OCTÁVIO DA COSTA PEREIRA A discussão sobre a litografia ser ou não uma técnica de gravura, ou ser uma reprod!Jção de imagens, desenhos, é improcedente. E sabido que a atuação do betume sobre a pedra litográfica produz uma reação química que altera a composição do calcáreo e com isso o suporte é modificado. Isto significa que quem afirma que litografia não é gravura, desconhece a técnica da mesma. Tudo que transforma um suporte em profundidade e também altera seu estado natural é considerado gravura. Isto se aplica no sentido largo da palavra pois mesmo numa fita magnética que tem seu equilíbrio elétrico ou eletromagnético modificado e se reorganiza em um equilíbrio e ordenação diversa, como é o caso do VT, ou fitas sonoras apenas, se entende que houve uma atuação incisiva sobre a mesma e, portanto, foi gravada. Se pensarmos em um drama levado ao palco podemos entender que ação dramática gravou na alma da platéia uma memória emotiva e uma percepção de circunstâncias que, antes de o espetáculo ser encenado, não existia. A repetição desta mesma ação incisiva nos exemplos dados, em todos, é característica da gravura, da gravação. Questionar que os registros das imagens visuais, sonoras, emocionais, conceituais é dizer que estes registros não criam rastros nos suportes, mas sim, sobre os suportes, como se estes pudessem ser retirados posteriormente com um simples deslocamento um do outro. No entanto isto não acontece. O que é gravado, passa a fazer parte do corpo do suporte tornando-o assim uma matriz autêntica, geradora de estampas. Desta matriz multiplicaremos a imagem até se desgastar dependendo da temporal idade do suporte. A matriz é sempre temporal. Ela poderá produzir símiles originais de diversas intensidades, tonalidades, cores, compreensões, das várias linguagens que cada suporte caracteriza. Cada matriz é portadora de um código que tem sua morfologia e sua sintaxe. As várias atividades artísticas produzirão os vários repertórios e assim por diante. Octávio Pereira trouxe para o Brasil o lugar e o status da litografia. Estabeleceu e ensinou. Treinou e possibilitou a feitura de edições de litografia com ordenação e qualidade. Octávio Pereira fez mais. Possibilitou esta técnica aos artistas brasileiros. Soube puxar o fio da meada daqueles que tinham no seu conteúdo artístico, na linguagem da litografia, sua força maior. Viabilizou esta arte no Brasil. Octávio Pereira colocou a litografia no seu lugar, no espaço que lhe era devido já de há muito tempo. Octávio Pereira tinha, além de tudo, a arte de "habitar" o artista e fazer emergir seu gesto, sua cor, suas ansiedades, sua grafia, compreendendo com muita inteligência, profundidade e sagacidade, o potencial e ampla possibilidade performadora de cada um. Em suma, a matéria-prima do trabalho de Octávio era o imaginário de todos nós: Cidadãos artistas. Co-Curadora: Sílvia Ragusin
Biografia Gaúcho de Porto Alegre nascido a 6 de janeiro de 1929, morreu a 23 de novembro de 1988 em
São Paulo vítima de ataque cardíaco. Sua escolaridade se fez no internato de Nova Hamburgo e no Colégio Cruzeiro do Sul de Porto Alegre.
Autodidata, teve uma ampla e variada vivência no universo das artes. Muito jovem iniciou-se em música estudando composição com Armando Albuquerque e instrumento, o piano, com Nato Henn. Posteriormente trabalhou com nomes do porte de Hugo Balzo e Alberto Ginestera. Produziu diversas composições mas interrompeu sua carreira após um acidente na mão. Da música para a dança e o teatro o andamento foi natural. Exercitou o balê e a cenografia numerosas vezes. Em 1957 emigrou para os Estados Unidos onde trabalhou em decoração, cenários e figurinos alcançando boa aceitação profissional, lá permanecendo dez anos. Em 1963 se estabeleceu em Los Angeles para ser impressor na Gráfica Gemini Gel sob orientação de Kenneth E. Tyler. Imprimiu Joseph Albers, Frank Stella, Robert Rauschenberg, William Crutchfield, entre outros. Em 1967 regressou ao Brasil, convocado no Rio de Janeiro onde fundou a litográfica Planus com Antonio Grosso. Já nesta época trabalhou com Maria Bonomi, Ivan Serra e Aldemir Martins. Em 1970, abriu