Por uma arquitetura de relacionamento intergeracional

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FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

BEATRIZ DOS SANTOS RABETTI

POR UMA ARQUITETURA DE INTEGRAÇÃO INTERGERACIONAL

Brasília 2018


BEATRIZ DOS SANTOS RABETTI

POR UMA ARQUITETURA DE INTEGRAÇÃO INTERGERACIONAL

Trabalho apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU/UnB) como parte dos requisitos da disciplina de Ensaio Teórico. Orientador: Me. Orlando Vinicius Rangel Nunes Banca: Dr. André Gonçalves da Costa Dr. Carlos Henrique Magalhães de Lima

Brasília 2018


RESUMO Busca-se neste trabalho estudar, analisar, caracterizar e comparar os ambientes frequentados predominantemente por jovens, bem como os ambientes frequentados predominantemente por idosos, identificando suas particularidades e suas similitudes. O objetivo é subsidiar trabalhos futuros que visem a união intergeracional por meio da arquitetura. Os dados primários baseiam-se em revisão bibliográfica, em entrevistas com o público-alvo e em estudos de casos. Parte-se do princípio que as condições de vivência e de relação pessoa-ambiente modifica-se em geografias diferentes, por esse motivo nesta pesquisa opta-se pelo recorte geográfico em Brasília. Os ambientes de ambas as faixas etárias foram selecionados desde que os indivíduos tenham autonomia para modificar e revelar sua identidade por meio de suas expressões arquitetônicas. Os parâmetros de avaliação e de análise dos ambientes é baseado no Desempenho Morfológico dos Lugares, conforme Gunter Kohlsdorf e Maria Elaine Kohlsdorf (2017).

Palavras-chave: idoso; jovem; arquitetura; dimensões morfológicas


LISTA DE FIGURAS Figura 1: Porcentagem da população idosa no mundo ...............................................8 Figura 2: Exemplo hipotético das Ilhas Espaciais ..................................................... 19 Figura 3: Exemplo hipotético da relação entre Cheios e Vazios ............................... 20 Figura 4: Exemplo hipotético de diagrama de aberturas e vedações ........................ 22 Figura 5: Exemplo hipotético de um ambiente acessível .......................................... 23 Figura 6: Tipos de luminárias .................................................................................... 25 Figura 7: Demonstração de luz direta e luz indireta .................................................. 26 Figura 8: Exemplos hipotéticos de categorias dos elementos decorativos ............... 27 Figura 9: Fotografias dos quartos analisados............................................................ 28 Figura 10: Cores analisadas...................................................................................... 29 Figura 11: Exemplo hipotético de análise das cores predominantes......................... 29 Figura 12: Materiais predominantes analisados e suas respectivas cores ................ 30 Figura 13: Tipos de piso ............................................................................................ 30 Figura 14: Planta baixa dos quartos analisados ........................................................ 33 Figura 15: Planta baixa com representação das Ilhas Espaciais .............................. 37 Figura 16: Planta baixa de uma quitinete .................................................................. 38 Figura 17: Fotografias das camas dos quartos analisados ....................................... 40 Figura 18: Plantas baixas com representação da relação entre Cheios e Vazios ..... 42 Figura 19: Fotografias do quarto I1 com características da rotina ............................. 43 Figura 20: Plantas baixas com representação do Tamanho dos Espaços Funcionais .................................................................................................................................. 44 Figura 21: Fotografias das janelas nos quartos analisados ...................................... 48 Figura 22: Diagrama representado relação entre aberturas e vedações .................. 50 Figura 23: Plantas baixas com representação da Acessibilidade Funcional ............. 52 Figura 24: Quantidade de mobiliários ........................................................................ 55 Figura 25: Plantas baixas com pontos de iluminação ............................................... 57 Figura 26: Exemplo de sombreamento ocasionado por falta de iluminação na área de trabalho do quarto J3 ................................................................................................ 58 Figura 27: Fotografias dos Elementos Decorativos dos quartos ............................... 60 Figura 28: Cores predominantes ............................................................................... 61 Figura 29: Materiais predominantes .......................................................................... 65 Figura 30: Fotografias dos tipos de pisos .................................................................. 68 Figura 31: Mapa de usos ........................................................................................... 73


LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Cores predominantes – quartos dos jovens.............................................. 62 Gráfico 2: Cores predominantes – quartos dos idosos.............................................. 62 Gráfico 3: Cores predominantes – média dos jovens e média dos idosos ................ 63 Gráfico 4: Materiais predominantes – quarto dos jovens .......................................... 66 Gráfico 5: Materiais predominantes – quarto dos idosos .......................................... 66 Gráfico 6: Materiais predominantes - média dos jovens e média dos idosos ............ 67 Gráfico 7: Pergunta 2 – média das respostas dos idosos e média dos jovens.......... 71 Gráfico 8: Pergunta 3 – média das respostas dos idosos e média dos jovens.......... 72 Gráfico 9: Pergunta 4 – média das respostas dos idosos e média dos jovens.......... 74 Gráfico 10: Pergunta 6 – média das respostas dos idosos e média dos jovens........ 75 Gráfico 11: Pergunta 8 – média das respostas dos idosos e média dos jovens........ 76 Gráfico 12: Pergunta 1 – média das respostas dos idosos e média dos jovens........ 78 Gráfico 13: Pergunta 3 – média das respostas dos idosos e média dos jovens........ 79 Gráfico 14: Pergunta 4 – média das respostas dos idosos e média dos jovens........ 80


LISTA DE QUADROS Quadro 1: Método de avaliação e análise ................................................................. 16 Quadro 2: Variáveis ................................................................................................... 17 Quadro 3: Descrição das variáveis sobre acessibilidade .......................................... 24 Quadro 4: Amostra .................................................................................................... 32 Quadro 5: Média dos resultados encontrados nos jovens ......................................... 35 Quadro 6: Média dos resultados encontrados nos idosos ......................................... 35 Quadro 7: Resultados das Ilhas Espaciais ................................................................ 36 Quadro 8: Resultado da relação entre Cheios e Vazios ............................................ 41 Quadro 9: Resultado do Tamanho dos Espaços Funcionais .................................... 45 Quadro 10: Tipologias dos quartos analisados ......................................................... 45 Quadro 11: Dimensionamento mínimo dos quartos conforme Códigos Sanitários do Estado de São Paulo ................................................................................................. 46 Quadro 12: Resultado da Permeabilidade na relação entre aberturas e vedações nos quartos dos jovens .................................................................................................... 47 Quadro 13: Resultado da Permeabilidade na relação entre aberturas e vedações nos quartos dos idosos .................................................................................................... 47 Quadro 14: Quantidade de paredes cegas em cada quarto ...................................... 49 Quadro 15: Ano de cada edifício ............................................................................... 53 Quadro 16: Quantidade encontrada de cada tipo de luminária nos quartos analisados .................................................................................................................................. 56 Quadro 17: Quantidade de elementos decorativos em cada quarto ......................... 59 Quadro 18: Amostra dos entrevistados ..................................................................... 70 Quadro 19: Tempo de residência .............................................................................. 71 Quadro 20: Resultados ............................................................................................. 81


LISTA DE SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas CODEPLAN – Companhia de Planejamento do Distrito Federal DF – Distrito Federal IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ILPI – Instituição de Longa Permanência para Idosos ONU – Organização das Nações Unidas PDAD – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios RA – Região Administrativa


SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................8 1 O MÉTODO DE AVALIAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO PARA A AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO MORFOLÓGICO DOS LUGARES DE JOVENS E DE IDOSOS.... 12 2 CARACTERÍSTICAS DOS AMBIENTES FREQUENTADOS POR JOVENS E POR IDOSOS:

APROXIMAÇÕES

E

DIVERGÊNCIAS

ENTRE

PERCEPÇÃO

E

ESPACIALIDADES ................................................................................................... 31 2.1 Descrição da amostra: os quartos selecionados ................................................. 31 2.2 Resultados alcançados: particularidades e semelhanças ................................... 36 3 RELAÇÃO SUBJETIVA DE JOVENS E DE IDOSOS COM SUA ESPACIALIDADE: OPINIÕES SOBRE A MODELAGEM DOS LUGARES ............................................ 69 4 DISCUSSÃO: RECOMENDAÇÕES PARA A RELAÇÃO INTERGERACIONAL ENTRE OS JOVENS E OS IDOSOS ........................................................................ 81 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 85


8

INTRODUÇÃO O envelhecimento acelerado da população tem sido destaque internacional no último século. Segundo o Census Bureau (2016) dos Estados Unidos prevê-se que a população de idosos no mundo praticamente dobrará para 1,6 bilhão, enquanto a população total crescerá 34% de 2025 a 2050, vide Figura 1. O fenômeno do envelhecimento populacional mundial criou nos países desenvolvidos a consciência em que a arquitetura deveria acompanhar a transformação populacional. No Brasil, por sua vez, as influências dessa transformação na arquitetura ainda são pontuais e pequenas.

Figura 1: Porcentagem da população idosa no mundo Fonte: Census Bureau (2016) dos Estados Unidos


9 A arquitetura deve estar atenta à essas mudanças na sociedade, pois o seu papel é fundamental para atender, também, às necessidades materiais e identitárias dos idosos. Com esse propósito, é essencial o surgimento de estudos na arquitetura que promovam formas de pensar a arquitetura para os idosos. Uma forma de cuidado para com esse público é sua união com os jovens. Essa tipologia já acontece em alguns lugares no mundo, principalmente na Europa, trazendo benefícios para ambas as gerações como a autoestima, a socialização e o aprendizado para os dois lados (NEWMAN, 2011). Segundo Lipai e Carneiro (2007), para sustentar essa possibilidade de integração, é interessante que se faça uma análise das características do jovem e do idoso, desde a esfera psicológica e social até a arquitetônica, compreendendo os dois níveis de interação simultâneas, o objetivo-racional e o subjetivo-emocional. Tais procedimentos visam criar ambientes multifuncionais para que ambas as faixas etárias interajam, ao invés de criar guetos, onde as gerações se excluem e não vivem o compartilhamento de experiências. A palavra gueto pode aparentar ser exagerado ou descabido ao caso em análise. Mas, deve-se considerar que o convívio cotidiano dos jovens com os idosos não significa interações pois, os jovens vivem uma rotina que envolve vida social, pessoal e profissional descolada dos progenitores. Tais características fazem com que jovens e idosos vivenciem realidades completamente diferentes em lugares diferentes. Se, por um lado, os idosos, com experiência vivida, conhecimentos históricos e culturais, tendem a compartilhar suas experiências somente com outros idosos. Por outro lado, os jovens, a despeito da constante ampliação de conhecimentos, igualmente, permanecem convivendo mais com outros jovens. É neste sentido que afirma-se que a atual organização urbano-arquitetônica se configurar mais como guetos do que um ambiente para compartilhamento de experiências entre jovens e idosos. As relações ambientais e sociais próprias destes ambientes levam a questionar: O que motiva jovens e idosos a não frequentarem os mesmos lugares? Quais as diferenças entre os ambientes frequentados por jovens e os ambientes


10 frequentados por idosos? Quais estratégias arquitetônicas poderiam integrar e unir esses públicos? A integração entre idosos e jovens pode ser sentida em diversos níveis, os mais importantes a esta pesquisa são os níveis sociais e espaciais. Do ponto de vista social, a forma como o idoso se enxerga e se transforma no envelhecer está muito relacionada com o olhar das outras gerações sobre ele, como interpretam e vivenciam o processo de envelhecimento. O reflexo disso se materializa no espaço, na medida em que o isolamento do idoso, como acontece em muitas instituições, não proporciona o convívio, que possibilitaria diminuir o preconceito e a gerar empatia entre as gerações. Além da arquitetura não estar acompanhando essa transformação social, Ximenes e Côrte (2007 apud PIMENTEL, 2001) ainda afirmam que a maioria das instituições brasileiras especializadas no cuidado diário dos idosos não está preparada para recebê-los de forma adequada, respeitando suas individualidades, hábitos, privacidade e liberdade. Elas atendem apenas às necessidades fisiológicas – alimentação, saúde e higiene –, deixando de lado as questões íntimas dos idosos, como as sociais, as afetivas e as sexuais. Para além das necessidades de se pensar uma arquitetura entre jovens e idosos, pode-se apontar demandas específicas para a realização desta pesquisa. Como pode ser percebido na revisão bibliográfica empreendida (XIMENES E CÔRTES, 2007; FLORES, 2008; CALDAS E THOMAZ, 2010), o tema arquitetura para idosos recorrentemente vem sendo tratado de forma sentimental, carregada de empirismos e de espetacularização das mazelas humanas. Tais pesquisas pouco contribuem para entender as reais necessidades dos idosos. Frequentemente, nestas pesquisas, o idoso é posto em situação de fragilidade extrema demandando que familiares decidam sua rotina e seus ambientes. Da mesma forma, a arquitetura para o jovem vem sendo tratada como despojada e inovadora e, portanto, carregada de pré-concepções que viciam o olhar acerca do ambiente propício aos jovens. Frequentemente é imputado a esse grupo uma arquitetura efêmera e espetacularizada. Essas características são motivadas por iniciativas do mercado consumidor que busca na rapidez o máximo lucro. Não há


11 nessa arquitetura um pensar atencioso – e por consequência lento – e metodologicamente embasado. Por sua vez, nesta pesquisa busca-se um caminho alternativo. Objetiva-se aqui analisar

o

fazer

arquitetônico,

estudando

os

ambientes

frequentados

predominantemente por jovens e predominantemente por idosos, a partir das características do ambiente e do senso de pertencimento, observando suas particularidades e similitudes. Especificamente pretende-se: •

Conceituar as noções de jovem e de idoso, para além das definições recorrente baseadas na faixa etária;

Identificar perfil demográfico da população idosa e jovem do Brasil e de Brasília;

Formular

metodologia

capaz

de

analisar

objetivamente

as

características dos ambientes destinados a jovens e a idosos; •

Analisar a arquitetura e o contexto de inserção de jovens e de idosos, com base na metodologia desenvolvida a propósito desta pesquisa;

Refletir sobre as particularidades e similitudes entre esses ambientes;

Discutir sobre uma arquitetura que pode ser atraente para ambas as faixas etárias.

