Tatiana Blass São Paulo, Brasil, 1979. Vive e trabalha em São Paulo. Desde que começou a expor pinturas, esculturas e instalações, no final dos anos 1990, Tatiana Blass problematiza a noção de espetáculo. Casos paradigmáticos são suas pinturas de palcos quase vazios e suas instalações recentes em que esculturas moldadas em parafina perdem contornos e coesão sob efeito da luz forte de holofotes. Metade da fala no chão – Piano surdo faz parte de uma série em andamento, realizada a partir de intervenções da artista sobre instrumentos musicais. Na Bienal, um piano de
cauda recebe, enquanto tocado, um derramamento de cera líquida em suas cordas. Um vídeo registra a rápida passagem de estado físico daquela matéria, do desafinar das notas ao emudecimento completo. O instrumento petrificado na forma de escultura ratifica seu próprio e irreversível silêncio. Como um ciclo temporal que anuncia todas as suas etapas, a instalação mimetiza os tombamentos através dos quais a vida se torna monumento. Algo que, em oposição à vida, perde o movimento: o eco de som, a voz, as errâncias e possibilidades de quem os emite. O piano é a metáfora da promessa infinita de música. Após a apropriação de Blass, já não mais.
O MORTO · I
dependurou / Insistente, um gesto oco. / À noite enterrou-se
A chuva lavou / As pessoas do morto / E lavou o morto / Com
/ O homem / Na raiz de um muro / Com sua roupa no corpo. /
a sua fisionomia / De torto / E com seus pés de morto / Que
E a chuva regou no horto / Desse vitorioso / Homem morto /
arrastava um rio seco / E suas mãos de morto / Onde se
Enormes violetas / E uns caramujos férteis… //