SINALlZAÇAO IMAGINÁRIA
Conceito: com a ajuda da'sociologia e da mito-análise, escolher um determinado número de temas míticos que tenham força ideológica, atualmente, na sociedade em São Paulo. Essa escolha é feita após conversas com especialistas e alguns testes com pessoas da rua. Os temas utópicos, apesar de habitualmente orientados para o futuro, têm, freqüentemente, valor nostálgico, de uma sociedade mítica pré-histórica (paraíso terrestre). Uma sinalização parecida com a atual sinalização do trânsito em São Paulo (placas de regulamentação, de advertência, retangulares, redondas ou triangulares), usando o código .de comunicação social da sociedade do automóvel, amplamente conhecido pela população; seu cenário (calçadas. cruzamentos etc.) servirá de suporte (deSViado de sua função realista habitual) a essa sinalização imaginária. Imaginam-se, dessa forma, 200 placas (mais, se possível) nas ruas e nos jardins de São Paulo. Paralelamente ao ambiente social real, uma cópia de cada uma dessas placas será apresentada no espaço de exposição da Bienal, com mapa e fotos de sua localização real na cidade. Desse modo, o visitante se achará mergulhado. como uma bola num flipper. num espaço fechado, sobrecarregado de sinalização utópica, onde será remetido de um conceito-imagem a outro (AR/ALMA, PR~-HISTÓRIA/PÓS-HISTÓRIA, MULHER/ VERDADE, FUTURO CURVO, ou PARAfSO SOCIAL, ou PROGRESSO PASSADO), em resumo, tudo dependerá,
nessa escolha, de uma pesquisa prévia. para saber se será necessário assinalar madeira mole, água dura. um porvir mágico, o céu sobre a terra, o dinheiro dos pobres, o fim da história, a beleza do vazio, a não-comunicação, a ilusão linear, o perigo do pai, a euforia, a lucidez, a cor, o impulso de morte, o instinto de vida ... a guerra, a explosão nuclear, o fim do ano 2000, refinarias de açúcar, carícias, a harmonia ... Não consigo mais deter-me nesse inesgotável campo imaginário (ia esquecendo a velocidade - muito importante). Espero que os fantasmas não o cederão ao realismo e ao questionamento. Penso também numa homenagem lromca a Augusto Comte, tão estimado no Brasil, na bandeira e no próprio preâmbulo da Constituição. Haverá uma progressão na montagem das placas na cidade. Lugar: nas ruas e jardins, dispersas nos pontos de comunicação social, e na exposição, onde serão justapostas contraditoriamente. Suportes: esses dois dispositivos serão realizados demodó a imitar o mais perfeitamente possível as verdadeiras placas de sinalização em uso (serigrafia sobre madeira dispostas sobre postes de madeira). A foto. em anexo, de um trabalho realizado em Angoulême, em junho de 1980, pode dar uma idéia do efeito buscado. Hervé Fischer
(Tradução de Mariarosaria Fabris)
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