o primeiro levantamento do instituto para medir a opinião do chamado mercado financeiro. Não à toa, a maioria apoiava o governo Bolsonaro e suas medidas que prejudicaram os mais pobres e deixaram os ricos mais ricos.

Heróis da direita Terá de devolver

Na quarta, 15, ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) mandaram que Bolsonaro devolva esse segundo pacote. A entrega deve ser feita à Secretaria Geral da Presidência da República em até cinco dias. A secretaria terá que manter os bens em custódia até o TCU tomar nova decisão. O pacote de joias, da marca suíça de diamantes Chopard, inclui relógio, caneta, anel, abotoaduras e um tipo de rosário que Bolsonaro tinha levado para casa indevidamente, segundo o tribunal.

Os heróis desses executivos são todos da direita política. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) tem 40% de confiança. Já 41% confiam muito no governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e 68% confiam muito em Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central nomeado por Bolsonaro e que faz o Brasil ter as maiores taxas de juros do mundo. Dinheiro que vai direto para o bolso dos fundos que esses executivos administram.

Trabalhadores de aplicativos

A direção da CUT ouviu representantes dos trabalhadores por aplicativos e concluiu proposta para garantir seus direitos. O texto agora será debatido no Fórum das Centrais Sindicais, que reúne CUT, Força, UGT, CTB, CSB e Nova Central. Será construído documento a ser enviado ao ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho. “Essa é a grande oportunidade, única, de fazer a regulamentação garantindo direitos”, a rmou a secretária de Organização e Política Sindical da CUT, Graça Costa.

Renda decente

Segundo Graça, não se pode aceitar menos do que os direitos garantidos nas convenções da Organização Mundial do Trabalho (OIT). Entre os principais pontos da proposta estão instrumentos que garantam segurança no trânsito, atendimento médico, piso mínimo, um mínimo de direitos, que irão impactar em toda a sociedade brasileira. Se o trabalhador tem uma renda decente, reflete em melhorias para ele, a família e a economia.

Pesquisa

A CUT realizou em 2021 pesquisa sobre o trabalho dos entregadores em Recife e Brasília com o apoio da Organização Mundial do Trabalho (OIT), resultando no documento “Condições de Trabalho, Direitos e Diálogo Social para Trabalhadoras e Trabalhadores do Setor de Entrega por Aplicativo”.

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“O presidente Lula está absolutamente certo... as altas taxas de juros reais enfraquecem a economia e as taxas de juros reais brasileiras são muito altas”
FRASE DA SEMANA Geral 3
Disse Joseph Stiglitz, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, em entrevista à CNN
Por Frédi Vasconcelos
Divulgação Ricardo Stuckert Ricardo Stuckert

Mudanças na carreira dos servidores de Araucária atingem professores e impactam sociedade

Maioria da categoria é feminina e considera que mudanças desestimulam

Em 7 de março, a Prefeitura de Araucária apresentaria proposta de projeto de lei com alterações no plano de carreira, na previdência e no fundo previdenciário de servidores e professores do município. Daí o apelido de “pacotaço” de medidas.

A reunião, porém, foi desmarcada pela gestão municipal, que ainda teria impasses sobre a proposta. Nesse meio tempo, os sindicatos dos Servidores do Magistério Municipal de Araucária (Sismmar) e Sindicato dos Servidores de Araucária (Sifar) debatem nos locais de trabalho e com a sociedade civil os impactos das mudanças para os trabalhadores.

Na verdade, o projeto foi terceirizado pela gestão municipal para a empresa Fundação Instituto Administração (FIA), com pagamento de R$ 10 milhões. O impacto da proposta da entidade privada interfere na vida de cerca de 3 mil trabalhadores do magistério, da Educação Básica à Infantil, numa categoria com cerca de 70% de mulheres, de acordo com os sindicatos.

A crítica de servidores e professores se dá sobre as mudanças no plano de carreira, em especial no pouco tempo para debate. Até então, a progressão da carreira é composta de quatro itens: triênio, quinquênio, ao lado de titulação e certificação.

Para a direção do Sismmar, ao sinalizar mudança nos itens de avaliação da progressão na carreira, o possível novo projeto não priorizaria a formação profissional. “A formação deveria ser valorizada, e não está sendo”, critica José Afonso Strozzi, coordenador de Finanças do Sismmar, membro do conselho administrativo do Fundo de Previdência Municipal de Araucária (FPMA).

