Brasil CILDO MEIRELES Biografia Nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 1948 Estudou na Escola Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. De 1971 a 1973 morou em Nova York. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Exposições Individuais 1975 EurekaiBlindhotland, MAM, Rio de Janeiro 1979 "O Sermão da Montanha": Fiat Lux, Centro Cultural Cândido Mendes, MAM, Rio de Janeiro 1984/86 "Desvio Para o Vermelho", MAM, Rio de Janeiro, MAC, SP 1987/88 "Missão/Missões" , Brasileira, RJ, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Paris 1989 "Através" (Thorough) Kanaal Arts Fundation, Kortijk, Bélgica
Exposições Coletivas 1970 "Information", MOMA, Nova York 1976 Bienal de Veneza (Atualidade Internacional) 1977 Biennale de Paris 1988 P.S. 1, Brasil Project, Nova York 1989 "Magiciens de La Terre", La Villetle, Centre Georges Pompidou
Obras Apresentadas 1.
Olvido, 1989 Instalação Velas de parafina, ossos, tecido, dinheiro, carvão vegetal e som de moto-serra, 120 m2
Olvido "Eu ousava desejar e propor que mais valia disporem de mim num cativeiro perpétuo do
que me fazerem errar incessantemente na terra, expulsando-me sucessivamente de todos os abrigos que escolhera". Jean-Jacques Rousseau
Estudo para Instalação, 1989 Desenhos s/ papel, 27 x 36 cm
Que lugar este lugar - todo circularidade e centralização progressiva, induz-nos a habitar? Só após defrontarmos com a constituição material ''visível'' do seu exterior, cuja expressividade simbólica remete de imediato às prováveis instâncias da História da qual foi extraído; após enfrentarmos a radicalidade figurativa da superposição destemidamente alegórica de Morte e Dinheiro - é que se torna possível, passando-se à sua presença menos legível, habitá-lo integralmente enquanto linguagem - não fosse já esta a "casa do Ser".1 E então, quem nele ingressa, por entre as díspares durações de consumição das suas matérias (presteza da cera, lentidão do osso, fugacidade do valor de troca do dinheiro), quem - por entre a própria transitoriedade de tudo, se não nosso ser mais que nunca disperso, descontínuo, errante, fugidio, exausto dessa mesma História à qual sua concreção exterior alude - História ai mais espólio que herança, esbulho e não '1ransmissão"? Com seu sofrimento mnemônico, com sua hipertrofiada memória, é esse ser do limiar agônico do milênio quem penetra no interior vazio deste abrigo; vazio não simplesmente "resultante" da conformação da tenda; vazio construído que, sendo negação de negação, institui, aliás, a verdadeira "construção" do trabalho; recuo para aquém da forma, modalidade do que o próprio Cildo Meireles denominou "espaço cego", e que irrompe com notável freqüência em sua produção. "Nowhere is my home" - já enfatizara Cildo· ao expor, em 1969, os "Espaços virtuais: cantos". LUllar nenhum é também onde - neste interior invlsibilizado, neste vazio enegrecido a carvão, habitar. Noite de carvão: noite dessa estranha substância combustível que é sempre ao mesmo tempo o que já foi e o que ainda será; que é simultaneamente passado e porvir. Substância, portanto, análoga ao Esquecimento ... Noite do Esquecimento. Cortada, contudo, pelo
rumor de uma
moto~serra ...
Pois, como belas palavras de Maurice Blachot explicitam, "a essencia da noite não nos deixa dormir". Quem entra na noite da tenda erguida por Cildo ouve outra noite: "ouve-se a si mesmo, ouve o eco eternamente repercutido-de sua própria caminhada ... " E essa outra noite é "a morte que não se encontra, é ... no seio do esquecimento, a lembrança sem repouso". Lu Menezes (1) Heidegger, Martin, Letlre sur I' humanisme, ed. Aubier, Paris, p. 27·
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