ROMERO DE ANDRADE LIMA Brasil Biografia Nasceu em Recife em 1957. Pintor, Escultor, Gravador e Cenógrafo. 1984 - Expressões
Coletiva de Artistas Nordestinos Rio Design Canter - Rio de Janeiro 1985 - Coletiva dos Finalistas do 11 Prêmio Pirelli de Pintura Jovem MASP - Silo Paulo - SP - Coletiva dos Premiados no 11 Prêmio Chandon de Arte e Vinho Paço das Artes - sao Paulo - SP 1986 - Coletiva de Arte Armorial Galeria Artenossa - Joil.o Pessoa - PB - Salão Pernambucano de Arte Contemporânea Centro de Convenções de Pemambuco - Olinda - PE - Coletiva de Pintura Brasileira Maison des Cuaures du Monde Paris - França - Individual Noites de Solou O Amor" o Tempo Galeria Espaço Vivo - Recife - PE 1987 - Coletiva de Gravadores da Oficina Guaianases Galeria Metropolttana do Recile Recile - PE - II Salão Municipal de João Pessoa Núcleo de Arte Contemporânea da UFPB - João Pessoa - PB - Individual As laras 00 As Guardiãs do Rio Estação Jaqueira - Rede - PE 1988 - Coleliva de Artistas Pernambucanos Centro Cu~ural Adalgisa Falcão Recife - PE - Cenário e Figurino da Peça "As Conchambranças de Quaderna" da Ariano Suassuna Grupo Cooperarteatro - Teatro Waldamar de Oliveira Recife - PE 1989 - Cenário e Figurino do Espelãculo "O Reino do Meio-Dia" de Antônio Nóbrega Car~on Dance Festival - Teatro Municipal de São Paulo, Tealro Municipal do Rio de Janeiro e Palácio das Artes de Selo Horizonte - Individual Os Muros de Babel ou A Memória Ernparedada Galeria Espaço Vivo - RecITe - PE - Projeto de Criação do Teatro Armorial de Bonecos com o petrocínio das Bolsas Vilas de Artes - 19" Sienallnternacional de &ia Paulo Exposição dos Bonecos e Cenários do Tealro Armorial de Bonecos
Obra Apresentada
o Amar e o Tempo Cenografia e Bonecos "Um sinal grandioso apareceu no céu: urna mulher vestida com o sol, lendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas ... urn grande Dragão, cor com sete cabeças e dez chifres, as cabeças, sele diademas; sua cauda arrastava um terço das "strelas do céu, iançando-as para a terra" (Livro do Apocalipse). Somente no contexto mágico e hiperbólico das narrativas apocalípticas podemos teniar decHrar a arte maravilhosa desses pernambucanos iluminados que integram o Movimento Armorial redivivo: a dança insólita, energética, alucinant" de "O Reino do Maio Dia" de Antônio Nóbrega (Carlton Dance Festival), a música "ãspera, arcaica, acarada como gumes de faca-da-ponta" de Antonio José Madureira, os bonecos, cenários, figurinos, pinturas, gravuras" escu~uras brilhantes como "os esmaUe. puros dos estandartes das cavalhadas", '1estivos, nítidos, melálioos e coloridos" como '1oques de clarim" de Romero de Andrade Lirna - pera cnarmos apenas três artistas que mais recentemente tém premiado &ia Paulo com seu trabalho. A inspirá-los os poemas e sonetos de Ariano Suassuna que quintessenclalizam o universo amplo e profundo do Movimento Armarial por
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O Amor e o Tempo (detalha), Boneco
ele iniciado no Recife no começo da década de 70. Ao codificar uma arte já em processo no seio dos artistas criadoras nordestinos, Suassuna assentou as bases teóricas de um movimento de extrema importância na
cuttura brasileira deste século. Segundo sua definição "a arte armarial brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírno mágico dos '1olhetos" do Romanceiro Popular do Nordeste (literatura de Cordel) com a música de viola, rabeca 00 pífano que acompanha seus "cantares". e com a xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito 9 a forma das Artes e espetãculos populares com esse mesmo Romanceiro relacionados". O Movimento Armorial tem, pois, como meta "realizar uma arte brasileira erudita a partir das raízes populares de nossa cuttura", uma arte expressiva da "visão tragicamente fatalista, cruelmente alegre e miticamente verdadeira que o povo brasileiro tem do real". Definindo especificamente a pintura armarial da qual Romera é um dos expoentes, Suassuna cita suas características:
