à produção artística. Vincent comia mal, dormia pouco e, em certas épocas da vida, bebia em excesso. As cartas revelam que tinha consciência dos prejuízos físicos daí resultantes, o que lhe parecia conseqüência inevitável e lógica de buscar a produção de um conjunto de obras coeso, destinado a estimular a arte. Repetidas vezes, deu a entender que não esperava viver muito e, por isso, queria investir toda a energia no trabalho. A automutilação infame, quando cortou o lóbulo de uma orelha após uma discussão com Gauguin e o deu de presente a um bordel local, foi amplamente interpretada. O ato assemelha-se à autopunição na forma de sacrifício: Vincent ofereceu seu sacrifício a uma mulher dissoluta que, por sua vez, possuía traços de santidade (Maria Madalena). Por fim, o suicídio pôs fim à sua autodestruição. Autoria
Nossa exposição Núcleo Histórico: Antropofagia e Histórias de Canibalismos lança luz a uma interpretação possivelmente nova à questão muito atual da autoria de diversas obras de Vincent. A crescente probabilidade de que parcela significativa de sua obra tenha sido forjada ou a ele indevidamente atribuída comprova o tremendo vigor de seu trabalho, o que sublinha a incapacidade de alguns respeitados críticos reconhecerem este tipo de atribuição antropofágica. Quase imediatamente após a morte de Vincent, passaram a lhe copiar a obra e, em alguns casos, até pintaram versões novas. A motivação parece ter sido impelida menos pelo interesse econômico do que pelo desejo de identificação com o talento universal de Vincent. É intrigante a teoria-que ainda tem de ser provada-de que seu amigo Doctor Gachet, tanto patrono das artes quanto pintor, tenha feito uma série de pinturas no estilo de Vincent. O acalorado debate sobre a autenticidade de algumas obras prova nosso contínuo fascínio com Vincent van Gogh, mais de um século após sua morte. Pieter Th. Tjabbes. Traduzido do inglês por Claudio Frederico da Silua Ramos. 1. J.J. Isaacson, "Gevoelens over de Nederlandsche Kunst op de Wereldtentoonstelling II", De Portefeuille2, Paris (agosto 1889), Parijse Brieven III, P.248-49. 2. Robert Rosenblum, Modem paintin9 and the Northem Romantic tradition: from Friedrich to Rothko, 1975, ed. 1988, P.91-92. 3. Vincentvan Gogh, carta 605, setembro, 1889. 4. Vincentvan Gogh, carta 533, setembro, 1888. 5. Vi ncent van Gogh, carta 405, maio, 1885. 6. Vincent van Gogh, carta 429, outubro, 1885.
166 XXIV Bienal Núcleo Histórico: Antropofagia e Histórias de Canibalismos
7. Vincent van Gogh, carta B19A, novembro, 1888. 8. Vincent van Gogh, carta 614A, novembro, 1889. 9. Vincentvan Gogh, carta 604, setembro, 1889. 10. Vincent van Gogh, carta R8, maio, 1882. 11. Vincentvan Gogh, carta W20, fevereiro, 1890. 12. Vincentvan Gogh, carta B7,junho, 1888. 13. Vincentvan Gogh, carta 543, setembro, 1888. 14. Vincent van Gogh, carta 599, junho, 1889.