Mapear aspectos psicológicos e sociais do idoso ou do jovem é uma tarefa difícil, devido o caráter subjetivo inerente a questão. Uma possibilidade de investigação é a sua compreensão por meio do ambiente arquitetônico. Para que tal estratégia seja possível há a necessidade de avaliação dos ambientes onde o idoso ou o jovem possuem a possibilidade de manipulação dos elementos arquitetônicos. Devido a complexidade dos procedimentos metodológicos a serem adotados, optouse por elaborar um estudo metodológico específico que permita a objetividade da avaliação do desempenho morfológico dos lugares destinados a jovens e a idosos. O estudo será dividido em quatro capítulos. Inicialmente há uma introdução sobre o tema da pesquisa. Em seguida, o Capítulo 1 traz a descrição e explicação do método científico utilizado na análise. O Capítulo 2 apresentará a análise e comparação dos ambientes de jovens e dos ambientes de idosos. O Capítulo 3


12 abordará a respeito dos resultados das entrevistas e seus apontamentos. E por fim, o Capítulo 4 apontará as considerações e contribuições finais do trabalho.

1O

MÉTODO

DE

AVALIAÇÃO:

CONTRIBUIÇÃO

PARA

A

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO MORFOLÓGICO DOS LUGARES DE JOVENS E DE IDOSOS Conforme a Síntese de Indicadores Sociais (IBGE, 2016), as proporções de idosos de 60 anos ou mais e de adultos de 30 a 59 anos no Brasil cresceram entre 2005 e 2015 – respectivamente 4,5 e 4,8 pontos percentuais. Em contrapartida, as proporções de crianças de 0 a 14 anos caíram em 5,5 pontos percentuais e de jovens de 15 a 29 anos também em 3,8 pontos percentuais. Tais dados demonstram uma clara tendência de envelhecimento demográfico. Segundo Giacomin, Uchoa e LimaCosta (2005), a cada ano 650 mil idosos são acrescentados à população brasileira. Por sua vez no Distrito Federal, segundo a PDAD (2015), Brasília é a Região Administrativa – RA que recebe maior número de estudantes vindos de fora - 19,81%. Sendo que 14% da população moradora da RA é estudante, bem como, 8,25% da população são jovens entre 19 e 24 anos. Já os idosos com 65 anos ou mais na RA representam 16,87% da população total e os aposentados 20,95%. Outras RAs apresentam estatísticas semelhantes. Desta forma, o DF acompanha a tendência demográfica brasileira, tendendo o crescente avanço na proporção de idosos. Para a Organização das Nações Unidas (ONU) uma pessoa é considerada idosa se possuir 60 anos ou mais de idade. Por sua vez, segundo Camarano, Kanso e Mello (2004), existe uma grande heterogeneidade no grupo de idosos por causa de trajetórias de vida diferentes, idade e questões socioeconômicas, resultando em dois subgrupos etários de 60 a 79 anos e de 80 anos ou mais. Gonçalves, Garcia e Mah (2000) subdividiram os idosos de 65 anos ou mais em 3 categorias. O tipo 1 são os idosos que se consideram independentes e que frequentam e participam de atividades organizadas por instituições, a grande maioria frequenta de forma regular por causa da necessidade de convivência ou pela qualidade do pessoal ou dos serviços prestados. O tipo 2 são os idosos por conta própria, que não se consideram dependentes, mas não frequentam nem participam


13 de atividades de caráter institucional. E por último, o tipo 3 são os idosos dependentes – físicos, mentais e/ou psicológicos – necessitando e possuindo serviços de apoio extrafamiliar e/ou vivendo em instituições especializadas. A Convenção Ibero-americana de Direitos da Juventude e a ONU caracterizam a juventude como o período compreendido entre 15 e 24 anos. Mas no Brasil, desde 2013, por meio do Estatuto da Juventude, delimitou-se a juventude entre as idades de 15 a 29 anos, marcados pelas mudanças decorrentes da transição da infância para a fase adulta (CODEPLAN, 2016). O Perfil da Juventude do Distrito Federal, documento realizado pela CODEPLAN com dados de 2015 e 2016 da PDAD fez uma subdivisão da juventude em 3 períodos. Tal decisão justificou-se, pois, os primeiros anos da juventude sáo marcados por rápidas transformações o que provoca distinções claras entre os grupos de pesquisados. O primeiro período abrange as idades de 15 a 17 anos, designado adolescente, em que já se pode trabalhar como jovem aprendiz, bem como votar. Em seguida, de 18 a 24 anos onde o jovem possui maioridade penal, normalmente já concluiu a educação básica e pode optar pela formação universitária ou técnica. E por último as idades de 25 a 29 anos em que muitos jovens estão no início de carreira, que deixam o local de moradia com os pais e que normalmente se consolida a autonomia. Considerando a divisão feita por Gonçalves, Garcia e Mah (2000) e os dados sobre o perfil do público no DF, optou-se nesta metodologia recortar a análise aos idosos que possuem faixa etária de 60 a 79 anos, do tipo 1 e tipo 2, que moram sozinhos ou com outros familiares onde são chefes de família. Por sua vez, os jovens selecionados possuem uma faixa etária entre 18 a 29 anos, são universitários ou estão em início de carreira, morando sozinhos ou com outros jovens. Tais adoções justificam-se pois, é nesta faixa etária que se tem condições de promover transformações no ambiente arquitetônico. Antes, no caso dos jovens, ou depois, no caso dos idosos, frequentemente estas pessoas são dependentes e têm pouca autonomia para modelar seu ambiente circundante. Caldas e Thomaz (2010) revelam a importância sobre o estudo abrangendo os jovens e os idosos em seus habitats, visto que ainda há muita carência de estudos e


14 de recursos humanos especializados em idosos. Eles apontam que esses estudos são importantes para gerarem novas formas de encarar e lidar com o envelhecimento populacional. Segundo os autores, o olhar dos jovens para com os idosos é preconceituoso, pois os vêem como alguém que recebe muito mais ônus do que bônus, devido às limitações físicas e biológicas, isolamento social, maus tratos e preconceitos. Caldas e Thomaz (2010) e Silva (2010) acreditam que o convívio intergeracional é importante e pode gerar uma mudança nessa forma de pensar da sociedade. A mudança de paradigma, segundo Flores (2008), poderia se dar por meio da humanização das relações, a fim de entender o olhar de outras gerações sobre os idosos

e,

assim,

elaborar

estratégias

que

proporcionem

mudanças

nos

comportamentos. Parte-se da premissa que um ambiente de integração intergeracional pode possibilitar o convívio entre as gerações de forma espontânea. Para tanto, esse ambiente deve estar relacionado com a identidade de cada grupo em questão, para que o ambiente seja atraente para ambas as gerações. Ainda assim, deve-se respeitar as individualidades e necessidades específicas de cada um. Almeida, Santos e Gomes (2013) revelam o valor e a importância dos ambientes presentes no dia-a-dia de uma pessoa. Para eles, a relação do usuário com seu habitat sempre foi fundamental para o ser humano desde a época em que morava em cavernas. Essa importância evidencia a necessidade de análise dos ambientes e da

sua

relação

funcional,

identificando

suas

características,

ergonomia,

acessibilidade, layout, dimensionamento adequado, entre outros. Identificar essas características deve ser feita por meio da comparação entre as particularidades e similitudes de tipologias frequentadas por jovens e tipologias frequentadas por idosos. Para definir essas tipologias como de jovens ou como de idosos é importante que haja um senso de pertencimento por alguma das gerações nesse ambiente, de modo que o indivíduo tenha autonomia e independência de forma espontânea dentro desse ambiente. A metodologia que se dedique à avaliação destes lugares deve ser descritiva, qualitativa e quantitativa, a fim de abarcar fatores subjetivos e objetivos. Para tanto, são válidas entrevistas e pesquisas de campo.


15 Na busca por metodologias de identificação das subjetividades dos usuários utilizou-se as entrevistas. Elas se dão por meio de um questionário aplicado presencialmente e individualmente aos jovens e aos idosos dentro dos ambientes analisados, com o áudio das entrevistas gravados. O mesmo questionário é aplicado indistintamente ao público (veja o questionário compilado no Anexo). O questionário se inicia com perguntas gerais e pessoais, a fim de entender o público entrevistado. Em seguida há um bloco de perguntas a respeito da relação entre o usuário e seu ambiente – isto é, a casa. Esse bloco busca entender a permanência do usuário na sua residência, as motivações que o levou a morar ali, o senso de pertencimento que possui, além das sensações que esse ambiente gera ao usuário e, ainda, se a casa reflete a personalidade e atende os hábitos do usuário. O último bloco de perguntas traz a relação entre o jovem e o idoso. As perguntas buscam entender como acontece o relacionamento entre as gerações e quais são as motivações e interesses nesse relacionamento. O bloco é finalizado com o questionamento se há interesse de aumentar o grau de relacionamento intergeracional, ponto importante para prosseguir com a pesquisa. É possível notar algumas limitações na pesquisa, que deverão ser observadas atentamente e mitigadas sempre que possível durante as entrevistas. A primeira limitação é a dificuldade em estabelecer critérios comparativos comuns a ambas faixas etárias, que sejam objetivos e significativos. E, ainda, o obstáculo dos usuários se abrirem, expondo seus gostos quanto à modelagem do espaço e respondendo ao questionário, de forma sincera e sem maquiagens. Já para a pesquisa de campo, deve ser feita a medição dos ambientes de moradia dos entrevistados. É importante que os lugares selecionados permitam que os jovens ou os idosos tenham autonomia para dar ao ambiente características da sua personalidade, identidade e rotina. Por esse motivo, a pesquisa de campo analisa essencialmente ambientes residenciais. O quarto mostra-se adequado a este propósito, por ser uma representação de suas individualidades por meio da


16 capacidade que estes públicos possuem em sua modelagem 1. O foco é o jovem que mora sozinho ou com outros jovens, bem como habitações em que o idoso é chefe de família. Além disso, a pesquisa abrange Brasília, com recorte no Plano Piloto e regiões com características semelhantes a essa RA, visto que os padrões de comportamento variam conforme a geografia e os padrões culturais de cada território. O método de avaliação e análise das características dos ambientes selecionados toma como ponto de partida o Desempenho Morfológico dos Lugares, conforme Gunter Kohlsdorf e Maria Elaine Kohlsdorf (2017)2, fazendo uso dos atributos de configuração espacial e categorias morfológicas, conforme Quadro 1. Quadro 1: Método de avaliação e análise Categoria Dimensão copresencial: permeabilidade x barreiras Dimensão topoceptiva: Planta baixa Dimensão funcional: Características das atividades Dimensão funcional: Qualidade dos espaços funcionais Dimensão funcional: Relações entre espaços funcionais Elementos complementares

Elementos visuais

Atributo Ilhas espaciais: espaço aberto e espaço total Relação entre Cheios e Vazios Tamanho dos Espaços Funcionais Permeabilidade: Relação entre vedações e aberturas Acessibilidade Funcional Mobiliário: quantidade Luminárias: quantidade Elementos decorativos: quantidade Cores predominantes Materiais predominantes Tipo de piso

Fonte: Elaborado pela Autora, baseada em Kohlsdorf e Kohlsdorf (2017).

1

O quarto foi proposto como espaço desde a primeira versão da metodologia. Ao longo da pesquisa notou-se que esta escolha foi acertada. 2 Uma maneira de analisar as características de forma objetiva é por meio do Desempenho Morfológico dos Lugares, conforme Gunter Kohlsdorf e Maria Elaine Kohlsdorf (2017) que destrincharam diversas categorias e suas variáveis. O Desempenho Morfológico dos Lugares possui análise do desempenho global bioclimático, copresencial, econômico-financeiro, expressivo-simbólico, funcional e topoceptivo, que englobam elementos fundiários, elementos de áreas livres, elementos de sítio físico, elementos edilícios, elementos complementares, além dos elementos de infraestrutura.