Sem paz e sem voz

A situação é mais séria que isso. Em Araucária, os servidores enfrentam práticas antissindicais. Somente o Sismmar já recebeu multa de R$ 170 mil por uma atividade de colagem de lambe-lambe, ao lado do Sifar. A multa foi aplicada em maio de 2022. Falta de espaço na mídia, postura truculenta da Guarda Municipal e pressão também completam esse enredo. “A empresa (FIA) levou 18 meses para elaborar proposta. Precisamos de, no mínimo, três meses para avaliar e debater, ponto por ponto. Não queremos prazo, queremos tempo”, aponta José Afonso.

As propostas apresentadas pela Prefeitura/FIA são criticadas por desestimular o avanço na carreira. No modelo atual, o servidor teria condições de avançar em 85% em 10 anos. Material informativo dos sindicatos

aponta que, com as mudanças, a progressão passaria para cerca de 20%.

Limitações na carreira Outro problema é o modelo de avaliação do serviço público. Os educadores municipais dizem que a sinalização atual de mudanças é autoritária. No formato indicado, o servidor teria sua avaliação submetida à che a imediata em lugar de uma comissão interna. “Não somos contra avaliação de desempenho justa, desde que com comissão interna paritária, com participação dos funcionários, a partir de cada local de trabalho. O atual plano municipal de educação já exige avaliação de desempenho, que a Prefeitura não regulamentou após dois anos de debate. Para nós, o ponto central é haver uma comissão paritária”, explica.

Ágatha Santos

OUTRO LADO

Procurada pela reportagem do Brasil de Fato Paraná, a assessoria de imprensa da Prefeitura divulgou a seguinte nota:

“O município continua empenhado na realização de estudos e diálogos com os servidores, criando alternativas para a modernização da administração pública e melhoria do seu fluxo administrativo.

Espaços importantes

Tanto o Sismmar como o Sifar têm apontado que o momento é de mobilizar espaços da comunidade escolar, em corrida contra os espaços de propaganda da gestão municipal. Nisso, merece atenção o espaço do conselho escolar. “Normalmente os pais não têm noção do poder que têm. Nós, dos sindicatos, temos que

fazer formação para conselhos escolares com mais força”, admite.

Neste momento, o conjunto dos sindicatos municipais está em estado de assembleia permanente, que chegar ao estado de greve. “Não nos retiramos ainda da mesa de negociação porque queremos, justamente, o debate”, finaliza José Afonso.

Buscando sempre a valorização e respeito a todos os servidores e melhorias constantes no atendimento à população. Todos os apontamentos realizados pela USP/FIA são proposições importantes para auxiliar o gestor na tomada de decisões junto aos servidores, Poder Legislativo, Poder Judiciário, Ministério Público e à sociedade araucariense”, afirma.

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Ágatha Santos
4 Paraná

Discurso sobre polícia faz Renato Freitas se tornar novamente alvo

Gabriel Carriconde recebeu a reportagem do Brasil de Fato Paraná na terça-feira (14), logo após sofrer pressões na Assembleia ao denunciar que as mortes causadas pela PM chegaram a 483 óbitos em 2022.

Acusado pelo secretário de Segurança Pública do Paraná de instigar a população contra as forças de segurança após criticar a letalidade da PM, o deputado estadual Renato Freitas

A reação a seu discurso veio em ofício do secretário

Coronel Hudson, em que pedia que o deputado fosse repreendido pelas declarações. Outros deputados da base governista, como o ex-delegado de Polícia Civil Tito Barichello (UB-PR), também reagiram ao posicionamento de Freitas, chegando a elo-

Brasil de Fato Paraná - Na Alep, a direita vem acusando o senhor de ser inimigo da Polícia Militar por um discurso que fez. O que pode falar a respeito disso?