a Gráfica da Rua Jaguaribe em São Paulo, onde seu companheiro administrativo foi Fernando Silva. Imprimiu então Otávio Araújo, Mário Gruber, Savério Castellano, Angelo Hodick, Miriam Chiaverini, Tomoshigue, Tuneu e Maria Bonomi. Já em 1971, iniciou nova Gráfica na Rua Cincinato Braga com o apoio de Seixas. Lá trabalharam Otávio Araújo, Savério Castellano e Tomie Ohtake. Em 1972, inaugurou a Gráfica da Rua Urano com a colaboração de Pepe. Depois disso, em 1973, Octávio Pereira fundou a Gráfica da Rua Amália de Noronha. Aí conheceu Elsio Motta com o qual criou em 1974 a Gráfica da Rua Lacerda Franco, em Pinheiros, a partir de então a atividade litográfica se estabelece. se expande e é organizada em padrões
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Octávio Pereira profissionais e comerciais na formação da Gráfica Ymagos, com muito sucesso. Entre 1975 e 1976, Octávio Pereira volta para o Rio Grande do Sul, onde dirigiu a bem sucedida Galeria Guignard, até 1980, mas, mantendo-se sempre presente na Gráfica Ymagos e marcando com sua personalidade peculiar de catalisador cultural dos inúmeros profissionais que lá trabalharam e ainda trabalham. Finalmente livre de seus compromissos como editor e mestre-impressor, pôde então executar sua obra de artista que tornou pública numa série de exposições pelo Brasil em 1986 a partir da Galeria Delphus em Porto Alegre, seguindo-se na Shis Galeria de Arte em Brasília, na Galeria Spectrum em Londrina, na Toki Arte Galeria, em São Paulo e finalmente na Graphite Galeria em Natal. Artistas Aldemir Martins Aldo Simoncini Amélia Toledo (l,na Letícia Quadros Angelo Hodick Antonio Augusto Antunes Antonio Henrique do Amaral Antonio Rodrigues Tuneu Bernardo Cid Carlos Leão Carlos Scliar Carmen Bardy Chô Dornelles Cecília Suzuki Cloude Loriou Darei Valença Lins Darcy Penteado David Hockney Eduardo Lima Eduardo Iglesias Ely Bueno Ermelindo Nardin F8yga Ostrower
Fernando Odriozola
Flavio de Carvalho Flavio Império Gabriel Douglas Glênio Bianchetti Glauco Rodrigues GUilherme de Faria Hércules Barsotti Iberê Camargo Igcácio Rodrigues Ivald Granato Ivan Serpa Jagoda Buic Jasper Jones
José TatGÍsio José Gurer Salles Joseph Albers Livio Abramo Lotus L6bo Luiz Aquila da Rocha Miranda Maciej Antonio Babinsky Maria Bonomi Maria Lilia Magliani Marlia Rodrigues Mario Gruber Miriam Chiaverini Newton Rezende Norberto Stori Nori Figueiredo Otavio Araújo Paulo Momo Ramirez Amaya Renina Katz Roberto Burle Marx Robert Rauschenberg Rubens Gerchman Savério Castellano Selma Dafere Sergio Matta Sérvulo Esmeralda Silvia Ragusin Tomie Ohtake Tomoshigue Kusuno Ubirajara Ribeiro Vera Saiam anca Walter Lewy William Crutchfield Willys de Castro
Impressores Antonio~,Grosso
Paulo G~edes José Carlos Prieto Beta Roberto Giarfy
Sebastião Flores Teixeira Antonio Retanero José Alberto dos Santos
Francisco de Assis Molina Oomicio Pereira de Abreu Waldyr Flores Teixeira
Manuel Messias dos Santos ... "o relacionamento entre o artista e o impressor é muito mais do que a simples soma das energias criativas do artista e da capacidade técnica do impressor. No atelier litográfico eles trabalham em grande intimidade e compartilham de uma mesma intenção. A essência da colaboração é o respeito mútuo. Apesar da complexa tecnologia da técnica litográfica ela é uma arte, não uma ciência, por isso, respeito mútuo, adaptabilidade e cooperação são necessários de todos os participantes. Qualquer forma de expressão artística - seja ela de pintura, escultura, música, desenho, poesia ou gravura, pode ser tratada de duas maneiras: como um processo "técnicomecânico" de trabalho ou como "uma linguagem" específica de expressão. Esta diferenciação é o que caracteriza a obra de arte - o "opus" -, a coisa feita digna, consciente, clara e definida. Não existem "técnicas nobres" - ou melhor: o material usador não implica qualidade artística - o que enobrece é a .. liberdade de criação que permite o uso consciente e total dessa potencialidade. Madeira, linóleo, pedra, alumínio, cobre, zinco, óleo, aquarela, som ou palavra, são simp!esmente recursos materiais utilizáveis" .. Octávio Pereira, 1977