18ª Bienal de São Paulo (1985) - Catálogo geral

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· APRESENTAÇÃO DOS PAISES PARTICIPANTES

a movimentos pujantes, ele constantemente transmite uma impressão de passagem do tempo e de velocidade. Tais impressões são fortalecidas pela sua disposição em utilizar diferentes meios de expressão na mesma obra, em seus desenhos, por exemplo. Impetuosas linhas paralelas e cruzadas podem ser Intercaladas com passagens minuciosamente detalhadas. Esse. método provoca um drama de colisão, a marca registrada da maioria das obras de Sporring. Basicamente, Ole Sporrlng é um artista realista, mas cultiva a energia livre, visualmente evocativa, percorrendo simultaneamente diversos caminhos. Ele está profundamente consciente de sua gula por temas. O quadro é um objeto formidável, porém o artista tem necessidade de assumir seu papel de conquistador. Isso a um só tempo o assusta e o torna militantemente expansivo. Sporring é senhor da vontade e num determinado ponto faIa sobre seu sonho de utilizar livremente seus próprios elementos, assim como os de outros artistas, sobre corpos, reconhecimento, simplicidade, caos, dialética, racionalização "Sonho em desenhar uma paisagem nos dois lados do papel ao mesmo tempo, em desenhar em parceria com a paisagem" Essa total dedicação ao trabalho não é, naturalmente, tão óbvia quanto parece; entretanto, Sporring é bem sucedido na criação de obras interessantes, devido ao seu formidável talento em transportar a epifania visual e espirrtual diretamente para oquadro Para ele, o conceitográficose encontra obviamente conectado à sismografia espiritual. Há um nítido aspecto social na arte pictórica deSporring. Diversos de seus desenhos refletem atitudes de temor à guerra, à poluição, aos stress, e assim por diante. Porém, elas Jamais se apresentam inequivocadamente proclamatórias. O pictórico constitui um assunto tão sério para ele que Sporring não é capaz de produzir uma arte q~e signifique puramente agitação social, mas preferivelmente uma arte imbuída de uma disposição social. Sporring manifesta-se também social em sua atitude em relação à acessibilidade da arte. Já decorou edifícios públicos, é membro de um grupo de artistas cujo propósito é tornar acessível os preços da arte gráfica, produzIu diversos panfletos em of!set com uma série de desenhos e explicações referentes, produziu um jornal com matrizes de linóleo, um livro de desenhos, ilustrou vários livros de literatura e encontra-se à espera, no momento da elaboração deste texto, da publicação de sua primeira série em quadrinhos, a qual foi adqUirida por uma conceituada editora. Ele também se envolve em projetos de ensino da arte e participa de djversos tipos de atividades organizaCionais, com o propósito de obter melhores condiçõs tanto para a arte como para os artistas Em diversas ocasiões, Ole Sporring demonstrou seu interesse por imagens documentais, como a fotografia, por exemplo. Ele já trabalhou em diversas de suas séries com imagens com impressão superposta através de matrrzes de linóleo. Essa colisão do autêntico com o pessoalmente fantástico é característica de sua arte. Quando o local onde seria construído um edifício num cortiço de Copenhague foi evacuado com o auxílio da polícia há alguns anos, Sporring capturou o acontecimento com uma câmera fotográfica, e tem, desde então, reprocessado as fotos com diversas variações 'sobre o assunto. Algumas vezes ele mantém a aparênciade lugares específicos, mas em geral eles são tornados quase irreconhecíveis. Não devido a um desejode ocultar ou alterar, mas simplesmente porque sua fértil fantasia torna tudo diversificado e impenetrável à primeira vista. Por vezes Sporring toma emprestado de outros artistas, mas são suas próprias imagens que ele aproveita com maiorfreqüência e as quais varia com fecunda profusão. Diversos de seus trabalhos são constituídos por desenhos, impressões e pinturas, freqüentemente num grande número de variações dentro do mesmo gênero. A rica espontaneidade, o rápido pulsar existentes na obra de Sporring têm naturalmente algo a ver com seu temperamento. Mas um detalhe im-

portante é o simples fato de que o artista se encontra em luta contra seu material, e a batalhél é apaixonante e frenética. Sporring não é um daqueles artistas que se acomodam numa segura convicção acerca do significado da arte; ele tem necessidade de lutar por essa convicção, e só consegue fazê-lo trabalhando tão Intensamente que recebe uma resposta que pode estimulá-lo e mantê-lo na linha de frente. A imagem tem de ser conquistada de modo que devolva uma bênção para o artista Sua necessidade de lutar por essa bênção está associada à insistência pela verdade na sua forma de expressão. Ole Sporring vem se apresentando desde o iníCIO como um artista que dá o melhor de si, e num breve texto ele escreve, entre outras coisas, sobre seus primeiros esforços para alcançar a expressão artística: "Eu sonhava que o. lápis era meu supremo instrumento de tortura. Eu tatuava a carne viva do papel até que ele gritasse." Naturalmente, o artista apresenta-se impotente em face dos desafios impostos por um mundo nuclear rnsano e conflituoso. Porém. ele somente torna válida essa impotência se tentar abordá-Ia de forma geral. O artista deve Jogar com um número limitado de elementos, seu destino deve construir, em cima de uma concepção, uma idéia editada. A impressão que Ole Sporring tem sobre aquilo que pode ser entendido pictorramente é, no entanto, mais profunda do que a de mUitas outras pessoas A realidade, em seus excessos extremados e rUIdosos, surge em seu universo de imagens e ele nos proporciona um honesto testemunho artístico de que o mundo é complicado e sobrecarregado de objetos e eventos. Subjetivamente, o. artista encontra-se solidamente instalado num corriqueiro dia de trabalho dinamarquês, na cidade, na natureza, na tradição. Entretanto., a imagem caleidoscópica-antropofágica-fragmentária que ele transmite de uma maneira solidamente pessoal possui qualidades nítidas e acessíveis. O artista nos mostra um mundo contemporâneo que conhecemos de maneira tão claramente idêntica que reconhecemos a verdade quando ela é dita Há sempre sinaiS de trégua nos desenhos de Sporrrng - ao horroroso ele acrescenta um detalhe anedótico-burlesco que associa a visão mais ampla ao pequeno e relutante humor negro humano