Renato Freitas - Na verdade, eu falei de uma política de segurança pública fracassada, que faz vítimas entre a sociedade civil, principalmente na porção mais fragilizada, que são as periferias, as áreas de ocupação, mas também as pessoas jovens negras e pobres, que são superrepresentadas nessas estatísticas de letalidade policial. Por outro lado, a própria PM se vê refém dessa política fracassada que produz morte. Em 2019, o suicídio de policiais militares ultrapassou o número de policiais mortos em atividade. A própria instituição padece e é letal ao policial mais do que a atividade em si. Em 2020, a PM do Paraná liderou o ranking de suicídios de todo o Brasil, e esse número é assustador, mostra a necessidade urgente de transformação da instituição. Foi isso que eu quis demonstrar pelos números do GAECO, de 488 mortes, 483 foram da Polícia Militar. É um número gigante porque uma política de segurança pública é salvaguarda à vida, todas, sem exceção, e que cumpre a lei, e até onde sabemos não há pena de morte no Brasil, então essa pena de morte desse direito penal subterrâneo é também uma ação ilegal e criminosa.

É sintomática essa reação da parte da Secretaria quando você levanta críticas à letalidade policial? Com certeza. O que demonstra a cumplicidade criminosa do alto escalão da PM e do governo (Ratinho Jr.), que se alinharam nos últimos quatro anos ao governo federal (Bolsonaro) que manifestava publicamente que os policiais deveriam assassinar qualquer bandido, na ideia de que bandido bom é bandido morto, logo, os policiais com uma ação de agrante, independentemente se estavam colocando a vida deles ou de outros em risco, essa pessoa deveria morrer, e os policiais não seriam responsabilizados. Isso é uma cultura da milícia, dos paramilitares. Em um país com tanta desigualdade, e com um passado escravocrata, em que não existe possibilidade de ordem, se não pelo controle pela

giar a quantidade de mortes no PR. E também houve quem já falasse em cassação por seu posicionamento. Por coincidência, antes de nos receber, Freitas atendia a uma família vítima de violência da polícia, o que tem se transformado em uma roti-

na, já que muitas o procuram para relatar abusos por parte das forças de segurança. Na visão de Renato, a estrutura faz o PM também, de certa forma vítima, ao destacar a quantidade de suicídios na PM. Confira os principais trechos da entrevista:

violência. Essa ordem só pode ser mantida pela espoliação incessante daqueles que já foram subjugados em um processo inicial de dominação colonial. A PM, como ela se coloca hoje, é instrumento da classe dominante, que é essa elite colonial.

Achava que a polícia que mais mata era a que também mais morre, mas o senhor a rma que uma das polícias que mais se mata... Exatamente. Em alguns estados, como na Bahia, é a polícia que mais mata e é uma polícia que morre muito. A proporção é de um militar para cada 22 civis, uma proporção que no Paraná é de 140 civis para cada militar. Mas em 2020, foi a polícia que mais se matou no Brasil. A polícia do Paraná é a que mais mata e mais se mata.

Discurso muito propagado é a segurança do Paraná vai muito bem. Se a polícia está atirando, combate o crime. Como analisa essa visão? Não tem como estar funcionando num cenário de aumento no número de homicídios. Se está matando mais, não está preservando a vida. E o segundo argumento são os casos de crimes contra o patrimônio, contra a integridade física, contra a dignidade sexual, grandes crimes que interditam cidades, estradas, roubam grandes bancos, a sensação de insegurança da população. A questão de segurança pública não é quantitativa, mas também qualitativa. A sensação de segurança que sempre existe nas pessoas depende de uma série de fatores. Como a regulamentação da mídia, esses jornalistas do meio-dia que vendem medo para ganhar ibope e muitas vezes voto, eles devem ser responsabilizados pelas mentiras que levam pela incitação ao crime que normalmente reproduzem. Uma mídia que informe e uma educação e ciente vai fazer com que a pessoa compreenda melhor os mecanismos da segurança pública ou os con itos sociais que geram determinados crimes. Isso é inclusão pela cidadania, mesmo em um cenário violento como o Brasil, que é o país com mais homicídios no mundo. Falar em política exitosa na segurança pública chega a ser piada.

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“Temos uma das polícias que mais mata e que mais se mata”, diz deputado ao BdF-PR
Giorgia Prates
Paraná 5

Aumento da passagem abre espaço para discussão sobre tarifa zero em Curitiba

Desde 1º de março, a tarifa de ônibus em Curitiba passou de R$ 5,50 para R$ 6,00, a mais alta entre as capitais do país O aumento de 9,09% tem rendido protestos da população nas últimas semanas. Entre as demandas que aconteceram em atos na capital está a “tarifa zero”. Com a insatisfação popular, o Conselho Permanente de Direitos Humanos do Paraná (COPEDH/PR) emitiu nota em que

Tarifa zero

Na Câmara de Vereadores também há movimentações para “abrir a caixa preta” do transporte coletivo de Curitiba. Tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa proposição do vereador Herivelto Oliveira (Cidadania) para criar uma Comissão Especial para “discutir o novo contrato do transporte coletivo - tarifa zero”.

