Eixo Monumental de Brasília - Burle Marx

EIXO MONUMENTAL DE BRASÍLIA POR BURLE MARX Nitzsche, Bárbara; Graduação; Universidade Belas Artes; babipnitz@gmail.com1

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Resumo: Roberto Burle Marx foi paisagista, arquiteto, desenhista, pintor, gravador, litógrafo, escultor, tapeceiro, ceramista, designer de joias e decorador, porém o que o deixou conhecido foram seus títulos de paisagista e arquiteto. Seu estilo permaneceu com Burle Marx por toda a sua vida, embora ele tenha diminuído o número de plantas e adotado formas mais geométricas em trabalhos posteriores.

Palavras chave: Burle Marx; paisagismo; arquitetura.

Abstract: Roberto Burle Marx was a landscaper, architect, draftsman, painter, engraver, lithographer, sculptor, upholstery maker, ceramist, jewelry designer and decorator, but what made him known were his titles as landscaper and architect. His style remained with him throughout his life, although he reduced the number of plants and adopted more geometric shapes in later works.

Keywords: Burle Marx; landscaping; architecture.

Introdução

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Bárbara Paulos Nitzsche, FEBASP, Arquitetura e Urbanismo, disciplina Projetos Paisagísticos, Professor

Este artigo aborda o projeto do Eixo Monumental de Brasília feito pelo escritório Burle Marx. Apresenta dados sobre o arquiteto, sua trajetória e o processo do projeto. O paisagismo em Brasília teve início em 2013 e foi finalizado e 2015. É citada a trajetória do arquiteto no Brasil e Alemanha, além de pessoas que marcaram sua vida, como Elise Degner Klemn, Eva Busse e Lúcio Costa. O projeto, infelizmente não acompanhado por ele, foi feito pelo seu escritório e com traços e elementos marcantes de Burle Marx.

Biografia de Burle Marx Roberto Burle Marx foi paisagista, arquiteto, desenhista, pintor, gravador, litógrafo, escultor, tapeceiro, ceramista, designer de joias e decorador, porém o que o deixou conhecido foram seus títulos de paisagista e arquiteto. Nascido em São Paulo, Burle Marx (1909–1994) passou grande parte da sua vida no Rio de Janeiro. É no estado fluminense, que estão as suas maiores obras, embora grande parte delas esteja espalhada pelo mundo.

Figura 1: Burle Marx.

Fonte: http://valor.globo.com

Filho de Cecília Burle (da família pernambucana de ascendência francesa Burle Dubeux) e de Wilhelm Marx (judeu alemão), Burle Marx começou a ter contato com a arte ainda muito novo. O amor pelas plantas também veio cedo.

Aos sete anos, ele já colecionava as suas primeiras espécies.

Aos 19 anos, ele começou a sofrer com um problema nos olhos que quase custou a sua visão. Para tratá-lo, ele e a família seguiram para a Alemanha, onde ficaram por dois anos.

Durante a sua estadia no país, Burle Marx estudou desenho no ateliê de Elise Degner Klemn, que apresentou a Roberto uma abundância de eventos culturais. A intenção de Wilhelm Marx era de que a sua família tivesse uma base cultural sólida. Para isso, ele contratou uma tutora alemã para dar aulas a

Siegfried, o irmão mais novo. No entanto, Eva Busse sentiu uma afinidade especial por Roberto e o apresentou ao teatro, aos museus e às galerias de arte.

Embora o seu interesse por plantas venha desde a infância, curiosamente foi na Alemanha que ele se apaixonou por espécies nativas brasileiras. Ao visitar o Jardim Botânico local, ficou fascinado por uma estufa reservada exclusivamente para elas.

Figura 2: Jardim Botânico na Alemanha.

Fonte: http://www.oficinadeinverno.com.br

Em 1930, Burle Marx voltou ao Rio de Janeiro. No Leme, ele se tornou vizinho de Lúcio Costa, então diretor da Escola Nacional de Belas Artes (hoje chamada Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Costa o incentivou a se matricular na instituição, onde futuramente começou a ter contato com alguns dos futuros grandes nomes da arquitetura brasileira, como Oscar Niemeyer, Hélio Uchôa e Milton Roberto.

Durante os seus anos de estudos, Burle Marx começou a usar referências oriundas do seu tempo na Alemanha, criando arte com plantas nativas. Então, o seu trabalho começou a chamar a atenção do seu professor e vizinho.

Em 1932, Costa o convidou para fazer o primeiro projeto de paisagismo da sua carreira: o jardim da família Schwartz. Coincidentemente, o governador de Pernambuco na época, Carlos de Lima Cavalcanti, passou pelo jardim da família e ficou impressionado com o que viu. Perguntou quem foi o responsável pelo projeto e ligou pessoalmente para Burle Marx, o convidando para uma entrevista no Copacabana Palace. Assim, o jardim dos Schwartz levou Roberto ao cargo de diretor dos parques de Recife.

