1. desenho_001_18651 Em ambientes construídos ou naturais, cada objeto ajuda a definir nossas condições de movimento. O projeto2 de nosso mundo físico informa os métodos através dos quais o movimento emerge e a estratégia espacial se organiza. Para pessoas negras, o ato de se mover em um dado ambiente é acompanhado de questões de pertencimento e de uma autodeterminação de visibilidade e semiautonomia. Isso significa que, para pessoas sistematicamente desprovidas de direitos, o movimento composicional (as maneiras como o corpo se junta, se equilibra e se organiza para se mover pelo espaço) é uma habilidade usada a serviço da autoemancipação em meio a geografias hostis. Além disso, o cérebro decifra, mede, categoriza e entende tanto formas físicas imediatas quanto formas físicas distantes, relacionadas às estruturas espaciais definidas por condições de poder. Essa relação entre interior e exterior – experiências geográficas da mente negra/do 1/ Este texto foi originalmente publicado em janeiro de 2017 no canal Pelican Bomb. Disponível em: <http://pelicanbomb. com/art-review/2017/black-interiority-notes-on-architecture-infrastructure-environmental-justice-and-abstract-drawing>. Acesso em: 23 jan. 2023. 2/ No original em inglês, design. Optamos por traduzir como “projeto” para abranger o sentido de projeto arquitetônico/ espacial/geográfico. [n.t.]
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corpo negro – tem uma ligação indissolúvel com as terras e águas crivadas de histórias arquitetônicas e infraestruturais destinadas a concentrar o controle total sobre recursos naturais limpos em sistemas conservadores brancos, corporativos e hipercapitalistas. Pessoas racializadas e desprovidas de direitos herdaram esse isolamento geográfico e podem chamá-lo de racismo ambiental. Nesse momento de globalização acelerada devido à tecnologia, o racismo ambiental é intensificado pelas mudanças climáticas decorrentes da atividade humana, ou pelo que é chamado de Antropoceno. O legado do racismo ambiental e os atuais traumas advindos das mudanças climáticas globais fazem do planejamento espacial – representação e projeto arquitetônicos e infraestruturais – uma preocupação urgente para mim no desenho abstrato contemporâneo. 2. notas: sobre planejar estratégias espaciais negras na qualidade de usuários (em processo) a. foco_ Minhas ações concentram-se em desenvolver uma prática refinada de desenho abstrato numa linguagem de representação arquitetônica e infraestrutural que se proponha a participar de processos de desenvolvimento espacial e de geografias mais habitáveis. No campo do desenho, elaboro composições, diagramas, traços, superfícies e modelos visando esses objetivos, sempre tendo em mente o movimento do corpo humano. Cada desenho é uma forma de análise, com um olhar para as eficiências em nossos atuais ambientes construídos e naturais e para as relações que pessoas racializadas têm com tais ambientes.