O JORNAL DA SERRA DA MOEDA Nova Lima - Brumadinho|Setembro 2022|nº25|ano 15
AS RUÍNAS DO COMPLEXO DE MINERAÇÃO AURÍFERA DO FORTE DE BRUMADINHO Na porção setentrional da Serra da Moeda, à qual se denomina Serra da Calçada, repousam as ruínas da mais notável arquitetura em pedra produzida na região, durante o Período Colonial. Consistindo em uma imponente estrutura amuralhada cujas dimensões alcançam 60 m (c), 40 m (l), 4,5 m (h) e 0,8 m (e) e cujo interior contém remanescentes de várias edificações, ela é conhecida como Forte de Brumadinho. No entanto, a despeito dessa denominação popular e dos mitos e lendas que ela enseja, nada indica que se trata de um remanescente das arquiteturas militares do período. Mesmo amuralhada, faltam-lhe elementos típicos dessas arquiteturas e dos quais nenhuma poderia prescindir. Isso inclui seteiras, passadiços, vigias e, sobretudo, uma implantação em um topo que lhe proporcionasse condições efetivas de vigilância e defesa. Inexplicável e curiosamente, o dito forte foi implantado em uma encosta, voltado para a cata a talho aberto à sua frente e os altos da Serra da Moeda, incapaz de ver e ser visto do vale do Paraopeba, com parte de seu piso interior abaixo do terreno exterior e em uma situação de grande vulnerabilidade a projéteis atirados de pontos elevados próximos. E tudo isso a apenas 200 m de um topo que lhe permitiria excelentes condições de vigilância e defesa.
Vultosos investimentos Tudo indica, isso sim, que o dito forte foi construído como sede de um dos primeiros, maiores e mais sofisticados complexos de mineração aurífera na região da Serra da Moeda ou, talvez mesmo, em Minas Gerais. Em que pesem as dificuldades impostas à compreensão desse complexo pela inexistência de fontes documentais versando sobre ele antes do século XX, as características construtivas de seus remanescentes, as dimensões naturais do espaço onde estão inseridos e o que se conhece da história regional, nacional e lusófona possibilitam atribuí-lo a portugueses e/ou luso-brasileiros, supor que foi
Foto: Acervo ARCA AMASERRA
erigido no início do século XVIII e afirmar que consistiu em um empreendimento invulgar, que exigiu vultosos investimentos em tecnologia minerária e força de trabalho escravizada, e que pode ter sido muito bem-sucedido. Isso é evidenciado pelas dimensões e sofisticação das principais estruturas desse complexo, como é o caso do Forte de Brumadinho, produzido com um esmero incomum nas arquiteturas minerárias de então. Sua construção exigiu mão-de-obra especializada e adotou um elaborado conjunto de sistemas construtivos em pedra, aplicados conforme o papel estrutural, funcional e/ou simbólico de cada elemento arquitetônico. Um dos mais impressionantes foi identificado por nós em 2019. A saber, as muralhas, com espessura de 80 cm, bem como as paredes da principal edificação em seu interior, com espessura de 60 cm, não são o resultado do mero empilhamento de pedras com essas espessuras. Elas foram produzidas, isso sim, à maneira do sistema construtivo que os romanos da Antiguidade Clássica denominavam opus emplectum e os portugueses denominam, ainda hoje, alvenaria de duas faces. Como tal, elas são conformadas por duas espessas faces em pedra, ligadas entre si por sólida argamassa, bem como por peças chamadas ligadores. Esses consistem em pedras com a espessura das alvenarias e nelas assentadas a espaços regulares para combaterem forças que podem acarretar a desagregação das faces e o desmoronamento dessas alvenarias.
Complexo de mineração aurífera Não obstante a sua excepcionalidade, o Forte de Brumadinho não é passível de compreensão e conservação isoladamente. Ao contrário, ele deve ser compreendido e conservado como um dentre vários remanescentes de um complexo de mineração aurífera que deixou marcas na paisagem muito maiores do que as ruínas do forte e que são tão ou mais importantes do que elas.