17 As dimensões de análise selecionadas para esta pesquisa são: Copresencial, Topoceptiva e Funcional. Elas tratam das especificidades morfológicas dos lugares, que relacionam atributos mórficos do ambiente arquitetônico com as expectativas humanas. Outros quesitos são inseridos como forma de uma caracterização minuciosa de ambientes internos que possam ser relevantes para esse tipo de comparação. Esses acréscimos são tidos como complementos à metodologia de Kohlsdorf e Kohlsdorf (2017). São eles: a quantidade de mobiliários, luminárias e elementos decorativos, além de avaliar as cores predominantes, materiais predominantes e tipos de piso. A seleção dessas categorias de análise (conforme Quadro 2) é tida, nessa pesquisa, como uma contribuição ao campo de conhecimento da arquitetura, frente a inexistência de procedimentos similares na literatura. Essa forma de análise tem como intenção entender de forma objetiva os idosos e os jovens para além da forma emotiva e espetacularizada como costumam ser tratados. Quadro 2: Variáveis Variáveis

Ilhas espaciais

Muito pouco

<30%

Planta Baixa

Equilibrado

<7m²

Equilibrado

30-45%

45-55%

Predomínio de um tipo

40-60%

Muito pequeno

Tamanho / espaço

Pouco

Muito

55-70%

7-10m²

>70%

Exclusividade de um tipo

>60%

Pequeno

Muitíssimo

>90%

Médio

10-14m²

Grande

15-18²

Muito grande

>18m²


18 Aberturas / vedações

Forte predomínio de vedações

Predomínio vedações

100-80%

Mobiliário

Acessibilidade

Piso sem desníveis? Porta com vão de 80cm? Circulações com 90cm? Raio de giro do cadeirante? Quantidade

Elementos decorativos

Luminária

Direta? Indireta?

Sanca Quant

de

79-51%

Predomínio aberturas

de

Forte predomínio aberturas

49-21%

20-0%

4 respostas sim

3 respostas sim

2 respostas sim

Presente

Ausente – com dificuldade

Ausente – com muita dificuldade

Plafon Quant

De mesa Quant

Spot Quant

de

Pendente Quant

1/0 respostas sim

Totalmente ausente

Arandela Quant

De piso Quant

Religioso

Abstrato

Natureza

Artesanal

Ilustração industrializada

Retrato familiar

Internacional

Funcional

Quant

Quant

Quant

Quant

Quant

Quant

Quant

Quant

Fonte: Elaborado pela Autora.

Na Dimensão Copresencial se estuda a configuração dos ambientes a fim de investigar se propiciam ou não os encontros e interações sociais. Para essa categoria, nesta pesquisa, são analisadas as Permeabilidades e Barreiras sobre as Ilhas Espaciais. As Ilhas Espaciais permitem observar como funciona a circulação interna dos quartos e a relação da quantidade de espaço ocupada pelos mobiliários em relação ao espaço total do ambiente, vide diagrama hipotético na Figura 2. Nesta categoria, Permeabilidades e Barreiras – PB (KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2017) são analisadas as ilhas espaciais e a relação entre o espaço aberto e o espaço total.


19

Figura 2: Exemplo hipotĂŠtico das Ilhas Espaciais Fonte: Elaborado pela Autora.

Neste modelo hipotÊtico hå uma razão entre espaço aberto e espaço total, assim formulada:

đ?‘ƒđ??ľ (%) =

ea đ?‘Ľ 100 et

O espaço total simboliza a ĂĄrea do quarto como um todo e o espaço aberto representa a ĂĄrea do quarto onde prevalece a circulação e nĂŁo existem barreiras que impeçam a locomoção. Considera-se barreiras todos os mobiliĂĄrios do quarto com exceção de cadeiras, pois nĂŁo sĂŁo mobiliĂĄrios fixos no ambiente jĂĄ que podem ser recolhidos debaixo da mesa, possibilitando a circulação, diferente da cama, mesas, poltronas e armĂĄrios. As Ilhas Espaciais sĂŁo classificadas por meio da porcentagem do espaço aberto com relação ao espaço total a partir das ĂĄreas em planta baixa. Dessa forma, as variĂĄveis sĂŁo: “muito poucoâ€? - quando o espaço aberto representar menos que 30%; “poucoâ€? - para os espaços abertos entre 30 e 45%; “equilibradoâ€? - de 45 a 55%; “muitoâ€? - quando representarem 55 a 70% e “muitĂ­ssimoâ€? - para os espaços abertos maiores que 70%.


20 Na Dimensão Topoceptiva se analisa a noção de localização e deslocamento do indivíduo no espaço, a orientabilidade e a identificabilidade. Para essa dimensão é estudada a relação de Cheios e Vazios (Kohlsdorf, G; Kohlsdorf M. E., 2017) dos quartos a partir da Planta Baixa. Os Cheios descrevem a reunião das áreas ocupadas por todos os mobiliários do quarto, enquanto os Vazios representam os espaços onde não há mobiliários (conforme Figura 3). Assim, a partir dessa categoria, pode ser observado a proporção de Cheios e Vazios no ambiente, por meio de quartos de tamanhos diferentes verificando se a proporção é equivalente.

Figura 3: Exemplo hipotético da relação entre Cheios e Vazios Fonte: Elaborado pela Autora.

As variáveis dessa categoria são organizadas a partir das porcentagens das áreas que os Cheios e Vazios representam, em que 100% é a área total do quarto em planta baixa. Assim, as variáveis são: “equilibrado” - quando a área ocupada por Cheios e Vazios separadamente equivaler a uma porcentagem entre 40 e 60%; “predomínio de um certo tipo” - quando os Cheios ou Vazios representarem mais que 60% e “exclusividade de certo tipo” - quando os Cheios ou Vazios corresponderem a mais que 90%.


21 A DimensĂŁo Funcional estuda a relação entre as caracterĂ­sticas configurativas dos lugares com a eficiĂŞncia para a realização das atividades. Para essa dimensĂŁo sĂŁo analisados o Tamanho dos Espaços Funcionais, a relação entre aberturas e vedaçþes e a Acessibilidade Funcional. No âmbito da categoria CaracterĂ­sticas das Atividades, adota-se o atributo Tamanho dos Espaços Funcionais (KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2017) a partir da planta baixa em metros quadrados. Por meio dessa categoria, pode ser feita uma medida mĂŠdia que atende tanto os idosos como os jovens, alĂŠm de se verificar se existe diferença de tamanho entre os quartos de jovens e os quartos de idosos. Os dados deste atributo consistem na ĂĄrea do quarto delimitados pelas paredes ou limites percebidos de acordo com a função dos ambientes – diferenças de nĂ­vel, de piso, de decoração... –, assim, sĂŁo excluĂ­dos os banheiros e closets que porventura estejam conectados aos quartos. As variĂĄveis sĂŁo: “muito pequenoâ€? - menor que 7m²; “pequenoâ€? - entre 7 e 10m²; “mĂŠdioâ€? - entre 10 e 14m²; “grandeâ€? - entre 15 e 18m² e “muito grandeâ€? - mais que 18m². Como forma de comparar o Tamanho dos Espaços Funcionais – TEF dos quartos de ambas as geraçþes, as variĂĄveis resultantes para os jovens e para os idosos sĂŁo obtidas por meio da mĂŠdia aritmĂŠtica do tamanho em m² total dos quartos. A mĂŠdia ĂŠ realizada primeiramente para os jovens e, em seguida para os idosos. Por fim, objetiva-se comparar os resultados. O cĂĄlculo pode ser assim sintetizado:

đ?‘‡đ??¸đ??šđ?‘— =

Ă reaj1 + Ă reaj2 + Ă reaj3 đ?‘›

đ?‘‡đ??¸đ??šđ?‘– =

Ă reai1 + Ă reai2 + Ă reai3 đ?‘› đ??śđ?‘… =

TEFj đ?‘‡đ??¸đ??šđ?‘–

Sendo: TEF = Tamanho dos Espaços Funcionais à reajn = à rea em m² de cada quarto de jovem à reain = à rea em m² de cada quarto de idoso n = Número total de amostras ou número de quartos CR = Coeficiente de relação


22 Se o CR for próximo a 1,0 significa que há uma relação de proximidade entre as áreas dos tamanhos dos quartos entre os jovens e os idosos. Na categoria da Qualidade dos Espaços Funcionais (KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2017) é estudado a permeabilidade em relação às vedações e as aberturas. Sendo que as vedações correspondem às paredes e as aberturas às janelas, portas e acessos a outros ambientes sem divisórias (vide Figura 4). A partir desse estudo espera ser possível avaliar a separação dos quartos com outros cômodos, além da necessidade de privacidade de cada geração.

Legenda: Rosa = aberturas | Cinza = vedações

Figura 4: Exemplo hipotético de diagrama de aberturas e vedações Fonte: Elaborado pela Autora.

As variáveis dessa categoria são analisadas por meio da porcentagem obtida a partir da área resultante da multiplicação entre o perímetro pelo pé direito do quarto, da qual se exclui as áreas das aberturas. As variáveis são: “forte predomínio de vedações” - quando a porcentagem de vedações representar entre 100 e 80%; “predomínio de vedações” - para valores de vedações entre 79 e 51%; “predomínio de aberturas” - quando as vedações corresponderem 49 a 21%; “forte predomínio de aberturas” - quando as vedações representarem 20 a 0%. Na

categoria

Relações

entre

Espaços

Funcionais

(KOHLSDORF;

KOHLSDORF, 2017) é verificado a Acessibilidade Funcional dos quartos. Por meio


23 dessa análise pode ser possível perceber a preocupação de cada geração com a acessibilidade. Para a análise da acessibilidade dos espaços questiona-se se há ausência de desníveis no quarto, incluindo no acesso, se as portas possuem vão mínimo de 80 cm, se as circulações internas possuem 90 cm de largura e se há espaço para o raio de giro da cadeira de rodas – 1,50m de diâmetro, conforme Figura 5. Os parâmetros se baseam na ABNT NBR 9050.

Figura 5: Exemplo hipotético de um ambiente acessível Fonte: Elaborado pela Autora.

Os quartos que obtém 4 respostas sim para esses questionamentos recebem a variável “presente”; quando há 3 respostas sim: “ausente – com dificuldade”; para 2 respostas sim: “ausente – com muita dificuldade” e para os casos de 1 ou nenhuma resposta sim: “totalmente ausente”, conforme Quadro 3.


24 Quadro 3: Descrição das variåveis sobre acessibilidade Piso desníveis?

sem 4 respostas 3 respostas 2 respostas 1-0 sim sim sim respostas sim Porta com vĂŁo de Presente Ausente – Ausente – Totalmente 80 cm? com com muita ausente dificuldade dificuldade Circulação com no mĂ­nimo 90 cm? HĂĄ espaço para raio de giro da cadeira de rodas? Fonte: Elaborado pela Autora.

Nos quesitos acrescentados, alĂŠm de Kohlsdorf e Kohlsdorf (2017), hĂĄ o estudo dos Elementos Complementares em que ĂŠ observado a Quantidade de MobiliĂĄrios, LuminĂĄrias e Elementos Decorativos. Os MobiliĂĄrios sĂŁo quantificados de forma numĂŠrica abrangendo camas, cadeiras, armĂĄrios, mesas, poltronas e racks. Para cada quarto ĂŠ encontrado uma quantidade de mobiliĂĄrios, como forma de comparação ĂŠ feita a mĂŠdia aritmĂŠtica entre os quartos dos jovens e entre os quartos dos idosos. Assim, pode ser possĂ­vel perceber as atividades realizadas nos quartos e as necessidades de cada geração quanto ao armazenamento de objetos pessoais. A mĂŠdia aritmĂŠtica ĂŠ encontrada da seguinte forma: đ?‘„đ?‘€đ?‘š =

QM1 + QM2 + â‹Ż + QMn đ?‘›

Em que: QMm= MĂŠdia aritmĂŠtica da quantidade de mobiliĂĄrios QMn= Quantidade de mobiliĂĄrios em uma amostra, um quarto N= Quantidade de quartos analisados

Jå as Luminårias são quantificadas de acordo com o tipo e avaliadas se possuem iluminação direta ou indireta. Nessa categoria Ê possível analisar a relação da quantidade de atividades realizadas no quarto e a quantidade de luminårias, alÊm de poder comparar se alguma das geraçþes costuma ter mais pontos de iluminação do que a outra. Os tipos em questão são: a iluminação em sanca de gesso - a partir do rebaixamento do teto com iluminação embutida; plafon - acoplada ao teto e costuma


25 estar centralizada no ambiente; de mesa - pode ser difusa como é o caso do abajur ou direta quando utilizada em mesa de estudo, por exemplo; spot - ponto de luz direcional; pendente - luminária fixada no teto e sustentada por fios; arandela - fixada na parede e de piso - pode estar embutida no chão ou como coluna (vide Figura 6).

Figura 6: Tipos de luminárias Fonte:sanca de iluminação: www.decorfacil.com; spot: www.cidadeled.wordpress.com; plafon: www.yamamura.com.br; pendente: www.shopdesign.com.br; arandela: www.ilumishop.com.br; de mesa: www.decorfacil.com; e de piso: www.oppa.com.br.

A luz direta incide diretamente sobre uma superfície e pode ser cansativa, pois cria uma diferença significativa em relação às sombras. Já a luz indireta é rebatida em outra superfície criando um efeito mais suave de iluminação proporcionando conforto


26 visual. A representação da luz direta e da luz indireta estão representadas na Figura 7, respectivamente.

Figura 7: Demonstração de luz direta e luz indireta Fonte: www.casaeplanos.com.

Os Elementos Decorativos foram classificados e quantificados de acordo com os estilos encontrados nos ambientes, esses estilos são baseados em classificações presentes em sites de vendas de artigos decorativos, como a loja Urban Arts. Assim, se espera observar os estilos de cada geração, se são muito diferentes ou se existem aspectos em comum. Os estilos e alguns exemplos de seus usos são: religiosos - imagens e objetos que remetem a alguma religião como cruz, terço e presépio; abstrato - ilustrações, almofadas e tapetes com padrões e texturas abstratas; natureza - ilustrações e almofadas com padronagem que remetem à flores, animais ou paisagens, além de vasos de flores; artesanal - desenhos, origamis e colagens; iluminação industrializada - ilustrações produzidas em computador e vendidas em larga escala; retrato familiar fotos de família; internacional - ilustrações de filmes internacionais e recordações de viagens ao exterior e funcional - caixas organizadoras, porta-jóias e suporte para colares e pulseiras (vide Figura 8).