Na justificativa, o vereador lembra que três consórcios de empresas vencedoras de licitação pública operam na cidade, mobilizando recursos

considera o aumento da tarifa na capital “uma violação de direitos humanos” e aponta falta de transparência sobre a planilha de custos do transporte coletivo e o método de cálculo para se chegar no índice do aumento.

“O pior é a aparente normalidade percebida nos posicionamentos oficiais da Prefeitura sobre essa questão. O resultado são ônibus lotados, ônibus atrasados e a maior tarifa praticada

entre as capitais brasileiras, à custa da redução do poder aquisitivo e de dificultar a mobilidade dos usuários do sistema público”, diz o conselheiro relator do COPEDH, Marcel Jeronymo.

O Conselho recomendou ao Ministério Público do Paraná e ao Tribunal de Contas do Estado a instauração de auditorias na Urbs e no Fundo de Urbanização de Curitiba para avaliar as planilhas e a administração dos recursos públicos.

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da ordem de 1 bilhão de reais. Dado o volume de recursos, segundo o vereador, é “imprescindível o debate” de “novas alternativas de boas práticas para a operação do transporte público”.

“Nesta esteira, por que não debater a possibilidade da chamada Tarifa Zero, que já é usada com sucesso em muitas cidades do Brasil e do mundo, que se transformaram em cases de sucesso?”, questiona Oliveira. O vereador lembra que mais de 40 cidades no Brasil utilizam a tarifa

zero. A CCJ deve elaborar um parecer sobre a proposição de Oliveira até a próxima terça (21).

“R$ 6 é o mínimo possível” Em nota ao Brasil de Fato Paraná, a Prefeitura de Curitiba informou que o novo valor de R$ 6,00 é o “mínimo possível para manter a sustentabilidade do sistema frente ao aumento dos custos relacionados ao transporte, que subiram acima da média da in ação”.

A administração ainda afirma

que a chamada tarifa real está em R$ 7,05. “Somente esse ano, a Prefeitura deve colocar R$ 66 milhões para manter a tarifa a R$ 6 e não R$ 7,05. O município arca também com as gratuidades e a meia passagem do passe escolar. As gratuidades (idosos, pessoas com deficiência, categorias profissionais, como carteiros, policiais, etc.) representam cerca de 20% do custo da tarifa técnica e não têm forma de custeio aprovada, o que encarece para os usuários”, diz trecho da nota.

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6 Cidades
Giorgia Prates
Câmara pode criar Comissão Especial para discutir novo contrato do transporte coletivo

Todo povo tem seu cantor: Alí-Primera, na Venezuela, Pablo Gallinazus, na Colômbia, Víctor Jara, no Chile, Atahualpa Yupanqui, na Argentina, e o Equador possui atualmente Jaime Guevara, “el Chamo Guevara”, “el cantor de contrabando”.

Javier Guerrero Era o início dos anos 1970, década de ditaduras militares na América Latina, do “boom petroleiro” no Equador. Do triunfo da revolução sandinista e o avanço da luta armada em El Salvador e Colômbia, quando surge, nos festivais de rock de Quito, uma figura alta, cabeluda e desengonçada com um violão em riste, cantando suas

“Brasis” no Paiol

Após uma reforma polêmica e demorada, que durou cerca de três anos, a música de vários estados do país volta ao palco do Teatro Paiol, um dos espaços de arte mais tradicionais de Curitiba. De março a dezembro acontece no espaço o projeto “Brasis”, com shows mensais de artistas dos mais variados estilos. Mais informações no site da Fundação Cultural de Curitiba.

Jaime Guevara, o “Cantor de Contrabando”

próprias composições. O “Chamo” desde o princípio se dedica a compor e escrever canções ligadas ao cotidiano e às lutas populares. É o cronista dessas lutas nas últimas cinco décadas, desde “Crônicas de abril”, passando por “Coplas de la huelga nacional” até “Canción de cuna para Carlos Santiago y Pedro Andrés” e “Desaparecidos”; além de muitas canções doces como: “Aló, con quién hablo” e “Mi perrito de 8 sucres”.

