317 André Stolarski
O processo do workshop foi completamente aberto. Das poucas atividades previstas de antemão, quase nenhuma sobreviveu. Logo na apresentação das propostas enviadas, concluiu-se que todas eram muito próximas e que o melhor seria simplesmente deixá-las de lado para constituir um grupo único. Daí em diante, tudo foi decidido, configurado e preparado ad hoc. Não é o caso de detalhar o que ocorreu, mas apenas de registrar que a experiência foi bem mais intensa do que se podia prever. Embalados pela discussão da identidade visual como o arranjo das regras de um jogo, os rumos do projeto foram alterados diariamente em discussões longas e entrecortadas por constantes traduções simultâneas; as oito horas diárias de trabalho rapidamente converteram-se em doze; a semana não foi suficiente para conter a experiência. Ao final, organizaram-se seis equipes com propostas diferentes e por vezes complementares, com algumas pessoas participando de mais de uma equipe. Segundo tempo Parte das propostas apresentadas foi selecionada, não como resultado definitivo, mas como eixo de orientação para posterior desenvolvimento pela equipe da Bienal, que deveria finalizá-lo em um mês. Faziam parte desse repertório um sinal composto por quatro linhas, que formavam o algarismo romano XXX, um estudo de conexões lineares e tipográficas, um cartaz e uma proposta de identidade baseada na aplicação radical de um algoritmo compositivo. A partir daí, a equipe da Bienal passou a trabalhar segundo quatro princípios: honrar o resultado e o processo do workshop, dar consistência sistêmica à identidade, considerar os problemas típicos de uma bienal e oferecer uma contribuição criativa relevante
ao projeto. Na pauta, o aprofundamento do desenho do sinal, a investigação das possibilidades de criação de imagens constelares e a exploração do espírito de autonomia e participação no jogo da identidade. O sinal foi rearticulado num símbolo de partes móveis, aprofundando a relação entre o algarismo romano e sua sugestão constelar. Definiu-se que as constelações (arranjos relativos de textos, imagens e obras) deveriam ser configuradas não por linhas conectoras, que estabelecem relações “duras”, mas pela relação das imagens entre si em termos de tamanho, proporção e distância. Duas características encontradas em diversas propostas e produtos do workshop foram oficialmente incorporadas: a utilização exclusiva das cores preta e branca e a possibilidade de utilização de tipos facilmente encontrados nos principais sistemas operacionais atuais. Desta última escolha surgiu uma família tipográfica exclusiva e inclusiva, virtualmente composta por todos os tipos monoespacejados existentes2 ou que vierem a existir, batizada de Constelar Mono – uma família tipográfica constelar por excelência, criada não pelo desenho desta ou daquela fonte, mas pela reunião de fontes com uma característica em comum. Ponto de partida Tão importante quanto os códigos visuais resultantes foi o modo de entender o desenvolvimento posterior do projeto. Em vez de estabelecer regras precisas e detalhadas para a configuração de todas as aplicações visuais, o projeto as deixou em aberto, abrindo espaço para 2 Fontes monoespacejadas são aquelas nas quais todos os caracteres ocupam o mesmo espaço horizontal, independentemente de seu desenho.