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Figura 8: Exemplos hipotéticos de categorias dos elementos decorativos Fonte: religioso: www.praywithme.com; abstrato: www.urbanarts.com.br; natureza: www.urbanarts.com.br; artesanal: www.urbansketchers.org; ilustração industrializada: www.amazon.com; retrato familiar: www.macetesdemae.com; internacional: www.urbanarts.com.br; e funcional: www.jefouinetufouines.fr.

Ainda sobre os novos quesitos acrescentados, em Elementos Visuais são estudadas as Cores e os Materiais predominantes, além do Tipo de Piso presente nos quartos. A partir desses elementos podem ser encontradas particularidades e similitudes entre os jovens e idosos. As Cores e Materiais Predominantes são analisados de acordo com fotos dos quartos (vide Figura 9), foi selecionada uma foto de cada quarto, em que fosse possível perceber a maior parte das cores e materiais presentes no quarto.


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Figura 9: Fotografias dos quartos analisados Fonte: Elaborado pela Autora.


29 Para encontrar as Cores Predominantes, as cores presentes nos quartos são divididas em branco, preto, cinza, azul, verde, vermelho, amarelo, marrom, laranja, rosa e roxo (vide Figura 10). E a partir daí é feita uma porcentagem da área ocupada por cada cor na foto, analisando ainda a predominância de cores frias: predomínio de tons de azul, verde e roxo; quentes: predomínio de tons de vermelho, laranja, amarelo e rosa; neutras: preto, branco, cinza e marrom e colorido: quando há a presença de diversas cores, conforme exemplo na Figura 11.

Figura 10: Cores analisadas Fonte: Elaborado pela Autora.

Figura 11: Exemplo hipotético de análise das cores predominantes Fonte: www.archdaily.com.br e elaborado pela Autora.

Enquanto isso, para os Materiais Predominantes, os materiais presentes na foto são separados em tecido, vidro e espelhos, madeira, mdf, pintura, cerâmica e metal (vide Figura 12). E assim, também é feita a porcentagem ocupada por cada material nas fotos.


30

Figura 12: Materiais predominantes analisados e suas respectivas cores Fonte: tecido: www.modatrade.com.br; madeira: www.freepik.com; mdf: www.pinterest.dk; pintura: www.ibratex.com.br; vidro/ espelho: www.vidracariamineirao.com.br; metal: www.newyearmetal.net; e cerâmica: www.construcaomercado17.pini.com.br.

Já o Tipo de Piso é avaliado de acordo com a variável: “muito liso” - mármores, granitos e porcelanatos polidos e resinados; “liso” – piso vinílico, mármores e granitos levigados, piso cerâmico e piso de madeira (taco, ripa, laminado); “poroso/ rugoso” – piso antiderrapante, mármores e granitos apicoados, flameados e brutos; “muito poroso/ rugoso” - pedras naturais serradas, conforme Figura 13.

Figura 13: Tipos de piso Fonte: muito liso: www.i.pinimg.com; liso: www.flickr.com; poroso/ rugoso: www.jonastone.de; e muito poroso/ rugoso: www.marmoresnunes.com.br.

A relação desses atributos pemite mostrar que a maioria dos elementos arquitetônicos não são necessariamente exclusivos das gerações, algumas diferenças – às vezes sutis – dos ambientes podem ser notados. O método proposto é potencial para responder principalmente duas questões: Quais as particularidades e as similitudes entre os ambientes frequentados por jovens e os ambientes frequentados por idosos? O que os dados empíricos podem revelar sobre essa relação?


31

2 CARACTERÍSTICAS DOS AMBIENTES FREQUENTADOS POR JOVENS E POR IDOSOS: APROXIMAÇÕES E DIVERGÊNCIAS ENTRE PERCEPÇÃO E ESPACIALIDADES

“A gente se vê jovem, porque nós somos jovens. O corpo envelhece, mas nós permanecemos jovens. A gente se identifica com os jovens, a gente se vê!” IC “eu acho muito gostoso conversar com pessoas mais velhas” JB

Os encontros intergeracionais são motivos de investigações de autores como Ferreira (2005), Flores (2008) e Gonçalves et al. (2000). Esses autores concluem que há necessidade do convívio entre gerações. Suas pesquisas não se debruçam sobre as características espaciais e arquitetônicas que permeiam as lógicas de interrelação entre as gerações. Interpretar ditas lógicas exige em um primeiro momento explicitar quais são as particularidades e similitudes espaciais desses grupos. Entende-se por particularidade características que são particulares do grupo de forma generalizada, tudo que pode ser peculiar e singular, são qualidades distintivas fundamentais. Por sua vez, entende-se por similitude, as características semelhantes entre os grupos, tudo aquilo que é similar e análogo. 2.1 Descrição da amostra: os quartos selecionados As amostras foram coletadas na Asa Norte, Asa Sul e Octogonal, ao todo foram visitados 3 quartos de jovens e 3 quartos de idosos. Todos os quartos pertencem à apartamentos residenciais de edifícios multifamiliares. As entrevistas foram feitas com os moradores dos quartos analisados, 4 idosos e 4 jovens. As perguntas foram gravadas e foram realizadas dentro da residência do entrevistado individualmente.


32 Quadro 4: Amostra Público

Identificação do quarto

Jovem Jovem Jovem Idoso Idoso Idoso

J1 J2 J3 I1 I2 I3

Nº de moradores no quarto 2 2 1 1 2 2

Nº de Endereço entrevistados 2 (JA e JB) 1 (JC) 1 (JD) 1 (IA) 2 (IB e IC) 1 (ID)

SQN 316 SGAN 611 SGAN 911 SQS 313 SQS 112 AOS 02

Fonte: Elaborado pela Autora.

Os quartos foram identificados como J1, J2 e J3 para os quartos de jovens e I1, I2 e I3 para os quartos de idosos, conforme Quadro 4. Além disso, cada jovem e cada idoso recebeu uma identificação. Os jovens são JA, JB, JC e JD, enquanto os idosos são IA, IB, I e ID. Essa identificação tem como intuito preservar a identidade e privacidade dos quartos analisados e dos entrevistados. A análise conta com fotografias e planta baixa dos quartos. A planta baixa de cada quarto pode ser observada na Figura 14.


33

Figura 14: Planta baixa dos quartos analisados Fonte: Elaborado pela Autora.


34 O quarto J1 está inserido em um apartamento de 1 quarto de um casal de jovens, homem - JA e mulher – JB. O casal mora junto nesse apartamento há 3 meses, JA tem 26 anos e JB 25 anos, ambos são arquitetos. Na SGAN 611, encontra-se a Casa do Estudante Nipo-Brasileiro de Brasília. Uma espécie de república que abriga estudantes brasileiros, japoneses e estrangeiros que vêm ao Brasil através de intercâmbio. O espaço oferece alojamentos feminino e masculino separados, banheiros compartilhados por cada sexo, refeitório, lavanderia, biblioteca, sala de estudo, quadra poliesportiva, entre outros ambientes de lazer e convívio. A JC é uma jovem mineira de 24 anos e reside nesse espaço há 6 anos por causa da sua graduação em Arquitetura e Urbanismo na UnB. Seu quarto é compartilhado com outra jovem. A jovem JD reside há 2 meses em uma quitinete na 911 norte, seu quarto - J3 está integrado com uma pequena cozinha e um banheiro à parte. Ela possui 22 anos e é estudante de Arquitetura e Urbanismo no CEUB. O quarto I1 é de uma viúva – IA de 77 anos que mora sozinha. O quarto está inserido em um apartamento de 4 quartos, onde moravam seus filhos e onde IA reside há 22 anos. Há 33 anos, IB e IC moram no apartamento da SQS 112, são um casal de idosos, marido e mulher, respectivamente. O quarto I2 está inserido em um apartamento de 3 quartos, onde residiam os filhos do casal. IB é advogado e possui 76 anos e IC é professora aposentada e possui 69 anos. No quarto I3 mora um casal de idosos há 18 anos, o quarto pertence à um apartamento de 4 quartos na Octogonal. A moradora ID é aposentada em Serviço Social e possui 69 anos. Sendo assim, da análise dos quartos visitados, foi feita a média dos resultados dos idosos e a média dos jovens e então chegou-se aos resultados conforme Quadro 5 e Quadro 6.


35 Quadro 5: Média dos resultados encontrados nos jovens Jovens Atributo Ilhas Espaciais Cheios e Vazios Tamanho dos Espaços Funcionais Permeabilidade: Vedações e Aberturas Acessibilidade Funcional Mobiliários: quantidade Luminárias: quantidade Elementos Decorativos: quantidade Cores Predominantes Materiais Predominantes Tipo de Piso

Variável resultante Muito Equilibrado para Predomínio de vazio Pequeno Forte predomínio de vedações Ausente – com muita dificuldade 7 1,66 direta 14,97 Branco e Marrom Pintura, Mdf e Tecido Liso

Fonte: Elaborado pela Autora.

Quadro 6: Média dos resultados encontrados nos idosos Idosos Atributo

Variável resultante

Ilhas Espaciais

Muito

Cheios e Vazios

Equilibrado para Predomínio de vazio

Tamanho dos Espaços Funcionais

Pequeno

Permeabilidade: Vedações e Aberturas

Forte predomínio de vedações

Acessibilidade Funcional

Ausente – com muita dificuldade

Mobiliários: quantidade

6,66

Luminárias: quantidade

3,64 direta

Elementos Decorativos: quantidade

17,65

Cores Predominantes

Marrom e Branco

Materiais Predominantes

Pintura, Tecido e Madeira

Tipo de Piso

Liso Fonte: Elaborado pela Autora.


36 2.2 Resultados alcançados: particularidades e semelhanças As amostras – ou dados empíricos – contribuíram para entender a relação espacial e configuracional destinados a jovens e a idosos. Para esses dados foram investigados os atributos apontados na metodologia, a saber: as Ilhas Espaciais, as Relação entre Cheios e Vazios, os Tamanhos dos Espaços Funcionais, a Permeabilidade, a Acessibilidade Funcional, o Mobiliário, as Luminárias, os Elementos Decorativos, as Cores Predominantes, os Materiais Predominantes e os tipos de Pisos. Essas análises contribuem inicialmente para avaliar a metodologia e, também, avançar no entendimento das relações intergeracionais em Brasília. As Ilhas Espaciais revelam que ambas as gerações possuem pontos comuns, vide Quadro 7 e Figura 15. A média de jovens foi 57% e a de idosos também foi de 57%, o que pode-se caracterizar como "muito". Isso aponta que a relação espaço aberto sobre o espaço total, com resultados próximos, atende às necessidades das duas gerações em seus cotidianos. Os espaços abertos representam a circulação do ambiente, já as barreiras são os mobiliários e paredes. Os mobiliários podem ser classificados como barreiras física e não visual, pois impedem a passagem permitindo a visibilidade, já as paredes e armários podem ser classificados como barreiras físicas e visuais, pois não permitem a locomoção nem a visibilidade. Quadro 7: Resultados das Ilhas Espaciais Identificação J1 J2 J3 I1 I2 I3

Total (m2) 4,17 7,04 14,61 14,04 5,96 5,67

Aberto (m2) 2,07 3,75 9,95 9,64 2,92 2,99

Fonte: Elaborado pela Autora.

Aberto (%) 50% 53% 68% 69% 49% 53%


37

Figura 15: Planta baixa com representação das Ilhas Espaciais Fonte: Elaborado pela Autora.


38 As entrevistas revelaram que ambas gerações estão satisfeitas com o espaço total visível. Ao todo, 88% revelaram sua satisfação com o espaço integral da casa. Ficou perceptível que as casas dos idosos eram originalmente ocupadas também pelos filhos. Com a saída deles houve a ampliação relativa do espaço, visto que o espaço total da casa agora é utilizado por menos usuários. Nestes casos, houve espaços ociosos, que foram recondicionados a outras funções domiciliares, como salas de TV. Foi possível perceber que, em ambas as gerações, a cama condiciona a circulação e o fluxo do quarto, por ser a principal barreira imposta, fazendo com que se torne o ponto focal do quarto. A relação da cama com o quarto pode ser entendida da mesma forma da mesa de jantar com a sala de jantar. Em ambos os casos há um mobiliário que exerce dominância. Essa relação de dominância foi percebida inclusive no quarto da jovem J3, seu quarto estava inserido em uma quitinete. A separação do quarto com o resto da quitinete é condicionada pela função e organização do ambiente, não existe uma divisão por meio de barreira física e visual. Ainda assim, a cama possui caráter dominante no ambiente como mostra a Figura 16, um exemplo de uma quitinete em planta baixa.

Figura 16: Planta baixa de uma quitinete Fonte: www.simplesdecoracao.com.br.

A percepção foi comprovada ao calcular a relação proporcional existente entre a principal barreira – a cama – e os outros mobiliários. A cama representa em média


39 55% do espaço ocupado nos quartos e ocupa 24% em média da área total do quarto. Evidentemente, a cama possui proporções maiores em concordância com sua função. Curiosamente, ao contrário do senso comum, não foi encontrado um padrão de tamanho das camas nas amostras pesquisadas. No grupo dos idosos duas camas são de casal, uma padrão e outra queen size, além de uma de solteiro king size. Nos quartos dos jovens foram encontrados duas camas de casal comum e uma de solteiro padrão, como mostra a Figura 17. O senso comum apontaria que os idosos herdariam a cama de casal, após a viuvez. Já os jovens teriam cama de solteiro. Sabe-se que tal ponto de vista é conservador, visto que obedece a padrões de comportamento antigos.