Jaime Guevara tem demonstrado sua coerência ao longo da sua vida artística. Numa oportunidade, comentei: “Que a arte tem

Calendário

Os shows ocorrem sempre às quintas-feiras, às 20h, com ingressos a R$ 15 e R$ 7,50 (meia). Na retomada, em 23 de março, o show é de Alessandra Leão e Sapopemba (de Pernambuco e Alagoas). Em 27 de abril é a vez de Zudizilla (do Rio Grande do Sul). Em 18 de maio se apresenta Ogi, de São Paulo, mesmo estado de Juçara Marçal, que sobe aos palcos em 15 de junho.

Paranaenses no palco

Em 20 de julho é a vez da Mulamba, com participação de Noe Carvalho, do Paraná. São Paulo volta em 17 de agosto com Jup do Bairro. Em 14 de setembro é a vez da música paraense com Aíla. Em 19 de outubro, Jairo Pereira, com participação Wes Ventura numa mistura de São Paulo com Paraná. Em 9 de novembro é a vez de Siamese, também paranaense. Em dezembro a atração ainda será con rmada.

um compromisso estético e o artista, além do compromisso estético, tem que ter um compromisso ético”. É isto que vemos nele. Nunca se vendeu, nunca se deixou seduzir pelos cantos de sereia. Fiel aos seus princípios libertários, tem combatido toda forma de tirania, independente da roupagem que esta adquira. Resultado disso, vivenciou várias prisões e torturas. O ex-presidente Rafael Correa tentou agredi-lo fisicamente e destruir sua reputação acusando-lhe de ser um bêbado e drogado pelo crime de denunciar a brutal repressão contra as manifestações.

Guevara sempre foi solidário com todas as organizações de esquerda. Na prática, combateu o sectarismo, apresentando-se de forma muitas vezes gratuita e compondo para atos e protestos. Foi assim que escreveu uma canção dedicada à organização Alfaro Vive Carajo (AVC) no momento em que esta era atacada tanto pela direita como pela esquerda.

Meu querido “Chamo”, queria dizer muitas coisas mais sobre você, sobre esse ser humano extraordinário que és, mas acho que resumi o que penso e sinto por você – meu irmão de sonhos e esperanças.

DICAS MASTIGADAS | Bananada

A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br

Ingredientes

1 kg de banana orgânica

700 g de açúcar cristal

1 xícara (chá) de água

¼ de xícara (chá) de caldo de limão

Modo de Preparo

Corte as bananas em rodelas, sem casca. Coloque o açúcar e a água em uma panela grande e leve ao fogo médio. Cozinhe até que forme uma calda grossa. Acrescente as bananas e o suco de limão na panela da calda e mexa. Deixe cozinhar, mexendo de vez em quando, por cerca de 90 minutos ou até que o doce comece a ficar com uma coloração mais escura. A partir deste ponto, mexa constantemente. Cozinhe por mais 30 minutos ou até que o doce solte do fundo da panela. Sirva

Paraná, 16 a 22 de março de 2023 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
após esfriar.
O “Chamo” desde o princípio se dedica a compor e escrever canções ligadas ao cotidiano e às lutas populares
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Balanço de 6 dentre 7 meses

Desde que Lucas Drubscky assumiu a função de head esportivo do alviverde, há exatamente meio ano (16/09/2022), teve tempo su ciente para preparar o time para o Campeonato Brasileiro de 2023: foram 27 jogos (12 da Série A, 13 do Estadual e dois da Copa do Brasil) para analisar e ajustar comissão técnica e elenco. Participou da escolha do treinador Antonio Oliveira (13/12, há mais de três meses), das dispensas e contratações de atletas. Os recentes resultados expõem a nu seu fracasso. O time não conseguiu vencer os “sem divisão” Azuris e São Joseense, nem o Criciúma, que no ano passado estava na Segundona do Catarinense. Não aproveitou nenhuma das três chances de derrotar o Cascavel da 4ª Divisão e passou vexame (0x3) diante do Operário da 3ª Divisão. O que fará de diferente nos 30 dias que restam para a estreia contra o atual campeão da Libertadores no Maracanã?