Ele se mudou para Recife, e os três jardins municipais que ele projetou posteriormente lhe deram a oportunidade de provar o seu valor. Como muitos jovens designers, ele queria mostrar a amplitude de seu conhecimento.

Além da Euclides, Burle Marx também foi responsável pela Praça de Casa Forte, a Praça do Derby (1936), o conjunto Praça da República e Jardim do Palácio do Campo das Princesas (1936), a Praça Ministro Salgado Filho (1957) e a Praça Faria Neves (1958), sendo todas consideradas patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). As suas referências vieram da revista de jardinagem alemã Gartenschönheit, de algumas espécies brasileiras e do parque de Dois Irmãos, em Recife.

Burle Marx permaneceu em Recife de 1934 a 1937, quando retornou ao Rio de Janeiro. No entanto, durante esse período, ele viajou com frequência à capital fluminense para ter aulas com Candido Portinari e com o escritor Mário de Andrade no Instituto de Arte da Universidade do Distrito Federal.

Os jardins projetados para o prédio do Ministério da Educação e Saúde, em 1938, renderam a Burle Marx aclamação mundial. Considerado até hoje um dos melhores exemplos da arquitetura moderna do Brasil, o trabalho foi uma colaboração entre um grupo de jovens arquitetos brasileiros liderados por Lúcio Costa (incluindo Oscar Niemeyer) que tinha Le Corbusier como consultor.

Os jardins do telhado de Burle Marx empregavam plantações tropicais de forma sinuosa. Esse estilo, com plantações em grande escala e uso de cores e texturas contrastantes, permaneceu com Burle Marx por toda a sua vida, embora ele tenha diminuído o número de plantas e adotado formas mais geométricas em trabalhos posteriores.

Walter Gropius declarou que gostava dos jardins de Burle Marx, mas não conseguia

entender

os

seus

planos.

Feitos

em

guache,

eles

eram cuidadosamente pintados no escritório e mostravam a justaposição dos vários elementos por meio da cor e da composição. Em média, um plano levava cerca de duas semanas para colorir e, por isso, eram produzidos apenas para exposições e publicações.

Estilo Burle Marx

Burle Marx se considerava, acima de tudo, um pintor, e isso é perceptível em seu trabalho, que elevou o paisagismo ao status de obra de arte. As formas sinuosas de seu trabalho levaram o traço livre de uma pincelada descompromissada para as plantas nativas, que são as cores da tela abstrata em plantas baixas.

Figura 3: Padrões do Calçadão de Copacabana desenhados por Burle Marx.

Fonte: http://www.archtrends.com

O seu trabalho foi muito importante para definir a arquitetura moderna brasileira, já que recebia influência de movimentos vanguardistas, como a arte abstrata, o concretismo e o construtivismo. Um período marcante para o paisagista foi o final da década de 1930. Com a sua experiência em Recife e as aulas com Portinari e Mário de Andrade, a sua obra paisagística se integrava à arquitetura moderna.

Entre os anos de 1953 e 1988, Roberto ganhou vários prêmios e títulos ao redor do mundo. Alguns para serem citados são o Prêmio de Arquitetura de Paisagem na 2ª Exposição Internacional de Arquitetura (1953), Diploma de Honra, em Paris (1959), Medalha de Belas Artes do Instituto Americano de Arquitetos, em Washington (1965) e Título de doutor honoris causa da Academia Real de Belas Artes de Haia, na Holanda (1982). Desde 2009, no início de agosto é celebrada a Semana Burle Marx em Recife.

Eixo Monumental de Brasília

O amplo gramado entre a Rodoviária do Plano Piloto e a Torre de TV, no Eixo Monumental, passou por transformações em 2015. Em vez do descampado, árvores, ciclovias, jardins, calçadas e espelhos d’água ocuparam os 22 mil metros quadrados da área central. Criado pelo escritório Burle Marx, a partir de desenhos feitos na década de 1960 pelo famoso paisagista brasileiro, o projeto foi dividido em etapas.

A primeira foi a perfuração de quatro poços artesianos para irrigar a vegetação e abastecer os espelhos d'água, seguida pela construção de calçadas, pavimentos e ciclovias. A fonte luminosa terá a pista para pedestres alargada a fim de receber maior fluxo de pessoas. Na época, casais e famílias iriam ao local para assistir ao show de águas coloridas e sincronizadas, que ocorriam de terça-feira a domingo em diferentes horários. Além de florida, a praça ficou arborizada, com palmeiras e arbustos a serem plantados. Algumas das espécies utilizadas foram a guariroba, o buriti e a acácia, que enfeitam a região e favorecem as sombras.

Figura 4: Eixo Monumental de Brasília.