40

Figura 17: Fotografias das camas dos quartos analisados Fonte: Elaborado pela Autora.

Na relação entre Cheios e Vazios dos quartos, tanto nos ambientes dos idosos como nos dos jovens, chegou-se a um resultado “equilibrado” tendendo ao “predomínio de vazio”. Há diferenças nos quartos que poderiam interferir no resultado desta categoria, destacadamente: 1) os quartos possuem dimensões diferentes; 2) os tipos de mobiliários presentes são diferentes; 3) as camas - a principal barreira e o ponto focal do quarto - possuem diferentes tamanhos. Apesar de ditas diferenças, as


41 médias das proporções entre cheios e vazios foram equivalentes em ambas as gerações, revelando que os vazios permanecem em porcentagens semelhantes (vide Quadro 8 e Figura 18). Quadro 8: Resultado da relação entre Cheios e Vazios Identificação J1 J2 J3 I1 I2 I3

Cheios (m2) 2,10 3,29 4,65 4,4 3,04 2,68

Cheios (%) 50% 47% 32% 31% 51% 47%

Vazios (m2) 2,07 3,75 9,95 9,64 2,92 2,99

Fonte: Elaborado pela Autora.

Vazios (%) 50% 53% 68% 69% 49% 53%


42

Figura 18: Plantas baixas com representação da relação entre Cheios e Vazios Fonte: Elaborado pela Autora.


43 A quantidade de Vazios em metros quadrados por pessoa, também, foi semelhantes, 4 quartos possuem medidas próximas, enquanto 2 quartos fogem desse padrão – 1 de idoso e 1 de jovem. A média encontrada nesses 4 quartos é de 2,93 m² de vazios por pessoa, tanto para os jovens como para os idosos. Conforme revelou a entrevista, 88% dos jovens e dos idosos estão satisfeitos com o espaço disponível na residência. Além disso, todos os entrevistados revelaram que os cheios - os mobiliários - atendem as rotinas e hábitos dos moradores. Um exemplo disso é a idosa IA que dentro do seu quarto cada mobiliário possui uma função definida pela sua rotina: cama onde dorme, a poltrona onde faz crochê, a mesa onde fica a água e a estante onde fica a televisão para assistir a filmes (vide Figura 19).

Figura 19: Fotografias do quarto I1 com características da rotina Fonte: Elaborado pela Autora.

O Tamanho dos Espaços Funcionais – TEF dos quartos de cada geração resultou em um coeficiente de relação de 1,0058. Isso demonstra que há maior similitude entre os tamanhos dos ambientes destinados aos jovens e aos idosos, conforme Figura 20 e Quadro 9. Encontrou-se como resultado final de TEFj de 8,60m² e TEFi de 8,55m², com uma média de 8,57m².


44

Figura 20: Plantas baixas com representação do Tamanho dos Espaços Funcionais Fonte: Elaborado pela Autora.


45 Quadro 9: Resultado do Tamanho dos Espaços Funcionais Identificação J1 J2 J3 I1 I2 I3

Área do (m2) 8,33 14,07 14,61 14,04 11,91 11,33

quarto Área do quarto por Variável pessoa (m2) 4,165 Muito pequeno 7,035 Pequeno 14,61 Médio 14,04 Médio 5,955 Muito pequeno 5,665 Muito pequeno

Fonte: Elaborado pela Autora.

Isso revela que os tamanhos são em média “pequenos”, embora os apartamentos tenham configurações espaciais internas diferentes. As amostras pesquisadas são de quitinete, apartamentos de 4, 3 e 1 quarto(s), além de quarto compartilhado de república (vide Quadro 10). Quadro 10: Tipologias dos quartos analisados Jovens J1 J2 J3

Tipologia Idosos Apto de 1 quarto I1 República com quarto compartilhado I2 para 2 pessoas Quitinete I3

Tipologia Apto de 4 quartos Apto de 3 quartos Apto de 4 quartos

Fonte: Elaborado pela Autora.

As condições financeiras dos entrevistados são diferentes. Isso não foi motivo para diferenciação dos tamanhos totais dos quartos. As entrevistas revelaram que a maioria dos quartos atendem às necessidades dos usuários, apenas a jovem JD revelou se incomodar com a dimensão do ambiente. Os quartos pequenos são justificados por Abbud (2018) ao dizer que um ambiente de estar para uma ou duas pessoas que se conhecem deve ser pequeno. O autor, ainda, trata sobre a escala, que é a relação entre o tamanho dos ambientes e das pessoas. Essa escala pode gerar várias impressões no usuário, nesse caso cria um clima intimista. Folz e Martucci (1993), ao abordarem sobre habitação mínima, discorrem sobre o quarto mínimo revelando o dimensionamento mínimo definido pelos Códigos Sanitários do Estado de São Paulo ao longo do tempo, conforme Quadro 11. O


46 aumento gradativo da área mínima reflete o uso do dormitório indo além de um ambiente de descanso, possibilitando abrigar outras atividades. Quadro 11: Dimensionamento mínimo dos quartos conforme Códigos Sanitários do Estado de São Paulo Dormitório Área mínima (m²)

1894 1951 1970 1975 1978 3,5 10,0 12,0 12,0 8,0

Fonte: Elaborado pela Autora.

Os valores dos quartos mínimos, com exceção de 1894, revelam áreas próximas às áreas encontradas nos quartos analisados. Os quartos mínimos do Quadro 11 pertencem a outra época, há mais de 40 anos atrás, e são dedicados à habitação mínima, que normalmente possui um cunho social. Ainda assim, nos dias de hoje e em habitações de classe média, essas áreas estão conforme o padrão encontrado nos estudos de caso. Sendo assim, esses dados confirmam o atendimento das necessidades dos usuários em quartos de tamanho “pequeno”. Além disso, a maioria dos entrevistados revelaram gostar de permanecer no quarto e passar algum tempo nele. A idosa ID informou que gosta de ficar no quarto fazendo pesquisas e jogando joguinhos no celular. A jovem JB informou que gosta de permanecer no quarto quando quer privacidade e espaço. Notou-se que em ambas as gerações há um “forte predomínio de vedações”. As aberturas representam em média 18,66% da área total de paredes, 17,33% para os jovens e 20% para os idosos. A maior diferença percentual ficou para o J3 – com 33% - e o I1 – 25% (vide Quadro 12 e Quadro 13). Os Quadro 12 e Quadro 13 identificam cada tipo de abertura encontrada nos quartos, as janelas estão na Figura 21.


47 Quadro 12: Resultado da Permeabilidade na relação entre aberturas e vedações nos quartos dos jovens Identificação Aberturas J1 -1 porta de 70 -1 janela (115x115) J2 -1 porta de 80 -1 janela (198x120) J3 -1 porta de 70 -1 janela (160x160) -Acesso a cozinha sem porta Média -

Aberturas (%) 9%

Vedações (%) 91%

10%

90%

33%

67%

17,33%

82,66%

Fonte: Elaborado pela Autora.

Quadro 13: Resultado da Permeabilidade na relação entre aberturas e vedações nos quartos dos idosos Identificação Aberturas Aberturas (%) I1 -Acesso ao hall sem porta 25% -Acesso ao closet e wc sem porta -1 janela (120x360) I2 -1 porta de 70 17% -1 janela (294x160) I3 -2 portas de 70 18% -Acesso ao escritório sem porta e com janela Média 20% Fonte: Elaborado pela Autora.

Vedações (%) 75%

83% 82%

80%


48

Figura 21: Fotografias das janelas nos quartos analisados Fonte: Elaborado pela Autora.

Os quartos costumam ser ambientes mais segregados da casa, onde costuma haver o interesse de privacidade no ambiente. Palermo (2000) afirma que, no quarto, além da atividade principal que é dormir, acontecem outras sub-atividades como descansar, ler, tratar alguma doença e guardar roupas e objetos pessoais. Essas atividades demandam privacidade e geram ao quarto uma zona íntima. Essa


49 privacidade pode ser gerada por meio das paredes cegas, paredes onde não há nenhum tipo de abertura. As paredes cegas dos quartos analisados foram quantificadas no Quadro 14. Quadro 14: Quantidade de paredes cegas em cada quarto Jovens

J1 J2 J3

Quantidade de paredes cegas 2 2 2

Idosos

I1 I2 I3

Quantidade de paredes cegas 2 2 1

Fonte: Elaborado pela Autora.

O resultado confirma o posicionamento de Palermo (2000), a privacidade existe em ambas as gerações para esse ambiente, caracterizando um ambiente de individualidade3. Existe uma clareza na separação dos usos do quarto com o resto da casa. Por sua vez, outros ambientes da casa, como a sala e a cozinha são ambientes menos segregados, muitas vezes para possibilitar maior integração interpessoal entre os moradores, bem como para receber visitantes. Essa percepção é confirmada pela entrevista. Entre os jovens 67% apontam gostar de receber visitantes, o número aproxima aos gostos dos idosos, em que 100% apontaram receber visitantes em casa. Apenas a jovem JD revelou não receber visitantes em casa por causa do espaço reduzido da sua quitinete e devido a falta de vedações entre as atividades funcionais, como revela a Figura 22.

3

Tal visão confirma a premissa de que o quarto é o lócus adequado para aprofundamento desta pesquisa, porque possibilita entender as características impostas ao espaço por cada público.


50

Figura 22: Diagrama representado relação entre aberturas e vedações Fonte: Elaborado pela Autora.

A acessibilidade, em ambos os casos, pode ser definida como “ausente – com muita dificuldade”. Esta característica foi definida devido a falta de ao menos um item exigido pela NBR ABNT NBR9050 para o ambiente do quarto, conforme Tabela 1. Essa NBR é a norma técnica de acessibilidade e discorre sobre critérios de acessibilidade para edificações, ambientes e equipamentos urbanos além de mobiliários.


51 Tabela 1: Resultado da Acessibilidade Funcional ID J1 J2 J3 I1 I2 I3

Sem desnível 1 0 1 1 1 1

Porta com Circulação vão de 80cm com 90 cm 0 0 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0

Raio de giro da Total cadeira de rodas 0 1 1 3 0 1 1 3 0 1 0 1

Fonte: Elaborado pela Autora.

Nota: 1 = possui a característica que qualifica a acessibilidade como boa 0 = não possui a característica, limitando a acessibilidade

É importante ressaltar que, no âmbito da acessibilidade, a ausência de uma qualificação compromete todas as demais qualificações existentes. A falta desta qualificação pode ser percebida nas plantas dos quartos (vide Figura 23), podendo ser justificada devido os apartamentos, em geral, serem antigos e não terem sido concebidos do ponto de vista da acessibilidade. Ainda que a ABNT NBR 9050 tenha sido criada em 1983 – com última revisão feita em 2015 –, não foi verificada sua implantação nas amostras analisadas.


52

Figura 23: Plantas baixas com representação da Acessibilidade Funcional Fonte: Elaborado pela Autora.


53 Os apartamentos anteriores a 2000 possuem em média 38 anos (vide Quadro 15) desde sua edificação e não foram feitas reformas visando sua adequação. O resultado da pesquisa aproxima-se as expectativas iniciais para apartamentos, isto é, os projetos originais dos apartamentos e quitinetes tendem a permanecer conforme projeto original. Quadro 15: Ano de cada edifício Identificação J1 J2 J3 I1 I2 I3

Endereço SQN 316 SGAN 611 SGAN 911 SQS 313 SQS 112 AOS 02

Ano 1981 1990 2010 anos 1970 [197-] 1968 anos 1980 [198-]

Fonte: Elaborado pela Autora.

Foge a caracterização até aqui formulada o apartamento da 911 norte, que embora recente – construído em 2010 – ainda assim, não se preocupou com a adequação à acessibilidade. Isso pode ser explicado devido a especulação da terra pelo mercado imobiliário que busca a máxima ocupação para o máximo lucro (ROLNIK, 2018). Parte da falta de acessibilidade foi provocada pelo próprio morador, na medida em que ele é o responsável pela disposição do mobiliário. Aplica-se a este caso a Circulação Mínima de 90 cm e o Raio de Giro do Cadeirante que são resultados de dita disposição. Na maioria dos casos essas características não estão presentes, revelando que não existe esse tipo de preocupação pelos moradores. Os resultados revelam, portanto, que os idosos e os jovens não possuem preocupação em deixar o ambiente acessível. Destaca-se aqui um contra-senso, isto é, a expectativa inicial foi de que os idosos teriam maiores níveis de acessibilidade. Esse resultado pode ser explicado, pois os idosos-alvo da pesquisa não possuem mobilidade reduzida. Correlacionando a acessibilidade e a entrevista obteve-se um interessante resultado. Se por um lado a acessibilidade é ausente, por outro, os entrevistados informaram estarem satisfeitos com a quantidade de espaço disponível. Na hipótese


54 de elevar-se a proporção de espaços de circulação destinados a melhoria da acessibilidade, haveria uma diminuição da área útil dos quartos. Isto é, ao aumentar a quantidade de vazios, o resultado “equilibrado” encontrado na sua relação com os cheios seria alterado. A consequência geral seria a diminuição da satisfação do usuário com a dimensão do ambiente. Ainda que as proporções encontradas entre Cheios e Vazios sejam satisfatórias e sirvam de referências, não se pode ignorar o trato com a acessibilidade. Ela pode ser uma demanda futura importante para ambas as gerações ou, em alguns casos, os usuários podem estar em condições temporárias de restrição na locomoção, exigindo a adequação do ambiente. Muitas vezes essa adequação pode ser feita por meio da realocação do mobiliário. A quantidade de mobiliário média dos jovens obedece a uma taxa de 7 (sete) e dos idosos 6,66 (seis móveis e sessenta seis), esses números foram obtidos por meio da média aritmética de todos os quartos. O resultado obtido entre as gerações é similar (vide Tabela 2), uma motivação para isso é a distribuição espacial semelhante do ambiente, conforme Figura 24. Tabela 2: Quantidade de mobiliários Identificação J1 J2 J3 I1 I2 I3

Quantidade de mobiliários 4 11 6 7 7 6 Fonte: Elaborado pela Autora.