universal e das realizações artísticas da raça humana como um todo.

Bent Irve - poeta, crítico

(Diário de Hoje) por Rosário Mata de Monterrosa San Salvador - março/85

Fatma Arargi / comissária

EL SALVADOR M.S. Kahn O trabalho de María Kahn é possuidor de um flUir inesgotável de sensualidade, com suas mulheres, suas fantasias, suas figuras aéreas penduradas pelo fiO Invisível manejado pelo seu gênio e pela sua imaginação Em resumo. uma arte fantástica

licry Bicara Licry Bicard apresenta padrões culturais, tradições ou crítica social em sua produção surrealista, com um brilho vítreo, sombriO, que proporcIona aos seus personagens do passado e do presente um quê de mistério balouçando-se no tempo e no espaço. Alfredo Milián / mrnistro-conselheiro da Missão Permanente de EI Salvador na Organização do.s Estados Americanos - OEA - Washington. EUA

Negra Alvsrez Na curva ascendente da carreira artística de Negra Alvarez, suas formas constituem uma audácia expressiva, um verdadeiro atrevimento formal e conceitual que a coloca na feliz posição de ruptura com o realismo simplista das obras nas quais se vêem frutas ou naturezas mortas tradicionais. A nova produção de Negra Alvarez constituI um conjunto significativo da mais apurada criação artística nacional contemporânea. Ela apela por igual tanto à sensibilidade do humanista quanto à das pessoas interessadas no impacto sensorial da obra e o efeito que esta causa nos ambientes onde são exibidas.

EGITO ESPANHA A Arte Contemporânea no Egito Em nosso mundo de rápidas mudanças e cadênCia acelerada, o homem contemporâneo luta para manter seu equilíbrio através da arte, para harmonizar-se com o mundo em que vive. Para atingir esse objetivo, o movimento da arte contemporânea egípcia emprega sériOS esforços. Isso se torna evidente nas diferentes tendências que têm prevalecido, cada uma das quais em.preende esforços para imprimir sua marca, criando uma forma apropriada de arte. Com o advento do século atual, as características do movimento de arte egípCia começaram a se materializar. No início, ela retirava seus elementos de aspectos locais de uma forma um tanto direta; entretanto, logrou corrigir sua rota no sentido de caminhar para tendências mais abertas e generalizadas. O curso desse progresso fluiu para diferentes canais Alguns artistas recorreram à multifacetada herança egípcia, numa tentativa de se beneficiarem com a rica e condensada acumulação cultural existente no solo egípcio. Outros se inclinaram diante das tendências contemporâneas que prevaleceram em diferentes regiões do mundo atual, ou foram influenciados por elas. Uma terceira corrente foi a que se beneficiou com a fusão dessas duas atitudes. Apesar dessa multiplicidade, prezamos o fato de que o movimento de arte egípcia contemporânea não se encontra isolado da corrente c~ltural

Cinco Artistas XVIII Bienal de É nossa intenção que a representação espanhola na XVIII Bienal deSão Paulo possua algumas conotações unitárias na sua diversidade, na variedade dos repertórios dos cinco artistas escolhidos Luís Gordillo, Juan Navarro Baldeweg, Menchu Lamas, Juan Uslé e Francisco Leiro. Nossa intenção, ao selecionar esses nomes. não foi outra senão oferecer um panorama variado e qualificado das recentes pintura e escultura figurativas na Espanha. Quatro pintores e um escultor formam o conjunto Dois deles, Luís Gordillo e Juan Navarro Baldeweg, se encontram na plenitude de sua produção artística, enquanto os outros três pertencem à geração mais recente, mas Já tendo proporcionado consistentes provas de seu talento e forte personalidade. Aobra de alguns deles tem inclusive encontrado eco - cada vez mais potente - além de nossas fronteiras

Gordillo Luís Gordrllo é, com toda justiça, considerado o pai de um notável setor da nova figuração espanhola, a qual teve uma forte repercussão no panorama ibérico, e muito particularmente em Madri, durante a última década. Antes de dedicar-se à produção dessas imagens ácidas que nasciam mediante um processo de congelamento do dese-

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