parentesco com o espírito mágico e poético do Romanceiro e das xilogravuras populares do Nordeste, ausência ou apenas indicação de perspectiva, de profundidade ou relevo; uso predominante de cores puras, distribuídas em zonas achatadas; desenho tosco e forie, quase sempre contornado, como herança de pintura popular; semelhança com os brasões, bandeiras e estandartes dos espetãculos populares nordestinos; parentesco com a cerâmica e a tapeçaria. Ao identificar os traços principais das diversas expressões da Arte Armarial pintura, escultura, cerâmica, tapeçaria, gravura, teatro, cinema, dança, música, arquitetura" literatura - Suassuna não as
vesta em camisa de força, mas apenas codifica manifestações já exislentes, algumas, apontando para outras como a arqu~etura, possíveis buscas das nossas raízes mais autênticas, cobrando-lhes cor, vibração, ousadia, exa~ação dionisíaca, "assim como o Povo, dionisíaco, nos espetáculos populares públicos, se veste de Reis e cria a festa, a dança, a sagração .. : É essa a "aura" que cerca a instalação de ROfr.ero de Andrade Lima na XIX Bienal de São Paulo, uma imensa cobra de 70 metros de extensão, povoada de bonecos "babilônicos" ou líricas estupendos, simbolizando o universo interior e exterior do homem. Problematizando o Amar e o Tempo, ao empreender uma "jornada de dor e paixão através da obra poética de Ariano Suassuna", Romero nos introduz nos labirintos profundos da essencialidade humana. O dilaceramento enire a eternidade e o aniquilamento que nos consome e angustia a todos - ("Dizem que tudo passa e o tempo duro' tudo asfarela: o Sangue há da morre.") - parece ter superada essa polarização através do amor: ("Mas quando a luz me diz que esse Ouro puro' se acaba por linar" corromper,' meu sangue ferve contra a vã Razão' e há de pulsar o Amor na escuridao"). Mas, antes dessa possível, o bicho-homem deve destino enfrentando os monstros do Sertão Estrada anda; condenado a uma sonho, "sem lei nern rei", num mundo que ruge qual tigre maldoso; atirando-se de urn rochedo pardo, quando perseguido, morto mas não desonrado", querendo eternamente partir no barco da madrugada" no vento, mas condenado a ficar "alvo da flecha do Tempo". Já conhecedora dos "Dez Sonetos com Mote
Alheio" que Suassuna escreveu em 83, três dos quais ilustram a instalação de Romero na Bienal, pasma ante a beleza excepcional dos mesmos, e dos demais poemas inclusos na obra "O Amar e () Tempo", gratifica-me a correspondência leliz entre as expressões visual e literária. Ao lado da instalação, Romero apresEmia ainda os bonecos incrivelmente lindos do Teatro Armorial que fazem parte de um projeto patrocinado pela V~al, encamações tr~dimensionais do mundo misterioso do oort<'lo de "A Pedra do Reino" e da saga nordestina em geral e que se destinam a "atuar' no espetáculo sobre tragédia inédita de Suassuna. bonecos são executa.dos com materiajs
voluntariamente pobres, mas sparatosos. C~ando ainda" Suassuna Movimento separata da Pernambucana de Desenvolvimento, RecITe, 1977): "quando falávamos em "ouro", ou "pedras preciosas", estávaf11<lS referência aos vidrilhos, lantejoulas e metais baratos que o povo usa para enfeitar suas roupagens pl'incipescas, nos "autos dos gue"eiros", por Esses metais apesar
são majs
que os "verdadeiros" usados pelos ricos, porque contêm uma quantidade maior de sonho humano". A obra de Romero de Andrade lima possui aquele dom raro de maravilhamento das causas belas e autênticas. Extremamente jovem, o artista já empreendeu complexa escalada em direção à que depois dela, com sua faos radiosa, simples e do
Ilka Marinho Zanotto