Média 7

6,66


55

Figura 24: Quantidade de mobiliรกrios Fonte: Elaborado pela Autora.


56 Na entrevista 2 dos 4 jovens entrevistados realizam outras tarefas além de dormir no quarto, os 2 possuem mesa de estudos. Enquanto isso, 1 de 4 idosos realizam outras atividades no quarto. Para isso o idoso utiliza a poltrona, no qual faz crochê. Dessa forma, os jovens parecem realizar mais atividades no quarto do que os idosos, ainda que a diferença na quantidade de mobiliários não seja significativa. A respeito da iluminação artificial dos quartos, o resultado revelou que os idosos possuem mais pontos de iluminação, conforme Quadro 16. Ambos os grupos fazem uso predominantemente da luz direta. A relação de número de atividades por iluminação revela que há uma inversão lógica, isto é, se por um lado mais as atividades exigem mais iluminação, nos casos em estudo, os idosos desenvolvem menos atividades diversas e possuem mais iluminação.

Identificação

Quadro 16: Quantidade encontrada de cada tipo de luminária nos quartos analisados

J1 J2 J3 I1 I2 I3

Tipo de luminária

Sanca

Plafon

De mesa

Spot

Pendente

Arandela

De piso

0 0 0 1 1 0

1 1 2 0 0 1

0 0 0 1 1 0

0 0 0 3 0 1

0 0 0 0 0 2

0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 0

Predomínio de direta ou indireta

direta direta direta indireta direta direta

Fonte: Elaborado pela Autora.

É sabido que, no momento da construção dos apartamentos, as construtoras dedicam apenas um ponto de luz central. Nos 3 quartos de jovens e nos 2 quartos de idosos manteve-se o ponto central no teto – do tipo Plafon – do projeto original. Nenhum dos jovens acrescentaram novos pontos de iluminação e nos 3 quartos dos idosos haviam novos pontos de iluminação (vide Figura 25)4.

4

Destaca-se que no quarto J1 há uma luminária que intercala cor. Essa luminária traz apenas uma ambiência ao quarto e não colabora na iluminação para realização de atividades, como a jovem JB revela: “a lâmpada que pisca colorido é minha forma de colorir o quarto”. Por esse motivo, esta iluminação foi removida das análises.


57

Figura 25: Plantas baixas com pontos de iluminação Fonte: Elaborado pela Autora.


58 A partir desse estudo é possível perceber que os idosos preferem ter uma luminária ao lado da cama, de fácil acesso em que possam ter o controle da luz. Enquanto, os jovens revelaram não se importar com isso, mantendo o ponto central, sem iluminação de mesa nas mesas de estudo. Na Figura 26, a iluminação central cria áreas de projeção de sombra sobre o material na mesa de estudo. Este tipo de situação indica relativo desconforto luminoso para a realização das atividades.

Figura 26: Exemplo de sombreamento ocasionado por falta de iluminação na área de trabalho do quarto J3 Fonte: Elaborado pela Autora.

Os principais tipos de iluminação usados pelos idosos foram o Plafon, em seguida o Spot, a luminária de mesa, o pendente e por último a sanca. Além disso, a cor da iluminação no quarto dos idosos variava entre a branca e a amarela, enquanto no quarto dos jovens havia a presença apenas da luz branca (conforme Quadro 16). Portanto, a pesquisa revela que a iluminação artificial pode ser um fator segregador entre jovens e idosos, por possuírem diversos pontos de divergências. Um ambiente que se pretende integrar jovens e idosos possivelmente geraria dificuldades para o projetista. Recomendações possíveis para essa integração são: 1) uso de luz direcionada sobre locais específicos que garantem à iluminação necessária às atividades e mantenha o ambiente pouco iluminado; 2) iluminação com luz dimerizável. Ainda que se possa indicar algumas recomendações, reconhece-se a


59 necessidade de uma nova pesquisa para confirmar se os jovens preferem ambientes menos iluminados e com luz branca. Os idosos possuem maior quantidade de elementos decorativos, enquanto os jovens possuem maior variedade nos estilos. Os idosos estudados possuíam em seus quartos, principalmente, artigos decorativos que tinham multiplas funções, além de elementos que remetiam a natureza, a religião e a família. Enquanto os jovens, não possuíam porta-retrato familiar e quase nenhum objeto relacionado à religião (vide Quadro 17). Quadro 17: Quantidade de elementos decorativos em cada quarto Id

Religioso

Abstrato

Natureza

Artesanal

Ilustração industrializada

Retrato familiar

Internacional

Funcional

Total

J1 J2 J3 I1 I2 I3

1 2 1 8 2 0

0 3 2 3 0 0

1 4 1 4 6 2

1 12 0 3 0 0

0 1 4 0 0 0

0 0 0 2 6 0

3 2 0 0 0 0

1 5 1 4 1 12

7 29 9 24 15 14

Fonte: Elaborado pela Autora.

Sendo assim, as decorações apresentam-se como entraves na união dessas duas gerações, pois refletem gostos opostos, como são possíveis de serem observados na Figura 27. Os tipos decorativos encontrados em ambos os quartos são iguais, existem ali quadros, tapetes, almofadas, itens figurativos, entre outros. Por sua vez, os mesmos tipos decorativos assumem formas estilísticas diferentes, dando a direção da atmosfera dos ambientes. Nota-se que a decoração é a principal forma de expressão da individualidade dos habitantes, o que revela sua importância para esta pesquisa. Por conclusão, os ambientes que se propõem integrar arquitetonicamente os públicos podem: 1) não fazer uso de itens religiosos e familiares; 2) incluir lugares para guarda de itens pequenos, utilizados decorativamente; 3) emprego de tecidos com padronagem neutra; 4) motivos naturais são itens de gosto comuns.


60

Figura 27: Fotografias dos Elementos Decorativos dos quartos Fonte: Elaborado pela Autora.

Aliado à decoração, percebe-se um grande predomínio de cores neutras em ambos as gerações. É possível observar que tanto para jovens como para idosos, há uma tendência para cores frias, que se manifestam na cama, no tapete e nas almofadas (conforme Figura 285).

5

As imagens originais podem ser visualizadas na página 21.


61

Figura 28: Cores predominantes Fonte: Elaborado pela Autora.


62 O uso de cores de destaque é apresentado de forma mais intensa nos quartos dos jovens, embora não muito mais significativo que nos quartos dos idosos, conforme Gráfico 1, Gráfico 2 e Gráfico 3. A diferença nas cores se dão mais pela intencionalidade, conforme revela o jovem JB: “pintei a parede da sala de azul pois traz tranquilidade, a tranquilidade de estar em casa” e em seguida acrescenta “queria ter cada cômodo da casa de uma cor, mudar a cor transforma o lugar”. CORES PREDOMINANTES quarto J1

CORES PREDOMINANTES quarto J2

CORES PREDOMINANTES quarto J3

rosa

roxo

rosa

roxo

rosa

roxo

azul

verde

azul

verde

azul

verde

amarelo

laranja

amarelo

laranja

amarelo

laranja

vermelho

marrom

vermelho

marrom

vermelho

marrom

preto

cinza

preto

cinza

preto

cinza

branco

branco

branco

Gráfico 1: Cores predominantes – quartos dos jovens Fonte: Elaborado pela Autora.

CORES PREDOMINANTES quarto I1

CORES PREDOMINANTES quarto I2

CORES PREDOMINANTES quarto I3

rosa

roxo

rosa

roxo

rosa

roxo

azul

verde

azul

verde

azul

verde

amarelo

laranja

amarelo

laranja

amarelo

laranja

vermelho

marrom

vermelho

marrom

vermelho

marrom

preto

cinza

preto

cinza

preto

cinza

branco

branco

branco

Gráfico 2: Cores predominantes – quartos dos idosos Fonte: Elaborado pela Autora.


63

CORES PREDOMINANTES média jovens

CORES PREDOMINANTES média idosos

rosa

roxo

azul

verde

rosa

roxo

azul

verde

amarelo

laranja

vermelho

marrom

amarelo

laranja

vermelho

marrom

preto

cinza

branco

preto

cinza

branco

Gráfico 3: Cores predominantes – média dos jovens e média dos idosos Fonte: Elaborado pela Autora.

Dessa forma, é interessante que um ambiente que integre as duas gerações tenha um predomínio de cores neutras e frias. Segundo Farina (2006), as cores podem gerar sensações e influenciar ações e comportamentos nas pessoas de acordo com a sua cultura, portanto a escolha e definição das cores em um ambiente é importante. As cores quentes podem produzir sensação de proximidade e calor, além de serem estimulantes. Já, as cores frias, podem gerar sensação de distância, ao passo que são leves e calmantes (FARINA, 2006). Nos padrões ocidentais de percepção, para Farina (2006), o branco remete a neutralidade, pureza e vida, em ambientes totalmente brancos podem gerar carência afetiva, solidão e vazio interior. O verde gera descanso e relaxamento, esperança e possui relação com a natureza. O azul gera simpatia, harmonia e confiança. O roxo gera fantasia, mistério, delicadeza e calma. O marrom gera melancolia, resistência e vigor. Já o rosa gera amabilidade, inocência e está relacionada ao feminino. Assim, para a escolha das cores em um ambiente intergeracional é necessário que haja uma intenção de atmosfera adequando as cores de acordo com as sensações a serem provocadas. Por exemplo, um ambiente em que predomina o branco por trazer solidão ou todo marrom por trazer melancolia, não são ideais. É necessário um equilíbrio entre as cores e as sensações.


64 Nos quartos analisados há equilíbrio entre as cores utilizadas, se por um lado há a predominância de marrons e brancos, por outro há relativa variabilidade de cores de destaque. Por exemplo, há 21% de cores de destaque nos quartos dos jovens contra 17% de cores de destaque nos idosos, demonstrando que os valores são próximos. A porcentagem de cores de destaque em ambientes intergeracionais pode variar entre 15% a 25% da superfície percebida pelos usuários. Embora possa-se afirmar uma porcentagem de cores de destaque, o mesmo não se pode afirmar para as tonalidades das cores, mesmo que o azul persista em ambos os ambientes. Dentre os materiais encontrados nos quartos, houve o predomínio da pintura já que essa estava presente nas paredes e no teto. Já para os demais materiais, houve divergência entre os predominantes entre jovens e idosos. A porcentagem média de materiais presentes no quarto dos jovens apontou bastante uso de Medium Density Fiberboard – MDF ou Fibra de Média Densidade e tecidos presentes nas camas, cortinas e tapetes. Já no quarto dos idosos, houve o predomínio de tecidos e madeira (vide Figura 29, Gráfico 4, Gráfico 5 e Gráfico 6).


65

Figura 29: Materiais predominantes Fonte: Elaborado pela Autora.


66 MATERIAIS PREDOMINANTES quarto J1

tecido madeira mdf pintura vidro/espelho metal cerâmica

MATERIAIS PREDOMINANTES quarto J2

tecido madeira mdf pintura vidro/espelho metal cerâmica

MATERIAIS PREDOMINANTES quarto J3

tecido madeira mdf pintura vidro/espelho metal cerâmica

Gráfico 4: Materiais predominantes – quarto dos jovens Fonte: Elaborado pela Autora. MATERIAIS PREDOMINANTES quarto I1

tecido madeira mdf pintura vidro/espelho metal cerâmica

MATERIAIS PREDOMINANTES quarto I2

tecido madeira mdf pintura vidro/espelho metal cerâmica

MATERIAIS PREDOMINANTES quarto I3

tecido madeira mdf pintura vidro/espelho metal cerâmica

Gráfico 5: Materiais predominantes – quarto dos idosos Fonte: Elaborado pela Autora.


67 MATERIAIS PREDOMINANTES média jovens

MATERIAIS PREDOMINANTES média idosos

tecido

madeira

tecido

madeira

mdf

pintura

mdf

pintura

vidro/espelho

metal

vidro/espelho

metal

cerâmica

cerâmica

Gráfico 6: Materiais predominantes - média dos jovens e média dos idosos Fonte: Elaborado pela Autora.