Safra 2023

Depois da formação de toda a comissão técnica, começaram a desembarcar as primeiras peças do elenco que será comandado pelo técnico Marcos Skavinski, o Marcão, na série prata do estadual. De longe, o mais promissor é o meia-atacante Romarinho. O jogador foi destaque no campeonato cearense jogando pela equipe chamada Maracanã. As outras duas novidades chegam para reforçar o setor defensivo: os zagueiros Geovane e Marcão, ambos nascidos em Curitiba. O primeiro é mais novo, tem 26 anos, disputou o paranaense pelo Azuriz e tem passagem pelo Coritiba. O segundo, xará do treinador, de 32 anos, estava jogando no Goianésia. Os atletas vão se juntar aos garotos que se destacaram na Copa São Paulo de Juniores e aos que foram emprestados após a disputa da Série D. É o caso do goleiro Felipe, por exemplo.

Time do Haiti tem atletas barrados na imigração, chama amadores e elimina clube dos EUA

O desempenho do Furacão em números

A análise dos números do Furacão neste começo de ano é surpreendente. Para quem descon ava do trabalho de Paulo Turra, os resultados falam por si. Na temporada 2023 o Athletico é o primeiro no Brasil em pontos conquistados (37), o primeiro em aproveitamento (94,9%), o primeiro em aproveitamento fora de casa (100%), o primeiro em vitórias (12), o primeiro em saldo de gols (+26), o segundo em gols marcados (34) e o segundo em gols fora de casa (16), segundo dados recolhidos pela @sofascoreBR. Pode-se argumentar que os adversários do Furacão não têm a qualidade da série A, mas todos os times do Brasil estão enfrentando, em geral, times de orçamento muito pequeno, e não estão conseguindo se impor. Além disso, nossos melhores jogadores crescem a cada jogo. É, de fato, um trabalho promissor!

Ofutebol às vezes nos brinda com histórias que aquecem a alma até de quem nunca ligou muito para o esporte. Uma dessas aconteceu na terça (14): um time semiamador do país mais pobre das Américas eliminou uma das principais equipes da nação mais rica do planeta.

A missão foi ainda mais difícil do que parece: o Violette A.C. do Haiti teve que mudar meio time, encontrar jogadores nascidos no Haiti que estivessem em solo dos EUA (amadores e profissionais) para compor o elenco antes de enfrentar o Austin FC no Texas. Tudo isso porque uma parte significativa do seu elenco, incluindo quatro titulares, foi barrada pela imigração estadunidense. Apenas 12 jogadores puderam entrar no país. O regulamento da Liga dos Campeões da Concacaf, que reúne times das Américas do Norte e Central, não permitiria que o clube jogasse a partida com esse número de atletas, e ele seria eliminado por W.O.

Mais: enquanto o Austin foi o quarto colocado no campeonato nacional dos EUA, o Violette não disputou o Haitiano porque não houve campeonato no ano passado, culpa da violência no país. O time ficou quase um ano sem disputar um mero jogo oficial.

Ainda assim, foi o time haitiano que se classificou para as quartas de final da Con-

cachampions. A partida de ida das oitavas de final - disputada na vizinha República Dominicana, já que não havia segurança para o jogo acontecer no Haiti - teve ares de milagre, quando o Violette arrancou uma tão incrível quanto improvável vitória por 3x0. Na volta, jogada na arena texana, os estadunidenses não conseguiram igualar o placar, vencendo por apenas 2x0, insuficientes para a classificação, apesar de tentarem, e muito.

O jogo em si pareceu um massacre. O Austin teve 76% de posse de bola, chutou 35 bolas na meta haitiana e ainda contou com um senhor frangaço do goleiro do Violette no segundo gol.

Ainda assim, não deu. “Há mais no Haiti do que as manchetes dizem. Há muito tempo falo isso, existem muitos talentos no Haiti. Por causa da forma como o país é, no entanto, não somos reconhecidos”, havia declarado o capitão Saba, antes da partida, ao site The Athletic. “Para nós, esse jogo é maior que o futebol, lutamos por nosso país inteiro”, completou o haitiano, que também trabalha numa loja de ferragens.

O Violette agora enfrentará nas quartas de nal o Tauro, do Panamá ou León, do México. Já para o Austin, que saiu de campo de cabeça quente, ensaiando confusão com o adversário, resta o consolo de ter ajudado a construir um épico que já está na história do futebol.

Paraná, 16 a 22 de março de 2023 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR 8 Esportes
Redação, São Paulo Divulgação
Violette passa pelo Austin F.C. com time formado às pressas para a partida
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