Fonte: http://www.archtrends.com

Tornar menos árida a região foi um dos objetivos da intervenção, conforme explica o arquiteto e diretor do Escritório Burle Marx, Haruyoshi Ono. Para que formasse um caminho mais prazeroso para os visitantes, foram escolhidas árvores de grande porte, como o jacarandá, a peroba-rosa e o jatobá.

São todos exemplares típicos do cerrado e seguem o conceito de Marx, que defendia o uso da flora local nos seus planos paisagísticos.

No projeto, demos ênfase à vegetação como forma de facilitar e tornar mais agradável o caminho de pedestres e de ciclistas. [...] Ainda que

essa seja uma proposta apenas inspirada na obra do artista, mantemos os valores que ele seguia, como usar exemplares nativos.

(HARUYOSHI ONO, 2013)

Calçadas e ciclovias permitiram o acesso dos dois lados do Eixo Monumental. Dessa forma, houve uma ligação entre os setores hoteleiros Norte e Sul. Um conjunto de espelhos d’água, em formato abstrato, completa o cenário.

A superfície, cujo formato se assemelha à da fonte luminosa da Torre de TV, terá jatos de água e uma pequena ponte de madeira. A função será aumentar a umidade no local. Os lagos foram executados em uma segunda fase da intervenção.

Os espelhos d’água respondem à necessidade de melhorar a qualidade do ar, principalmente na época da seca.

(HARUYOSHI ONO, 2013)

Valorização O professor Frederico Flósculo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), reconhece o valor da iniciativa. O projeto investiu aproximados R$ 6 milhões somente para a etapa de arborização.

Você associar o resgate de um projeto de Burle Marx à cidade é sempre uma boa notícia. Do ponto de vista da técnica urbanística e patrimonial, a ideia é interessante, porque aquela é uma área que pede uma intervenção paisagística qualificada. E investir na beleza da capital sempre será um bom negócio.

(FREDERICO FLÓSCULO, 2013)

A diretora de Obras Especiais da Novacap, Maruska Lima, explica que a empresa pública ficou responsável pela vegetação e pelos equipamentos urbanos (bancos e lixeiras) durante e depois das intervenções. A execução desses serviços ficou por conta da Vale do Ipê, escolhida por meio de licitação.

Já a irrigação dos canteiros é automatizada, e o abastecimento dos espelhos d’água fica a cargo de quatro poços artesianos, cuja perfuração foi autorizada pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa).

Esse sistema dispensou o uso do caminhão e de um funcionário para aguar o canteiro e as árvores.

Considerações Finais Diante da necessidade de encerramento deste processo de formação, mas certamente no intuito de não dar por findos os questionamentos a respeito dos jardins de Roberto Burle Marx e da miríade de desdobramentos possíveis ao se abordar material tão repleto de possibilidades, cuja exploração pode fornecer variadas perspectivas de abordagens e apontar diferentes resultados, chega-se ao ponto de um arremate.

A análise e a síntese aqui apresentadas, recortadas da vasta produção em paisagismo de uma pessoa notável da cultura brasileira, da qual se extraiu como objeto de estudo, o jardim do paisagista em Brasília, busca identificar aspectos essenciais da concepção desse jardim e os “princípios” que regem sua criação, como explicitado pelo paisagista, conectando-os a referenciais significativos em sua trajetória no Brasil.

A busca empreendida, além de esclarecer aspectos da produção local específica de Roberto Burle Marx, pautou-se pela perspectiva de aprimoramento da prática profissional dos arquitetos e urbanistas, considerando-se o paisagismo, a partir de sua inserção nesta área, como um campo disciplinar desta formação: a arquitetura e o urbanismo tomados de modo equivalente e equilibrados.

Neste sentido, a identificação de lacunas existentes orientou o percurso proposto pelo jardim do paisagista na cidade, seja no campo desta formação profissional, seja no âmbito do paisagismo em Brasília, onde esta prática ainda necessita de aprimoramento e aplicação consistente, até mesmo no que diz respeito à abordagem efetivada nos jardins de Burle Marx, em que o jardim, ainda não havia recebido atenção especial em conjunto. Esta investigação possibilitou a apreciação de soluções espaciais em espaços de acesso restrito, nos quais se destacaram importantes princípios relacionados à prática projetual em paisagismo e, por desdobramento em Arquitetura e Urbanismo, compreendidos em espectro ampliado.

Referências ARCHTRENDS PORTOBELLO <https://archtrends.com/blog/burle-marx/> Acesso em: 02 dez 2020 EQUIPE VIVA DECORA PRO <https://www.vivadecora.com.br/pro/robertoburle-marx/> Acesso em: 12 jun 2019 INSTITUTO DE ENGENHARIA Acesso em: 26 jul 2013

<https://www.institutodeengenharia.org.br>

LUGAR CERTO <https://correiobraziliense.lugarcerto.com.br > Acesso em: 27 jul 2013