Ao analisar o gráfico da média percentual de materiais predominantes de cada geração chama atenção a maior variedade de materiais presente nos quartos dos jovens. Nele, é possível perceber 6 tipos de materiais, enquanto nos idosos há 4 tipos. Ainda assim, em ambos é possível perceber uma predominância de dois materiais, nos jovens 63% dos materiais são pintura e MDF e nos idosos 80% dos materiais são pintura e tecido. Além disso, nos mobiliários dos jovens há o predomínio do uso do MDF, enquanto os idosos possuem mais mobiliários em madeira. Algumas das diferenças entre esses materiais são: o preço, pois a madeira costuma ser mais cara; a aparência mais rústica, enquanto o MDF tem um acabamento cru, que pode ser decorado até com laminados que simulam a madeira real; e a madeira, com o cuidado apropriado, possui maior durabilidade do que o MDF, que não possui resistência à água. A baixa variedade de materiais indicado no Gráfico 6 indica que os idosos possuem maior interesse na uniformidade de seus quartos. Esse dado não conflita com os interesses dos jovens, pois os jovens habitualmente não optam – ou demonstram interesse – em diminuir a quantidade de materiais empregados. Isto é, em geral, os jovens empregam involuntariamente os materiais que são legados de


68 parentes ou que já existiam no local antes de se mudarem, conforme revelaram todos os jovens entrevistados que alegaram morar em república ou apartamento alugado e assim não podiam mudar o piso e armários embutidos. Essa condição revela que conciliar os interesses arquitetônicos de jovens e de idosos quanto aos gostos de materiais não é motivo de preocupação. Os materiais mais nobres – como a madeira – destacam-se por atender aos interesses dos idosos e não implica em desagrado aos jovens, que revelaram durante a entrevista o interesse nesse material. A madeira foi empregado em 1/3 dos quartos dos jovens e 2/3 dos quartos dos idosos (conforme visível na Figura 30), o que demonstra a preferência por esse material, ao menos nos cômodos destinados ao descanso. De forma geral, os pisos utilizados nos quartos dos jovens foi o cerâmico e nos idosos o piso de madeira.

Figura 30: Fotografias dos tipos de pisos Fonte: Elaborado pela Autora.


69 As principais diferenças entre esses pisos são: o custo e os pisos de madeira costumam ser mais caros que os cerâmicos, além de exigirem maior manutenção e cuidado. O piso cerâmico proporciona menores custos de implantação e manutenção devido a facilidade de limpeza. Além disso o piso cerâmico é mais versátil, visto que pode ser empregado em todos os cômodos, diferente da madeira que não pode ser utilizada nas áreas molháveis e molhadas. A madeira permite maior afagabilidade por ter menor taxa de troca de calor6. Assim, o piso de madeira é bom para dias frios, pois são maus condutores de calor, enquanto o piso cerâmico é bom para lugares quentes, pois por serem bons condutores de calor são frios. Essas características dos pisos explicam os idosos priorizarem a afagabilidade que a temperatura do piso de madeira traz. Enquanto os jovens valorizaram o custo-benefício e a praticidade que a cerâmica oferece. Logo, essas são as análises que identificam particularidades e similitudes por meio das características físicas possíveis de serem visualizadas nos ambientes. Essas análises possuem um caráter objetivo, diferente das entrevistas que lidam com a subjetividade.

3 RELAÇÃO SUBJETIVA DE JOVENS E DE IDOSOS COM SUA ESPACIALIDADE:

OPINIÕES

SOBRE

A

MODELAGEM

DOS

LUGARES Entender a relação do indivíduo com o espaço do ponto de vista subjetivo mostra-se desafiador. Seja devido a impossibilidade de compreender plenamente as nuances dos gostos das pessoas, ou mesmo, devido a impossibilidade de desvincular a subjetividade do pesquisador para com o objeto investigado. Ainda que possa-se apontar dificuldades, entende-se a importância de interpretar quais as filiações topofílicas – conforme definido por Yi-fu Tuan (1980) – entre ditas pessoas e seus

6

Segundo Moreschi (2005), graças à baixa condutividade, moderadas densidades e o próprio calor específico da madeira, a irradiação de calor da madeira é bem menor que a de outros materiais, como por exemplo dos metais, pedras e tijolos.


70 lugares. Para tanto, lançou-se mão de Entrevistas com o objetivo de captura das motivações que levaram os usuários dos quartos a modelar o espaço. As Entrevistas foram feitas com 8 pessoas – 4 jovens e 4 idosos (vide Quadro 18) – em suas residências. Optou-se entrevistar por meio de conversas informais, seguindo o roteiro de perguntas preestabelecido (vide Anexo). A partir das respostas obtidas e da conversa realizada é possível entender algumas similitudes e algumas particularidades de cada uma das gerações. Quadro 18: Amostra dos entrevistados Id JA JB JC JD IA IB IC ID

Idade 26 25 24 22 77 76 69 69

Sexo Masculino Feminino Feminino Feminino Feminino Masculino Feminino Feminino

Status Mora com noiva Mora com noivo Solteira Namorando Viúva Casado Casada Casada

Bairro Asa Norte Asa Norte Asa Norte Asa Norte Asa Sul Asa Sul Asa Sul Octogonal

Mora com: companheira companheiro Amiga Sozinha Sozinha Com mulher Com marido Com marido e filho

Fonte: Elaborado pela Autora.

No sentido de validar a viabilidade da identificação das características espaciais por meio das residências, perguntou-se: “Esse espaço reflete sua personalidade e hábitos? Como?”. Neste ponto, todos os entrevistados responderam, “Sim”. Isso demonstra que eles efetivamente modelam o espaço à sua satisfação funcional e subjetiva. Comprovando, mais uma vez, a expectativa inicial de que a residência – e especial o quarto – é o lócus ideal para avaliação da representatividade espacial para os grupos analisados. Além da pergunta de viabilidade, a entrevista buscou entender a relação de uma geração com a outra buscando responder: o que motiva jovens e idosos não frequentarem os mesmos lugares? A amostra contou com 3 jovens do sexo feminino e 1 jovem do sexo masculino, além de 3 idosas e 1 idoso. Os entrevistados moram em 6 residências diferentes, 3 de jovens e 3 de idosos. Sendo que os jovens moram há menos tempo em suas atuais residências chegando a uma média de 1 ano e 8 meses, enquanto os idosos chegaram a uma média de 26 anos e 6 meses, conforme Quadro 19.


71 Quadro 19: Tempo de residência Identificação JA e JB JC JD IA IB e IC ID

Há quanto tempo mora na atual residência 3 meses 6 anos 2 meses 22 anos 33 anos 18 anos Fonte: Elaborado pela Autora.

Ao serem confrontados quanto ao tempo de permanência nas residências os idosos revelaram dedicar mais tempo em casa do que os jovens, conforme aponta o Gráfico 7. O idoso IB, por exemplo, revelou: “gosto muito da minha casa, deveria estar aqui o dia todo”, confirmando o desejo dos idosos de estarem em casa. Enquanto isso, os jovens revelaram uma rotina mais agitada envolvendo estudos e/ou trabalho e por isso acabam permanecendo menos em casa. Tal fato não significa que não tenham o desejo de estar em casa, conforme revelou o jovem JA: “a casa é o antônimo do trabalho, local de relaxar”.

Quanto tempo você costuma permanecer na sua casa? IDOSOS

Quanto tempo você costuma permanecer na sua casa? JOVENS

Permanece apenas para dormir

Permanece apenas para dormir

Permanece sempre que possível

Permanece sempre que possível

Permanece muito, pois não tem o costume de sair

Permanece muito, pois não tem o costume de sair

Permanece muito e adora receber visitantes

Permanece muito e adora receber visitantes

Gráfico 7: Pergunta 2 – média das respostas dos idosos e média dos jovens Fonte: Elaborado pela Autora.


72 A decisão de escolha da localização da moradia dos idosos e dos jovens revelaram uma preocupação com a distância de locais frequentados no dia-a-dia como comércios e serviços, bem como, trabalho e faculdade. Também, os jovens se preocuparam com a mobilidade enquanto os idosos com a segurança (vide Gráfico 8). Esses resultados confirmam a expectativa de que os jovens saem mais de casa, então se preocupam com a mobilidade. Enquanto os idosos permanecem mais em casa, se preocupando com a segurança.

Porque você mora aqui? IDOSOS

Porque você mora aqui? JOVENS

Localização: mobilidade

Localização: mobilidade

Localização: proximidade a faculdade, trabalho, comércios e hospital

Localização: proximidade a faculdade, trabalho, comércios e hospital

Localização: proximidade aos familiares

Localização: proximidade aos familiares

Preço: custo x benefício

Preço: custo x benefício

Segurança

Segurança

Gráfico 8: Pergunta 3 – média das respostas dos idosos e média dos jovens Fonte: Elaborado pela Autora.

Os fatores locacionais que motivam a satisfação tanto dos jovens quanto dos idosos – respectivamente 58% e 75% – estão relacionados às suas rotinas. Devido a rotina ser diferente, os fatores locacionais, também, são diferentes. O Mapa da Figura 31 é um indicativo de ditos fatores. Fica evidente que os idosos preferem cercar-se de comércios do ramo alimentício e serviços. Já os jovens cercam-se de instituições educacionais. Essas diferenças apontam que os idosos e os jovens são motivados a não frequentarem os mesmos ambientes devido suas necessidades singulares do cotidiano, que os impõem fatores locacionais distintos.


73

Figura 31: Mapa de usos Fonte: Elaborado pela Autora.


74 Os idosos revelaram uma maior afinidade com a sua residência do que os jovens, apontando que eles possuem maior possibilidade de apropriação dos espaços. Esse resultado se deve à condição financeira dos jovens. Em todas as entrevistas as moradias não pertenciam aos jovens – ou eram alugadas ou repúblicas. Sendo assim, existe menor possibilidade de modificar o espaço, bem como, de filiação topofílica. Além disso, os jovens indicaram afirmativamente não possuir condição financeira para modificar o espaço e comprar móveis e objetos de decoração da forma como gostariam. O resultado do Gráfico 9 confirma as respostas, apresentadas verbalmente, de ambos os grupos entrevistados. Ainda assim, ambas as gerações se mostraram satisfeitas com o espaço, principalmente com o tamanho, 88% dos entrevistados indicaram estar satisfeitos com o tamanho da residência. Outros comentaram da funcionalidade da planta do apartamento e, também, sobre os revestimentos e reformas realizadas no ambiente, demonstrando igualmente satisfação.

Qual é o grau de afinidade que você tem com sua casa? IDOSOS

Qual é o grau de afinidade que você tem com sua casa? JOVENS

Gosta muito

Gosta

Gosta muito

Gosta

Indiferente

Não gosta

Indiferente

Não gosta

Detesta

Detesta

Gráfico 9: Pergunta 4 – média das respostas dos idosos e média dos jovens Fonte: Elaborado pela Autora.


75 Para os jovens a sensação ao adentrar7 o espaço não é tão positiva como para os idosos, conforme Gráfico 10. Nesta análise os jovens revelaram possuir agradabilidade de 75% de recepção positiva ao adentrar o espaço e 25% de indiferença. A indiferença indica que os jovens não se importam com o aspecto mórfico do espaço ao adentrarem, mas se importam com os espaços durante a permanência. Tais resultados revelam coerência nas respostas, na medida em que os jovens revelam possuir 75% de afinidade com o espaço (vide Gráfico 9). Ambas as gerações informaram que os sentimentos ao adentrarem o espaço envolvem principalmente a tranquilidade. Outros sentimentos citados foram: paz, conforto, bem-estar, segurança, liberdade, descanso, felicidade e acolhimento. A idosa IB completou “a minha casa é onde eu me sinto bem”.

Qual é a sensação que você tem ao adentrar o espaço? IDOSOS

Positiva

Indiferente

Negativa

Qual é a sensação que você tem ao adentrar o espaço? JOVENS

Positiva

Indiferente

Negativa

Gráfico 10: Pergunta 6 – média das respostas dos idosos e média dos jovens Fonte: Elaborado pela Autora.

7

O efeito de adentrar o espaço foi avaliado quanto a percepção do morador ao acessar a sua residência pela porta de entrada.


76 Outro item que apresentou relativa coerência nas entrevistas foi o quanto as gerações se dedicaram à modelagem do espaço. Este item demonstra que a topofilia da residência é satisfatória para os idosos. Eles se mostraram cuidadosos aos detalhes arquitetônicos, criando um sentido – ou nas palavras de Yi-fu Tuan (1980) um espírito – de lugar para a residência. Enquanto isso, os jovens ainda gostariam e pretendem mudar algumas coisas nos ambientes (vide Gráfico 11), sendo o sentido do lugar não representativo para suas necessidades subjetivas. Ainda

que

se

possa

demonstrar

algumas

insatisfações quanto

as

subjetividades dos jovens, os entrevistados informaram que a residência reflete e atende aos seus hábitos e costumes, embora haja divergências. O jovem JC informou sentir-se “[...] em casa porque deixei o espaço do meu jeito”. Enquanto isso a jovem JD afirmou que a casa não revela sua personalidade, que a maioria das coisas presentes na sua residência não pertencem a ela e não fazem seu estilo. Resposta que confirma os dados anteriores revelados pelos jovens.

Como é a personalidade da sua casa? IDOSOS

Como é a personalidade da sua casa? JOVENS

Você cuidou de cada detalhe

Você cuidou de cada detalhe

Gostaria e pretende mudar algumas coisas

Gostaria e pretende mudar algumas coisas

Indiferente, funciona atendendo suas necessidades

Indiferente, funciona atendendo suas necessidades

Sonha com um lugar totalmente diferente

Sonha com um lugar totalmente diferente

Gráfico 11: Pergunta 8 – média das respostas dos idosos e média dos jovens Fonte: Elaborado pela Autora.


77 A entrevista contou com perguntas sobre a relação do jovem com o idoso a fim de entender se o motivo dos jovens e idosos não frequentarem os mesmos lugares está em alguma dificuldade no relacionamento entre as partes (vide Gráfico 12, Gráfico 13 e Gráfico 14). A primeira pergunta revelou que existe um convívio entre as gerações, sendo que todos os jovens responderam se relacionar “às vezes”. Por sua vez, 50% dos idosos responderam se relacionarem “muito”. Nenhum jovem ou idoso respondeu evitar esse relacionamento. Esse dado revela a importância de pesquisas que se dediquem ao tema da relação intergeracional (vide Gráfico 12). Em entrevista aberta8 os jovens informaram que o maior contato que possuem com os idosos é dentro da família, alguns disseram que também acontece esporadicamente na rua e, ainda, no trabalho ou com vizinhos. “Gosto de conversar com pessoas mais velhas por causa da experiência”, revelou o jovem JA. Os idosos, também, informaram do contato com familiares jovens, e ainda na igreja, com amigos de netos e filhos de amigos. A idosa IA afirmou: “estou sempre rodeada de jovens, graças a Deus” e acrescentou “os jovens adoram vir aqui em casa comer pão de queijo, peta, bolinho de arroz [...]”.

8

Entrevistas abertas são aquelas em que as perguntas não possuem alternativas a serem respondidas. Diferenciam-se dos questionários estruturados, em que há indicação de possibilidades de respostas.


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Qual é o grau de afinidade que você tem com os jovens? IDOSOS

Qual é o grau de afinidade que você tem com os idosos? JOVENS

Se relaciona muito

Se relaciona muito

Se relaciona as vezes

Se relaciona as vezes

Se relaciona muito pouco

Se relaciona muito pouco

Evita o relacionamento

Evita o relacionamento

Gráfico 12: Pergunta 1 – média das respostas dos idosos e média dos jovens Fonte: Elaborado pela Autora.

A respeito da motivação desse relacionamento, a maior parte dos entrevistados dizem se aproximar devido fator de afetividade. Muitos falaram também da oportunidade, pois depende da eventualidade dos encontros. Além disso, uma dentre as respostas apontou para a obrigatoriedade devido a relação de trabalho, conforme Gráfico 13. Nas entrelinhas da resposta “Obrigação” fica entendido que o relacionamento foi imposto e que há conflitos de visão de mundo e formas de relacionamento interpessoal. A jovem JB disse gostar de se relacionar com os idosos e sempre que tem a oportunidade conversa, ela disse: “os idosos normalmente são legais e educados”. Enquanto isso a idosa IC disse: “eu amo os jovens, acho um barato! As novidades que vão surgindo, me identifico muito com eles”. Desta forma, não são as afetividades que motivam a divergência dos idosos e dos jovens no compartilhamento dos lugares. Ao contrário, as afetividades que os aproximam são uma oportunidade de relação intergeracional. As dificuldades apresentadas são outras, inclusive aquelas relacionadas ao campo da arquitetura (conforme apontado no Capítulo 2).


79 O fator mais potencial a dito objetivo é a oportunidade de encontros. Infere-se que o compartilhamento dos lugares, do ponto de vista subjetivo dos grupos, pode ser fomentado por meio da criação dessas oportunidades de encontros. Isso pode ser feito por meio de atividades funcionais comuns que provocam o deslocamento aos lugares e que são um dos atributos essenciais para uma arquitetura que busca a relação intergeracional.

Qual é a causa desse grau de relacionamento? IDOSOS

Qual é a causa desse grau de relacionamento? JOVENS

Afetividade

Afetividade

Obrigação

Obrigação

Oportunidade

Oportunidade

Necessidade

Necessidade

Você evita, pois não gosta

Você evita, pois não gosta

Gráfico 13: Pergunta 3 – média das respostas dos idosos e média dos jovens Fonte: Elaborado pela Autora.

A pesquisa ainda contou com uma pergunta que revela se existe o interesse dessas gerações de estreitar ainda mais a relação. O resultado foi positivo conforme informa Gráfico 14. Os dois homens entrevistados, um jovem e um idoso, informaram que gostariam de manter a relação como está. O idoso IB informou que prefere manter o relacionamento como está para não incomodar os jovens, pois não sabe se existe esse interesse por parte dos jovens.


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O que você gostaria de mudar nesse grau de relacionamento? IDOSOS

O que você gostaria de mudar nesse grau de relacionamento? JOVENS

Gostaria de se relacionar muito mais

Gostaria de se relacionar muito mais

Gostaria de se relacionar mais

Gostaria de se relacionar mais

Gostaria de manter como está

Gostaria de manter como está

Gostaria de se relacionar menos

Gostaria de se relacionar menos

Gostaria de se relacionar muito menos

Gostaria de se relacionar muito menos

Gráfico 14: Pergunta 4 – média das respostas dos idosos e média dos jovens Fonte: Elaborado pela Autora.

Ainda assim, 75% dos entrevistados têm o interesse de se relacionar mais com a outra geração. A idosa ID revelou: “quando os amigos têm filhos, a gente vê na barriga da mãe, acompanha a infância, adolescência, mas quando os filhos crescem e se tornam jovens tomam seus rumos e então não nos encontramos mais, só encontramos os pais, mas os filhos não. Eu sinto falta disso”. Esses resultados dão suporte ao objetivo da pesquisa por demonstrar o interesse de ampliar a relação entre os grupos e, ao mesmo tempo, mostra que os grupos reconhecem a falta de interação. Portanto, a discussão de uma arquitetura que seja atraente para as duas gerações incentiva essa interação e integração. E a partir desse estudo é possível perceber algumas das particularidades e similitudes entre essas gerações nas esferas objetivas e subjetivas.


81

4 DISCUSSÃO:

RECOMENDAÇÕES

PARA

A

RELAÇÃO

INTERGERACIONAL ENTRE OS JOVENS E OS IDOSOS A partir das análises é possível perceber que existem poucos fatores de divergência entre essas duas gerações, o que faz retomar a pergunta inicial: “Quais estratégias arquitetônicas poderiam integrar e unir esses públicos?”. Esta pergunta pode ser respondida a partir dos resultados encontrados, mantendo as configurações dos atributos que obtiveram respostas semelhantes entre ambos e buscando estratégias para contornar as divergências, vide Quadro 20. Quadro 20: Resultados Atributo Ilhas Espaciais Relação entre Cheios e Vazios Tamanho dos Espaços Funcionais Relação entre vedações e aberturas Acessibilidade Funcional Mobiliário: quantidade Luminárias: quantidade Elementos Decorativos: quantidade

Resultado Semelhante

Ambos: “muito”

Semelhante

Ambos: “equilibrado”

Semelhante

Ambos: “pequeno”

Semelhante

Ambos: “forte predomínio de vedações”

Semelhante

Ambos: “ausente – com muita dificuldade”

Semelhante

Jovem: 7 e idoso: 6,66 Jovem: 1,66 e idoso: 3,64 / divergem na quantidade

Divergente Divergente

Cores predominantes

Divergente

Materiais predominantes

Divergente

Tipo de Piso

Divergente

Jovem: 17,97 e idoso: 17,65 / divergem no estilo Jovem: branco e marrom e idoso: marrom e branco / divergem nas cores de destaque Jovem: pintura, mdf e tecido e idoso: pintura tecido e madeira / divergem entre mdf e madeira Ambos: “liso” / divergem entre cerâmica e madeira

Fonte: Elaborado pela Autora.

Do ponto de vista das Ilhas Espaciais recomenda-se que 57% seja destinado a espaços abertos, apresentando um resultado final “muito”. Ao adotar essa recomendação, espera-se que ambos os públicos estejam satisfeitos com a permeabilidade de circulação. Em espaços pequenos de 7m2 até 10m2 recomenda-se o uso da porcentagem de 57% para espaços abertos e circulação. Já para espaços


82 maiores que 10m2 recomenda-se 2,93m2 de espaços abertos e de circulação por pessoa, evitando espaços vazios ociosos. A relação de Cheios e Vazios traz conclusões parecidas com as das Ilhas Espaciais. Nessa variável observa-se que há uma predominância de espaços equilibrados, isto é, que a quantidade de Cheios sobre a de Vazios é equivalente. Considerando esse resultado, a recomendação é de que espaços destinados a integração intergeracional tenham um equilíbrio entre Cheios e Vazios, pois independente do espaço total do ambiente, ou dos tipos de mobiliários, essa porcentagem variou entre 49% a 69% de vazios. É importante ressaltar que a porcentagem de Vazios influenciará a Acessibilidade Funcional do ambiente, sendo assim, deve-se integrar essas duas categorias para a obtenção de um ambiente acessível. Os dois grupos analisados não possuíam muita preocupação com a acessibilidade, mas para um ambiente que integre essas duas gerações é importante priorizar a acessibilidade para o caso de surgir a necessidade. O Tamanho dos Espaços Funcionais dos quartos de ambos os grupos eram “pequenos” com uma média geral de 8,57m². Para um ambiente mais intimista e integrador entre as duas gerações é importante que não seja muito grande a fim de gerar essa sensação que um ambiente pequeno promove. A partir dos resultados obtidos com a Permeabilidade entre vedações e aberturas é confirmado que o quarto é um ambiente de individualidade e maior privacidade do indivíduo, é um dos ambientes mais segregados da casa. Portanto a análise das características das gerações a partir dos quartos é uma forma eficaz de se perceber as características e individualidades de cada grupo. A quantidade de mobiliário em ambas as gerações foi similar, embora existam diferentes atividades realizadas em cada quarto. Ainda assim, para confirmar a quantidade de atividades realizadas no quarto por cada geração é necessária novas pesquisas que se aprofundem na rotina cotidiana das faixas etárias. Há divergências entre a iluminação dos quartos entre as gerações. Foi percebido que os idosos se preocupam muito mais com a iluminação e a sua facilidade


83 de acesso, enquanto isso, os jovens possuíam apenas uma iluminação central. Para um ambiente que integre jovens e idosos é recomendável iluminação indireta, devido a preferência dos idosos e, visto que, os jovens não demonstraram insatisfação com este tipo de iluminação. Sugere-se novas pesquisas que se dediquem a análise da cor da luz, da quantidade de luminária e da iluminação total, a fim de se verificar a real intenção dos jovens nesse aspecto. A partir dos resultados já obtidos, para um ambiente intergeracional é interessante que se faça o uso de luz direcionada sobre locais específicos que garantem à iluminação necessária às atividades e mantenha o ambiente pouco iluminado; e se utilize iluminação com luz dimerizável em que é possível regular a intensidade do brilho. Outra categoria com divergências foi a de Elementos Decorativos. Com relação a quantidade, os grupos obtiveram uma média geral parecida, entretanto os estilos são bem diferentes. Ao aprofundar a análise foi possível verificar similitudes entre estilos que podem agradar ambas as gerações. Conclui-se a necessidade: de evitar o uso de itens religiosos e familiares; de incluir lugares para guarda de itens pequenos, utilizados decorativamente; de empregar tecidos – tapetes e almofadas – com padronagem neutra; de fazer uso de motivos naturais, como flores e folhagens, pois são itens de gosto comuns. As cores predominantes, os materiais predominantes e os tipos de piso foram categorias que obtiveram pequenas divergências nos resultados. Para as cores predominantes de um ambiente intergeracional é importante definir a intenção de atmosfera adequando-a as cores de acordo com as sensações a serem provocadas. Além disso, percebeu-se um gosto comum entre as cores neutras e as cores frias. Os materiais predominantes empregados nos móveis divergiram quanto ao MDF e a madeira, utilizados pelos jovens e idosos, respectivamente. Mas, como os jovens revelaram o gosto pela madeira, o tipo de material que integra as duas gerações é a madeira. Já quanto ao material aplicado ao piso, em ambas as gerações, indica-se o “liso”. Considerando que o piso cerâmico dos jovens pré-existem a chegada deles, bem como

os jovens revelaram gostar de piso de madeira,

recomenda-se o uso deste para integrar o gosto comum.


84 E ainda, foi perceptível nas entrevistas um desejo de aproximação entre os jovens e os idosos. Essa aproximação de caráter subjetivo pode ser positivamente possibilitada por meio da criação de atividades comuns aos grupos. Essa recomendação possibilita que os elementos configuracionais do lugar destinados a integração intergeracional sejam potencializados. Do ponto de vista metodológico, evidencia-se a contribuição para a análise dos lugares por meio das categorias selecionadas de Kohlsdorf e Kohlsdorf (2017). Para os grupos selecionados, o estudo de suas residências – em especial os quartos mostrou-se efetivo para cumprir com os objetivos da pesquisa. Não se pode afirmar que este estudo chegou a conclusões definitivas. Ao contrário, novas pesquisas devem ser realizadas no sentido de confirmar a validade da metodologia elaborada. O aprofundamento no tema levou a crer que ainda há muito a ser pesquisado. Como encaminhamentos futuros da pesquisa, pode-se apontar a necessidade de aperfeiçoamento da pesquisa por meio da: 1) ampliação do grupo amostral; 2) aplicação do método a outros lugares e em geografias diferentes; 3) alargamento do tempo de coleta de dados; 4) aplicação do método a outros contexto em que os idosos e os jovens possuem relativa autonomia na modelagem do ambiente. O reconhecimento das necessidades de aperfeiçoamento reforça o caráter dinâmico das pesquisas de cunho científico, mostrando-se capaz de se adaptar às exigências futuras dos grupos em estudo. Esta pesquisa mostrou-se como uma porta de entrada investigativa para a temática, frente ao mar de desconhecimento acerca do tema da relação intergeracional na arquitetura.


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ANEXO


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